sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Meus recursos são escassos; BH, 02701201999; Publicado: BH, 0300802013.

Meus recursos são escassos
Não posso dizer
Levantas-te andas
Só por ser um vil humano
Já sou limitado frágil
Não posso dizer:
Abras os olhos vejas
Decreto o fim da miséria
Da pobreza da desgraça
Decreto o fim da burguesia
Da elite da classe política
Todo o povo agora
Vai ser saudável forte
Ter educação comida
É o fim da solidão
Não serão mais os ministros
Deputados senadores
Vereadores prefeitos
Presidente governadores
Que usufruirão das mamatas
Mordomias maracutaias
Benefícios aposentadorias precoces
Títulos vitalícios
Cargos de marajás
Decreto que agora
O povo também vai participar
O povo também vai ter
Que usufruir de tudo
Que faz bem aos ricaços
Endinheirados aproveitadores
Sonegadores especuladores
Corruptos corruptores corrompidos
Meus recurso são parcos
Não posso dizer
Mas posso sonhar

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Tenho certeza de que bilhões de mentes; BH, 0100202000; Publicado: BH, 0280802013.

Tenho certeza de que dos bilhões de mentes  
Que já existiram na Terra desde que a Terra é Terra
Até os bilhões de mentes que existem hoje não existe
Uma mente sequer que esteja a pensar em mim neste
Momento que esteja comigo na memória neste exato
Segundo que acabo de escrever estas frases reflexivas
Não passo pela cabeça de ninguém nem pelo
Pensamento ideia ou ideal sou totalmente
Fora de cogitação fora de plano fora de lembrança
De qualquer cabeça que povoa a face do planeta
Mesmo assim deixo para cada um individualmente
Uma molécula de mim um fio de energia
Um pedido de benção de felicidade uma espera
De evolução de modernidade de futuro
Vindouro melhor mais justo sem remédios
Sem doenças sem prostituição infantil sem
Pedofilia injustiça desequilíbrio de qualquer espécie
Inclusive queda de avião que agora virou
Moda morro de medo dum cair na
Minha cabeça chata de nordestino do interior
De Minas Gerais para onde voltei depois de
Vinte seis anos longe do solo pátrio mineiro
Deixei no Rio de Janeiro uma carreira de amigos
Dos quais agora só posso sonhar com vê-los
Só através dos sonhos dos pesadelos dos porres
Estou no meio da minha gente porém estou
Ilhado estou isolado exilado na própria
Terra junto da própria família tudo porque
Recuso-me a fazer parte do grupo que busca pelas
Igrejas evangélicas as respostas para as próprias aspirações
As soluções para os próprios problemas como me
Recuso a procurar as igrejas evangélicas sou mantido
No banho maria na fritura fora do raio de
Ação até mesmo dos próprios irmãos mas não
Estou a reclamar gostaria só apenas de beber as
Minhas cervejas sem precisar fazer ninguém chorar
Apesar de todo o esforço passamos rápidos pelas cabeças
Das pessoas só apenas por milésimos de segundos
Ficamos nas mentes dos nossos entes semelhantes
Fora disso somos colocados no segundo plano
Tratados piores do que animais do que cachorros
Já houve caso de condenados em que o doutor
Advogado de defesa requereu para o réu o
Direito de tratamento dos animais devido
As condições os maus tratos sofridos pelo prisioneiro
Um exemplo foi com o nosso grande líder político o
Comunista Luiz Carlos Prestes que vi poucas vezes em vida a
Outra já o vi morto a ser velado no Palácio Tiradentes
No Rio de Janeiro na hora que estava presente
Estavam a tirar o molde da máscara mortuária do
Grande exemplar histórico brasileiro que realmente viveu
Fez a história do Brasil como na verdade deveria ser feita
Aí me chega uma mulher aqui agora na minha frente
Gagueja gagueja gagueja não entendo o que
Pergunta quando consigo entender onde fica a
Escola de Medicina de Minas Gerais? não sei
A resposta penso que é duplamente frustrante
Para a que gaguejou tanto para mim
Que fiz tanto para entender não saber a resposta
Porém ri depois das reflexões pois apesar da mulher
Ser gaga também sou surdo não escuto
Direito os sons da vida que rolam ao redor
Se morrer mesmo amanhã ou hoje ainda
Ou ainda depois de amanhã ficam aqui desde
Já as minhas despedidas os meus pedidos de
Desculpas de perdões de arrependimentos de remorsos
O pedido de perdão maior vai para o português
Que matei durante todos esses anos de vida
Também bem que poderiam encontrar um modo mais
Fácil de falar de escrever não linguagem rebuscada
Tão complexa tão exigente que desistimos na
Primeira tentativa justamente por desconhecermos
A desinência verbal a contenção verbal a conjugação
Verbal o verbo é a ruína a morte de alguém
Que queira aventurar-se na de escritor
Ainda tem os pronomes os porques os nessas
Ou nestas as vírgulas os pontos os pontos e vírgulas
Os vocativos os sujeitos os advérbios os substantivos
Os adjetivos etc tal que é tanta linguagem
Tanta figura tanto discurso que só mesmo um mestre
Um bom conhecedor um phd em português para poder
Escrever bem entender a lusitana mãe
Mas se por ventura passar incólume à grande
Sensação de que vou morrer fica dado aqui
O recado para gerações vindouras não serão
Inúteis as despedidas os pedidos feitos aqui
Por mim pretendo chegar tranquilamente
Aos oitenta anos do meu tio José Antônio Medina
Não sei se chegarei vivo forte tanto quanto
Chegou apesar das peças que o destino já o pregou
À família durante os longos anos
Deixa comer mais uma banana caturra que
Agora estou numa dieta à base de bananas
Leite bebo um litro de leite todos os dias estou
A me sentir bem mais leve do que no tempo
Em que almoçava nos botequins as comidas cheias
De temperos de gorduras que me deixavam pesado
A arrotar a peidar todo o resto do dia horror
No fundo quando paro para fazer uma comparação
Entre estar aqui no Rio de Janeiro parece que
Apesar de não lidar aqui com o dinheiro que
Lidava lá apesar de aqui não ser lá
Parece-me que estou a me sentir mais feliz aqui
Não sei se estou a me enganar ou se estou
A me iludir ou a mentir para mim mas
O fato é que de vez em quando vem a mim
Uns rasgos de felicidade de satisfação ligo um
Fato ao outro chego à conclusão que só
Acontece pelo fato de estar aqui não estar lá
Se estivesse lá estaria com um aborrecimento
Um desgosto é que votei no Garotinho por causa
Da Bené já rompeu com o PDT do Brizola
Hoje li no jornal que não vai apoiar a
Candidatura de Bené à prefeitura penso o
Garotinho um traidor se não apoiar
A Bené independente de quaisquer circunstâncias
Vês-la seu Garotinho não abandona a Bené não viste? (2)

Se morrer amanhã deixo de heranças para quem quiser; Publicado: BH, 0280802013.

