terça-feira, 30 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", E preciso te rever, RJ/SD; Publicado: BH, 03001102021.

E preciso te rever
Com urgência
Preciso te rever
É que quero terminar
Aquele quase beijo
Aquele meio beijo rápido
Tipo beijo inacabado
Que tentei roubar de ti
Na porta do elevador
Mas estavas com a boca cheia
De bolinhos de bacalhau e
Preciso te rever
Para continuar
Com aquela carícia
Aquele abraço
E aquela quentura
Que senti
Quando o teu corpo
Se encostou no meu
E preciso te rever
Para matar a saudade
E tem ainda
Muitas coisas
Para a gente fazer
E terminar
O que deixamos
Pela metade
E não me esqueço
Daquela metade de beijo
Aquele beijo inacabado
Meio roubado
De tua boca fechada
Na porta aberta
Do elevador
E preciso te rever
Não é por nada não
Mas preciso te rever
E com urgência
Tenho uma encomenda
Do meu coração.

"Poemas Fantasmas", E nunca serei um legista, RJ/SD; Publicado: BH, 03001102021.

E nunca serei um legista
Tenho nojo de medicina
Legal e do necrotério e
De ficar a examinar corpos
Mortos de doentes e defuntos
Em decomposição e nunca
Serei um médico legista e
Dissecador de cadáver e
Também nunca serei um
Advogado e não posso
Acusar e nem defender
Ninguém e não posso
Levar uma pessoa a
Julgamento e nunca
Serei um advogado e
Nunca serei um engenheiro
Pois não saberia construir
Uma árvore ou construir
Uma flor ou uma borboleta
E não posso construir o
Amor ou uma obra de 
Arte ou uma obra-prima
Da natureza e nunca
Serei um arquiteto ou
Coisa assim e nunca
Terei um diploma ou
Um certificado de
Sanidade mental e
Nunca serei um diplomado
Diplomata pois quero é ser
Um poeta e quero ver é
Uma poesia e quero é ver
Um poema cantado de boca
Em boca como se fosse um
Beijo dado e a correr e a
Galgar velozmente com
Amor e paz os quatro cantos
Do mundo e tenho esperança
Dum dia e mesmo depois de
Morto ser chamado humildemente
E ser chamado pobremente de poeta.

"Poemas Fantasmas", Mamãe não me deixes, RJ/SD; Publicado: BH, 03001102021.

Mamãe não me deixes
Que tenho medo
Do boi da cara preta
E tenho medo
Da mula sem cabeça
Sou um menino medroso
Tenho medo de careta
Mamãe não me deixes
Que tenho medo
Da mulher da trouxa
Tenho medo do lobisomem
E do saci-perere
Sou um menino malvado
Um menino malcriado
E quando for de noite
A assombração pode
Vir me buscar
A minha avó que falou
Mamãe não me deixes
Tenho medo da noite
E do morcego vampiro
Chupador de sangue
E tenho medo da aranha
Caranguejeira que engole menino
E não me deixes
E nem apagues a luz
E fiques comigo
Até o dia amanhecer
Mamãe não me deixes
A minha avó que falou
Não me deixes
Tenho medo de morrer
Longe de ti.

"Poemas Fantasmas", Lá vem o palhaço, RJ/SD; Publicado: BH, 03001102021.

Lá vem o palhaço
Das pernas de pau
Com a cabeça nas nuvens
A cara no sol
A ganhar o sal
Lá vem o palhaço
Das pernas de pau
A falar com a lua
A beijar o vento
E a dizer coisas
Que ninguém entende
Lá vem o palhação
A trazer o boi
Pela cintura
A descer a rua
A propagar o circo
Pela cidade
De pessoas brancas
De pessoas pretas
Circo colorido
Cidade colorida
Cidade suja
Lá vem o palhaço
Das pernas de pau
Vem a cantar
Vem a gritar
Vem a apregoar
A fazer brincadeiras
A contar piadas
Para a garotada
Que não entende nada
E só rir sem parar
Do circo da vida
Lá vem o palhaço
O lindo e grande
Com a cabeça cheia
Dum só universo
Lá vem a fazer caretas
A fazer o inverso
A mostrar o tamanho
Que um homem é
Mas não mostra o tamanho
Que um homem pode ser
Lá vem o palhaço
Das pernas de pau
Da boca grande
Nariz vermelho comprido
Lá vem o palhaço
Das pernas de pau
Da cara boa
E do coração mau.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", O sol de lpanema, RJ/SD; Publicado: BH, 02901102021.

