Olho o bamboleio o bamboleamento dum dia na vida de Lucas Ivanovitch Furtado Medina
Vejo o seu bambolear em cima da cama o balançar do seu corpo branco o gingar do seu
Tronco o oscilar desordenado dos braços mesmo ao não saber a causa tão bamboleante ou
Porque bamboleia assim sem um bambolê ou com um bambolê imaginário arco de plástico
Que as crianças usam para brincar ao equilibrá-lo à cintura ao bambolear o corpo como um
Galo que a minha mãe teve antes de ir para a panela que era chamado de manivela pois
Rodopiava o pescoço a andar para atrás mamãe depois explicou que era cego o Lucas
Ivanovitch Furtado Medina porém não é cego porém nasceu sem o corpo caloso o que me
Deixou durante toda a vida um homem bambo frouxo em tudo pouco firme nas decisões
Pouco apertado para agir é a causa de toda a minha bambeza a moleza que me acompanha
Que nunca irá me abandonar é o que me faz bambear me faz tornar a perder a estabilidade
Vacilar em todas as minhas situações que tirava onda de bambambã entrava em roda de
Bamba era valentão perito em qualquer assunto ás na demonstração prestidigitadora craque
Nos pés nas mãos de repente me vejo sem a confiança duma balzaquiana com insegurança
Duma mulher com cerca ou mais de trinta anos que ainda não encontrou o braço do amor
Que ainda não viajou ao mar Báltico entre a Polônia a Rússia a Escandinávia de balsa ou
De jangada para atravessar os rios os mares com todo o balouço do perigo o balanço da
Rede como o das águas do mar Lucas Ivanovitch Furtado Medina me aquietou me deixou
Balofo com muito volume pouco peso me deixou fofo sem consistência com a qualidade
Da balofice esmorecido desanimado indiferente longe do balneário ou de tudo relativo a
Banhos longe do local de férias já que também não preciso pois estou desempregado o
Que me ajuda é justamente a ajuda dum salário mínimo que recebe do governo nem
Disso toma algum conhecimento ou sabe que aos doze anos prestes a fazer treze
Sustenta pai com quarenta cinco não tenho como balizar a minha vergonha nem
Tenho como por baliza marcar limites para a minha inércia fazer uma marcação
De balizamento duma estaca ou marco que indica um ponto não mais saberei
Ser como o militar que vai à frente da tropa a girar um bastão com o qual indica
Os movimentos ou o caminho a seguir não desempenho função semelhante em
Qualquer desfile a não ser nos desfiles dos desgraçados dos miseráveis dos
Desiludidos não atinjo a meta nem marco o gol no futebol estou falido confuso
Como um exame balístico vago como a balística a ciência que se ocupa do
Deslocamento dos projéteis no espaço hoje uma ocupação de baleiro de
Vendedor ambulante de doces balas me deixaria satisfeito porém nem isso
Posso nem pude fazer gostaria de baldear com o Lucas Ivanovitch Furtado
Medina gostaria de passar os meus líquidos para o recipiente dele os dele para
O meu gostaria de passar para Lucas Ivanovitch Furtado Medina como passam
Passageiros ou mercadorias dum veículo para outro gostaria sim de fazer uma
Baldeação com balde de metal ou de plástico ou de madeira baldear minha vida
Inteira para transportar minha água para um dia a água dele para mim sabes Lucas
Ivanovitch Furtado Medina se pudesse por Deus dos céus passaria minha vida toda
Para ti carregaria comigo toda a tua morte só que já estou morto nada tenho para
Oferecer a não ser estas secas lágrimas que brotam aqui nos meus olhos de defunto
De cadáver em adiantado estado de putrefação pois não vou receber a bandeirada na
Chegada não poderei pagar a importância fixa que se soma ao valor duma corrida
De táxi não chegarei ao fim da corrida estarei perdido atrás dos perdidos no último
Lugar atrás dos últimos este bandeirante chorão é o teu pai não o indivíduo que
Integrava uma bandeira um pioneiro duma expedição não tenho nem o brio da moça
Que pratica o escotismo do paulista que tem a coragem de viver em São Paulo apesar
