quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Llewellyn Medina, Ah! Neguinha; BH, 0310802011.

Ah! Neguinha
Se você fosse à América
Eu te apresentava ao cachorro-quente
Se você fosse esperta
Eu te dava um contrato de franquia.

Você se intoxicava com quete-chupe
E trabalhava na minha "trade-mark".
Eu descansava em Búzios
Não! Me cansava em Búzios
E descansava nos Alpes

Você engordava minha conta bancária
E eu perdia uns quilinhos naquele SPA.

Ah! Neguinha
Se você fosse esperta
Eu te ensinava inglês
Pra você dizer:
"Yes, my lord" (meio antigo)
Senão:
"Ok mister" (não é o que se diz?)

E você ficava feliz
Por eu ser tão troglodita (digo poliglota).

E tudo era registrado na conta-corrente
Débito: pra você.
Crédito: pra mim.

E se você fosse sábia
Você zerava cada saldo
Afinal você zela por sua fama.

Manuel Bandeira, Plenitude; BH, 0310802011.

Vai alto o dia. O sol a pino ofusca e vibra.
O ar é como de forja. A força nova e pura
Da vida embriaga e exalta. E eu sinto, fibra a fibra,
Avassalar-me o ser a vontade da cura.

A energia vital que no ventre profundo
Da Terra estuante ofega e penetra as raízes,
Sobe no caule, faz todo galho fecundo
E estala na amplidão das ramadas felizes,

Entra-me como um vinho acre pelas narinas...
Arde-me na garganta... E nas artérias sinto
O bálsamo aromado e quante das resinas
Que vem na exalação de cada terebinto.

O furor de criação dionisíaco estua
Nos fundos das rechãs, no flanco das montanhas,
E eu absorvo-o nos sons, na glória da luz crua
E ouço-o ardente bater dentro em minhas entranhas.

Tenho êxtases de santo...Ânsias para a virtude...
Canta em minh'alma absorta um mundo de harmonias.
Vêm-me audácias de herói... Sonho o que jamais pude
 - Belo como Davi, forte como Golias...

E neste curto instante em que todo me exalto
De tudo o que não sou, gozo tudo o que invejo,
E nunca o sonho humano assim subiu tão alto
Nem flamejou mais bela a chama do desejo.

E tudo isso me vem de vós, Mãe Natureza!
Vós que cicatrizais minha velha ferida...
Vós que me dais o grande exemplo de beleza
E me dais o divino apetite da vida!

                                                   Clavadel, 1914      

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, Nada mais; BH, 0310802011R

Nada mais que de repente - Meio cordel

O zabelê da caatinga,
Rapsodo sertanejo,
Tira da terra um arpejo
Prenúncio de liberdade.
Bebi água da moringa.
Há uma goteira que pinga
No meu rancho de saudade.

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, Há; BH, 0310802011.

Há nas cidades um labor que encerra
Brilho maior que as pedras preciosas.
Nos campos verdejantes desta terra,
Mais que o ouro, as plantações esperançosas.

Viva a esperança de um viver bendito,
Memorial a proclamar vitória.
No concerto da orquestra do infinito,
O eterno amor conduz à eterna glória.


José Ignácio Pereira.
Rua Radialista Mário Batista, 100.
Céu Azul.
31-580-180.
Belo Horizonte - MG.
34961517.

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, Sabiá da Mata; BH, 0310802011.

Venho te ouvir
Na manhã do sonho
Quando me proponho
Ir de peito aberto,
Cada vez mais perto
Da alegria minha.
Venho te esperar.

Pássaro encantado,
Trovador da mata,
Menestrel do afeto,
Pousa em minha mão.
Vem, traz a cantata
Do meu bem-querer.
Companheiro alado,
Junto do teu lado
É que eu me aquieto.
Vem, quero te ver.

Vem arrebatar
O meu coração.
Quero me alegrar,
Já sem solidão.
Ó ave-violino
Em canto cristalino.
Chego a ser menino.
Vem comigo, então.
Faz de mim floresta.
Chama-me de amor.

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, A Boa Nova; BH, 0310802011.

A Boa Nova a fé nos glorifica.
Minas Gerais, seara dos profetas.
Há um anjo do barroco em Vila Rica
A plenitude unge os seus poetas.

O seu Belo Horizonte já encantou
Todo o reino do olhar que é natural.
Nos vales e montanhas se ofertou
Do encanto a sinfonia universal.

Canta o coral consagrado
Que a harmonia Deus nos deu.
Salve Ouro Preto encantado
Por Marília de Dirceu.

E Bárbara Heliodora
É do norte a estrela bela
E inspiração se revela,
Modelo, à mulher de agora.

Salve esta gente mineira
Porque sonha e luta mais.
Há na pátria brasileira
A alma de Minas Gerais.

Cantai, reverentes cantares,
Que há uma legenda nos ares:
Alberto Santos Dumont.

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, Luar de Agosto; BH, 0310802011.

Eu ia pela rua, e a lua ria,
Sabendo que eu buscava o rosto dela.
Aberta eu não via uma janela,
Na fria madrugada em romaria.

Imaginava vê-la numa tela
Ou no poema meu, que eu escrevia
E dedicava à minha estrela-guia
Com o amor perfeito que o sagrado vela.

Então minha canção de verso triste
Atou clamor num raio de luar
Para dizer que sim, o amor existe.

E eu disse para a lua que ainda ria: Amar
É a glória do infinito, e tu me viste
Falar do eterno amor no meu cantar. 

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, Meandros; BH, 0310802011.

Entrei no labirinto da memória,
Sem nome, sem razão e sem protesto.
Talvez quisesse alcançar no gesto
Consoladora paz à luta inglória.

Ruínas contemplei da ilusória
Servidão do tenebroso manifesto.
De lá só trouxe nada mais que o resto
Que há de ser o meu pavor à glória.

Me encontro redimido de mim mesmo.
Se vida tenho, não a lanço a esmo.
Do amor que não me mova a vã procura.

Entrei na gruta escura da minha alma
Como mendigo que suplicia a calma
E a benção luminosa da ternura.

Para entender o governo; BH, 0801101999; Publicado: BH, 0310802011.

Para entender o governo
Representante maior da
Burguesia da elite só se
Acapoeirar-se como o
Tal tornar-se capoeira
Fajuto acanalhar-se igual
Mas cuidado que isso
Pode causar a acapnia
A diminuição da taxa
De anidrido carbônico
No sangue o governo é
Nocivo faz mal à vida à
Saúde o governo é cruel
Acartolado comandado
Pelos cartolas do poder
Tão iguais ou até piores
Que os acartonados que
Bem sabemos conhecemos
Pelos cartões do dia a dia
Sem aspecto ou forma
Se adaptam a quem
Demonstrar mais lucro
Na hora de acartonar
A soberania da nação
Esse governo acasacado
Que não arregaça as
Mangas não vai à luta
Não tira a casaca para
Suar a camisa quer
Mais é ver o povo
Acascarrilhado sem
Jogo sem cascarra cartas
Só quer é arrochar é apertar
Comprimir muito ser
Exigente com aqueles
Que estão sob sua
Dependência mas é
Um criar de dificuldade
Um acartuchar prover
De forma que cada um
Viva como num cartucho
Sem acasear para os
Pobres abrir casas asas
Soluções ou casear para
Acabar com o aluguel

O tempo que passo; RJ, 0130501981; Publicado: BH, 0310802011.

