Da areia fina e sem consistência
Que não serve nem para formar dunas
Desertos praias leitos de rios ampulhetas
Da areia imprestável movediça onde
Quanto tento me firmar mais sou
Devastado desfeito pela tempestade
Causada pela descarga de todos os doentes
Que trazem o câncer no corpo no sangue
Depositam sobre mim as esperanças
De curas de salvações recuperações
Quero administrar o pavilhão de cancerosos
Ser por onde flui o néctar que leva ao arquipélago
Gulag um alento e um alívio por não sentirem
Pois sou a morfina o sentimento deles
Chamo para mim todos os tumores
Sou o que tenho que morrer no lugar deles
Espero me sentir bem assim ao morrer
Por uma causa que não seja a minha
Não quero é morrer por mim
Não suportaria morrer por futilidade
Morrer inútil na inutilidade ineficiência
Morrer caído na decadência na demência
Com toda a influência do mal a se apoderar
Das raízes das estruturas do meu coração
Da imprudência do meu ser na minha
Falta de educação indelicadeza aflição
Compreensão lucidez de espírito razão
Tino de administração de comportamento
Moderação aperfeiçoamento da vida comum
Falta-me a mais simples condição de homem
De ser humano na semelhança de primata
Falta-me o mais simples que move tudo
A máquina do universo nos trilhos
Lubrificada regularizada para a jornada
Através das trevas da escuridão abissais
Que abocanham o fraco o lançam aos rochedos
Feito palha à crista das ondas d'águas do mar
Não me venhas me explicitar explicar
Venhas me confundir me enganar
Venhas me dissecar quebrar a minha rigidez
Cadavérica orgânica sem tentar catalogar
Os órgãos encontrados em mim que talvez
Sirvam para algum estudo de anatomia
Ou para uso em alguns desses cultos onde
São usados corpos órgãos de crianças assassinadas
Doeis meus órgãos para essas seitas macabras
Não quero mais que roubem dos cemitérios
Os vestígios de seres humanos que servem de
Oferendas nos sacrifícios de seus altares malditos
Não é justo seres inocentes serem abatidos
Terem os órgãos arrancados depois queimados
Em ofertas aos donos das trevas da escuridão
Toda pessoa que for passar por esse sacrifício
Quero ir no lugar dela pois só mereço
Sei suportar a tortura da inquisição
Só sei que sirvo para morrer de verdade
Na fornalha da fogueira do abismo eterno
Não tenhais mesmo piedade de mim não
Quero conhecer a misericórdia só a miséria
Não quero conhecer a graça só a desgraça
Que caia sobre mim pois é só o que mereço
Meus filhos minha mulher não merecem
As crianças não merecem nem meus pais
Meus irmãos parentes também não merecem
Só sou só o que mereço quero que tudo
Caia sobre os meus ombros minha vida
Sobre minha alma meu espírito
Quero que tudo caia sobre minha cabeça
Pensamento mente memória lembrança
Salveis todas as crianças do afogamento
Do sofrimento da tortura da violência
Do pau de arara do choque elétrico do
Arrancamento de unhas beliscões com
Alicates deixais isso para mim sou o
Que sou dono que sei o que faço o que
Devo fazer o que é para ser feito comigo
Sou um herege perseguido pela inquisição o
Energúmeno donde Jesus Cristo expulsou
Os demônios a manada de porcos
Para onde Jesus Cristo os mandou sou
O precipício onde a vara se lançou o
Espinho da coroa que furou Nosso Senhor
O cravo espetado nas mãos nos pés
Sou a cruz onde foi pregado o
Vinagre que os soldados deram-no para beber
O suor que gotejou no olhar a arder a
Impedir de ver e os empecilhos da calvário
É por isso que angario sobre mim
A órbita de todos os astros estrelas dos céus
De todos os satélites planetas asteroides
Que passem todos sobre mim eternamente
Que convirjam todos com as suas gravidades a
Lançar-me nas profundezas do buraco negro (2)
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