sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Hoje falei comigo mesmo sem querer; RJ, 0210501995; Publicado: BH, 03001202011.

Hoje falei comigo mesmo sem querer
De repente peguei-me a falar sozinho
Sentado no meio-fio da esquina da rua
Absorto estava comigo mesmo solitário
Com meus pensamentos que não levavam-me
Pois se estava sentado no meio-fio
Os meus pensamentos não poderiam levar-me
A lugar algum que quisesse que fosse
Mesmo se estivesse com vontade de ir
Sentia dentro de mim sozinho
Que não estava com vontade de mover-me
Só ficar sentado ali morto na calçada
Ou mesmo no meio-fio que fosse lá
Pernas mãos bundas joelhos sacos vaginas
Passavam todos bem apressados diante de mim
Meus olhos míopes cegos acompanhavam tudo
Todo o movimento desse vai vem vai vai
Era apenas um pensamento ali agora
Sentado à porta dum mundo estranho
Um estrangeiro mudo surdo mendigo
Coberto de andrajos poeiras tiriricas
A cheirar um pouco mal devido a falta de banho
Nem percebi quando aproximou-se o carro do hospício
Vestiram-me a minha camisa de força predileta
Fiquei bastante elegante seguro dentro dela
Novinha em folha feita sob medida para mim
Parti sem sair do lugar em que estava
Para a minha próxima casa nova na esquina da rua sem saída
Cataram-me as pulgas os piolhos os carrapatos
Que eram meus inquilinos inadimplentes
Há anos não pagavam-me o aluguel
Não sabia como fazer para receber deles
O jeito foi apelar para o bom senso da vida
Negociar a permanência por mais um período
Falei tanto que fiquei rouco perdi a voz
Peguei um mudo para falar por mim por mímica
Comunicava-se melhor é enterrar logo o defunto antes
Consegui entender o fim da última parte
Pedi um aparte ao saber quem o defunto era
Estava em adiantado estado de decomposição
Pensei com todos os meus botões então
Inclusive os da braguilha da minha calça saia
Pelo menos por enquanto estou a adiantar agora
Senti a terra a ser jogada em cima de mim
Aos poucos meu gritos foram abafados
Quero é ser cremado

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