sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", Enchente de olhos cheios de espumas do mar, SL/SD; Publicado: BH, 0250202022.

Enchente de olhos cheios de espumas do mar
Boca cheia de beijos de manhãs e
Lábios feitos de moléculas do ar
Corpo feito de sereno misturado com orvalho
Mãos cheias de céus de universos de paraísos
Céus de universos feitos com ternura e carinho
Alma feita de raios de sol de verão
E és o núcleo indissolúvel da minha vida
E és a célula que falta ao meu corpo
Olhos cheios de nuvens dos céus de jardins
Coração feito com células de amor
Coração cheio de sangue da paz
E és cheia de vida e natureza
E és feita de verde e de chuva
E tens a beleza do barulho da chuva a cair no telhado
E contigo ao meu lado numa noite de chuva
E esqueço de tudo que existe aqui 
Olhos cheios de filosofia e psicologia e psiquiatria
Boca feita com arquitetura de gênio para moldura
Corpo cheio de malícia de sorriso aberto a provocar
E pareces um ser de espaço doutro mundo
E corpo multicor feito duns tipos azul e vermelho e verde
Cabelos cheios de noites de silêncios
A beijar a noite cheia de estrelas
Olhos cheios de reflexos do amanhecer
Voz feita do marulho das águas do mar nas pedras das praias
Alma pintada de amarelo
Corpo da cor do beijo do amor
Amor feito de areia das dunas das praias
Amor cheio de espelhos do dia
Dia refletido em pensamentos de quando te
Encontrei a sorrir a me esperar
Mente a soprar vibrações de amor
Que vagaram pelo vácuo da minha cabeça
Até me encontrar comigo mesmo
E fiquei feliz com uma felicidade de bem-aventurado
Pois tinha uma certeza feita de puro aço
Que só eu neste mundo inseguro ia te amar
Olhos cheios de brilhos estranhos
Boca cheia de ecos de gritos reais vividos
Em plena noite feita do mais depurado amor 
De brisa de areia branca que a água do mar
Vinha levemente com amor nos acariciar.

"Último Caderno", E não consigo viver sem atrito, SL/SD; Publicado: BH, 0250202022.

E não consigo viver sem atrito
E estou sempre com ódio e
Não consigo viver sem criar
Caso e estou sempre em
Discussão e estou sempre em
Discórdia e não consigo me
Concentrar no amor e na paz e
Estou sempre em desunião e
Não consigo viver em harmonia
E ando sempre a querer ser o
Melhor do que todo mundo e
Não consigo querer entender as
Coisas e não sei o que é que há
Comigo e não sei porque sou 
Assim e não consigo viver a
Gostar de alguém e não consigo
Viver sem minhas guerras e
Queria tanto viver bem e sem
Ódio e com união e com paz e
Com amor e por isso peço as
Desculpas e me arrependo de
Ser assim e penso em mudar e
Não sei como e não consigo viver
Em comunhão e não consigo
Viver do jeito que sou e que
Quero ser e vou acabar por
Morrer ou alguém dá-me a
Mão e me ajude a me 
Encontrar ou não consigo viver
Do jeito que sou e sei que não.

"Último Caderno", Zoantropo sofro de zoantropia, SL/SD; Publicado: BH, 0250202022.

Zoantropo sofro de zoantropia
Mas não faz mal se sou um
Zoantropo e prefiro ser um
Animal mas não quero
Continuar a viver está vida que
Tive até agora e vou comer
Capim e vou beber lavagem
Mas não quero viver assim e
Dizem que sou racional e
Agora resolvi ser irracional e
Quero sofrer menos e quero
Sentir menos peso dos 
Problemas do mundo e
Quero pensar menos e ter
Mais paz e se os pássaros e
Os animais dos campos e todo
Animal na terra e no céu ou
No mar parecem não ter nada
Mas têm muito mais do que
Eu e por isso quero ser um
Componente da fauna para
Ter amor e para ser feliz e
Não quero pensar em crises
E nem na vida que não soube
Viver e que só me fez sofrer e
Sofro de zoantropia mas não
Faz mal e sou um zoantropo
E estou feliz e encontrei a
Verdadeira felicidade e posso
Ser um animal e posso ser um
Pássaro e vou voar e posso ser
Um peixe e vou para o fundo
Do mar e não importa para
Aonde vou e vou até comer
Capim e não quero ser mais
Gente e não quero chorar mais
E não quero viver assim e
Quero esquecer todo mal e
Agora sou só um animal.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", E estou com zanga, SL/SD; Publicado: BH, 0240202022.