O tempo que passo
A perder tempo
A matar o tempo
Não é tempo o
Tempo que passo
À toa e inútil
Sem fazer nada
Sem criar nada
Não é tempo
É uma perda uma
Ilusão consciente já
Perdi tanto tempo
À toda hora perco
Mais um tempinho
Sem tempero sem
Amor sem paz sem
Dinheiro sou um
Perdedor de tempo,
Perdulário um
Perdido na vida
No ar no espaço
Se conseguisse a
Evolução da mente
Da alma do espírito
Da inteligência do
Ser se conseguisse
Progredir refletir
Sobre o meu tempo
Sobre o nosso tempo
Não teria perdido
Tanto tempo o tempo
Todo que perdi me
Custou uma vida inteira

Augusto dos Anjos, Idelização da Humanidade Futura; BH, 0310802011.

Rugia nos meus centros cerebrais
A multidão dos séculos futuros
- Homens que a herança de ímpeto impuros
Tornara etnicamente irracionais! -
Não sei que livro, em letras garrafais
Meus olhos liam!
No humus dos monturos,
Realizavam-se os partos mais obscuros
Dentre as genealogias animais!
Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão...
E, em vez de achar a luz que os Céus inflama
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estou acataléptico sombrio; BH, 0801101999; Publicado: BH, 0300802011.

Estou acataléptico sombrio
À margem do rio de Caronte
Não tenho em mãos o óbolo
Que garante a travessia avante
Não estou completo em mim
Meu ser não é perfeito sou um
Patético embrião de esperma
Duma masturbação óvulo
Dum onanismo sem o amor
Acataléctico o contato carnal
Só a inseminação artificial
Até hoje procuro meu útero
Materno meu aleitamento a
Paz acatalética que me falta
Ao fundo do meu quintal
Como legião sou multidões
Mas acastelado em areia
Imitação de castelo movediço
Que a falta de perfeição
Não deixa fortificar
Construir a bom modo o
Futuro incerto prevenir os
Obstáculos precaver-se
Das tormentas encastelar-se
Contra a procela que nos faz
Acastelar dentro do nosso
Próprio abismo acasulado
Na alma no casulo do
Espírito preso dentro do
Crânio a acasular a mente
Internamente mais meu
Deus me observa com
Atenção ponha-me em
Pauta na tua santa
Consideração faças
Que faça parte do teu
Divino acatamento
Toda a minha acatadura
Será uma brisa de sereno
Maresia de ternura um
Leve sopro dum vento

Augusto dos Anjos, A ideia; BH, 0300802011.

De onde ela vem?
De que maneira bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas
Delibera, e, depois, quer a executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Preciso abrir; RJ, 0230501981; Publicado: BH, 0260802011.

Preciso abrir
Abrir as portas as janelas
Preciso me abrir
Abrir minha mente
Minha cabeça
Meu espírito pensamento
Preciso sentir
Sentir-me leve
Livre solto
Preciso sair
Do fundo do poço
Da casca do ovo
Das grades da prisão
Não posso
Continuar preso
A me prender a tudo
A todos ao mundo
Tento sair
Voar por aí
Conhecer outras paragens
Outros caminhos
Vistas de paisagens
Outros céus doutras estrelas
Não posso continuar
Amarrado aqui
Num só lugar
Preciso amar
Livrar-me dos nós
Das correntes grilhões
Preciso abrir mesmo
O peito a alma
O corpo a palma
Ficar em calma
Sem afobação
Sem pânico pressa
Sentado a refletir
De face virada
Para a face da lua

Quando andares pelas sombras; BH, 0801101999; Publicado: BH, 0260802011.

Quando andares pelas sombras
Estejas acautelado sejas astuto
Quando andares pelo vale da
Morte sejas manhoso que a
Morte é uma acaulescência na
Morte não tem o crescimento
De caule como têm as plantas
Só a vemos quando já estamos
Mortos é por isso que devemos
Estar de olhos bem abertos
Para não acaudatar não seguir
Na cauda da dita deixá-la seguir
Sozinha é como uma acanã ave
Da família dos falconídeos
Espécie de gavião acanã preste
A nos prender nas garras no bico
A morte não é acatitada não tem
Modos catitos nem é ajonatada é
Vil cruel vã covarde triste de longe
Sentimos nas narinas o mau cheiro
Da catinga que exala acatingada por
Onde passa na estrada vem de todas
As maneiras de encruzilhadas vem
Até acantalhamada na imitação de
Castelhano afeiçoada a uma lágrima
Choro pranto lamúria ladainha tem
Que ser acatada venerada respeitada
Mas não faz por onde não é acatadora
Não respeita nem acata autoridade
Quando vem de avião ou de trem de
Acataia também planta da família
Das poligonáceas quando andares
Pelas florestas talvez não temas tanto
Se morreres pelo efeito da natureza
É morrer com dignidade

Se tiver um dia; BH, 0801101999; Publicado: BH, 0260802011.

Se tiver um dia
De acarretar a infelicidade
De quem quer que seja
Preferiria morrer jamais
Quereria ocasionar
Uma dor profunda
Um desgosto ou uma ilusão
Por menor que seja sou mais
De acarrear meu coração
Em pró dum outro carrear
Meu ser para que outro
Sobreviva sofrer o acarreio
Do destino incongruente cruel
Seguir acarretado de lágrimas
Servir de peça de artilharia
Colocado em carreta na estrada
Para que enquanto choro outros
Possam rir em meu lugar se tiver
Um dia de ser o acarretador de
Mágoa amargor levar uma
Acarretadura à humanidade
Ao ser humano um acarretamento
De transgressões prefiro deixar de
Existir de saber que o sol todo dia
Vai nascer o céu vai ser azul à noite
A lua as estrelas vão brilhar prefiro
Deixar de sentir a brisa sentir o
Amanhecer o meu próprio despertar
Morrer todo santo dia de acatalepsia
Da impossibilidade de compreender
Ter a negação de qualquer certeza
A dúvida sombria densa que nem a
Luz penetrante é capaz de dissolver

Antero de Quental, Evolução; BH, 0260802011.

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
Tronco ou ramo na incógnita floresta?
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo?
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo?
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade?
Interrogo o infinito e às vezes choro?
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Antero de Quental, Tese e Antítese I e II; BH, 0250802011.


I

Já não sei o que vale a nova ideia,
Quando a vejo nas ruas desgrenhada,
Torva no aspecto, à luz da barricada,
Como bacante após lúbrica ceia!
Sanguinolento o olhar se lhe incendeia…
Respira fumo e fogo embriagada…
A deusa de alma vasta e sossegada
Ei-la presa das fúrias de Medeia!
Um século irritado e truculento
Chama à epilepsia pensamento,
Verbo ao estampido de pelouro e obus…
Mas a ideia é num mundo inalterável,
Num cristalino Céu que vive estável…
Tu, pensamento, não és fogo, és luz!

II

Num céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino:
Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou vive e agita-se incessante…
Enche o ar da terra o seu pulmão possante…
Cá da terra blasfema ou ergue um hino…
A ideia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!
Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que a fecunde o sangue dos heróis.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Podes deixar comigo; RJ, 0200501981; Publicado: BH, 0240802011.

Podes deixar comigo
Que tomo conta não
Vais correr perigo
Vou guardar-te
Dentro do meu coração
Embalar-te no meu ninho
De amor de paz calma
De tranquilidade não
Fiques preocupada
Nem desesperada
Esperes o amanhã
Que vais ver teu medo
Vai acabar vais querer
Amar toda hora vai ser
Hora da gente fazer de
Tudo que se deve que
Não se deve que presta
Que não presta podes
Deixar comigo vais
Aprender não vais se
Arrepender vou aprender
Não vou arrepender vais
Querer querer é poder
Podes deves saias das
Nuvens dos ventos das
Tempestades saias da
Fumaça mostres tua raça
Tua garra teor deixas de
Horror deixas de terror
Pensas no amor deixas o
Barco correr deixas
Acontecer não vais
Morrer correr risco
Deixas que vou te ter

A paz; RJ, 0130501981; Publicado: BH, 0240802011.