Se morrer amanhã deixo de herança para quem quiser
Souber aproveitar tudo que já escrevi lavrei nas faces
Universais se não morrer amanhã chegar na vida à uma
Certa idade com a moral elevada já estarei pago recompensado
Pois devido as más línguas há até quem diga que me considera no
Livro dos recordes pois que ser humano algum no mundo jamais
Escreveu tanto igual ou mais do que sou que com todos os
Papéis que já preenchi bati quebrei todos os recordes que
Escrevo sem usar máquina secretária parafernália eletrônica
Computador internet só a usar caneta esferográfica lápis
Papel a mão a cabeça mais nada quem tem boca fala o
Que quer tudo que deu no que deu tudo que saiu no que saiu
Foi acumulado que superou as barreiras de todos aqueles que
Já escreveram artesanalmente braçalmente manualmente sem
Influência uso de tecnologia moderna avançada hoje sei
Que muita gente escreve até através de satélite por meio de
Equipes de escritores fantasmas contratados por meio de
Consultas aos computadores por meio da internet
Por todo tipo de artifício natural ou sobrenatural normal
Anormal paranormal viável inviável escrevo somente
Comigo para mim sem aspirações futuras sem pretensões
Materialistas superficiais supérfluas de sonhos consumistas
Ambições vazias sustentações de mentiras vergonhosas
Se morrer amanhã já deixo declarado aqui
Que não será necessário chorar por mim quem chora por morto
É louco ou mais morto do que o morto não será preciso
De flores velas acesas velório ladainhas
Orações cantigas de embalar defuntos lágrimas sentidas
Se não morrer amanhã também estarei feliz
O moral estará elevado não sentirei falta de nada
Só sentirei falta se um dia acordar ter perdido
A vontade de escrever o tesão de escrever o clítoris
Da escrita aí estarei morto de verdade podeis
Enterrar-me num enterro tradicional com tudo
Que tiver direito inclusive velas flores as choradeiras
As mulheres que ficam na sala a velar o morto
A chorar os amigos que ficam a falar baixinho
Bem do defunto o quanto era gente boa quando
Vivo vivo permanecerei nos fragmentos que deixarei
Mesmo quando me transformar num fragmento
Num efêmero espectral entre o limbo o real
Num resto de pensamento de ondas mentais
O que deixei de linear continuará aí
Na visão na modernidade no concreto
No hai cai no todo tipo de poesia beat noutros
Tipos de manifestações humanas que surgirem pelo
Futuro da humanidade quando mais não pertencer
A este mundo do qual agora tento modificar
Através dos meus atos do meu comportamento das
Minhas palavras posturas política filosofia ética natural
Não estou preocupado em viver além do meu tempo
Não estou preocupado em viver antes do meu tempo estou
Preocupado em viver em fazer com que as pessoas vivam
Mais bem sejam felizes nas órbitas do destino traçado
Nos itinerários que cada um tiver de seguir no
Período em que rastejar pela poeira cósmica do espaço
Não quero destruir meus nervos na minha dor latente
Nas minhas têmporas latejantes pulsantes de tanto
Clamar por justiça paz de tanto almejar satisfação
Enquanto a Terra continua a viagem infinita perfeita
Acima das nossas cabeças pendentes frágeis
Que qualquer ventania quer tirar do lugar
Fazer mudar de opinião a cada passo dado
Pelas esquinas das ruas escondidas da cidade
Pelos muros que margeiam as calçadas as
Paredes das casas que não param de ouvir as
Reclamações as informações os ruídos urbanos
Expelidos pelos primatas sobreviventes da incerteza
Que a cada dia que passa aumenta cada vez
Mais apesar de todos os fatores em evidência
Para exterminar diminuir ou acabar com a espécie
Não têm dado resultado devido o número crescente
De almas dispostas a sofrerem viverem mal ganharem
Pouco não perderem a esperança a fé a paixão
Dum amanhecer melhor mais feliz é isso
É que é bonito de se saber enquanto muitos
Desesperados preferem o suicídio por não suportar a
Baixa auto-estima a depressão o medo a doença
A fraqueza a mentira a falsidade que querem
Sufocar arrancar das veias até a última gota  de sangue
Vi hoje um retrato que o meu tio José Antônio Medina
Mandou para o filho dele João Celso Medina em
Comemoração dos seus oitenta anos fiquei emocionado
Pois o meu tio Zé Medina foi um dos ícones que
Marcou a minha infância em Teófilo Otoni
Lembro-me até hoje a festa que era ir à casa
Dele cheia de gaiolas de passarinhos a fábrica de
Doces as brincadeiras com os outros filhos a
Caminhada pela Rio-Bahia a levar nas mãos
Litros de vidro a conter água de coco saudades da
Esposa dele a minha tia Santa já falecida o primo
Abelardo também já falecido morreu a salvar uma pessoa
Que caiu numa cisterna o primo Geraldo que morreu
Atropelado na Rio-Bahia pelo carro do filho do
Seu Menezes dono da farmácia onde ganhava
Um tostão para levar injeção senão não tinha
Jeito ficava doente não deixava aplicar
Lembro-me também duma outra foto do meu tio com
Um filho recém-nascido morto no caixãozinho
Em pé gigantesco a segurar a tampa com uma mão
Com a outra na cintura a olhar compenetrado o filho
Morto no caixão à sua frente chocante deveras
Em tempo: meu tio José Antônio Medina é irmão
Do meu pai Nestor Antônio Medina que ainda
Tem outros irmãos Antenor falecido Hugolino
Falecido Miguel falecido a minha tia Rosa
Medina a grande lapidadora de pedras de
Teófilo Otoni também outro ícone de minha infância
Agora chega de saudosismo saudade
Bola para a frente que atrás vem gente apesar que
É sempre bom lembrar dos parentes que nos ajudaram
A nos formar fizeram parte de nossas vidas que hoje
Nem sabemos onde estão também talvez nem
Se lembram mais de que existimos sentimos saudades
Não deixamos de pedir a Deus para que Deus
Possa dá-los saúde contentamentos felicidades

Blogueiras Negras: E você, é o quê?

