terça-feira, 30 de julho de 2024

agora de costas para o sol

agora de costas para o sol
pois não tenho mais o sol por companhia
não sigo mais o sol como seguia
não me cansava de olhar para os olhos do sol
não me quedava não me aquietava era irrequieto
o sol não era discreto
estava sempre à minha frente
a me ditar os rumos os ritos os ditos
os temas os lemas os dilemas as rimas
as sinas as sagas os cimos os altos
hoje o sol abandonou-me no meio do deserto
sem água sem oásis sem miragens só dunas
mais dunas de areias tempestades vendavais
hoje o sol nunca mais
só saudades que nunca me acostumarei
só lembranças de crianças recordações
de orações memórias de histórias
o sol lá detrás dos montes depois além dos mares
sem olhar para atrás só a me desprezar sozinho
só a me dizer que terei que aprender a ser solitário
esse sol tão ordinário não aceita companhia
não aceita amizade
pensa que sinceridade é fingimento
sofrimento é falsidade
que são coisas da idade
que agora é aguentar o rojão
cuidar do coração descuidado descuidista
que a noite é eterna onde a madrugada que agrada
nunca chega com o dia

BH, 0140502024; Publicado: BH, 0300702024.

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