A paz
É a calma da alma
Se tua alma
Não tem calma
Não podes
Ter paz
A calma
É a paz da alma
Se tua alma
Não tem paz
Não podes
Ter calma
Procuras logo
A tua paz
Buscas logo
A tua calma
Enchas tua alma
Que está vazia
Enchas de amor
Paz calma
A tua alma
Nada mais
Vai te abalar
É só quereres
Virares os olhos
Procurares olhar
Para dentro de ti
Enxergares teu interior
Corrigires teus erros
Conteres tuas faltas
Manteres tua fortaleza
Vejas bem o que vai ser de ti
Um homem diferente
Real evoluído
Um homem construído
Tijolo a tijolo

Levo vida vegetativa; BH, 0801101999; Publicado: BH, 0240802011.

Levo vida vegetativa
De planta acárpica inútil
Que não dá fruto nem produz
Benefício à humanidade
Agarrado ao passado
De herança espúria
Apegado como carraça
Ao medo à mentira
Acarraçado às ilusões que
Não levam ao descobrimento
Da saída de emergência
Antes do apito final a
Covardia me deixa acarrado
Imóvel como a estátua
Que acarrou na dor
Cansada pelo medo
Acarradouro maldito
Lugar onde sou fado
Lanígero vivi minha
Carranca feita bem
Mal-humorada boa
Zangada de raiva
De ira de rancor que
Faz-me a cada dia que
Passa acarrancar-me
Sempre por ser sem
Paz sem amor como
Posso sobreviver louco?
Ser acarrapatado ignóbil
Piolho semelhante ao
Carrapato ao chato a
Sugar sangue venoso
Das sanguessugas da
Sociedade o medo
Mórbido que trago dos
Parasitas burgueses
Das elites cutâneas
Onde cada membro
Servil só sabe ser vil
Acarrapatar-se ao lucro
Ao dinheiro sujo a
Acarrar à vida fácil a
Deixar de mover-se para
Fazer o bem ao meio comum
Descansar em berço de ouro
Ou dormir a sesta com
O despertar da miséria

Antero de Quental, Hino à Razão; BH, 0240802011.

Razão, irmã do Amor e da justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Atlas podem cair sobre meus ombros; RJ, 0130501981; Publicado: BH, 0220802011.

Atlas podem cair sobre meus ombros
O céu a terra o mundo o universo o
Infinito inteiros o sol a lua as estrelas
Atlas todo o peso que existe em todos
Os sistemas mundos de constelações
Galáxias esmaguem-me igual a um
Rato homicida uma barata de esgoto
Uma lacraia maluca m escorpião
Traiçoeiro Sísifo se desabassem
Sobre mim todas as pedras de todos
Os edifícios casas prédios montanhas
Morros e picos cordilheiras serras
Seriam poucos para encobrir Talos
Toda as minhas vergonhas Caminha
Todos os meus erros Adão podridão
Feiura mesquinhez insignificância
Judas seriam poucos para esconder
Todas as minhas faltas defeitos
Complexos doenças maldades
Dogmas tabus dilemas podem cair
Desabar que não vou sair debaixo
Dante não vou correr da frente vou
Ficar a dever a visita Ulisses Ilíada
Odisseia Odisseu pois sou vil Homero
Vergonhoso sinto nojo ao me sentir de perto

Mau meu mal é que não sei que sou mal; BH, 0701101999; Publicado: BH, 0220802011.

Mau meu mal é que não sei que sou mau
Nem sei acardumar-me como os peixes
Nem reunir-me em cardumes com outros
Peixes da resistência não sei gritar contra
O fim acariáceo da acariçoba das
Umbelíferas da aquricara árvore reibeirinha
Também das Olacáceas a acariúba a madeira
Brasileira todas as outras nossas árvores que
São tombadas destruídas no maior crime
Ecológico que já se teve notícia meu mal
É que só sei me acarneirar tornar-me
Semelhante a um carneirinho que era meu
Apelido nos meus tempos de infância
Meu mal é que sou dócil só sei me
Submeter sem me revoltar sem me
Rebelar em mostrar rebeldia com o que
Estão a fazer om as nossas flora fauna
Enfim com a nossa natureza toda pudera
Ser um acarídeo um acarino indiscreto
O acaro parasita inseto pertencente à
Ordem dos aracnídeos que pode
Transmitir uma sarna violenta uma
Sarna provocada crônica para esfolar
Todos aqueles que colaboram duma
Forma ou doutra pela extinção das
Nossas riquezas naturais quero estar
Chegado cara à cara rosto posto bem
Em frente acaroado para olhar fundo
Nos olhos a ficar em contato com a
Alma a fustigar a de todos os suspeitos
Que provocam o fim do nosso mundo

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Estou meio resfriado; BH, 0801101999; Publicado,: BH, 0180802011.

Estou meio resfriado
Com febre a espirrar o
Que me leva a pensar
Que estou acatarrado
Com dor no peito
Acatarroado pulmões
Cheio de catarro vou
Fazer um infusão para
Ver se faz parar de
Acatarroar-me
Cronicamente é que sou
Atacado de catarro desde
Menino na infância às
Vezes para respirar é um
Sufoco de acatassolar da
Cor do catassol à maneira
De tecer o acedente que sou
Que se conforma na acedência
Com o que acede no peito da
Pessoa que age com indiferença
À saúde com abatimento sem
Esperança torpor insegurança
Acídia por remédios acédia
Por melhorar poder aceleirar
Todas as curas meter nos
Celeiros as descobertas de
Todas as doenças para que
Morrer com boa saúde?
Ninguém vai açaimar a
Morte por mais acavaleirado
Que esteja ou que seja o primeiro
Cavaleiro da corte vai é amontoar
Cada vez mais não servir para
Acavaleirar pega pelo pé puxa
Cerca com cavalete o do nariz
Aquilino o do nariz curvado o
Do nariz acavaletado todo
Mundo vai um dia com os
Acedares cheios de almas
As redes de pescar vazias
De peixes pois a aceca seca
Não deixa secar a vida nadar
No acciano onde aplica-se nos
Jogos públicos para se
Comemorar a batalha de Accio

Se conseguisse mudar de rumo; RJ, 0250501981; Publicado: BH, 0180802011.

Se conseguisse mudar de rumo
De caminho de ramo de remo
Se conseguisse mudar de mundo
Raimundo de raça de ser se
Conseguisse se mudar de
Pensamento mudar de teoria
De filosofia de ética se
Conseguisse mudar de prática
Mudar de tática de tato tatu
Mudar de temática de tema de
Lema se conseguisse se mudar
De roupa de pele de couro de
Cabeça de cérebro mudar de
Inteligência de espírito de
Mente se conseguisse mudar
De raiz de terra de ar se
Conseguisse mudar de muda
Mudar de vida mudar de morte
Mudar de sabor mudar de corte
De gosto de odor perder o azar
Ganhar a sorte mas não consigo
Nunca vou conseguir mudar sou
Imutável nunca vou conseguir
Transformar-me metamorfosear-me
Revolucionar-me

Penso que falta pouco; BH, 0801101999; Publicado : BH, 0180802011.