Por Nênis para as Blogueiras Negras
Sempre foi muito mais fácil, pra mim, conversar com meninos do que com meninas – e isso acontece até hoje. Desde criança, consigo contar nos dedos quantas amigas meninas eu tinha na escola, na vizinhança e até nas brincadeiras inventadas. Era muito difícil eu conseguir me identificar com as meninas que estavam ao meu redor quando criança, era realmente muito difícil, tanto que eu chorava pra não ir pras aulas de balé, queria porque queria fazer judô com os meus amigos, mas a escola não deixava, nem com pedido da minha mãe – as meninas fazem balé e os meninos judô, sem mais.
Fui crescendo e as escolhas foram aumentando. Meus brinquedos mudaram muito. Depois do looping de carrinhos e da cidade de Lego, minha mãe tentou me dar brinquedos ‘de menina’ e me deu de presente um carro da Barbie, eu já tinha duas das bonecas – acho que foi um dos presentes mais legais que eu já ganhei. Colei todos os adesivos que via pela frente no carro, cortei o cabelo de uma das bonecas e pedia ajuda pra minha irmã com as roupinhas, personalizei tudo e inventei, junto com os meninos, uma corrida maluca com as Barbies. Lembro muito bem da mãe de um dos meninos do meu prédio falando: ‘Olha ali a negrinha moleque, nem com brinquedo da Barbie sabe se comportar igual a uma mocinha.’
Demorou um tempo pra que os meninos me deixassem entrar pra quadra e jogar com eles. Meninas não sabiam jogar bola, com absoluta certeza eu ia atrapalhar o jogo, ou ia irritar todo mundo porque iam ter que me ensinar a jogar, até o dia que deixaram e todo dia tinha alguém me chamando pra ir lá completar o time (mesmo se já tivesse alguém na reserva). Durante os jogos eu não podia me destacar dos outros meninos, eles começavam a pegar muito mais pesado e dizer que ‘futebol é jogo de homem, se quer jogar tem que aguentar’ e eu, sem saber se era verdade mesmo, aguentava, mas me superava a cada jogo.
Meus pais não conseguiram encontrar nenhum clube com time feminino, então comecei a treinar pro time mirim do Corinthians, masculino mesmo – era a única menina do time. Depois de certo tempo jogando lá, as piadinhas ficaram mais abertas: ‘qualquer dia a gente abre a porta do banheiro e vê ela mijando em pé também’, ‘quando eu tiver uma namorada ela nunca vai chegar perto dela, macaca de chuteira’ e coisas similares. Me chateava muito tudo aquilo, mas eu não me atreveria a dizer pros meus pais, eu sei que eles não iam mais deixar eu ir jogar e eu gostava muito, mas depois de um tempo parei de ir, não sei se pelo tratamento do time, ou pelo treinamento físico que não era adequado pra mim.
Na escola, minhas amigas contavam dos meninos, perguntavam se estavam bonitas pra atravessar a sala pra beber água e voltavam perguntando se o menino tinha olhado pra ela. Elas me invejavam porque eu conversava com eles, perguntavam como eu conseguia e eu nunca soube responder. O dia mais esperado de um dos anos da escola foi o dia da festa junina, que íamos todos brincar de verdade ou desafio, eu não queria brincar, mas era a única chance de uma das minhas amigas poder beijar o menino que ela ~amava~. O pessoal se juntou em um círculo, a garrafa estava no meio e a brincadeira ia começar até que eu perguntei se, nos desafios, menina podia beijar menina – ninguém me respondeu, mas pelo olhar de todo mundo eu só dei de ombros e fiquei ali olhando rolar a brincadeira, não quis nenhum desafio, minha amiga beijou o menino que ela queria e dois dias depois estava chorando no meu colo porque ele não gostava dela.
Eu voltava da escola de perua e minha maior ansiedade era quando a ruiva de outra escola voltava com a gente. Ela era mais velha, sempre sorria pra mim e me contava umas histórias muito legais. Um dia eu vi na mochila dela um arco-íris e perguntei se ela gostava e ela me disse que não era um arco-íris, era o símbolo da diversidade. Questionei sobre a diversidade e ela disse que um dia eu saberia, que não seria ela que ia explicar e me deu um beijo na testa. Eu fiquei estranha. Fiquei com calor e frio ao mesmo tempo, eu não conseguia abrir meus olhos mas eu a via ali na minha frente perfeitamente e quando cheguei em casa desmontei na cama num choro de preocupar a casa inteira, mas eu não sabia porque que eu tava chorando – até chegar nos meus 12 anos.
Foto de Rubenkings no Flickr
Foto de Rubenkings no Flickr
Era show da Dominatrix (banda de punk rock feminista que sou muito fã) e eu tava com uma vontade muito doida de subir no palco e pular em todo mundo ali, e fui! Não sei quanto tempo durou o mosh, mas assim que senti meus pés no chão senti alguém me puxar pela cintura e me pedir um beijo, antes que eu pudesse entender o que tava acontecendo, eu mesma tinha beijado a menina, tinha sido o máximo! Voltando pra casa, tentei ao máximo esconder que estava muito contente, pra não ter que dizer o porquê e quando me liguei exatamente do motivo, entrei num desespero sem tamanho: ‘acho que sou lésbica’.
Demorei um bom tempo pra compreender e com a ajuda da minha irmã, consegui contar pros meus pais depois de alguns anos. Minha mãe com medo do que poderia acontecer comigo na rua, ela me lembrava de que eram dois pesos muitos grandes pra eu carregar – negra e lésbica, complicado. Meu pai transbordando força, orgulhoso pela determinação e confiança que depositei nele por contar.
Eu sou a Nênis. Negra, lésbica, canhota, curiosa e assim vai. E você, é o quê?
A Nênis se chama Anna Claudia, é lésbica, trabalha com jogos online e é apaixonada pela Kathleen Hanna. Descobre um pouco mais todos os dias e nunca está satisfeita e, por isso, agradece a todxs que escrevem na interwebz. E também escreve no CanalSap.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Blogueiras Negras: Garota preta e lésbica – Um pequeno auto descobrimento.

