Quanto tempo perdido sem olhar a lua
Quanto tempo perdido sem fitar o horizonte
Quanto tempo perdido sem furar o azul
Do firmamento com o olhar
Quanto tempo perdido sem sentir na face
A brisa do mar
Quanto tempo perdido sem saber aproveitar o tempo
Depois é chorar
Ai perdi meu tempo não vivi
Não sorri para uma criança
Nem admirei a sabedoria dum ancião
Aí é lamentar a reclamar da vida
A amaldiçoar o tempo
Quanto tempo perdido sem assuntar a tarde do sertão
Ou acompanhar o voo da garça
A coreografia do gavião
O plainar do urubu
Quanto tempo perdido carro de boi
Meu boi zebu
Que falta que me faz agora
Aquele tempo que tinha a hora
Não aproveitei
Lancei nas águas das fontes
Dos riachos dos regatos
As lágrimas das saudades que me tangiam o peito
Quase que afoguei-me
Quanto tempo perdido sem observar os luze-cus
Os besouros que moram nos ocos dos paus
As lavadeiras nas beiras dos rios suas cantigas
Suas roupas estendidas nos varais a quarar
Quanto perdido sem apreciar o café coado
Que o cheiro ia longe invadir o peito
Quanto tempo perdido nem o nosso santo Marcel
Saberá mais buscar para nós esse tempo veloz
Que voou para distante
São Proust que ilumine os caminhos
Para que encontre encerre a busca de tudo
Que não tive estava bem aqui perto de mim
Diante dos meus olhos cegos
Quanto tempo perdido sem enxergar o tempo perdido
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