Penso que falta pouco
Para a minha ascensão
Acendimento de minha
Brasa ardor do meu fogo
Ao entrar em ebulição
Falta pouco para entrar
Na história transformar-me
Num acenso valoroso oficial
Romano subalterno ou não
Não importa vou estar
Acendrado purificado dos
Meus erros acrisolado das
Minhas falhas apurado
Cristalino minha vida
Vai acender excitar para
O amor irritar contra
Aqueles que não sabem
Amar serei apenas um pé
De acende-candeia árvore
Da família das Leguminosas
Que quando o vento da tarde
Fizer o acenamento com o
Aceno das minhas folhas
Darei o adeus às ilusões
Às mentiras e falsidades
Ao ser só uma acena uma
Simples planta vivaz da
Família das Rosáceas o
Restante é o complemento
Acelerado o fim apressado
O passo rápido veloz o
Sucesso ligeiro das chamas
Guardadas dentro do peito
Para correr livres soltas em
Liberdade infinita penso que
Falta pouco para ser acepilhado
Alisado pelos amigos polido
Pelos admiradores aperfeiçoado
Por mim mesmo aplainado
Por uma boa plaina que acerta
Os deslizes apara as farpas

Como é que vou me livrar agora; RJ, 0250501981; Publicado: BH, 0180802011.

Como é que vou me livrar agora
De todas estas coisas? como é
Que vou me safar agora de todo
O meu passado? como é que vou
Escapar escapulir fugir de todos
Os meus erros? loucuras
Maluquices? não tem mais jeito
Estou podre dominado não consigo
Libertar-me sair destas enrascadas
Destes complexos de culpa destas
Depressões como é que vou fazer
Agora depois de tudo isto que fiz?
Como é que vou ficar agora? com
Que cara vou me olhar no espelho?
Com que olho vou me enxergar?
Tenho nojo de mim chego a feder
Cheiro a mofo só de pensar em mim
Sinto náuseas de pensar no que fiz
O estômago embrulhar azedado uma
Vontade danada de vomitar não tenho
Cura não conseguirei mais ser comum
Normal continuarei a querer saber
Como é que vou fazer agora

Ganhei um sufixo áceas; BH, 080901101999; Publicado: BH, 0180802011.

Ganhei um sufixo áceas
Designativo de família botânica
Que tem por tipo do vegetal
Representado pelo radical a
Que se une para deixar ser acéfalo
Ser um jardim de rosáceas
Jasmináceas outras floráceas
Onde se indica a qualidade a
Natureza de cada coisa o
Herbáceo da grama de relva
Malváceo de malva o áceo
Que falta ao acentuado
Evidente de luz do sol
Bem saliente no bem do
Dia definido na precisão
Preciso na definição ao
Deixar de ser acefálico
Para ser o acepipeiro do
Universo o que gosta de
Fazer os acepipes
Admirados pelos deuses
Do Olimpo conseguir deles
A aceptilação o ato pelo qual
O credor dá quitação ao devedor
Sem que este pague a dívida
Pois só com os acepipes minha
Grande dívida com os deuses
Será considerada paga graças
Aos deuses todos vivas a todos
Os deuses que na minha acéquia
Minha regueira de terreiro
Nunca faltaram leite mel
No meu açude também
Nunca faltaram água vinho
O azeite que na azenha
Não venha parar o moinho
Que moi eternamente
Os grãos de minha seara o
Aqueduto armado leve
Longe a notícia da minha
Felicidade para que seja dividida
Por outras vidas necessitadas

Meu sangue; RJ lavou das pedras, 0250501981; Publicado: BH, 0180802011.

Meu sangue lavou as pedras
Por onde passei nas trilhas do
Caminho meu suor já pagou o
Preço por todos os meus erros
Pecados defeitos já tracei meu
Calvário derramei meu sangue
Suor lágrima só que não tive
Valor meu sangue era plebeu
Era sangue de ateu não era
Sangue azul de rei ou de
Deus era um sangue comum
Venoso que matava era um
Suor comum que afogava
Ralos sem sabor não tinham
Valor real só venal sangue
Proletário de angu arroz
Com feijão mão de obra
Barata boia-fria atrasada
Ignorante meu sangue secou
Meu suor secou já lavei as
Trilhas os degraus as escadas
Lavei os caminhos paguei
Minha dívida não devo nada
Puxei minha cadeia Deus é
Testemunha tirei a minha
Corcunda renovei meu sangue
Purifiquei meu suor

Perdi o contato com a natureza; BH, 0901101999; Publicado: BH, 0180802011.

Perdi o contato com a natureza
Não vejo mais as árvores nem
Sinto o perfume das flores não
Vejo mais os áceres ácer bordo
A árvore verde minha aceração
É lenta gradual não percebo
Mais as formiguinhas estou
A ser transformado em aço
Frio resistente perdi o contato
Com as aceráceas espécime de
Famílias de plantas que tem
Por tipo o bordo aceráceo
Estou a ficar acerado minha
Têmpera é de aço puro inox de
Inoxidável gélido não vejo mais
O voo das borboletas nem ouço
O canto das cigarras é devastador
Para mim meu peito acerador
Tudo me acera por dentro por fora
Uma aceragem eterna nunca mais
Serei um homem meu ser acerante
Sempre me impedirá de olhar as
Nuvens do céu de olhar os pássaros
Tamanha a minha infinita acerbidade
Minha aspereza interior que não
Acaba nunca a agrura de minh'alma
Com a qualidade de tudo que é acerbo
Que trago dentro de mim meu hálito
Azedo de vários dias semblante
Áspero de quem odeia olhar severo
De quem não gosta cruel nas ações
Nos atos mas desabrido na mentira
Amargo de verdade se inda tivesse
Algum motivo para sorrir expressar
A alegria da felicidade nenhum
Motivo tenho a não ser a inexistência
Quem pretende ser tem que ter no
Mínimo amor nunca perder o contato
Com a mais simples obra da natureza
Nem virar esta máquina desumana

O que pode ter dentro duma cabeça; RJ, 0220601995; Publicado: BH, 0180802011.

O quê pode ter dentro duma cabeça
Dum homem que aos quarenta anos
Quer nos tempos de hoje sobreviver
De poesia da poesia? igualzinho
Naquela época na qual Van Gogh
Queria sobreviver da pintura da arte o
Que se pode esperar dos pensamentos
Que saem da cabeça dum homem de
Quarenta anos? o que se passa com o
Cérebro dele? vira um eneacéfalo
Perde o raciocínio não articula nada
Fala muito mal nem sabe pensar?
Poucos nesta fase pensam hoje em
Dia o homem de quarenta anos tem
Que aprender a pensar porém coitado
Continua perdido sem encontrar o
Caminho sem encontrar a saída a
Tentar sem parar a galgar um degrau na
Vida no meio do tempo fica estendido
Infinitamente a esperar a oportunidade
Que nunca vem ao seu encontro

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Por mais que queiras tudo; RJ, 0130501981; Publicado: BH, 0160802011.

Por mais que queiras tudo
Transponhas o espaço o
Universo o infinito por
Mais que inventes
Máquinas fabulosas
Canhões de laser
Armas poderosas
Nucleares atômicas
Satélites ultramodernos
Estratégicos fatais
Por mais que faças
Tudo aquilo que
Homem algum
Conseguiu fazer se
Não tiveres amor
Nada disso vai valer
Por mais que ganhes
Todo dinheiro do mundo
Todas as riquezas modas
Mulheres prazeres se
Não tiveres amor podes
Até morrer porque quem
Não tem amor é um
Cadáver é um  defunto
Podre em decomposição
Por mais que tenhas poder
Inteligência capacidade
Por mais gênio que sejas
Intelectual pensador
Se não tiveres amor
Nunca vais ser senhor
Da paz que existe em ti
Mais importante do que
Tudo isso é a tua própria
Paz a tua consciência
O teu próprio interior
Por isso busques a paz
O amor quem tem paz
Amor tem a vida inteira
Para viver não morre nunca

O sol pode nascer; RJ, 0110501981; Publicado: BH, 0160802011.