Por Andressa Amano para as Blogueiras Negras
“Você é sapatãããããããããããããoooo?” Assim cheio de vogais, interrogações e curiosidade extrema que veio o questionamento de um colega sobre minha orientação sexual. Na época com doze anos ,não sabia responder àquela pergunta. Afinal,sendo de uma família extremamente religiosa e iniciando a adolescência, não tenha ideia do que era ser uma “sapatão”. Em minha cabeça, sapatões eram mulheres extremanente promíscuas, feias,pecadoras.”Nunca iriam alcançar o reino dos céus”, dizia minha mãe.
Até que beijei uma amiga. Simples, num dia comum, enquanto conversávamos animadas sobre alguma bobagem adolescente. Talvez fosse RBD, sei lá. Aí veio o peso daquele ato. Pesou muito. Pesou porque gostei. E muito. Mas não sabia o que fazer, o que dizer.
O tempo passou e eu sofri calada. Beijei e namorei garotos, todos eles muito legais (Brinks galera, nem todos) E quando me perguntavam se eu era bissexual, falava: “Sim,mas digamos que eu gosto 80% de garotas e 20% de garotos.” Os 20% diminuíram para 15%, 10%, 5% e se findaram. Como descobri isso? Numa conversa animada com uma outra amiga, sobre bobagens quaisquer.
Se foi uma descoberta fácil e simples ?Não. Afinal de contas, como eu ia comentar o assunto com minhas irmãs, com meus pais, colegas de escola? Qual seria a reação deles?
Alguns disseram que eu fazia onda, que ia pela nova moda (ser gay é o pretinho básico atual). Outros disseram que eu sou louca, que quero chamar a atenção. Minhas irmãs e tias creem que eu vim para quebrar barreiras. Minhas amigas me apoiam. Tem gente que acha que é só uma fase, devido aos meu dezoito anos. Muitas opiniões divergentes.
Sei que isso não é apenas uma fase. É a minha certeza de vida. Como mulher negra e lésbica, luto por meu respeito. Luto para não ser invisibilizada. Quero derrotar meus inimigos. Inimigos esses o machismo,o patriarcado, a lesbofobia, a transfobia, a homofobia e tantos outros. O fato de me descobrir sapatão só fez aumentar meu desejo de mudanças no mundo.
Fotografia de Zanele Muholi
Fotografia de Zanele Muholi
Andressa Amano é estudante, preta, sapatão, ama livros, feminismo, maquiagem e cartoons. E acha a Princesa Caroço uma feminista queer mítica e linda!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Por Natalia Soares para o Blogueiras Negras

"O melhor cigarro é aquele  que se fuma com os dedos cheirando a buceta, depois do sexo"
“O melhor cigarro é aquele que se fuma com os dedos cheirando a buceta, depois do sexo”
Eu não gosto de homem
Da fala, da Cabeça
Na alma menosprezo
A mínima possibilidade de conversa

Eu não gosto de homem
Porém hoje confesso
Que gosto do sexo
Mas a alma não teve progresso

Eu não gosto de homem
Sem plural, sem S
Porque sem exceção
Dificultam o processo

Com as unhas grandes
Não atiro as bitucas longe
Não penetro bocetas
Não lembro seu nome

Parece que fico gostando de homem

Natalia Soares é antropóloga, cozinheira, feminista e sapatão. Escreve suas poesias no Alma sem teto.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Empresta-me uma bomba atômica aí; BH, 01601201999; Publicado: BH, 0230802013.

Empresta-me uma bomba atômica aí
Uma de última geração de efeito bem devastador
Quero explodi-la dentro da minha cabeça
Para libertar a minha inteligência
Liberar a minha criatividade
Aguçar a sabedoria tudo de mais
Que possa obstruir a capacidade de conhecimento
Prefiro viver mil vezes sem cabeça do que
Viver com esta esfera de chumbo bruto
Ferro natural magma de vulcão extinto preciso
Deixar fluir a lava que incandescente jaz adormecida
Que só faz a cabeça doer a ponto de estourar
Vou aproveitar a oportunidade explodi-la logo
Antes que morra no esquecimento do esquecimento
Pois a necessidade de minha inexistência me força
A querer deixar um legado hereditário de herança
Não herança de bem material financeiro
Uma herança de tesouro enterrado escondido
Nos mais profundos recônditos da minha mente
Não será qualquer descobridor de tesouros
Munido com os mais avançados instrumentos
Radares sonares robô máquinas de profundidade
De resistência à altura à velocidade
Que irá descobrir o tesouro que por ventura tenha
Sepultado encaixotado enclausurado
No meu cemitério pessoal particular
A inexistência me faz reagir pensar
Que um dia no além da eternidade
Seja reconhecido por mim mesmo
Dê um basta à minha mania de me caçar
Se não me encontro em nada no tudo
Não posso querer sair do poço em que me encontro
Não posso querer que faleis comigo naturalmente
Como se fosse ou seja sou algo útil
Vivo só na futilidade de não entender
A mídia a internet toda a parafernália
Que faz o homem moderno existir ser mais importante
Do que uma borboleta colorida pousada numa flor
A telefonia celular ultra moderna avançada é
Outro fator que faz o homem de 2000
O fruto máximo da existência do ser
Sem um celular na mão
O homem do século XXI deixa de existir
Então que quererei abominável troglodita
Que ainda não evoluí da idade da pedra lascada?
Ainda não aprendi a caminhar
Ainda não aprendi a respeitar a amar?
Que quererei que não sou nada
Daquilo que a sociedade de consumo
Almeja que seja o mais rápido possível?
Não sou navegador nem náufrago da internet
Estou mais para argonauta do que para internauta
Estou mais para vinil k7 do que para cd rom
Mais deslocado do que um satélite natural
Ao longe alheio fora da órbita que quereis
Colocar-me com a modernidade o progresso
Considero-me que não posso ser moderno na pobreza
Na miséria na fome na guerra
Na devastação das queimadas das florestas
O extermínio das crianças meninos meninas de rua?
A dominação dum país poderoso
A um outro país mais subdesenvolvido fraco?
Quando será que essas coisas vão acabar?
Não posso me considerar moderno evoluído
Com tantos percalços desníveis no meu meio
Por isso se por aí alguém estiver a pensar
Em  testar uma bomba atômica de maior poder
Que faça o teste dentro da minha cabeça
Não uses o subsolo da Terra
Para que não aconteça mais terremotos

Luiz Inácio Lula da Silva, A hora da ação política.