O sol de lpanema
Já queimou demais
A minha pele e a
Garota de Ipanema
Já beijou demais
A minha boca e a
Água doce do
Mar de Ipanema
Já molhou demais
O meu corpo e
Já pisei demais
A areia de Ipanema e
O céu de Ipanema
Já refletiu demais
O meu sorriso e
O azul de Ipanema
Já coloriu demais
O meu olhar e o
Luar de Ipanema
Assistiu muitas vezes
A garota de Ipanema
Beijar a minha boca
Já amei dentro d'água
Do mar de Ipanema
E na areia de dia
E de noite
A vida de Ipanema
Já me deu muito prazer
O sol de lpanema
Já me ajudou a descobrir
O calor de verão
Do amor de menina
Da garota de Ipanema.

"Poemas Fantasmas", Hoje agora neste momento, RJ/SD; Publicado: BH, 02901102021.

Hoje agora neste momento
Nalgum lugar do planeta ou
Em qualquer lugar no mundo
Ou num bairro duma cidade
Tem um alguém a morrer
Esfaqueado ou tem uma
Pessoa a ser atropelada ou
Uma quadrilha a planejar
Um assalto a algum banco
Que agora neste momento
Também está a planejar um
Assalto às contas dos clientes
E sem nenhum banqueiro
Preso enquanto as cadeias
Abarrotadas de pobres na
Luta pela sobrevivência e a
Maioria do pobre a ser enterrada
Como indigente e não é um e
Não são dois e são milhões de
Alguém a passar fome e a passar
Sede e a passar humilhações
Pelo mundo a fora e ninguém
Pensa em saber quem são e
Ninguém pensa no que está a 
Ocorrer no mundo neste momento
Ou o que está a ocorrer no mundo
Agora e hoje agora neste momento
Nalgum lugar dalguma cidade
Qualquer nalgum mundo qualquer
Tem um alguém a passar pelo
Contrário do momento exato que
Estás a viver hoje agora neste momento.

"Poemas Fantasmas", Um micróbio homem, RJ/SD; Publicado: BH, 02901102021.

Um micróbio homem
Ou um homem micróbio
Com pneumonia a infectar
Com o bacilo da tuberculose
E é o micróbio da lepra ou
Da doença do sono e a 
Malária é de qual mala da
Blenorragia do tétano e da
Cólera e da doença das
Doenças e o micróbio dos
Micróbios e do corbúnculo
E o antraz e a pústula
Maligna da sífilis e o estafilococo
Dourado da doença tudo e o
Verme dos vermes e o germe
Dos germes e a bactéria das
Bactérias que existiram que
Existem e que existirão no
Ser humano podre na morte
Da raça humana nos fantasmas
Da humanidade e na desgraça
Da falta de humanismo que
Produz o mal e que conduz o
Mau no bojo do homem a maldade.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Antônio Furtado, "Poesias e Crônicas", Dona Maria.

Na realidade
Ninguém sabe o motivo
Parece que "uns e outros"
Chegou naquele dia
Para lá de qualquer região
Numa água...
De dar gosto de ver
Para ele, claro,
Explicando melhor:
Aquela água
Que nem passarinho bebê
E vem cheia de gás
Dona Maria abriu a porta
E invocada e aos gritos:
- Isto é hora de chegar?
- Ainda nestas condições?
E ele na maior tranquilidade
- Calma benzinho
Dona Maria explodiu
- Calma é o cacete
Pegando-o pelo cangote
Empurrando-o casa adentro
- Vamos seu safado
Ele sorridente:
- Calma minha flor
Ela perde as estribeiras
- Benzinho e flor são a tua mãe
Desabotoando sua blusa
O coloca debaixo do chuveiro
Naquele momento, ela pensa:
"Mereço isto?
Havia 'coisa' melhor?
Minha mãe estava certa ou com razão
Quando me disse
Estás doida para casar".