E estou com zanga
E estou zangado e
Não quero nem te
Ver com o teu amor
Atormentado e 
Estou sem vida e
Estou sem alma e
Tudo em mim 
Acabaste e estou
Com zanga de ti e
Estou zangado
Contigo e não fales
Mais comigo e nem
Procures me e perto
De ti só corro perigo e
Procurei te entender e
Procurei te fazer feliz
E me puseste zangado e
Fizeste me sofrer e não
Querias me ouvir e
Não querias me entender
E agora nada de choro
E agora nada de manhas
E há muito tempo que
Vinha te dar aviso prévio
E te dei cartão amarelo
Por várias vezes mas agora
Não aguento mais e estás
Expulsa do meu campo e
Estás expulsa da minha
Vida e estou com zanga e
Estou zangado contigo e
Cartão vermelho para ti
E podes sair do campo e
Podes sair do jogo e podes
Sair de mim e leves o teu
Amor e leves tudo que me
Deste e não quero mais te
Ver e não quero ter nada
Que me faça lembrar de ti
E estou com zanga e estou
Zangado e expulsão total e
Leva teu amor atormentado.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", Lua vítima cobaia, SL/SD; Publicado: BH, 0220202022.

Lua vítima cobaia
Do futuro sem ciência
Lua lívida sem vivência 
Sem ser vivida
Do homem do espaço
Lua suja de podre
Porque foste deixar
Teu amor
Tua cor
Contaminar
Lua escura
Lua anti
Sem a luz
Sem o céu
Sem as estrelas
Sem firmamento
Lua vítima cobaia
Da traição do mundo
Do homem
Do engano
Do futuro
Lua virulenta
Lua violência
Do vírus homem
Não pertence à noite
Não pertence ao céu
Lua vítima cobaia
Lua traída
Lua passada
Lua tudo
Lua alvo
Da guerra vindoura
Lua teste
Lua psicopata
Lua neurótica
Lua doida
Lua maluca
Mas a culpa
Não é tua
É a ignorância
Do vírus homem
Que é demais
E fez de ti
Vítima cobaia
E não tenho mais
Para quem chorar
E então choro por ti
Lua oculta
Lua penada
Lua pelada
Que na noite fria
Não pode ver
Mais namorados
A se aquecer
A se amar
Lua surda
Lua muda
Sem som
Sem cor
Sem luz
Sem paz
Sem amor.

"Último Caderno", Vigário vigarista, SL/SD; Publicado: BH, 0220202022.

Vigário vigarista
Veio me cobrar a missa
Que pedi para rezar
Em memória da
Minha mãe preta de leite
Vigário vigarista
Veio me cobrar
Quando pedi para batizar
Meu filho bastardo
Que ainda era pagão
E ia morrer de inanição
Antes do tempo de viver
Vigário vigarista
Veio me cobrar
Quando fui à igreja
Com a minha mulher de fé
Para nos casar
E ainda bronqueou
Por não ser devoto
De Nosso Senhor 
E antes de sairmos da igreja
Vigário vigarista
Já estava a paquerar
A minha mulher
Numa forma de me amedrontar
Vigário vigarista
Vive a rezar
Mas não perde tempo
E de vez em quando
Dá as suas
A tomar dinheiro dos pobres
A dizer que é para os santos
E segue a cobrar missas
A cobrar batismos
E casamentos também
E a vender água benta
Para perdoar os pecados
Dos seus miseráveis fiéis
E vigário vigarista
Segue a paquerar
A mulher dos outros
E só fala bem
De quem tem
Muito dinheiro
Para pagar o vinho
De cada dia
E desvia a oferta do santo
Vigário vigarista
Só fuma cigarro bom
Será que não é pecado?
Mas o vigário vigarista
Nunca peca às vistas
E nem dorme de touca
E nem come mosca
E passou o conto do vigário
Em toda a própria paróquia.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", Vias por vias das dúvidas, SL/SD; Publicado: BH, 0180202022.