            A lenta retomada da economia global e os seus enormes custos sociais, especialmente nos países desenvolvidos exigem uma corajosa mudança de atitude. É preciso identificar com clareza a raiz da crise de 2008, que em muitos aspectos se prolonga até hoje, para que os líderes políticos e os órgãos multilaterais façam o que deve ser feito para superá-la.
A verdade é que, no dia 15 de setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers pediu concordata, o mundo não se viu apenas mergulhado na maior crise financeira desde a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Viu-se também diante da crise de um paradigma.
Outros grandes bancos especuladores nos Estados Unidos e na Europa só não tiveram o mesmo destino porque foram socorridos com gigantescas injeções de dinheiro público.  Ficou evidente que a crise não era localizada, mas sistêmica. O fracasso não era somente desta ou daquela instituição financeira, mas do próprio modelo econômico (e político) predominante nas décadas recentes. Um modelo baseado na ideia insensata de que o mercado não precisa estar subordinado a regras, de que qualquer fiscalização o prejudica e de que os governos não tem nenhum papel na economia, a não ser quando o mercado entra em crise.
 Segundo este paradigma, os governos deveriam transferir a sua autoridade democrática, oriunda do voto – ou seja, a sua responsabilidade moral e política perante os cidadãos – a técnicos e organismos cujo principal objetivo era o de facilitar o livre trânsito dos capitais especulativos.
Cinco anos de crise, com gravíssimo impacto econômico e sofrimento popular, não bastaram para que esse modelo fosse repensado. Infelizmente, muitos países ainda não conseguiram romper com os dogmas que levaram ao descolamento entre a economia real e o dinheiro fictício, e ao círculo vicioso do baixo crescimento combinado com alto desemprego e concentração de renda nas mãos de poucos.
O mercado financeiro expandiu-se de modo vertiginoso sem a simultânea sustentação do crescimento das atividades produtivas. Entre 1980 e 2006, o PIB mundial cresceu 314%, enquanto a riqueza financeira aumentou 1.291%, segundo dados do McKinseys Global Institute e do FMI. Isso, sem incluir os derivativos. E, de acordo com o Banco Mundial, no mesmo período, para um total de US$ 200 trilhões em ativos financeiros não derivados, existiam US$ 674 trilhões em derivativos.
         Todos sabemos que os períodos de maior progresso econômico, social e político dos países ricos durante o século XX não tem nada a ver com a omissão do Estado nem com a atrofia da política.
A decisão política de Franklin Roosevelt, de intervir fortemente na economia norte-americana devastada pela crise de 1929, recuperou o país justamente por meio da regulação financeira, o investimento produtivo, a criação de empregos e o consumo interno. O Plano Marshall, financiado pelo governo norte-americano na Europa, além de sua motivação geopolítica, foi o reconhecimento de que os EUA não eram uma ilha e não poderiam prosperar de modo consistente num mundo empobrecido.  Por mais de trinta anos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o Welfare State foi não apenas o resultado do desenvolvimento mas também o seu motor.
Nas últimas décadas, porém, o extremismo neoliberal provocou um forte retrocesso.  Basta dizer que, de 2002 a 2007, 65% do aumento de renda dos EUA foram absorvidos pelos 1% mais ricos. Em quase todos os países desenvolvidos há um crescente número de pobres. A Europa já atingiu taxas de desemprego de 12,1% e os EUA, no seu pior momento, de mais de 10%.
O brutal ajuste imposto à maioria dos países europeus – que já foi chamado de austericidio – retarda desnecessariamente a solução da crise. O continente vai precisar de um crescimento vigoroso para recuperar as dramáticas perdas dos últimos cinco anos. Alguns países da região parecem estar saindo da recessão, mas a retomada será muito mais lenta e dolorosa se forem mantidas as atuais políticas contracionistas. Além de sacrificar a população europeia, esse caminho prejudica inclusive as economias que souberam resistir criativamente ao crack de 2008, como os EUA, os BRICS e grande parte dos países em desenvolvimento.
O mundo não precisa e não deve continuar nesse rumo, que tem um grande custo humano e risco político. A redução drástica de direitos trabalhistas e sociais, o arrocho salarial e os elevados níveis de desemprego criam um ambiente perigosamente instável em sociedades democráticas.
Está na hora de resgatar o papel da política na condução da economia global. Insistir no paradigma econômico fracassado também é uma opção política, a de transferir a conta da especulação para os pobres, os trabalhadores e a classe média.
A crise atual pode ter uma saída economicamente mais rápida e socialmente mais justa. Mas isso exige dos líderes políticos a mesma audácia e visão de futuro que prevaleceu na década de 1930, no New Deal, e após a II Guerra Mundial.
É importante que os EUA de Obama e o Japão de Shinzo Abe estejam adotando medidas heterodoxas de estímulo ao crescimento. Também é importante que muitos países em desenvolvimento tenham investido, e sigam investindo, na distribuição de renda como estratégia de avanço econômico, apostando na inclusão social e na ampliação do mercado interno.  O aumento de renda das classes populares e a expansão responsável do crédito mantiveram empregos e neutralizaram parte dos efeitos da crise internacional no Brasil e na América Latina. Investimentos públicos na modernização da infraestrutura também foram fundamentais para manter as economias aquecidas.
Mas para promover o crescimento sustentado da economia mundial isso não é suficiente. É preciso ir além. Necessitamos hoje de um verdadeiro pacto global pelo desenvolvimento, e de ações coordenadas nesse sentido, que envolvam o conjunto dos países, inclusive os da Europa.
Políticas articuladas em escala mundial que incrementem o investimento público e privado, o combate à pobreza e à desigualdade e a geração de empregos podem acelerar a retomada do crescimento , fazendo a roda da economia mundial girar mais rapidamente.
Elas podem garantir não só o crescimento, mas também bons resultados fiscais, pois a aceleração do crescimento leva à redução do déficit público no médio prazo. Para isso, é imprescindível a coordenação entre as principais economias do mundo, com iniciativas mais ousadas do G-20. Todos os países serão beneficiados com essa atuação conjunta, aumentando a corrente de comércio internacional e evitando recaídas protecionistas.

A economia do mundo tem uma larga avenida de crescimento a ser explorada: de um lado pela inclusão de milhões de pessoas na economia formal e no mercado de consumo – na Ásia, na África e na América Latina – e de outro com a recuperação do poder aquisitivo e das condições de vida dos trabalhadores e da classe média nos países desenvolvidos. Isso pode constituir uma fonte de expansão para a produção e o investimentos mundiais por muitas décadas.

Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente do Brasil

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Os Médicos os Monstros; BH, 0210802013; Publicado: BH, 0210802013.

Os médicos os monstros
Na infância ouvia contar a história
Do Médico e o Monstro morria
De medo um médico bebia o
Resultado duma fórmula
Transformava-se num monstro
Atualmente não há mais médicos
Só monstros não precisaram ingerir
Nenhuma fórmula o comportamento
Mostra que são todos uns monstros
Hipócrates há muito tempo ficou esquecido
No túmulo da antiguidade os
Que fizeram o seu juramento sem
Escrúpulos ética virtude moral
Seguem a cometer todo tipo de delito
Aborto clandestino tráfico de órgãos
Humanos negligências recusa
A atender pacientes principalmente
No serviço público podemos dizer
Que só os muito ricos estão
Autorizados a dizer que têm
Médicos já os pobres os que dependem
Da saúde pública a saída é
Contar com a sorte não
Adoecer se adoecer fingir
Que está com saúde pois se cair
Nas mãos dum desses monstros
É capaz de ter o atestado de óbito
Em vida num coma induzido com
A causa mortis alterada os órgãos
Vendidos para transplantes fora das
Filas de esperas legais assim como
Vão-se os anéis ficam-se os dedos
Vão-se os médicos ficam-se os monstros

Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, Natal.