O sol pode nascer
Quantas vezes quiser
A chuva pode cair
Quando bem entender
O vento entra onde lhe
Der na venta a estrela
Brilha sem ninguém
Mandar mas tu não
Tu tens dono tens
Número tens hora
Tu não és dono
Nem do teu nariz
Tu tens dono não
Tens liberdade
Nem és livre tu
Nunca vais poder
Ser como o sol
Como a chuva
Como o vento
Ou como a estrela
Tu serás sempre
Esse verme vil
Réptil danado
Amaldiçoado a
Penar eternamente
Sem paz sem calma
Sem amor sem alma
Pelos cantos do mundo a
Perambular pelos guetos
Pelos esgotos de sarjetas
A mendigar a implorar por
Migalhas de pão restos
Mortais de comida
Perdido igual porco cego
Numa mata selvagem

Fico encarangado só em pensar; BH, 0701101999; Publicado: BH, 0160802011.

Fico encarangado só em pensar
O que foi que aconteceu com
Nossas tribos indígenas estou
Encolhido de tristeza entrevado
Na minha cama igual a um
Reumático um paralítico
Tetraplégico mas apesar de
Tudo que acontece aqui quero
Saber do acarapí indígena da
Tribo dos Acarapís ainda habita
As margens do Rio Branco no
Estado do Amazonas? o Agarani
Continua ali ainda anda no mesmo
Lugar? ou já foi destruído também
Pela ação violenta do homem
Branco representante desse governo
Acarangado que nada faz para
Solucionar a situação do índio do
Brasil no Brasil o índio é patrimônio
Histórico vivo tem que ser respeitado
Preservado garantido à sobrevivência
Deixe-o a brincar às margens dos riachos
A pescar seus acarapicus seus carapicus
Nomes vulgar de vários peixe dos mares
Dos rios da família dos Encinostomídeos
Não adianta a política que só quer acarapinhar
O índio encarapinha na cultura a encrespar
Contra as terras indígenas a tirar as tradições
A encaracolar o destino das nações chega
De fazer carapinha a encarapelar a bonança
Da vida nas aldeias na corrida atrás das
Acaratuas dos acaraús acaratingas dos
Acarapicus acarapixunas acarapitangas
Acarapirambocaias todos Ciclídeos
Espécies de dourados deixe-os nas árvores
Às suas garças aves dos Ardeídeos
Deixe-os sós com consigo mesmos

Abri o peito na calçada no meio-fio; RJ, 0110501981; Publicado: BH, 0160802011.

Abri o peito na calçada no meio-fio
Em frente ao sol do meio-dia botei
As vísceras na estrada deixei as
Tripas no caminho enchi de barro
Minhas entranhas de fogo ferro
Aço meu próprio organismo
Encimentei meu pensamento
Encaixotei as minhas ideias
Bati no liquidificador minhas
Carnes podres meu sangue
Minhas fezes espermas bebi
Meu suco apodrecido não me
Contentei pois não me encontrei
Ao me procurar não me achei
Entre os achados de perdidos
Da vida da morte não me libertei
Nem me liberei muito pelo
Contrário mais afundei no meu
Mar de lama na minha podridão
De nada adiantou dilacerar minha
Garganta assombrar meu peito
Lançar meus gritos de morte
Em frangalhos de sul a norte
Flagelei-me me torturei paguei
Todos os preços suportei todos os
Pesos castiguei-me me arruinei
Não consegui uma migalha sequer
De amor de paz não recebi o troco
Não fui feliz nunca mais de novo

Procuro algo que designa; BH, 0701101999; Publicado: BH, 0160802011.

Procuro algo que designa
Aumento da minha felicidade
Real pode ser um sufixo verbal
Pode ser um prefixo inicial ou
Uma continuação estrutural
Ou uma frequência nominal
Preciso é de ser feliz ou igual
Cansei da minha repetição
Na dor no sofrimento quero
Adelgaçar a angústia que não
Para de me sufocar sair desta
Queimada criminosa que só
Sabe enfumaçar sol da minha
Tarde é hora de esmurraçar
A porta até que seja aberta
Pela felicidade verdadeira o
Que sou saia por aí a esvoaçar
De alegria no açar de tudo
Que é bom que falta à minha
Vida que almejo adaptar com
Todo o desejo que tenho na
Vontade de amar tratar com
Carinho as pessoas a me
Compadecer-me dos semelhantes
A a cariciar as crianças as flores os
Passarinhos curar a minha acardia
Deixar de ser acardíaco insensível
Este ser sem sensibilidade imperceptível
Sem coração a deixar de ser o impassível
Não sensível mas que sofre friamente
Com a ausência de coração no peito
Acaramelar meu leite no leito antes
Que fique azedo tirar o amargor de
Minha vida com o doce do caramelo
Enfim algo tenho que fazer em mim
Alguma coisa tem que ser feita a 
Deixar a vergonha de lado o medo
Bem amarrado no inferno

Sou feito de defeitos; RJ, 0110501981; Publicado: BH, 0160802011.

Sou feito de defeitos
Não tem jeito de me
Consertar meu dito
Foi meu jeito me
Aceito do jeito que
Sou se não gostaste
Não procures gostar
Se não te adaptaste
Não procures adaptar
Pobre de pequeno
Errado de ruim vou
Ser sempre assim
Só poderei ser do
Jeito que queres
Que seja no dia em
Que deixar de ser
Homem passar a ser
Um ser diferente
Um ser belo real
Mas enquanto
Permanecer do jeito
Que sou vou ser
Defeito vou ter
Defeito não vai
Adiantar reclamares
Implorares pedires
Para me mudar melhor
Que tens a fazer
É me aceitar

Em meu lugar o que faria; BH, 0501101999; Publicado: BH, 0160802011.

Em meu lugar o que faria
Uma pessoa realmente inteligente?
Em meu lugar como agiria uma pessoa
Sábia? dotada de conhecimento de
Discernimento lúcida racional? não
Faria como faço nem agiria como agi a
Despojar nos pecados capitais entregue
À preguiça ao desânimo à falta de ânimo
Só animado aguçado na gula sem modos
Ao tentar enfiar na barriga o que não
Caberia numa barrica num barril num
Tonel a reinar na cobiça por não
Encontrar perspectivas próprias de
Melhorar a própria vida amarrado
Ao orgulho aprisionado na inveja a
Explanar cólera sem pudor a gerar a
Ira extrema a expor a raiva ao irmão
O rancor infinito compulsivo severo
O ódio sem razão os sete pecados
Capitais são bem menos do que
Todos os pecados que cometo
São grandes muitas as minhas
Transgressões por faltos de preceitos
Religiosos são imensas as minhas
Culpas sem fim a minha maldade
Imensos os meus vícios sou um
Pecador aquele que peca
Literalmente tenho certos eternos
Defeitos sou um penitente arrependido se
Houvesse em mim um pouco de sabedoria
Não teria sofrido total falta de discernimento

Não posso fazer o que queres; RJ, 0110501981; Publicado: BH, 0160802011.

Não posso fazer o que queres
Que faça não posso ser do
Jeito que queres que seja és
Dum jeito sou doutro pensas
Dum modo penso diferente
Não podemos saber qual é o
Errado se sou eu ou se és tu
Não posso pensar do jeito que
Queres que pense cada um
Tem uma cabeça cada cabeça
Pensa diferente cada cabeça
Diverge sempre doutra cabeça
Agora seria bom se todas as
Cabeças fossem iguais seria
Bom se todos os pensamentos
Fossem num só só pensassem
No amor na paz na harmonia
Na amizade na felicidade na
Vida na sinceridade na igualdade
Na irmandade aí então poderia
Dizer poderia fazer tudo
Aquilo feito dito por ti

JOSÉ IGNÁCIO PEREIRA, O POETA DO CÉU AZUL, A sarabanda; BH, 0160802011.