"Poemas Fantasmas", Maré lua, RJ/SD; Publicado: BH, 02601102021.

Maré lua
Lua maré
Lua amarela
Maré nua
Lua cheia
Maré amarela lua nua cheia
Lué mara
Maré atrai a lua
Lua atrai
Maré cheia
Da beira do mar
Vejo a lua
Vejo a maré
A noite nua
Vem banhar
Na maré de prata
Lua maré
Maré luar
Luar do mar
Luar de nua
Maré de mar
Maré de nua
Noite crua
Não acaba mais
Lua maré
Maré lua
Maré amarela
Chega dia
Maré clara
Sol quente
Sou gente
Sol verão
Sou verão
Maré verão
No coração
Maré vida
Sol vida
Sou vida
Lua vida
Maré lua
Lua maré
Seu Mané.

"Poemas Fantasmas", Velhice espiritual, RJ/SD; Publicado: BH, 02601102021.

Velhice espiritual
E já está a ficar difícil
Para encontrar
Uma palavra diferente
E já está a ficar impossível
Garimpar numa lavra
Para formar
Uma frase nova
E já está
Na senilidade avançada
A ausência de coordenação
Na formação dum poema
Na criação duma poesia
Antigamente era mais fácil
Qualquer alegoria
De confete e serpentina
Ia pensar e ia falar e ia sair
O que se queria
Qualquer letra valia
Qualquer palavra servia
Qualquer frase surgia
Tudo era novo
Tudo era diferente
Agora já está a ficar velho
Para acontecer algo assim
A velhice espiritual impede
Fazer igual no passado
E o pensamento também
Não ajuda mais
E o tempo também
Não dá mais
Ao ficar pequeno
Para manter a sobrevivência
Para sincronizar as ideias
Desobstruir as artérias
Desentupir as veias
E não consigo me ajudar
E ajuntar meus trapos
Meus restos mortais de velho
Muito antes de nascer
Muito antes de morrer
Muito antes de amar
Nesta velhice espiritual.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", Canta pássaro, RJ/SD; Publicado: BH, 02501102021.

Canta pássaro
Canta cigarra
Canta canção
Canta vida
Canta boca
Canta mundo
Canta coração
Canta formiga também
Aprende a cantar
Canta alma
Canta morte
Canta lágrima
Canta orvalho
Canta chuva
Canta mar
Canta canto
Canta tudo
Cantam todos
Canta todo
Canta grilo
Canta sapo
Canta rã
Canta sabiá
Canta boi
Canta cachorro
Canta baleia
Canta golfinho
Canta céu
Canta estrela
Canta sol
Canta lua
Seu canto de dor
Seu canto de amor
Canta amor
Canta feliz
Canta paz
Canta lagarta
Canta borboleta
Canta arco-íris
Canta vagalume
Canta tarde
Canta conta
Canta onda
Canta marujo
Canta caramujo
Canta pássaro
Canta libélula
Canta besouro
Canta liberdade
Canta livre
Canta boi
Canta a voar.

"Poemas Fantasmas", Ao redor do mundo, RJ/SD; Publicado: BH, 02501102021.

Ao redor do mundo
Com o mundo ao meu redor
Não tenho pena e dou um
Nó e o universo à minha
Frente vou a seguir a linha
Do horizonte a comer nuvens
E a beber chuva e ao redor
Do mundo e com o mundo
Ao meu redor e não tem
Pena de mim e me dá um
Nó cego e me deixa cego e a
Vida ao meu redor não tem
Pena de mim e me mata antes
De eu viver e o universo à
Minha frente me ajuda a 
Encontrar o poente com a 
Linha do horizonte e não dou
Nó nas paralelas pois o azul é
Bom e é belo e o horizonte
Também e o mundo horizontal
E o universo cego e a vida
Vertical e o homem marginal e
A linha magistral e não tenho
Pena e não têm pena e tudo dá
Um nó bem cego no peito e na
Garganta e na voz e no grito e
Na boca e no olhar e o mundo
Ao meu redor e não tenho pena
E aí redor do mundo dou um nó.