Penso no Natal.
No teu Natal.
Para a bondade
A minh'alma se volta.
Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade...
A voz dos sinos...
A cadência
Do rio...
E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho...
Evoco-te...
Componho
O ambiente cuja luz os teus cabelos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida...
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas na paz divina do Natal...
Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minh'alma a teus pés humilhada de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos...
Ampara a minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana - pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus...

                                                         
                                                                    Clavadel, 1913

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Fragmentos dos tratados das leis; BH, 0140150202000; Publicado: BH, 0200802013.

Fragmentos dos tratados das leis
Lei primeira todo hospital em território nacional é obrigado
A aceitar em suas dependências como paciente qualquer
Tipo de cidadão independente de classe condição social
Sem restrição exigência empecilhos percalços fúteis
Lei segunda toda universidade faculdade escola quartel
Posto de saúde sindicato igreja são obrigados a amparar
Um certo número de menores de rua segundo a condição
Comprovada quem puder amparar um ampara um quem
Puder amparar dez ampara dez a dar toda a condição de
Infraestrutura saúde educação formação profissional
Lazer tudo que for necessário para garantir um futuro feliz
Aos meninos meninas desamparados pelas autoridades
Lei terceira todo prédio vazio abandonado pelo proprietário
Desocupado já há alguns anos será reformado viabilizado
Para moradia entregue às famílias de baixa renda
Com perfeito acompanhamento da fiscalização assistência
Lei quarta toda criança em idade escolar tem que
Estar matriculada em escolas particulares estaduais
Federais municipais religiosas de samba com todo material
Alimentação lazer cultura serviço odontológico higienização
Educação sexual de ética de lógica de comportamento
Lei quinta todo cidadão é obrigado a se respeitar a respeitar
O próximo a não ser imprudente mal educado sem
Educação a ceder a vez no trânsito a não estacionar em
Cima das calçadas a respeitar ao pedestre mesmo quando
Esse estiver errado a evitar de atropelá-lo
Lei sexta é proibido portar fabricar qualquer tipo de armas
Em território nacional bem como importar contrabandear
Lei sétima as fronteiras serão fechadas à entrada de drogas de
Quaisquer espécies todo tipo de droga apreendido terá que ser
Imediatamente destruído de qualquer maneira
Lei oitava todo posto de saúde é obrigado a ter todos os tipos de
Remédios as farmácias que não venderem remédios bem
Baratos serão imediatamente fechadas
Lei nona é proibido cortar árvores por qualquer que seja
O motivo botar fogo nas florestas arrancar uma folha sequer
Dum galho é deixar a folha cair por conta própria
Lei décima todo invasor da Amazônia terá que
Abandoná-la os índios donos das terras da floresta
Ocuparão suas antigas terras aldeias sem interferência de ninguém
Lei décima primeira é proibido jogar lixo ou qualquer
Tipo de objeto poluente no meio ambiente nos rios
Lagos lagoas córregos riachos praias mares oceanos
Lei décima segunda é proibido prender criar passarinhos
Em gaiolas viveiros cativeiros alçapões arapucas outras armadilhas
Lei décima terceira é proibido caçar matar aprisionar
Qualquer tipo de animal da fauna em território nacional
Lei décima quarta é proibido fumar na atmosfera
Pescar filhotes de peixes caçar baleias golfinhos focas,
Peixes-bois pinguins leões elefantes marinhos tartarugas
Lei décima quint é proibido pisar nas formigas pisar
Na grama matar calangos borboletas tanajuras joaninhas abelhas
Lei décima sexta é proibido ser ignorante estúpido não usar a
Inteligência a sabedoria o conhecimento a genialidade
A mentalidade a memória em benefício da felicidade comum
Lei décima sétima é proibido ofuscar a luz do sol
Com a fumaça negra da poluição do desenvolvimento
Lei décima oitava é proibido poluir as águas as fontes
As cacimbas as cisternas os açudes os poços ribeirões nascentes
Lei décima nona é proibido deixar o semelhante
Passar fome viver na miséria na desgraça na
Pobreza sem emprego sem salário suficiente sem
Esperança confiança no futuro sem perspectiva solução
Lei vigésima é proibida a falta da cultura é proibido o fim
Dos livros a falta de leitura de escrita das letras
Da literatura do teatro cinema circo palhaços etc
Lei vigésima primeira todas as leis criadas pela burguesia pela elite
Pelo senado pela câmara dos deputados assembleias vereadores
Presidente da República para beneficiá-los aos demais
Aproveitadores das tetas das mamatas das maracutaias das
Jogatinas cirandas financeiras paraísos fiscais estão
Terminantemente sem efeitos sem valor validade revogadas
Lei vigésima segunda é expressamente proibida toda
Qualquer remessa de divisas ao exterior para engordar
As contas já astronômicas de banqueiros de empresários
Espertos que não investem os lucros onde são gerados
Lei vigésima terceira não é permitida a importação
De cérebros estrangeiros em detrimento preterência
Aos cérebros nacionais não se pode nem se deve
Gerar empregos para forasteiros a deixar os nativos a
Ver navios de mãos vazias desesperados
Lei vigésima quarta a burguesia a elite estão
Obrigadas a dividir a renda a pagar mais
Impostos a investir mais no social
Lei vigésima quinta é proibido morar no meio
Das ruas debaixo das marquises pontes viadutos
Em residências sem condições humanas de habitação
Lei vigésima sexta cada deputado federal estadual senador vereador
Governador presidente ministro secretário empresário
Banqueiro testa de ferro de multinacionais general
Sem guerra contra almirante sem tiro demais
Sanguessugas da nação são obrigados a construir pelo
Menos uma casa por meio próprio doá-la a um sem teto
Ou a quem ainda não tenha onde morar com a família
Lei vigésima sétima todo funcionário público é obrigado
A trabalhar a atender bem ao cidadão a deixar de ficar
A coçar o saco a funcionar a fiscalizar as coisas públicas a preservar,
A ajudar no desenvolvimento na modernidade do bem
Lei vigésima oitava todo cartel monopólio serão quebrados
As pequenas médias empresas também terão chances
Oportunidades iguais no livre mercado comércio
Lei vigésima nona não será concedida nenhuma
Proteção facilitação empréstimo de dinheiro às empresas
Multinacionais que queiram abrir filiais no país