Vem chegando nesta hora
A música toda triunfal.
A lua é nobre senhora,
Luar de sonho ideal.
O bom da vida é sonhar.
Menino, és cavaleiro.
Menina, fada de tranças.
Vão trançando as esperanças
Na dança dos pequeninos,
Os anjos da terra nossa.
Terra mesmo já não temos,
Somente bom pensamento
Na estrada branca de areia.
Viola de légua e meia
Já tocou no meu pedaço.
A bondade pede espaço
Para vir a vida salvar.
Bendita a mão que semeia
Seu bem-querer verdadeiro
Deus te salve, Natureza!
Olha o pobre para a mesa,
Pede o pão acalentado.
A mendiga faz bordado
Da sua fome que anda.
Qual uma louca ciranda.
Belo Horizonte que foi,
Volta a ser belo de novo
Para alegria do povo.
A sarabanda do encanto
Me conduz ao Sete-estrelo.
Bendito afeto e desvelo
Vem e me ensina a cantar.
Ó Deus da pura alegria,
Canta conosco Senhor!

Manuel Bandeira, Paráfrase de Ronsard; BH, 0160802011.

Foi para vós que ontem colhi, senhora,
Este ramo de flores que ora envio.
Não no houvesse colhido e o vento e o frio
Tê-las-iam crestado antes da aurora.

Meditai nesse exemplo, que se agora
Não sei mais do que o vosso outro macio
Rosto nem boca de melhor feitio,
A tudo a idade altera sem demora.

Senhora, o tempo foge... e o tempo foge...
Com pouco morreremos e amanhã
Já não seremos o que somos hoje...

Por que é que o vosso coração hesita?
O tempo foge... A vida é breve e é vã...
Por isso, amai-me... enquanto sois bonita.

Llewellyn Medina, Para João Ubaldo Ribeiro; BH, 0160802011.

Caro João Ubaldo
Eu também choro.

Choro nos momentos previstos
E em todos que devem chorar
(até mesmo os brutos).
Choro nos momentos imprevisíveis
Para os quais não tenho explicação.

Se é Natal
Choro (previsível)
Se é aniversário de alguém querido
Choro (imprevisível).

Choro quando minha filha chega de Nova York
(Dá pra entender?)
Choro quando os negros da Bahia
Armam aquele navio
Pra lutar na guerra do Paraguai
(Você se lembra da passagem?)

Noto, às vezes, contradição:
Já chorei em casamento
Mas não em enterro
Nem em missa de sétimo dia
(Aliás fui a poucas).

Ao contrário do ilustre escritor
Que parou de chorar
À medida que o tempo foi passando
Eu choro mais.

Antes, quando eu tinha dezoito, vinte...
Quase não chorava.
Não lembro de ter chorado
Hoje, é o que está dito acima
Só faço chorar...

Mas não estive em C.T.I.
Nem deixei que tocassem
(Que trocassem)
Veias do meu coração
Talvez seja a razão por que chora tanto.

Não sei se vou parar de chorar
Não sei se é importante
Sinto uma coisa apenas
Depois de chorar
Tenho sempre de enxugar as lágrimas.

Llewellyn Medina, Lua cheia; BH, 0160802011.

A lua cheia
Traçou um círculo de ouro
Na noite escura
Que se encolheu humildemente.

Tito Júlio Fedro, A raposa e a máscara; BH, 0160802011.

Uma raposa, casualmente,
Vê uma máscara de teatro
E exclama:
"Ó que beleza, (mas)
Não tem cérebro!"
Isso foi dito de quem  a
Sorte deu honrária e glória,
(Mas) nada de bom senso.

Manoel de Barros, Despalavra; BH, 0160802011.

Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades humanas.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de pássaros.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de sapo.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de árvores.
Daqui vem que os poetas podem arborizar os pássaros.
Daqui vem que todos so poetas podem humanizar as águas.
Daqui vem que os poetas podem aumentar o mundo com as suas metáforas.
Que os poetas podem ser pré-coisas, pré-vermes, podem ser pré-musgos.
Daqui vem que os poetas podem compreender o mundo sem conceitos.
Que os poetas podem refazer o mundo por imagens, por eflúvios, por afeto.

Casimiro de Abreu, Quando?; BH, 0160802011.

Não era belo, Maria,
Aquele tempo de amores,
Quando o mundo nos sorria,
Quando a terra era só flores
Da vida na primavera?
 - Era!

Não tinha o prado mais rosas,
O sabiá mais gorjeios,
O céu mais nunvens formosas,
A tarde puro devaneios
A tua alma inocentinha?
 - Tinha!

E como achavas, Maria,
Aqueles doces instantes
De poética harmonia
Em que brisas doudejantes
Folgavam nos teus cabelos?
 - Belos!

Como tremias, ó vida,
Se em mim os olhos fitavas!
Como eras linda, querida,
Quando d'amor suspiravas
Naquela encantada aurora!
 - Ora!

E diz-me: não te recoradas
 - Debaixo do cajueiro,
Lá da lagoa nas bordas
Aquele beijo primeiro?
Ia o dia já findando...
 - Quando?

Antônio Nobre, Soneto XII; BH, 0160802011.

Não repararam nunca? Pela aldeia,
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves, desde que o Sol nada,
E, à noite, se faz sol a Lua-Cheia.

No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia alada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, às vêzes, d'Além-Mar anseia:

 - Revolução! - Inútil. - Cem feridos,
Setenta mortos. - Beijo-te! - Perdidos!
 - Enfim, feliz!?! - Desesperado. - Vem.

E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, Antônio, deves ser também.

                                                       (Colônia, 1891.)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Quase; BH, 0120802011.

Arrumar a vida, pôr prateleiras na Vontade e na ação...
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado.
Mas que bom ter o proposito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Àlvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem - que antes de ontem que é sempre...

Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei...

Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir.

Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.

Assim se faz a literatura...
Coitadinhos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.

Vendedeira da rua cantando o seu pregão como um hino inconsciente.

Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futuro, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olhos dos papéis que estou pensando em afinal não arrumar
Para a janela por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, acaba no meu cérebro em metafísica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando-se,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema.
Como um deus, não arrumei nem a verdade nem a vida.

                                                                                                       15/5/1929

Nietzsche, - Viajante, quem és?; BH, 0120802011.

 - Viajante, quem és?
Vejo que segues teu caminho sem desdém,
Sem amor, com olhos indefiníveis, úmidos
E tristes, como uma sonda que, insatisfeita,
Voltou das profundezas à luz - o que teria
Procurado lá embaixo? - com um peito que não
Suspira, um lábio que esconde seu desgosto,
Uma mão que só agarra lentamente: quem és tu?
Que fizeste?
 - Repousa aqui: este local é hospitaleiro para
Todos - repousa!
E quem quer que sejas, fala-me do que então
Tens vontade?
O que pode te reconfortar?
Fala: o que tenho, eu te ofereço!
 - "Reconforta-me?
Reconforta-me?
Homem curioso que és, que dizes!
Deixa-me, eu te peço!
 - O quê?
O quê?
Fala!"
 - "Uma máscara mais!
Uma segunda máscara!"

Nietzsche, Aprender; BH, 0120802011.