Vias por vias das dúvidas
Via-sacra e via-satélite e
Via-Lactea e via-vida e
Via-dura e via-ação e 
Via-agir e via-morte e 
Via-atura e via-duto e
Via-céu e via-sol e via-lua
Via-guerra e via-atômica e
Via-nuclear e via-marte e
Via-vácuo e via-outro e
Via-mundo e via-cósmica e
Via-ferrea e via-vice e
Via-verso e via-vez e
Via-morrer e via-pro e
Via-proibida e via-vesga e
Via-vertical e via-vertigem e
Via-vesga e via-verbo e
Via-ser e via-sim e via-não e
Via-entender e via-vírus e
Via-paz e via-amor e
Via-harmonia e via-vida e
Via-união e via-compreensão e
Via-protesto e via-povo e 
Via-melhor e via-dia e via-noite
Via-amanhecer e via-tarde e
Via-natureza e via-vida e 
Via-bom e via-bem e
Via-nascer e via-construir e
Via-homem e via-mulher e
Via-criança e via-irmandade e
Via-humana e via-humanidade e
Via-não existe-via e via-inexistente e
Via-fechada e via-sem-saída e
Via-sem-fundo e via-perigosa e
Via-militar e via-tempo e 
Via-espaço e via-hora-de-chegar e
Via-loucura e via-ajudar e
Via-paz e via-amor e via-solução.

"Último Caderno", Velório, SL/SD; Publicado: BH, 0180202022.

Velório
A vela vela a noite
A flor vela o defunto
O vento empurra a vela do barco
Que leva o meu amor
Pelo mar azul da vida
A vela
Vela a flor
Que vela o defunto
O defunto
Vela o caixão
O caixão
Vela a terra
O vento
Empurra para longe
O barco verde
Do mar azul
A levar o meu amor
Que não vai voltar
Para me velar
Quando a morte chegar
A vela que vela
Que se consome
Quero ser como a vela
Que nada diz
Chora calada
Quando o fogo a devora
E consome o seu corpo
Mas a vela nos dá à luz
E não se importa
Que venha a morte
E o que a vela quer é iluminar
A vela vela a morte
Seu destino é a morte
A vela do barco
O vento levou
Para outro mundo
Meu amor
Quero velar como a vela
Não sei a quem amar
A vela vela o amor
A vela demonstra o amor
Silencioso amor
De lágrimas quentes
E quero ter 
O amor da vela
Quero ser como a vela
Que ao se consumir ilumina 

"Último Caderno", Usa a guerra, SL/SD; Publicado: BH, 0180202022.

Usa a guerra
Usa o mundo
Usa o hábito
Vira tradição
E vira costume
E vira vício e
Usa bomba
Usa avião
Usa morte
Como condução
Usa a lua
Usa o vulcão
Usa a vida
Usa o homem
USA
Que uso é esse?
Chega de usar
Chega de experimentar
Usa o raio de sol
Para poder matar
Usa os pássaros
Usa o amor
Usa as flores
Usa as árvores
Usa a natureza
Até acabar
E exterminar
Que uso é esse USA?
Chega de usar
Sem conservar
Sem viver
Usa tudo
Fica nada
USA nada
Usa a mulher
Usa e abusa
Que abuso é esse?
A paz
O amor
E o espirito
A cabeça
Tudo que é bom
Não tem uso
USA não usam não.

"Último Caderno", Ainda não falei para ti, SL/SD; Publicado: BH, 0180202022.

Ainda não falei para ti
Nem a metade do que
Tenho para te falar e
Não vais embora ainda
Tens que me escutar e
Não quero ser motivo
Para aborrecimento e
Nem quero perturbar a
Tua paz mas tens que 
Ouvir-me quero teus 
Ouvidos e quero tuas
Orelhas para depositar
As minhas palavras de
Amor e sei que sou um
Chato e que vivo a te
Atormentar e procures
Ouvir-me e me entender
E só quero te amar e
Só quero te dar o céu e
Só quero te dar o branco
Da espuma e o azul da
Água do mar e quero
Encher tua boca de 
Estrelas celestiais e quero
Encher tua boca de beijos
Infernais e ainda não falei
Para ti mas não quero só te
Falar e aí te dar a noite e
Quero te dar o amanhecer
E o desejo de tudo de bom
E o desejo de todo amor
Para ti e não me deixes
Ainda e sem ti entro em
Órbita e ouças por favor
E ouças com amor e ouças
O clamor e como podes
Ser tão fria? e como podes
Ser tão insensível? pareces
Ser feita de neve e pareces
Que não tens vida e ouças
Com atenção essas palavras
De vida que vão te aquecer
E que vão te viver e nascem
No fundo do meu coração.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", E tudo hoje já está consumado, SL/SD; Publicado: BH, 0160202022.

