Pensamento de obra de empedrador
Mente de resultado de calceteiro; ânimo
De doença nos cascos das cavalgaduras; não
Adianta, sou assim desde pequenininho;
Cérebro de empedramento; memória
De pura empedradura; surgi no
Mundo para seguir pelo caminho empedrouçado,
Para andar por estrada de aspecto pedregoso
E pisar descalço em chão pedregulhado;
Nunca sou de trajar-me bem, não tenho
A tradição de vestir-me; de impelicar
Minha pele, preparar as peles finas, para
Cobrir meu corpo de pelicas; vejo-me
Sempre nu, cru, imagem de carne
Crua e nua, cujos nervos e ossos,
Não se podem empenachar; nem a cabeça,
Posso enfeitar com penachos, como se
Fosse um índio; enfatuado, torno-me
Arrogante e sinto pena do meu empenamento;
E os componentes do meu ente nunca
Ficam empencados comigo; meu eu não
Fica apinhado com meu ser e nem
Unido com minha alma; e por maior
Que seja o empenhamento; com todo o
Empenho possível; com promessa de pagamento
De dívida e cumprimento de compromisso,
Não sinto o desabotoar e nem o desabrochar
Do pendão do meu milho; paro no tempo,
Não sigo a empendoar, a querer pendoar
No espaço, a teimar em apendoar o limite;
Acabo então a não vencer; culpo a dificuldade,
O estorvo e óbice; não cobro a diferença de
Contos e justifico o empeno; todos riem quando
Pretendo empenhorar a palavra; nada mais
Tenho para dar em penhor; olho o problema
Empepinar sem solução e não sei como
Emperlar a resolução; seria um Midas,
Se viesse a pôr pérolas em tudo; seria
Um micenas, se viesse dar a forma ou
Adornar com pérolas o empiema que
Paralisa meu coração; ao expelir o pus,
A matéria como o derrame purulento de
Uma cavidade, melhor seria se este órgão
Empiemático se transformasse num empíreo,
Numa morada de deuses, lugar dos santos,
Num céu celeste, supremo.
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