e quem quer saber de denotação conotação
se para se comer não tem nem pão
e se me impuseram a língua portuguesa com
tanta língua nativa
e ativa por aqui
e porque não me deram o tupi-guarani?
ou a linguagem dos lagartos linguarudos
ou os cacoetes de comunicação dos
calangos os muros
e dos sábias
e dos bem-te-vi?
mas não me ensinaram uma língua d'alem-mar
e idioma de trás dos montes
e não uma fala de fonte
ou um canto de regato
ou uma canção de córrego
ou um riso de rio
ou um gorjeio de pássaro
e com tantos discursos
e conotações
e denotacoes na natureza viva
e me dão de presente uma morta
e com tantas ondas do mar a badalar aos meus ouvidos
e ventos bentos a soprar os meus alentos
e desalentos
e tormentos
e me fazem chorar em prantos de biomas
doutros universos
e em latim tradicionado ora-pro-nobis
fica sem função
e o ninho da rolinha fica sem passarinho
e o meu coração em desalinho
e não choro mais chorão em chorinho
e nem oro mais em oração
ou em prece em devoção
ou em reza forte contra assombração
igual todo menino fazia pra cair bicho em alçapão
e rezava à ave maria todo dia quando a noite chegava
a meter medo na molecada mas sempre tinha um
mais destemido
e as meninas admiravam
e levantavam as saias
e mostravam o verdadeiro admirável mundo novo
e os segredos
e os regos
e valas
e veios
e minas dos tesouros donde os afoitos tiravam vantagens sobre os outros.
BH, 01901102020; Publicado: BH, 0270602022.
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