E tudo hoje já está consumado
E tudo hoje já está consumido 
E tudo hoje já está estragado e
Tudo hoje parece fato e tudo 
Hoje parece boato e com amor
Geringonçado ar metabólico e
Céu minguado de pássaros e 
Cores e natureza moída pelo
Homem e pela guerra e tudo 
Hoje está mudado e tudo hoje
Está usado e o mar está oco e a
Lua está lunática e o mundo
Está crucificado e Deus abandonado
Na atmosfera antisséptica e de
Língua antagônica e antroposfera
Poluída e arrasada pela besta 
Fera apocalíptica animal dito
Racional nu e tudo hoje é para
Hoje e nada é para amanhã e 
Tudo hoje está trocado e tudo
Hoje está acabado e até a mulher
Que era o ser mais gracioso
Que enfeitava esse mundo
Ocioso está a entrar em 
Extinção e se quiseres conseguir
Alguma só com dinheiro na
Mão e tudo hoje está sem gosto
E tudo hoje e amanhã nada. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", É a crise financeira, SL/SD; Publicado: BH, 0140202022.

É a crise financeira
A crise do petróleo e
A crise política e
É a crise brasileira e
Tanta crise que é para
Deixar a gente de
Cabeça encovada com
A crise do trabalho e
A crise de escolas e
A crise hospitalar e
Crise atômica
Crise cósmica e
Crise nuclear e
Que bom seria
Se a gente pudesse
Não pensar em tanta crise
E é a crise crítica e
A crise crua e
A crise religiosa e a
Letal crise social e
A crise do povo e
A crise nacional
E a crise do menor
E é a crise das prisões
A crise do trânsito e
É a crise da guerra
Sem amor e sem paz
Crise de nervos
Crise grave
Crise difícil de se sair
Crise humilhante
Crise cínica
Que leva a gente
Ao grau zero
Crise química
É a crise física
Crise literária
É a crise metafórica
É a crise do vil metal
Se pudesse viver a vida
Sem precisar usar o
Meu pensamento não
Pensaria em tantas besteiras
E nem em tantas crises
Crise urbana
É a crise no lar
Crise metamórfica
Crise divina
Crise espiritual
É a crise da fome
Crise alimentícia e
É a crise populacional
Crise espacial
Crise do lugar comum
Crise da vaga e
É a crise habitacional
Crise municipal
Crise estadual
Crise federal
Tantas crises que aparecem
Para abalar os nervos da gente
Tantos problemas que aparecem
Para encabular a cabeça da gente
É a crise encabulada
É a crise demente.

"Último Caderno", Até hoje vivo sozinho, SL/SD; Publicado: BH, 0140202022.

Até hoje vivo sozinho
Sem ter uma mulher para mim
Sem ter um amor de pessoa
Sem ter um alguém para ser
Mas não faz mal
É que só quero amar
E só quero adorar
Mas não aparece quem merece
Não encontro só desencontro
E nenhuma mulher
E nem ninguém
Por isso vivo morrediço
E vou ser um zoolatra
Até que um dia
Venha alguém a me socorrer
Mas do jeito que andam as coisas
Os animais são os mais compreensivos
São os que mais entendem
Das necessidades da gente
E até um porco gosta de carinho
E até um gato
Ou um cachorro
Gostam de amor
E vou exaltar os animais
São os únicos que não
Fazem mal a mim
E vou até ter
Um aspecto zooide
E vou-me parecer
Com um porco
Ou com um outro
Animal qualquer
Para ver se assim
Ganho algum amor para mim
Para ver se ganho carinho
Até hoje vivo sozinho
Com a minha ignorância
Com a minha filosofia
Com a minha psicologia
Mas não faz mal
Agora tenho a zoolatria
O novo esporte do amor
O novo sabor esporte da paz
Tenho a quem adorar
Tenho a quem amar
Tenho a quem exaltar
Pena não ter compreendido
Aos animais um pouco antes
E não andaria perdido
Feito ovelha que anda errante
Teria um aprisco
Teria um abrigo
Teria um acompanhante amigo.