Michelangelo via em Rafael o estudo, em si mesmo via a natureza:
Num a arte aprendeu, no outro, o dom natural.
Isso, porém, é pedantismo, seja dito sem querer faltar de respeito
Com o grande pedante.
O que é o dom, senão o nome que se dá a um estudo anterior, a
Uma experiência, a um exercício, a uma apropriação, a uma
Assimilação, estudo que remonta talvez aos tempos de nossos pais
Ou mais longe ainda!
Mais ainda: aquele que aprende cria seus próprios dons - mas não é
Fácil aprender e não somente uma questão de boa vontade:
É preciso poder aprender.
Num artista, é a inveja que muitas vezes se opõe ou essa altivez que,
Desde que aparece o sentimento do estranho, se põe imediatamente
Em estado de defesa, em vez de se dispor em estado receptivo.
Rafael não tinha nem essa inveja nem essa altivez, precisamente como
Goethe, e é por isso que ambos foram grandes aprendizes e não
Apenas os exploradores desses filões devidos às forças telúricas e à
História dos antepassados deles.
A nossos olhos Rafael desaparece no momento em que ainda está
Aprendendo, ocupado como estava em assimilar o que seu grande
Rival chamava sua "natureza": esse nobre ladrão levava todos os dias
Um pedaço; mas, antes de ter transportado todo o Michelangelo para
Sua casa, morreu - e a última série de suas obras, início de um novo
Plano de estudo, é menos perfeita e de menor qualidade em termos
Absolutos: justamente porque o grande aprendiz foi perturbado pela
Morte na realização de sua tarefa mais difícil e levou com ele o
Último objetivo justificador que tinha em vista. 

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XIV; BH, 0110802011.

Oh! quantos riscos,
Marília bela,
Não atropela
Quem cego arrasta
Grilhões de amor!
Um peito forte,
De acordo falto,
Zomba do assalto
Do vil traidor.

O amante de Hero
Da luz guiado,
C'o peito ousado
Na escura noite
Rompia o mar.
Se o Helesponto
Se encapelava,
Ah! não deixava
De lhe ir falar.

Do cantor Trácio
A herocidade
Esta verdade,
Minha Marília,
Prova também.
Cheio de esforço
Vai ao Cocito
Buscar aflito,
Seu doce bem.

Que ação tão grande
Nunca intentada!
Ao pé da entrada
Já tudo assusta
O coração:
Pendentes rochas,
Campos adustos,
Que nem arbustos,
Nem ervas dão.

Na funda fralda
De calvo monte,
Corre Aqueronte,
Rio de ardente,
Mortal licor.
Tem o barqueiro
Testa enrugada,
Vista inflamada,
Que mete horror.

Que seguranças!
Que fechaduras!
As portas duras
Não são de lenhos;
De ferro são.
Por três gargantas,
Quando alguém bate,
Raivoso late
O negro cão.

Dentro da cova
Soam lamentos;
Não mostra aos olhos
A escassa luz!
Minos a pena
Manda se intime
Igual ao crime,
Que ali conduz.

Grande penedo
Este carrega;
E apenas chega
Do monte ao cume,
O faz rolar.
A pedra sempre
Ao vale desce,
Sem que ele cesse
De a ir buscar.

Nas limpas águas
Habita aquele:
Por cima dele
Verdejam ramos,
Que pomos dão.
Debalde a boca
Molhar pretende;
Debalde estende
Faminta mão.

Tem outro o peito
Despedaçado:
Monstro afaimado
Jamais descansa
De lho roer.
A roxa carne,
Que o abutre come,
Não se consome,
Torna a crescer.

Mas bem que tudo
Pavor inspira,
Tocando a lira
Desce ao Averno
O bom cantor.
Não se entorpece
A língua, e braço;
Não treme o passo,
Não perde a cor.

Ah! também quanto
Dirceu obrara,
Se precisara
Marília bela
De esforços seu!
Rompera os mares
C'o peito terno,
Fora ao Inferno,
Subira ao Céu.

Aos dois amantes
De Trácia, e Abido
Não deu Cupido
Do que aos mais todos
Maior valor.
Por seus vassalos
Forças reparte,
Como lhes parte
Os graus de amor.

Luís Guimarães Junior, Visita à casa paterna; BH, 0120802011.

A minha irmã Isabel.


Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.

Rio - 1876.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Gonçalves Dias, Como! és tu?; BH, 0110802011.

Como! és tu?! essa grinalda
De flores de laranjeira!...
Branco véu, nuvem ligeira
Sobre o teu rosto a ondear!
Pálida, pálida a fronte
E os olhos quase a chorar!

És tu! bem vejo... não fales!
Cala-te! já sei o que é!
A mão vais dar, vida e fé
A outro!... Vais te casar.
Pálida, pálida a fronte,
Olhos em pranto a nadar!

E vais! e és tu mesma? - e vais!...
Fui eu quem te dei o exemplo...
Sei que te aguardam no templo,
Deixa-me aqui a chorar:
Fazes somente o que fiz,
Não fazes mais que imitar!

Mas eu quis ver-te feliz,
Não dar-te exemplo!... pensava
Que ileso e firme ficava
O teu amor - a guardar
A fé, que eu mesmo, insensato!
Fui o primeiro aquebrar!

Contradições d'alma humana!
Fui, sim, quem te dei o exemplo,
Isso quis, e ora contemplo
Essa grinalda a chorar.
A fronte pálida, pálida,
E o branco véu a ondular!

E há de o mundo inda algum dia
Do olvido o véu tenebroso
Estender por tanto gozo,
Tanto crer, tanto esperar!
Vai que te aguardam: já tardas:
Deixa-me aqui a chorar!

Vai! e que os anjos derramem
Sobre ti flores, venturas,
Que as alegrias mais puras
Floresçam dos passos teus;
E que entres na casa estranha
Como uma benção dos céus!

Que a fortuna - de veludos
Alcatife os teus caminhos,
Que o orvalho dos teus carinhos
A esse faça feliz
Com quem te casas - que te ame
Com te amei e te quis!

Porém procura esquecer-te,
Das venturas no regaço,
De mim, dos votos que faço,
De quanto pedi aos céus
Ver este dia... mas choro!
Vai! sê feliz! adeus!

Babilak Bah, Verbo Sem Ranhuras; BH, 0110802011.

Necessito da palavra como alimento...
Luzes, lamparinas, velas, caravelas,
Veludas veladas,
Vozes voam, vão além-mar.

Vontades vindas acesas ao vento...

Longe das arejas brancas-palavras
Morro no morro de pedras.
Loucura (farol que ilumina o porto)

Lapida-me em pérolas, verbo sem ranhuras.

Mário Quintana, Apocalípse; BH, 0110802011.

E eis que veio uma peste e acabou com todos os homens.
Mas em compensação ficaram as bibliotecas.
E nelas estava escrito o nome de todas as coisas.
Mas as coisas podiam chamar-se como bem quisessem.
E então o Pão de Açucar se declarou Mancenilha.
E o hipopótamo só atendia por tico-tico.
E houve por tudo um grande espreguiçamento de alívio.
E Nosso Senhor ficou para sempre livre da terrível campanha dos comunistas.
E das apologéticas de Tristão de Athayde.

Mário Quintana, Noturno II; BH, 0110802011.

Pensam que estou dormindo.
Mas, do meu velívolo,
Eu avisto a cidade.
Em cada janela acesa (umas poucas)
Um poeta, noite alta, poetando...
Tu dirás que imagino coisas loucas!
Mas era assim que eram as coisas
Nos tempos da primeira mocidade...
Pouso lá na torre da igreja.
Imobilizo-me.
Vês?
(Ou estarei apenas sonhando
Que faço um poema?)

Jean de la Fontaine, Os dois pombos (Epílogo); BH, 0110802011.

Ó vós que vos amais, quereis então viajar?
Não seja nunca muito longe.
E sede mutuamente um mundo sempre lindo,
Sempre novo, sempre sorrindo.
A sós, tudo supri, nada vos dê cuidado.
Eu amei uma vez: e por isso, jamais,
Por tesouros, paços reais,
Por todo o firmamento e o céu todo estrelado,
Eu trocaria algum lugar
Honrado pelos pés, aceso pelo olhar
Da querida pastora em flor
A quem, ferido pelo Amor,
Servi, preso por meus primeiros juramentos.
Ai! quando voltarão semelhantes momentos?
Tanta amável mulher, cheia de encantamentos,
Ao léu, me deixará, de minha alma inconstante?
Ai! se de novo o peito ousara se inflamar!
E não mais sentirei afeição que me encante?
Já se foi meu tempo de amar?