Todas que quiserem terão que abrir com os próprios
Recursos sem um centavo do dinheiro dos cofres públicos
Lei trigésima é proibida a importação predatória
Todo produto pode ser fabricado no país a gerar
Emprego impostos está proibido de ser importado o que
Se pode desequilibrar a economia interna
Lei trigésima primeira toda exportação só pode
Ser feita a preços de mercado os impostos que forem
Cobrados têm que ser maiores que os do mercado
Interno a gerar mais divisas recursos nacionais
Lei trigésima segunda a criança é intocável tem que ser venerada
Como se fosse santa não pode sofrer violências abusos
Sexuais espancamentos cárceres privados desrespeitos
Passar fome frio sede demais necessidades tem que viver
Em segurança com esperança alegria felicidade sem distúrbios
Lei trigésima terceira a mulher não deverá ser discriminada
Nem relevada a uma segunda posição em qualquer
Situação tem os direitos iguais as mesmas proporções
Grávidas têm que ser bem acompanhadas a ficar
A critério delas se escolher a maternidade de alta boa
Qualidade onde darão à luz com todo acompanhamento
Lei trigésima quarta a polícia perderá a ação
A validade a atuação já que as armas não serão
Mais toleradas juntamente com as drogas os motoristas
Imprudentes mal educados sem educação
Lei trigésima quinta a polícia até poderá
Existir se se reciclar na condição em que será só
Para proteger o cidadão ao não importar a sua
Condição social não existirá mais essa de proteger
O rico o branco a trucidar torturar eliminar
O pobre o negro os desprivilegiados pela sociedade
Lei trigésima sexta as forças armadas serão extintas
A partir do momento que não desenvolverem o papel
De proteção à Floresta Amazônica às fronteiras para
Impedir contrabando de armas de drogas as
Selvas para impedir as caçadas as queimadas
Aprisionamentos de animais matanças de índios
Lei trigésima oitava toda terra em condição de
Plantio terá de ser cultivada com a cultura de base
Arroz feijão milho soja alho cebola alface repolho
Laranja limão mamão manga abacaxi coco uva maçã
Pera banana mandioca agrião couve batata inhame etc
Lei trigésima nona é proibido votar quem quiser
Ser eleito quem quer se comprometer com o povo é
Assinar um termo público de fé de responsabilidade
A dar a palavra de não trair o povo não legislar
Somente em benefício próprio da burguesia da elite
Só depois de muita garantia é que vai merecer
O voto do povo para algum cargo público almejado
Lei quadragésima o presidente está proibido de sair
A viajar pelo mundo a gastar dinheiro dos cofres
Públicos quando quiser viajar só depois que
Abandonar o cargo prestar contas da administração
Ao povo aí com dinheiro do próprio bolso poderá
Correr o mundo todo com o bando de puxa-sacos
Lei quadragésima primeira toda riqueza do subsolo
Pertence à nação se vier a ser explorada os lucros
Gerados têm que ser gastos nas melhorias da vida do povo
Lei quadragésima segunda é proibido ao cidadão
Ganhar esta vergonha esta esmola este desrespeito
Chamado de salário mínimo deverá ser preso
Imediatamente o responsável quem tiver a
Coragem de pagar a um semelhante a quantia
Que é hoje o salário mínimo base nacional
Lei quadragésima terceira é estabelecida a liberdade
De democracia de verdade a abolição da mentira
O banimento da falsidade ilusão enganação
Lei quadragésima quarta é proibida a abertura de
Igrejas com o intuito de enganar ao povo com
Promessas de salvação através do uso de doação de
Dinheiro todo pastor bispo padre etc têm que
Suar a camisa numa profissão paralela útil
Não só enriquecer no blá-blá-blá na usurpação
Do dinheiro alheio pelo método famigerado do dízimo
Lei quadragésima quinta a guerra está proibida
Toda nação deve ser livre independente
Ninguém pode viver sob o jugo de outrem
Ninguém tem o direito de bombardear ninguém
Está proibido o bombardeio a guerrilha o terrorismo
O campo minado o campo de refugiados todo o
Cidadão tem o direito de viver dentro da
Própria nação sem sofrer um único delito sequer
Lei quadragésima sexta está estabelecida a paz
A paz jamais poderá ser quebrada desrespeitada agredida
A paz jamais será destruída todo homem é obrigado
A viver a própria vida em paz a fazer com qu
Dar condição para que todo homem possa
Levar a própria vida em paz em felicidade
Harmonia irmandade toda tranquilidade possível
Lei quadragésima sétima toda lei burra idiota
Ignorante injusta cruel draconiana insana
Sem inteligência sem sabedoria está extinta por si só basta
Lei quadragésima oitava ninguém poderá mais ser
Analfabeto a cultura tem que ser elevada à
Condição de necessidade de primeira linha
Tais quais o arroz o feijão que comemos no almoço
Lei quadragésima nona é obrigado a tocar música
Clássica em todas as rádios vinte quatro
Horas por dia bem como na televisão onde
Toda a programação tem que seguir uma linha
De qualidade de inteligência superiores
Lei quinquagésima é proibido o abandono o desprezo
O pouco caso a indiferença com que a maioria
Do povo é tratada pelas chamadas autoridades
Lei quinquagésima primeira é proibido todo o
Tipo de abuso de autoridade carteirada o sabem com
Quem estão a falar o abuso de poder o uso de força
Lei quinquagésima segunda duma vez por todas só
Estará permitido o uso da inteligência da
Genialidade do pensamento da sabedoria
Do conhecimento da positividade da mente
Outros meios não poderão ser usados só a
Presença do cérebro sadio que não cria bombas
Atômicas que não cria meios de extermínios será
A arma desenvolvida na proteção do bem comum
Lei quinquagésima terceira é permitido o aborto de
Acordo com a vontade soberana da mulher que o desejar
Em casos extremos bem discutido pela sociedade
Todo o casal que se amar deverá antes de mais
Nada ter condições justamente com a comunidade
A encaminhar bem os filhos dentro das leis
Lei quinquagésima quarta todas estas leis entrarão
Imediatamente em vigor na tentativa de levar a felicidade
Ao seio do povo da humanidade sem o intuito de atrapalhar
De causar dano desmoralizar ou humilhar qualquer
Que seja o componente ou o semelhante quem mais vier
Tomar conhecimento destes fragmentos deste tratado das leis

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Bruna Beber.

todo urubu titia gritava
urubu urubu, sua casa
tá pegando fogo
todo estrondo na rua
papai dizia eita porra
aposto qué bujão de gás
todo avião vovó acenava
é seu tio! desquentrou preronáutica
num tenho mais sossego
temi e ainda temo toda espécie
inflamável lamentei tanto urubu
desabrigado desejei o fim
da força aérea brasileira
só custei a entender mamãe
e o que queria dizer com seu irmão
não vem mais brincar com você
papai do céu levou.