"Último Caderno", Pega tuas xurumbambas, SL/SD; Publicado: BH, 0140202022.

Pega tuas xurumbambas
E não voltes mais aqui e
Pega teus cacareus e 
Suma daqui e cá não te
Quero mais para ser o 
Meu xodó e vás para o
Purgatório se não tiveres
Para aonde ir e vás para o
Céu ou para o inferno se
Não tiveres onde dormir e
Pega teus cacarecos que já
Vai começar o xingatório e
Vou mandar tudo para o
Beleléu e se ficares aqui
Vou xingar até o dia 
Amanhecer e pega teus
Trapos e dá o fora e pega
Teus xurumreus e teus
Traporecos e podes ir
Embora pois só me
Fizeste passar vergonha e
Gastaste todo o meu
Dinheiro que deixava para
As despesas e não posso
Ter mais pena de ti e já não
Sou nada e já não tenho
Nada e contigo a me resumir
A mais nada mais nada sou e
Só a gastar o pouco que tenho
E só a sujar meu amor e a
Perturbar a minha paz e pega
Tudo que é teu e vais pela
Porta dos fundos e nem
Precisas ir pela porta da frente
E já te disse adeus e vês se não
Apareces e se apareceres vou
Mudar e não quero mais sentir
Teu cheiro e não quero mais
Morrer e agora quero sorrir e
Agora quero cantar e agora
Só quero na felicidade viver.

"Último Caderno", Voo mortífero, SL/SD; Publicado: BH, 0140202022.

Voo mortífero
Nuclear e atômico
Voo lunar
Donde o homem
Sujou a lua
E agora quer
Tomar com dor
O céu do pássaro voador
É o anti voo
É o vôo da bomba química
Voo para guerra
Voo da guerra
Voo para a crise
Voo para a falta
Voo da falta
É o voo para a falta de amor
É o voo da falta de amor
Voo cósmico
Voo espacial
Voo no vácuo
Voo mental
É o voo da vontade
Não talvez
Voo do fim
Voo para o fim
Voo mortífero
Para cima de mim
Voo sufocante
Voo noturno
Vôo cego
Vôo sem alvo
Voo do vagalume
Voo do pirilampo
Voo incerto
É o voo insistente
É o voo teimoso
Voo do mundo
É o voo da morte
É o voo para a morte
E vou para a morte.

"Último Caderno", Mundo vira-latas, SL/SD; Publicado: BH, 0140202022.

Mundo vira-latas
Onde vivem vira-latas
Onde vi vira-latas
A virar latas nos quatro
Cantos do mundo
Atrás de amor e
Atrás de paz no
Mundo vira-latas
Onde tudo vai
E um dia volta
Sem lugar certo
Para ficar na volta
A roer as unhas
A roer o chão
A comer poeira
A beber suor
Mundo vira-latas
Onde bandos de vira-latas
Passam fome
Passam frio
Sem lar onde viver
Mundo vira-latas
Onde vivem viracasacas
A correr atrás de uns
A ir atrás doutros
Mundo superficial
Mundo cão violento
Violentado pela guerra
Contaminado pelo ódio
E falta de ajuda e
Falta de união e
Falta de harmonia e
Falta de compreensão
Mundo vira-latas
Onde vivem vira-latas
A se virar aqui
A se virar ali
Atrás duma vida melhor
Atrás dum mundo melhor
Sem nunca encontrar
Mundo vira-latas
Onde bandos de vira-latas
Só vivem muito sós.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", E que bom seria se, SL/SD; Publicado: BH, 0130202022.

E que bom seria se
Tudo pudesse ser
Muito verde e
Verde claro e verde
Escuro e verde crê e
Verde ver e verde 
Olhar e verde mar e
Verde céu e verde ar
E verde montanha e
Verde amanhecer e
Verde que bom seria
Se a gente pudesse
Ver tudo verde muito
E verde dia e verde
Noite e tudo verde
Verdejante e verde
Ver tudo verdejar e
Verde flor e verde sol
E verde manhã e verde
Vereda e verde mundo
A verdecer e seria bem
Melhor e seria verde
Muito bem melhor verde
Paz e verde vida e verde
Vermelho e verde ouro e
Verdes cabelos e verde
Corpo e verde vestido e
Verde sapato e tudo
Verde e tudo pensamento
Muito verde todo verde e
Da cor do amor e da 
Esperança e verde filosofar
E verde psicológico e verde
Filosófico e verde psicólogo
E verde alegre e verde 
Tempero e tempero verde e
Muito verde com gosto de verde.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

"Último Caderno", Mulher preguiçosa, SL/SD; Publicado: 0110202022.

