Estaquei no meio do caminho do destino como uma pedra
Ou como um burro que empaca numa estrada
Ou o boi que se recusa a marchar ao matadouro
Que até as minhas pegadas se petrificaram
Como um tesouro fóssil
E não mais arredei a rocha
E se transformou em diamante
E empacado ali com o universo nas costas
E as dimensões no cangote
E o infinito na cacunda
E a eternidade na corcova
E corcovado ancião vi o corvo a me devorar o
Fígado de naco em naco
E de bocado em bocado
E acorrentado ao pelourinho sou mais um prisioneiro
Desta caverna filosófica
E mais um protagonista dessa cadeia de
Cordilheiras de personagens coadjuvantes da
História universal
E quando acordei do sonambulismo o
Meu esqueleto continuou a dormir
E a minha caveira a sorrir pois nunca vi uma
Caveira triste mesmo quando era guardião do
Ossuário da cidadezinha onde nasci
E conheço todos os ossos do manequim do mais profano
Ao mais sacro
E enchi o saco com os ossos em cacos
E faço tubos tubulares
E flautas doces
E clarinetas com os inteiriços
E nobres arfins
E do mais puro marfim
E a morte viu que era pouca
E que era pequena diante de mim
E a minha sepultura foram todos os montes montanhas
E picos cordilheiras
E nunca monumento de mausoléu
E restos de planetas irreconhecíveis
E rochosos perdidos pelos universos estranhos
E milênios depois quando abriram a tampa do sarcófago
Na campa do meu sepulcro sepultura
Só encontraram esta folha de lápide a lápis.
BH, 0601102020; Publicado: BH, 0230602022.
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