(Pôrto, 1886.)
Outono. O Sol, qual brigue em chamas, morre
Nos longes d'água... Ó tardes de novena!
Tardes de sono em que a poesia escorre
E os bardos, a cismar, molham a pena!
Ao longe, os rios de águas prateadas,
Por entre os verdes canaviais, esguios,
São como estradas líquidas, e as estradas,
Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos,
O xale pedem a quem vai passando...
E nos seus leitos nupciais, os ninhos,
As lavandiscas noivam, piando, piando!
O orvalho cai do Céu, como um unguento.
Abrem as bôcas, aparando-o, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do Vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cai... E, à falta d'água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe prega
O seu Sermão de Lágrimas, à Lua!
A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui!
Sôbre as sementes, sôbre o Oceano impera,
Sôbre as mulheres grávidas influi...
Ai os meus nervos, quando a Lua é cheia!
Da Arte novas concepções descubro,
Todo me aflijo, fazem lá idéia!
Ai a ascensão da Lua, pelo Outubro!
Tardes de Outubro! ó tardes de novena!
Outono! Mês de Maio, na lareira!
Tardes... Lá vem a Lua, gratiae plena,
Do convento dos Céus, a eterna freira!
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