Mulher preguiçosa

A água  está  a ferver

Levanta mulher e

Vai fazer o café

Que tenho de trabalhar

Nunca vi

Mulher preguiçosa

Igual a ti

Só gosta de sambar

Só gosta de beber

Só gosta de amar

E não quer saber

De coar o café 

E lavar a roupa 

Ou tomar conta da casa

E nem quer saber 

De fazer mais nada

Mas na hora 

De ir para a rua

Ou na hora 

De ir sambar 

É a primeira 

A se arrumar

E vem a correr

A pedir dinheiro 

Para gastar 

E para beber

E tomar as canas 

Levanta mulher 

Sai da cama

Só quer saber de dormir 

Vai cuidar da casa

E da vida

Mas não da vida alheia

E o café? 

Que já estou atrasado 

A água está a ferver? 

Onde está o pó? 

Onde está o açúcar? 

O que fizeste 

Com o dinheiro

Das nossas compras? 

Estás a ficar maluca mulher.

Tomaste tudo de gole?

Então já vi que hoje 

Vou ficar sem café 

Vou ficar sem almoço

E o jeito é ir trabalhar

Senão perco o dia

E vou ter que ir a pé 

E de barriga vazia 

E ver se levanta 

Para curar a ressaca e

Que vergonha 

Encher a cara assim 

Mas não encher o armário

E estou para ver

Mulher mais irresponsável 

Mulher mais preguiçosa 

Do que tu

E o pior de tudo 

É que te amo. 

"Último Caderno", Fiz uma poesia, SL/SD; Publicado: BH, 0110202022.

Fiz uma poesia
Cheia de alegria
Do canto dos pássaros
Das aves do ar
E da cor do céu
E com os versos
De espumas do mar
Fiz uma canção
Com as estrelas da noite
E com o amor
Das correntes de força
Do meu coração e
Trago para ti
A melhor melodia
Desta poesia
E espero que
Saibas beber
A beleza que há aqui
O amor é belo
A paz é bela e
Fiz uma melodia
Da beleza da poesia
Que tem nas asas das borboletas
E no vôo noturno dos vagalumes
E vagabundos pirilampos
E que tem as cores dos beija-flores
E dos peixinhos dourados
Do fundo do mar
E fiz uma poesia
Sem rima
Sem destino
Sem nada
Só versículos de arco-íris
E muito brilho
E muita cor
Vem provar o novo sabor.

"Último Caderno", Sim vou esquecer de tudo, SL/SD; Publicado: BH, 0110202022.

Sim vou esquecer de tudo
E vou lembrar que sou mudo e
Não quero saber quem sou e
Nem quero saber quem és
Sim vou deixar o mundo
E me fazer de surdo
E me fazer de cego e
Não quero nem te ver passar
Sim vou fugir de tudo
E esconder de tudo e
Esquecer que sou gente e
Esquecer que existo e
Apagar tua imagem
Do meu pensamento e
Entrar num vazo de banheiro
E te mandar dar a descarga e
Não sei onde vou sair e
Só sei que vou sumir daqui
Sim vou me exterminar e
Vou me exilar em qualquer lugar
E vou esquecer de mim num esquina
E vou fingir de morto numa encruzilhada
E vou esquecer de ti num necrotério e
Vou esquecer do mundo no purgatório
Sim vou evaporar e
Vou virar poeira
E vou sumir no ar
E sim vou esquecer de tudo e
Lembrar que sou mudo
E que não sei chorar.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Antônio Furtado, "Poesias e Crônicas", Domingo.