"Poemas Fantasmas", Choro de criança na escuridão, RJ/SD; Publicado: BH, 02501102021.

Choro de criança na escuridão
E a criança está a chorar nas
Trevas e nada a consola no 
Escuro e nem a mamadeira 
Com leite ou o prato com 
Mingau e a criança está a 
Chorar no breu e nada a 
Agrada nem a chupeta ou o
Bico do peito ou o acalanto e
Apenas chora na distância e
Chora e grita no longe e até
Esperneia e faz pirraça num
Quarto sem luz e a criança
Chora e a criança está a
Chorar e quem a ouve não
Tem sentido e não tem dor e é
Uma graça bar a criança 
Chorar e é um amor a alguns
Ouvidos o choro da criança e é
Um amor a criança e a criança
Chora e a criança está a chorar
Mas não é de fome diz a voz do
Homem e chora é de manha diz
A voz fanha e uma manha
Deliciosa diz quem vende e 
Ganha quando a criança apanha
E uma manha doce a criança a
Chorar e não sei o seu nome e
Não sei a razão do seu choro se
Gera tesouros aos donos do 
Mundo e a criança está a chorar
E a criança chora e é apenas uma
Criança e é apenas um choro de
Criança e a criança está a chorar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", Esta minha cabeça sem cabeça, RJ/SD; Publicado: BH, 02401102021.

Esta minha cabeça sem cabeça
E sem cabide e toda vazia e
Este meu pensamento sem
Pensar e pulsar e sem voar e o
Meu ser maluco e espírito
Maligno e minh'alma encarapitada
E encapetada dum corpo todo
Doido e minha pessoa em tudo
Virada ao contrário e transviada e
Ao avesso e minha vida também
Revirada e morta de relação
Maldosa e de todo mal que
Existe em mim e em cada um
Dos seres da humanidade e o ar
Azedo e o gosto de medo e de
Vibração tenebrosa e temo até o
Próprio céu desabar e temo até o
Próprio universo perder a regência
E o caos a cadência e deixar de ser
Referência de perfeição e temo
Até a própria mulher porque a
Minha cabeça doente torna-se
Invulnerável e não entra amor e
Não entra timbre e não sente
Sentido de sentimento e direção e
Não entra paz e não entra movimento
E minha cabeça fechada de caixa
Chumbada para a vida e para o
Bem e para o que é bom e para o
Que é belo e o meu mau gosto e o
Meu mau-humor e o meu mau tudo
E minha cabeça aceita e minha
Cabeça toda seca e nada arejada e
Nada oxigenada e minha cabeça
Toda dura e já decretei a minha
Decapitação e vou para a guilhotina
E vou para o cadafalso e vou mandar 
Cortar esta cabeça e antes que seja 
Tarde pois só quer me matar.

"Poemas Fantasmas", Tenta, RJ/SD; Publicado: BH, 02401102021.

Tenta
Arrisca
Não aceitas
Desobedeça
Aborreça
Talvez consigas
Tenta detento
Escala o muro
Engana a guarda
Sejas rebelde
Sejas indomável
Sejas livre
Tenta detento detido
Destenta
Arrisca
Petisca
Não desanimes
Pensa na luz
Pensa no ar puro
Pensa em estar
Aqui fora agora
É a hora
Perto do mundo
Perto da liberdade
Da realidade
Da humanidade
Tenta
Tenta sem parar
Tenta sem cansar
Tenta sem terra
Tenta sem teto
Arrisca tudo
Vida
Alma
Corpo
Valor
Foge
Corre
Se precisar
Mata
Se precisar
Morre
Tenta
Mais duma vez
Mais uma vez
Tenta toda vez
Tenta toda hora
Tenta toda noite
Tenta todo dia
Tenta detento detido preso
Vale a pena arriscar
Quem não arrisca
Não petisca
Tenta.