Maurice Scève, Como dos raios deste Sol formoso; BH, 0110802011.

Como dos raios deste Sol formoso
Toma alimento a flor na Primavera,
Me sinto bem à luz dos olhos seus,
E longe e perto deles, persevero.
De modo que, gentil, meu Coração
Me deixa vê-la nesta mesma essência,
Como o Olhar me faria, ela presente,
Cuja beleza, perseguido, adoro:
Por isso em nada afeta a sua ausência,
Pois, sem querer, eu vou sempre a seu lado.

Manifesto páo e azia, de paopoesiaazia.blogspot.com.br; BH, 0110802011.

Quando andar tem que
Ser: feito de pressa,
Vamos tapados, cegos,
Bombardeados por
Informações bélico-culturais.

Imagem é tudo é imagem
Objetividade é tudo é objetividade
Pragmatismo é tudo é pragmatismo
Procução é tudo é (...)
(...) é tudo é alienação.

Brindemos nossos sentimentos
Bebamos da água turva
Comamos o véu tão guardado
Gritemos nossas sensações
Vomitemos as angústias.

Revivamos o que foi dito
Não deixemos que o horizonte
Se perca em planos
Guardamo-lo atrás das montanhas
Cercado pelo curral do rei

Causemos asco, espanto, desconforto.
Cutuquemos o ócio,
Sejamos indóceis
Fiquemos mal-falados.
Comamos os esfomeados antropofagicamente.;

Quem busca a violência; RJ, 0150401999; Publicado: BH, 0110802011.

Quem busca a violência
Tem que colher a violência
Não prego o olho por olho
Não pratico o dente por dente
Nem busco a violência o
Dia em que o homem evoluir
Tirar da alma a violência
O mundo será melhor por
Isso os reflexos da violência
Até hoje nos castigam nos
Levam aos milhares para
Os túmulos antes do tempo
Chega de violência pelo
Desarmamento chega de
Guerras pela paz já dizia
Candeia quem guerreia
Pela paz a verdadeira paz
Nunca há de ter então
Chega de matança
Pelo amor chega de
Tudo que é ruim
Que nos impede de
Sermos felizes viva
O fim da violência
Pelas flores pelas floras
Pelos florais pelas faunas
Pela natureza toda pelos
Índios pelas crianças
Mulheres idosos pela
Continuação da vida
Abaixo o extermínio
Abaixo o genocídio

Meu muro não é de base de alvenaria; BH, 080701999; Publicado: BH, 0110802011.

Meu muro não é de base de alvenaria
A minha parede não é de tijolos nem
Minha construção não é de concreto
A fundação que me suporta é arenosa
Movediça pantanosa não tenho
Fundamento não encontro apoio só
Aliciação imprópria aliciamento
Indevido o aliciador é sempre
Alguém que não pretende ajudar
Não pretende a fazer o bem não
Nosso me deixar atrair para falsos
Caminhos preciso conquistar a
Verdade não deixar a mentira me
Seduzir convidarei a realidade
Para fazer parte do meu dia a dia
Mesmo que seja um murro na minha
Cara provocarei a ilusão irracional
Até que a noção até que a razão
Sejam as soberanas que a alma não
Seja mais subornada a treva não
Venha aliciar nenhum princípio de
Causa nenhum ser racional para que
Caia nos precipícios da adversidade
Toda alienabilidade encontrada
Será lançada por terra derrubada
Com um basta de alienação é o fim
Da loucura o alheamento de alguém
No mundo objetivo basta da privação
Da possibilidade de direção da própria
Atividade pelo homem que possa
Exercer sua faculdade criadora

Por mais que fique indignado; RJ, 0290401997; Publicado: BH, 0110802011.

Por mais que fique indignado
Mais chego à conclusão de que
Nada posso fazer de pés de
Nãos amarrados enterrado vivo
De cabeça para baixo em
Buraco de formigueiro sou
Negrinho do Pastoreio o que
Resta-me é esquecer esquecer
As mazelas do mundo as
Injustiças as covardias ou
Esquecer o neoliberalismo a
Globalização esquecer que
O homem hoje não vale o
Ar que respira se os animais
Soubessem se suicidariam
Para não respirarem o
Mesmo ar que o homem
Respira não há salvação à
Vista nem tão pouco a prazo
Para o homem atual a não
Ser o fogo eterno que arde
Na profundeza do inferno
No interior de tão vil ser
Se Deus fez o homem à
Sua imagem semelhança
Deve estar envergonhado
Deve estar arrependido
Pois nunca mais apareceu
Abandonou o homem ao léu
Deixou à própria sorte muitos
Hoje pensam que são Deus

Não adianta ir em busca; RJ, 0290401997; Publicado: BH, 0110802011.

Não adianta ir em busca
De palavras difíceis de
Verborrágica pura aplicada
Não adianta ir em busca
De vocábulos clássicos
Palavras belas insinuantes
Se o que achamos no mundo
Em linguagem nenhuma
Saberemos explicar vejo
Com tristeza vejo com pesar
Mesmo em linguagem chula
Simples rudimentar que os
Problemas são os mesmos a
Vítima é o povo as crianças
As mulheres os velhos os
Fracos desprivilegiados a
Miséria é visível a cada dia
A desgraça então nem se fala
A fome do mundo não acaba
A desesperança também não o
Analfabetismo crescente a
Exploração sexual escravidão de
Crianças as drogas a prostituição
O crime organizado a corrupção
Penso que quando morrermos
Não iremos para o inferno o
Inferno é aqui mesmo nós
Mesmos o criamos ao
Exterminarmos a natureza o
Amor a paz esquecemos de
Nos preservar amanhã
Pode ser tarde demais

A mulher é muito carente; RJ, 0150401999; Publicado: BH, 0110802011.

A mulher é muito carente
Uma pobre mulher do interior
Veio dum estado do norte para
Um estado do sul nunca mais
Lá voltou perdeu a vida ao
Lado de homens que não
Amou que não a deram o
Devido valor gerou vários
Filhos vive num subemprego
Não recolhe aposentadoria
Temos que aprender a ser
Mais carinhosos a ser meigos
Cúmplices auxiliar mais acabar
Com o sofrimento da mulher
Que não deixa se ser uma
Grande mulher que só precisa
Dum amor um braço um abraço
Um beijoque não tivemos
Coragem de dar vamos ver se
Agora om a mudança viva mais
Descubra o prazer se for do
Acordo de todos a mulher
Nunca mais será carente
Será uma nova mulher

Alienado isto é que sou; BH, 080701999; Publicado: BH, 0110802011.

Alienado isto é que sou
Tenho alienação confesso
Sou louco desde criancinha
O meu lado alienador alienista
Que me aliena de verdade é
Que desde menino penso
Que sempre fui alienante
De propriedade de domínio
Só sei alienar a transferir a
Outrem o direito de propriedade
Da minha total insanidade só
Ao alhear a paciência de Deus
Dos homens dos demônios
Do mundo do universo
Tentei ceder a minha mente
Para uma experiência
Revolucionária um tratamento
Moderno qualquer fez o
Aparelho desviar afastar a
Racionalidade alucinar a
Razão enlouquecer a noção,
Desgovernadamente a perturbar
A concentração do sanatório
Alienatório sou aquele a favor
De quem se aliena à loucura
Própria à propriedade ao
Domínio da lógica que não se
Pode transferir não existe
Transplante o cérebro é alienável
Morada de mente alienígena espírito
Doutras terras alma estrangeira
O alienista salvador internou
A todos para tratamento dos
Alienados o médico especialista
Psiquiatra em doenças mentais
Foi o primeiro como vai doutor?