De toda a violência de toda a infelicidade que a megalópole pode oferecer a seus
Habitantes não servi nem para bandeirinha auxiliar do juiz nas partidas de futebol
Este que foi entregue de bandeja é o teu pai foi servido em espécie de tabuleiro
Para servir refeições bebidas cafés com facilidade de colher para o atropelamento
Sem bandeirada a pequena bandeira usada para sinalizações ou ornamentação este
Bandido todo mundo fala que é o teu pai o assaltante que te roubou o cérebro o
Criminoso que te matou o indivíduo muito mau que não te deu o direito de ser feliz
Com o meu banditismo com o comportamento do meu bando o meu grupo de
Pessoas que em geral estão reunidas para fins criminosos não o de animais em
Número indeterminado saibas que não estou no alto como um bandó um penteado
Alto que assenta dos lados da cabeça ou em torno de toda ela estou por baixo como
Uma bandoleira a correia usada para manter uma arma a tiracolo saibas que estou
Mais para bandoleiro mais para bandido do que para pai um bandolim instrumento
Musical sem cordas um bandolinista tocador de bandolim sem o bandolim o
Bandônion abandonado espécie de sanfona grande como um bandulho com teclado
Uma pança de Dom Quixote uma barriga perseguida por toda a mídia o casebre
Que moras, não é o bangalô a casa pequena de aparência caprichosa geralmente
Edificada em sítios aprazíveis tipo de chalé mostrado na propaganda com toda a
Facilidade mas que para nós sabemos que será toda a dificuldade Lucas Ivanovitch
Furtado Medina não sou teu pai sou um banguê uma padiola para transportar os
Cadáveres dos pretos materiais restos de construção bagaços de cana nos antigos
Primitivos engenhos de açúcar não sou o mocinho no bangue-bangue filme de
Aventuras do velho oeste americano sou no faroeste o velho banguela a pessoa que ri
De boca aberta escancarada com a falta de todos os dentes na frente da arcada
Dentária a única coisa que tenho para ti é a banha acumulada a gordura que trago
Que parece a especial gordura de porco que é para o que mais estou preso em chiqueiro
De terreno baixo alagado pântano próprio para a criação de porco em banhado pois
Não gosto de me banhar não gosto de dar nem tomar banho me mergulhar em água ou
Outro líquido molhar pelo menos os pés passar correr por junto de rios lagos mares
Esta é a herança que deixo a ti pois não posso fugir da tua presença estou preso no
Baricentro o centro de gravidade me prende a barimetria a medição do peso ou da
Gravidade me impede de barganhar esta vida com outra além quero trocar de lugar
Negociar minha saída daqui regatear o preço da minha'alma pechinchar para ver se
Consigo um pouco mais vendê-la por mais do que realmente vale na barganha sei
Que não vale nada se saio sempre a perder quem a levar perderá mais vou usar de
Trapaça para ver se na troca lucro um pouco mais se fosse um bardo não sofreria
Tanto poeta não tem alma não tem com que se incomodar o trovador só tem que
Cantar suas trovas como quem abre a braguilha começa a mijar depois de terminar
Sacode fecha a braguilha para guardar já sou um barco cheio de incomodações sou
Um engenho construído para flutuar deslocar-se em vias navagáveis que não saiu do
Lugar foi a pique sou uma embarcação fantasma um navio negreiro só sei deixar o
Barco correr deixar a coisa seguir seu livre curso deixar as águas rolarem feito lágrimas
Sem tentar mudar o rumo de nada não sei cantar a Barcarola a canção dos gondoleiros de
Veneza a peça musical feita nos moldes dessa canção lancei na barcaça da ignorância a
Barca grande da estupidez para transporte de carga bruta como a de porte médio larga
De pouco calado cujo timoneiro barbudo bateu de frente no recife barbado ao afundar os
Sonhos a deixar os pesadelos a levarem a vida a deixarem a morte a levar nada a deixar
Tudo num dia na vida de Lucas Ivanovitch Furtado Medina, só, no infinito ito ito ito
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