"Poemas Fantasmas", Só porque sou um só, RJ/SD; Publicado: BH, 02401102021.

Só porque sou um só
Só não sou mais doido
Só porque sou um só e
Só não sou mais louco só
Porque sou um só e só não
Sou mais maluco só porque
Sou um só e só não sou mais
Débil mental só porque sou
Um só e só não sou mais
Psicopata só porque sou um
Só e só não sou mais neurótico
Só porque sou um só e só não
Sou mais troglodita só porque
Sou um só e só não sou mais
Superado só porque sou um
Só e só não morro duas vezes
Só porque sou um só e só não
Sou mais hipócrita só porque
Sou um só e só não sou mais
Paranóico só porque sou um
Só e só não sou mais doente
Só porque sou um só e só não
Sou mais ruim da cabeça só
Porque sou um só e só não
Sou mais sem cabeça só porque
Sou um só e só não sou mais de
Dois mortos só porque sou um
Só e só não sou mais vivo só e
Só porque não vivo e nem sou
E só não sou mais pinel só
Porque sou um só e só não sou
Um só porque não sou um só e
Só não tenho mais tamanho só
Porque tenho safadeza só e só
Não sou mais doido doído só
Porque não posso ser e só não
Sou mais louco só porque não
Posso ser e só não sou mais maluco
Só porque não posso ser e só não
Sou mais demente só porque não
Posso ser e só não posso ser mais
Depressivo do que isso só porque
Não posso ser e só sou um só isso.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", É densa a noite", RJ/SD; Publicado: BH, 02301102021.

É densa a noite
É pesado o véu
É azul o céu
É claro o ar
É quente o sol
É azul a água do mar
É bom o amor
É doce a vida
É boa a paz
É longa a noite 
Sem a lua
É opaco o véu 
Sem a luz
É azul o céu 
Com o sol amarelo
É claro o ar
Como o dia
É quente o sol
Como o meu coração
É azul a água do mar
Como o céu
É bom o amor
Como a vida
É boa a paz
Como a sombra fresca 
Duma árvore
É longe o horizonte
Como o meu pensamento
É profundo o oceano
Como a minha dor
Quando não tenho amor
É infinito o universo
Como o meu canto
Quando estou feliz
São muitas as estrelas
Como o meu pranto
Na minha solidão
É errado o mundo
Quando não defende o amor
É rasgado o véu
Como a alma aflita
Como a noite tenebrosa
Na sombra da penumbra
É pavoroso o mundo
É horroroso o fundo
É louca a mente
É doente o homem
É morto o homem
Quando cai o véu.

"Poemas Fantasmas, Depois vou ver, RJ/SD; Publicado: BH, 02301102021.

Depois vou ver
Quem chegou
Depois vou saber
Quem falou
Depois vou ser
O que sou
Depois vou ver
Quem desceu
Depois vou saber
Quem sou
Depois vou aprender
O que sou
Depois vou aprender
O que fazer
Depois vou comer
O meu angu
Depois vou beber
O meu café
Depois vou visitar
A tua alma
Depois vou encontrar
O teu cadáver
Depois vou possuir
O teu cheiro espírito
Depois vou ver
Os teus restos mortais
Depois vou ser
As tuas cinzas
Depois vou fazer
O teu enterro
Depois vou querer
A tua geração
Depois vou ficar
Em silêncio
Depois vou fazer
Um barulho
Depois vou brigar
Com teus espíritos
Depois vou para a guerra
Com teus descendentes
Depois vou morrer
Estupidamente
Grosseiramente
Sem amar
Sem amor
Sem paz
Depois vou chorar
Amargamente
A minha morte
Depois vou beijar
O meu pensamento
Se sobreviver
Se estiver vivo
Depois vou casar
Com a minh'alma
E  minha lua de mel
Vai ser no céu.

"Poemas Fantasmas", Só mesmo um deus, RJ/SD; Publicado: BH, 02301102021.

