E só me faltaram as ideias como sempre vivi
Em todo o meu ideal ideário e só as ideias me faltaram
Empobreci o meu vocabulário e procurei o dicionário
Que perdi há muito tempo e as palavras que
Vieram com o vento são as mesmas que lancei
Na vã esperança duma filosofia nova dum novo pensamento
Que me sustentassem para que pudesse sustentar
Atlas o mundo livre e vasculhei enciclopédias mas ciclope
Não percebi polifemo que todas as ideias tinham sido testadas
Em todas as letras e línguas e todos os ideais tinham sido elevados
Em todos os pensamentos pensados e então olhei para minhas mãos
Vazias nada para oferecer ao dia e o dia já existia há muitas horas
E ainda lutava para me colocar no espaço certo
E me debatia em agonia no espelho apertado pelo nó gordio
E me afogava em ansiedade de enforcado que ardia
Em angústia e insistia em teimosia de não poder desistir da poesia
Que na ideia morria e do poema que no ideal sucumbia
E mesmo a forçar a barra as musas não salvavam o perdido dia
E até o tempo findava tristemente e só o nada restava
Ao lado do poeta abandonado à deriva do próprio destino
De homem que se fez menino e se perdeu girino
Na enseada do brejo abocanhado pela noite.
BH, 0160702020; Publicado: BH, 090602022.
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