Dona Maria alegre
No início da semana
Deu-me a grande "notícia":
 - Domingo que vem
 - Mamãe vem almoçar conosco
Meio cabreiro argumentei:
 - Ela e quem mais?
Senti fechar o tempo
Dona Maria na bronca
Secamente respondeu:
 - Por quê? Algum problema?
Sem graça retruquei:
 - Não há nada não
Domingo contra mim
Dia bom, forte calor
Vendo a "patroa" feliz
Geladeira cheia
Cervas, refrigerantes, quentão
Fogão lotado de panelas
Na pia, carnes e peixes
Ela toda faceira
Cantando
Fiquei pensando
"Papai" dançou
Meio dia
Chega a galera
Sogra, tio, tia, primos, sobrinhos
Papagaios, periquitos
Conformei: sambei
Vieram com uma fome danada
Rasparam até o fundo das panelas
Geladeira esvaziou
Sobraram os cascos
Da sobremesa
Não senti nem o cheiro
Se não chego junto
O estômago ia ficar a roncar
A conta sabe para quem ficou?
Claro, para mim
Sem dó nem piedade.

"Penúltimo Caderno", Uma outra oração, SL/SD; Publicado: BH, 0100202022.

Uma outra oração
Que é a mesma oração
Deus
O Senhor que fizeste
Tudo isso aparecer
Faze com que um dia
Isso encontre
Quem se interesse
Pelo que está
Escrito aqui
E se tiver
Alguma mensagem
Que leve amor
Que leve paz
A quem precisar
Deus
Faze com que
O mundo entenda então
E perdoa os erros
E dá-me mais paz
E dá-me mais amor
E destruas-me
E acabes comigo
E podes me resumir
A um monte de nada
À coisa nenhuma
Mas dá-me amor
O mais puro amor
Deus
Abençoa cada linha
Da minha vida
Abençoa cada ponto
Do meu interno e
Não me deixes só
Não mereço nada
Mas tenho o Senhor e
Ouças-me por favor
Amém.

"Penúltimo Caderno", Queres ver me matar? , SL/SD; Publicado: BH, 0100202022.

Queres ver me matar?
É só fazer me lembrar de ti
E me recordar dos teus beijos
E me mentalizar teu corpo e
Tuas lembranças me matam e
A saudade me devora 
Preciso te encontrar
Queres ver minha destruição?
Mandes alguém me perguntar por ti
Não sei o que vou dizer
Vou mentir na certa
Pois ninguém vai acreditar
Que um amor
Tão belo e tão puro
Igual ao nosso amor
Tenha chegado ao fim
Queres me ver chorar?
Passa na minha frente
E a olhar para mim
Tua imagem me comove
Preciso de ti para adorar
Preciso de ti para idolatrar
Queres me ver sofrer?
Manda me dizer
Que não voltas mais para mim
E podes começar
A andar de preto
E podes resguardar luto
Porque antes da noitinha
Chegar aqui
Já estarei morto
Queres ver me matar?
Manda dizer que
Não sou ninguém
E que não vais
Mais me amar
Queres ver minha inexistência?
Não olhes para mim.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

"Penúltimo Caderno", Maria Rosa, SL/SD; Publicado: BH, 030202022.

Maria Rosa
Hoje estou tão triste
Uma tristeza diferente
Que me faz ficar doente
Pois não te tenho aqui
Maria Rosa
Hoje estou tão morto
Uma morte louca
Que me faz sentir falta
Dos teus beijos em minha boca
Maria Rosa
Hoje estou tão sem alma
Hoje estou tão sem espírito
Levaste minha calma
Não queres ser minha
Santa idolatrada
E hoje me sinto tão esquisito
Maria Rosa
Morena do olhar suave
Do corpo feito de penas de ave
Ave Rosa
Da beleza feita da Ave-Maria
Maria Rosa
Minha poesia
Mulher minha de cada dia
Desculpa se agora tenho a mania
De dizer que estou tão triste
Quando não me encontro contigo
Só és a minha alegria
Maria Rosa
Hoje estou tão com medo de acabar
Pois sei que vou sofrer
Não me sai da cabeça
A maluca vontade de te amar
Maria Rosa
Morena feita d'água do mar
Que compõe com a noite de luar
Que compõe o ar
Minha flor infinita
Quero aos céus te elevar
Mesmo a saber que
Com a solidão
Vais me matar
Maria Rosa
Hoje estou tão em lágrimas
Vieste atrás de mim a sorrir
E nem quis e nem soube te olhar
Agora choro com o pensamento
Sofro com o pensamento
Morro com o pensamento
Que te quero mas não estás aqui
Maria Rosa
Minha rosa viva
Vou morrer sem te amar
Pois não sei onde te encontrar.