Só mesmo um deus
Pode fazer
Alguma coisa
Por ti
Só mesmo um deus
Pode te ajudar
A sobreviver
Só mesmo um deus
Pode olhar
Por ti
Para a tua vida
Para a tua alma
Não adiantas chorar
Não adiantas reclamar implorar
Só mesmo um deus
Vai te ouvir
Só mesmo um deus
Porque só um deus
Tem coração
Para perdoar
Só mesmo um deus
Vai te dar amor
Vai te dar paz
Vai te fazer feliz
Só mesmo um deus
Vai olhar para ti
Vai falar contigo
Não esperei por mim
Não esperes por ninguém
Não esperes por teu pai
Não esperes por tua mãe
Não esperes por teu irmão
Não esperes por teu amigo
Deus só existe um
E só mesmo um deus
Não me peças ajuda
Não posso fazer milagres
E não sou um deus
E não posso ser um deus.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", Não dá para entender, RJ/SD; Publicado: BH, 02201102021.

Não dá para entender
Arrumar a cozinha e
Não dá para entender
E lavar as louças e não
Dá para entender e
Lavar as roupas e não
Dá para entender e
Arrumar a casa e não
Dá para entender e
Cuidar das crianças e
Varrer o quintal e
Cuidar do jardim e
Buscar água e fazer o
Café e fazer o almoço
E não dá para entender
E depois disso tudo ir
Dormir sozinho e ir
Para a cama sozinho e
Não dá para entender e
Viver sem mulher e não
Dá para entender e ter
Que fazer compras e não
Dá para entender e fazer
Mingau e lavar fraldas e
Lavar banheiro e não dá
Para entender e não é por
Nada não e é só porque
Não dá para entender e
Sem uma mulher dentro
De casa e sim não dá para
Entender e sem uma
Mulher dentro do coração
E sim não dá para entender e
Repito não dá para entender.

"Poemas Fantasmas", A chave está na porta, RJ/SD; Publicado: BH, 02201102021.

A chave está na porta
Já tranquei a porta e
Já joguei a chave fora
A chave da porta da
Minha vida do meu
Coração e a chave não
Está na porta e a porta
Está trancada e onde
Está a chave da porta?
E ninguém sabe e não
Sei e não sabes onde
Está a porta da minh'alma
A porta do meu espírito
E a porta da minha casa
E a porta do meu mundo
E a porta está trancada e
Já tranquei a porta e já
Estraguei a chave e a
Chave era fraca e não
Sei fazer outra chave e
A porta continua fechada
E fechado estou e ferido
Estou e acabado estou e
Morto estou e a chave
Está na porta e a chave
Está viva e a porta está
Viva e chave imaginaria
E chave sanguinária e a
Porta está trancada e
Porta assassina e porta
Escura e porta fechada
Para a noite e para o dia
Porta sem a minha alegria.

"Poemas Fantasmas", Que tristeza me dá, RJ/SD; Publicado: BH, 02201102021.

Que tristeza me dá
E que tristeza me dói
De estar aqui agora
Sozinho já faz hora
E não aparece alma
Para me olhar e não
Aparece alguém
Para me notar ou um
Ser para me descubrir
Que vontade de chorar
Que me vem do peito
E que vontade de sair
Por aí a pedir amor 
Por esmola e a pedir
Carinho por doação e
A pedir para amar de
Coração e a pedir paz
Por ração para matar
A fome de razão ou a
Pedir para ser a paz de
Alguém e que tristeza me
Dá a de estar aqui agora
Todo dia a morrer de agonia
Sem um sorriso numa
Boca que seja para mim
Sem uma canção numa voz
Que seja para meus ouvidos
E sem um alguém a ajudar a
Esperar a morte e a esperar
A sorte e a esperar o destino
Com medo de tudo e a 
Temer todos desconfiado e
Sem confiança e que tristeza
Que me dá e que tristeza me
Mata e que tristeza me destrói
E que tristeza me acaba e que
Tristeza me dá de até agora
Ninguém me ouviu e ninguém
Que me descobriu e ninguém
Precisou de mim e que tristeza
Que me dá ter de ser tão triste
E que tristeza me dá ter de ser
E de ter a tristeza que me dá.

