segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sempre Vivas, 181, 1; CONT, 0160302012; Publicado: BH, 0130702015.

Faças naves espaciais construas satélites faças
Submarinos nucleares bombas atômicas foguetes
Interplanetários plataformas espaciais submarinas
Trens que levitam robôs bases na Antárctica veículos
Não tripulados armas químicas transplantes de
Todos os tipos de órgãos parafernálias modernas
Elétricas eletrônicas navios transatlânticos
Suntuosos porém não enveredes-te pelos
Caminhos da escrita não tentes o suicídio
Tentar escrever é tentar o suicídio escrever
É coisa de louco doido maluco mentecapto
Energúmeno quem escreve não vai para o céu
Não nunca quem escreve é maldito amaldiçoado
Estigmatizado complexado esquizofrênico não
Vive de bem com a vida é recluso autista severo
Avesso ao mundo aos ares amenos aos climas suaves
Não é cordado disposto em alma espírito
Presente de ser de pensamento de mente
Não não caias nesse buraco não levantarás mais
Ficarás com todos os membros quebrados
Estendido no meio das estradas depositado
Nas encruzilhadas despacho de macumba
Bode preto para sacrifício galinha preta para
Oferenda altar pagão para missa negra
Não ouses por esse caminho não tenhas a
Audácia de atentar à humanidade com
Letras de chumbo ferro fundido enxofre
Aço derretido quem ora comunga confessa
Reza faz catequese crisma batisma não pode
Aventurar-se pela escrita é beber ácido
Sulfúrico nitroglicerina agitar a adrenalina
É pressão alta câncer na próstata entupimento
De veias aortas é não respirar pelo nariz engasgar
Ter defluxo refluxo à toda hora é comer comida
Mastigada por outras bocas beber lágrimas
Salivas de negras escravas então não arrisques
Não terás salvação serás condenado por tuas
Palavras sagradas ou não consagradas ou não
Profanas pagãs malditas como tu tua boca
Tuas mãos vi meu avô Donato nu num
Canto dum quarto numa casa de chão de
Terra a proferir palavras sem palavras sem
Letras vi meu avô Donato no chão dum quarto
Dum casebre sem móveis luz água Deus
Quem mais viu? o que vi carrego comigo
Aqui aprender-me a essas coisas que
Machucam-me o passado do qual não
Consigo apagar de dentro das minhas
Trevas depois vi meu avô Donato morto
Numa casa ribeirinha era de noite todos
Bebiam cachaça riam gracejavam o único
Que parecia não gostar da festa era o meu avô

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