Comigo sem nunca pensar em ressarcir
Sem nunca pensar em pagar ou diminuir
Os prejuízos que tiveram comigo
Sou realmente uma vergonha que envergonho
Uma fraqueza do fracasso uma fragilidade
Do frágil a única mulher que
Consegui enganar foi a minha que
Teve ainda a coragem de gerar no
Ventre dela três filhos meus dois meninos
Uma menina que só terão como
Herança as mazelas que vou deixar
Nada terão que herdar a não ser os
Meus erros defeitos meus vícios falsidades
Minhas mentiras ilusões mediocridades
Nada terão para herdar a não ser as
Minhas mágoas o meu sofrimento
Minhas lágrimas nódoas manchas trevas
Coitados dos meus filhos se forem
Seguir o mesmo caminho que segui
Tenho pena piedade caridade
Não paro de pedir a Deus para que os
Caminhos deles não sejam os que segui
Que saibam desvendar por conta própria
Já que não servi para ensinar
A verdade real a liberdade estrutural
Tudo que puder afastar o mal as
Doenças dos seres das mentalidades
Hoje quero falar a todo o mundo inteiro
A todo o universo inteiro a tudo que
Os compõem que os formam que os participam
Quero ser igual ao São Francisco de Assis
Se ninguém quiser me ouvir vou
Falar para as pedras para as árvores para
Os desertos as areias as dunas as poeiras
Vou falar para os rios os vales as montanhas
Os morros os montes as cordilheiras
As chapadas as serras as ladeiras
Vou falar para toda a fauna a flora
A natureza inteira vou falar para
Os surdos os cegos os mudos os mortos
Se não conseguir respostas não tem problemas
Vou continuar a procurar até encontrar
Vou continuar a tentar até chegar a hora
Até chegar o momento o minuto o segundo
Vou continuar a continuar indefinidamente
Não pararei até cair sem fôlego morto
Estirado na calçada com todas as pessoas
A passar por cima de mim ou a parar
Ao longe com nojo asco desta coisa
Estirada aí no meio da calçada
Cadê a autoridade que não toma uma
Providência remove daqui este
Entulho social este desequilibrado mental?
Cadê o gari que não remove daqui
Este lixo que não serve nem para
Ser reciclado clonado?
Cadê a madame que deixou
O seu cãozinho da alta sociedade
Fazer este cocô aqui na calçada
Não apanhou com a pazinha
Não colocou num saquinho plástico?
Deixa esta merda aí na rua
Para todo mundo pisar ou passar
Por cima a resmungar de nojo da sujeira?
Até que enfim apareceu uma barata
Desviou a atenção chamou para si toda a
Atenção esqueceram de mim
Foi aí que veio o meu sossego a
Minha salvação foi a barata aparecer
Obteve mais respaldo do que sou
Ninguém queria pisar em mim
Para não sujar os pés todo mundo
Correu atrás da barata a tentar
Esmagá-la na sola dos sapatos
Querer pisar numa barata não pisar em mim
Foi demais entrei em parafuso em pane
Entrei em depressão paranoica homicida
Suicida tudo o mais de ida de vinda
Já estava ali há mais tempo
Como sempre fui preterido deixado
Para depois de lado fui esquecido
Como sempre fui mantido à distância
Doutro lado da lua da rua
Fui mantido na ausência de sempre
Donde nunca consegui sair para nada
Nunca consegui evoluir pelo menos para nada
Só a inexistir solitário só sórdido
Por hoje foi tudo o que tinha a falar
Sei que ninguém vai escutar não
Vai ouvir o uivo que vou soltar
Por hoje foi tudo do nada que
Tinha para deixar sem ter o que fazer
Não vou pedir perdão não vou pedir desculpas
Também não vou me arrepender pois
Hoje queria falar mesmo ao ser mudo
Quem sabe um milagre não poderia acontecer
A fé está aí para nós procurá-la
É do tamanho dum grão de mostarda
Se a conseguísseis removereis as
Montanhas que vos enterram dentro de vós
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