Bruna Beber.

quanto tempo falta pra gente se ver hoje
quanto tempo falta pra gente se ver logo
quanto tempo falta pra gente se ver todo dia
quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre
quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto tempo falta pra gente se ver às vezes
quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos
quanto tempo falta pra gente não querer se ver
quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu
quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu

domingo, 18 de agosto de 2013

Ao senhor cronista, Carlos Herculano Lopes; BH, 02501102008; Publicado: BH, 0180802013.

Ao senhor cronista
Carlos Herculano Lopes
Parabéns demais por tua crônica do dia 25/11/2008
Não perco uma penso que uma das
Coisas que ainda salva o Estado de Minas é a
Última página do Caderno Cultura
Hoje para mim foi emocionante pois me
Surpreendi com as tuas citações a respeito
De Teófilo Otoni donde sou
Natural da cidade de Medina que
É meu sobrenome me senti como se
Fosse o homem que morava debaixo da
Marquise também como se fosse o
Que conversou com ele
Emocionante singela bela a crônica
Mais uma vez parabéns
Grato cordialmente

Opera Mundi, James Meredith.

Wikimedia Commons
Em 18 de agosto de 1963, o estudante e ativista norte-americano James Meredith tornou-se o primeiro negro a se formar na Universidade do Mississipi, sul dos Estados Unidos. Esse ato foi considerado uma virada a favor do Movimento pelos Direitos Civis dos EUA. Dois anos antes, ele já havia chamado a atenção do país ao conseguir se inscrever e, com muita dificuldade e sob ameaças, entrar e estudar na instituição, enfrentando a ira e os protestos da elite branca do Estado.

Meredith, hoje com 80 anos, sempre admitiu que sua decisão de exercer seus direitos foi inspirada pelo discurso de posse do então presidente John Fritzgerald Kennedy – sobre a necessidade de cada americano ser um cidadão ativo. Muito mais do que se formar, o objetivo principal do ativista era pressionar o governo a garantir e ampliar os direitos civis à população negra em todo o território.

Meredith nasceu em Kosciusko, no estado segregacionista do Mississipi, de uma família de origem negra e indígena (tribo choctaw, expulsa da região no passado). Depois de estudar em escolas só permitidas para negros, alistou-se nas Forças Armadas e serviu a Aeronáutica de 1951 a 1960.

No final de 1961, quando concluiu seu segundo ano no curso de Ciências Políticas da Universidade de Estadual de Jackson, no mesmo Estado, decidiu pedir transferência para a Universidade do Mississipi que, amparada pela legislação racista do Estado, só aceitava estudantes brancos. Se uma decisão da Suprema Corte de 1954, no caso Brown vs. Education, já havia determinado que tal política não poderia mais ser aceita em instituições de ensino, ela ainda não havia sido colocada em prática naquele estado.

Em carta à universidade, Meredith disse que queria a inscrição “por seu país, por sua raça, por sua família e por si mesmo”. “Estou ciente das possíveis dificuldades envolvidas nessa ação assim como sei que, embora subestimado, estou totalmente preparado para obter uma graduação na Universidade de Mississipi”, escreveu o ativista na ocasião.

Após receber duas negativas entrou na justiça em 31 de maio de 1961 alegando ter sido rejeitado unicamente pela cor de sua pele, já que tinha um currículo escolar adequado e suficiente para ser aceito. A decisão final só saiu através da Suprema Corte que, no mesmo ano, determinou a aplicação de seu pedido.
 
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Mesmo com o aval jurídico, o governador do Estado, Ron Barnett, tentou de todas as maneiras barrar sua entrada, forçando a aprovação de uma lei que proibia “qualquer pessoa com antecedentes criminais no estado ser aceita em uma instituição estadual de ensino”. Meredith havia sido condenado no passo por registro eleitoral falso, em razão de especificidades na lei eleitoral do Mississipi que coibiam o voto de eleitores negros.

Com a intervenção do procurador-geral dos EUA, Robert Kennedy, Barnett foi obrigado a concordar, relutantemente, com o pedido de Meredith.

Após a admissão, o ativista foi barrado no portão de entrada no dia 20 de setembro, só conseguindo ingressar fisicamente, sob forte escolta policial, no dia 1.º de outubro. Estudantes brancos e ativistas pró segregação chegaram a cercar o campus naquele dia tentando impedir sua entrada. Robert Kennedy precisou da ajuda das Forças Armadas para desocupar o local e garantir a segurança do ativista. Duas pessoas morreram, incluindo um jornalista francês encontrado morto com um tiro nas costas. Um dos carros responsáveis pela segurança foi incendiado e os dois ocupantes, que saíram de lá ilesos, ainda tiveram de escapar de um tiroteio. 160 dos 500 U.S. Marshalls (agentes pertencentes ao Departamento de Justiça) convocados pelo governo ficaram feridos, além de 40 membros da Guarda Nacional.

Após se formar, continuou seus estudos na Nigéria, voltou aos EUA para organizar marchas pelo direitos civis (como a "Marcha contra o Medo", de Memphis a Jackson, onde chegou a ser baleado).

Na carreira política, sempre militou pelo partido Republicano. Foi duramente criticado por membros do movimento negro ao assessorar, entre 1989 a 1991, o senador ultraconservador Jesse Helms, da Carolina do Norte, que atuara no passado contra a intervenção federal em assuntos que ele considerava de responsabilidade estadual – incluindo integração racial, o Ato de Direitos Civis e o Ato do Direito ao Voto, todos embates caros ao movimento negro. O mesmo Helms tentou impedir que o Senado aprovasse um feriado nacional em homenagem a Martin Luther King. Meredith justificou sua opção ao dizer ter oferecido seus serviços a todos os senadores da República, e apenas Helms abriu as portas para ele.

Em 2002, durante a celebração dos 40 anos de sua admissão, seu filho, Joseph, já falecido, também obteve graduação em Administração, ficando em primeiro lugar no curso daquele ano. Na ocasião, James disse: “Não há prova maior para mostrar a falibilidade da supremacia branca do que não apenas meu filho ter se formado aqui, mas o fato de ter obtido o primeiro lugar no curso. Bem, acho que isso vinga minha vida toda”.  James tem uma estátua em sua homenagem na universidade.