"Poemas Fantasmas", E rasgo as vestes, RJ/SD; Publicado: BH, 02201102021.

E rasgo as vestes
E mato os fatos e os boatos
E morro de melancolia
E faço castelos
E traço rabiscos no asfalto
E destruo mitos
E construo catedrais
E grito para os ecos dos desfiladeiros
E acabo as fronteiras
E ponho abaixo os limites
E como raízes
E mastigo reminiscências
E bebo água na fonte
E cuspo desprezos
E vomito ruminações
E escarro remorsos
E machuco consciência pesada
E bato a porta na cara
E desisto de perder
E incisto em ganhar
E existo no caos
E protesto nos cais
E acerto na mosca
E erro a mentira
E concerto pés quebrados
E conserto continentes separados
E fecho o aberto
E abro o fechado
E vejo na escuridão
E falo aos surdos
E olho pelos cegos
E observo os mudos
E sou gente que sente
E sou humano de raça
E canto sinfonias
E declamo filarmonias 
E choro chorinho e ladainha
E finjo ruindades
E minto maldades
E vivo bondades
E amo semelhantes
E chamo estrelas
E clamo universos
E babo lavas
E berro paz
E encerro vaidades
E tenho nada
E doo tudo.

"Poemas Fantasmas", E não sei quem vai te salvar da morte, RJ/SD; Publicado: BH, 02201102021.

E não sei quem vai te salvar da morte
Ou de tua sorte ou do teu azar ou do
Teu destino e nem sei quem vai 
Evitar a tua destruição e a tua ruína
E a tua decadência e a tua falência e
Teus escândalos morais e financeiros
E não sei quem vai te ajudar a subir os
Degraus sujos da fama e a resistir das
Investidas e dos assédios e sobreviver
Na lama e aguentar os restos dos
Esgotos das luxúrias das burguesias e
Das elites e não sei mesmo quem vai
Salvar a tua vida e a tua alma ou o teu
Espírito e o teu pensamento imundo
E não sei quem vai te dar amor e paz
E felicidade e alegria se não tens
Reciprocidades com ninguém e não
Sei quem vai te fazer o bem e iluminar
O teu caminho e te dar carinho e fazer
Questão de viver ao teu lado ou ser o
Teu ser e a tua companhia de todos os
Dias e não sei quem vai te ouvir na
Hora que fores chorar e não sei quem
Vai ouvir o teu grito pois não vou
Não sou deus nem teu senhor.

"Poemas Fantasmas", O valor do homem, RJ/SD; Publicado: BH, 02201102021.

O valor do homem
Não está
Em sua aparência
E sim
No seu grau
De inteligência
Então
Não tenho valor
Porque não tenho
Nem aparência
E nem inteligência
E o valor do homem
Não está
Em ser atraente
E sim
Em seu coração
Então
Não tenho valor
Porque não tenho
Nem atração
E nem coração
E o valor do homem
Não está
Em seu dinheiro
E sim
No seu caráter
Na sua moral
Então
Não tenho valor
Porque não tenho
Nem dinheiro
Nem caráter
E nem moral
E o valor do homem
Não está
Em seu físico
E sim
Em sua palavra
Então
Não tenho valor
Porque não tenho
Nem físico
E nem palavra.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

"Poemas Fantasmas", Vem cá menina, RJ/SD; Publicado: BH, 01901102021.

Vem cá menina
Deixa te abraçar
Vem cá menina
E me dá tua boca
Deixa te beijar
Vem cá menina
Estou a sentir frio
Acaba meu inverno
Com o teu calor
Vem cá menina
Vem com teu corpo
Vem cá menina
Vem com teu rosto
Vem com teu sorriso
Vem contigo
Vem cá menina
Dá-me tua alma
Vem cá menina
Vem com teu olhar
Vem com teus olhos
Vem com tua paz
Vem com a paz
Do teu olhar
Vem cá menina
Menina vem cá.