sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Triste escrevinhador tão medíocre piegas; BH, 01101202012; Publicado: BH, 0300102015.

Triste escrevinhador tão medíocre piegas
Simplório que chamam a obra de porcaria
Para que querer ser escriba rapaz num
Mundo de dorminhocos? acorda Zé mesmo
Que não vás enforcar-te acorda Mané
Pensas que é fácil encher de garranchos de
Letras palavras folhas de papel querer
Que os mortais leiam? vã estupidez de
Ignorante não é fácil não ponderes ao que
Escreves é alguma obra de arte? é alguma
Obra-prima? teoria tese ensaio? o que
Deveras escreves tu ó imbecil que queres
Que leiamos? piedade de nós pelo menos
Enche-nos o saco com esses teus impropérios
Dizes que é literatura que é poesia poema
Ode soneto sinfonia quem sabe das coisas
São os teus dizem tudo são porcarias
Tens mais é que coloca fogo em tudo
Dispersar as cinzas ao vento ganharás mais
Deixarás de nos importunar essas coisas
São para catedráticos estudiosos
Não és nada disso és apenas um apedeuta
Um aculturado que quer nos passar a
Impressão de que sabes alguma coisa a
Verdade é que no fundo não sabes de nada
Ficas machucado com as verdades que dizem
Mas a verdade é assim mesmo é para doer
Machucar ferir santo não és sabes que
Não prestas para nada lugar de porcarias
É o lixo ou é o esgoto nada de choro
Lágrimas é deixar de ser grosseiro

Muddy Waters feat. Johnny Winter - Chicago Fest 1981


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Parece-me que tudo está perdido; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0290102015.

Parece-me que tudo está perdido
Mas no fundo ouço uma vozinha
A dizer-me que nem tudo está
Perdido que há coisas piores do
Que as que pensamos que são as
Piores que bela frase ao chegar
À fase de que nem tudo está
Perdido que excepcional conclusão
Pode-se repeti-la de verdade
Quantas vezes necessárias para
Chegar-se a verdade disse-me
Uma vez um alguém a guardei
No meu sepulcro para o caso de
Ressuscitar-me há coisas piores é
Bom repetir a verdade infinitamente
Como um eco no desfiladeiro um
Vento a galopar numa falésia um
Vale onde o lírio se esconde um
Cânion que nos causa maravilhas
A pensar que tinha chegado ao
Fim da linha que seria o meu
Último suspiro último soluço
Que não mais beberia da chuva
Que nem me embriagaria pela luz
Do sol vasto azul celestial de qual
Escudo mais preciso? impressiona-me
Todo dia não se entedia da sua
Função infeliz de mim malgrado
Meu no dia em que abrir os olhos
Sedentos não estiveres mais aí furo as
Minhas retinas arranco os meus
Olhos não quererei mais saber
De ver outras coisas

Eis-me aqui canibais a vossa comida; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0290102015.

Eis-me aqui canibais a vossa comida
O i juca pirama façais de mim
O vosso bolo alimentar vendai-me
As vistas colocai-me em frente ao
Vosso pelotão de fuzilamento Lorca no
Paredão ordenai fogo aos
Atiradores sou o povo burguesia
O qual abominais sou o povo elite
Que debochais sois o leviatã o
Monstro o estado a sociedade sois
A religião quereis-me moer os ossos
Mas não permitirei que construais
Em cima da minha ossada os
Vossos alicerces sacudirei os séculos
Os milênios em vossas assombrações
Querereis comer-me beber-me que
Passe pelos vossos intestinos que
Corra em vossas veias como sangue
Venoso depois arterial mas causarei
Embolia no sistema circulatório se
Antes não causar uma má digestão
Ides balançais vossas cabeças diante de
Vossas muralhas da China do muro das
Lamentações de Berlin do atual muro
Da Vergonha na Palestina balançais
Vossas cabeças de satisfeitos que pensais
Poderosos estado implacável assassino
Vossos filhos são o capitalismo o mercado
O neoliberalismo a globalização o
Imperialismo reinai da miséria da desgraça
Da degradação que causai à humanidade

domingo, 25 de janeiro de 2015

Como estou bem próximo da morte vivo; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0250102015.

Como estou bem próximo da morte vivo
A pensar nas coisas que vão me matar
Como a morte é precoce não terei a sorte
De morrer precocemente aos cento
Quatro anos como morreu Oscar Niemyer
Como este tempo é tão corrido rotatório
Em demasia todo dia quando saio de
Casa saio com a impressão de que é o
Meu último dia nem cheguei nem
Chegarei nem chego a viver quem vive
É quem labuta ganha dinheiro trabalha
Finjo sou um fingidor vivo de fingimento
O maior absurdo é que ninguém nota
Que finjo ou fingem não notar será a vida
Hoje um mero fingimento? será que só
Passo a impressão de ser aquilo que não
Sou? tenho que rir na cara de quem pensa
Que sou normal tenho que gargalhar de
Boca bem aberta dentes à mostra dos
Idiotas que pensam que não sou idiota
Tratam-me com deferências falam que
Sou referências coitados como que são
Enganados por mim quando entro no
Banco na igreja no bar com aquele ar de
Superioridade de decidido de correntista
De membro dizimista mas é só no bar mesmo
É que existo o bar é o único lugar onde o
Mortal depois dumas doutras se sente
Um poderoso estúpido imortal

A escrita é para suprimir as deficiências; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0250102015.

A escrita é para suprimir as deficiências
Da pessoa que escreve o ser escritor é
Um ser deficiente imperfeito incompleto
Complexado mórbido bizarro se não
For assim não há de que haver escrito
Escrita escritor ente inseguro na vida
Duvidoso desesperado ansioso fracassado
Só há uma saída transformar-se em escritor
Escritor de porcarias como dizem os
Familiares os críticos de pessoas assim
Outros casos a entidade é esquizofrênica
Sofre de distúrbios neurológicos é paranoico
Psicopata para não cometer crimes
Tragédias suicídio escreve suicídio tragédias
Crimes mesmo assim há conhecimentos de
Bem sucedidos que acabam por suicidarem-se
Conheci caso de escritora que pulou do quarto
No quarto andar não morreu foi socorrida
Ficou aleijada quando recebeu alta na
Primeira oportunidade se jogou de novo aí
Foi a última escrita em linha perpendicular
A última poesia o último poema a última
Ode por fim uma elegia a escrita salva
Muitas almas não permite que espíritos
Perdidos fora do limbo sofram mais nas
Mãos da humanidade como todo ser
Todo ente entidade que respira lateja
Pulsa bate é um escritor cabe ao paciente
Ter paciência mandar às favas a ciência

O mundo precisa é de quem ler de quem escreve; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0250102015.

O mundo precisa é de quem ler de quem escreve
O mundo não precisa de nenhum já há escribas
Demais todo ser que respira na face da terra
Nos subterrâneos nos mares nos fundos dos
Oceanos nas montanhas nos vulcões onde
Houver um ser vivo há um escritor em potencial a
Natureza toda viva ou morta ou em transformação
Escreve o universo então não há escritor mais
Perfeito escrevinhador mais completo do que o
Universo ledor que ler leitor que sabe ler são os
Que verdadeiramente faltam ao mundo muita
Gente pode enxergar tudo ser visionária na vida
Mas não ler nada é incapaz de ler um horizonte
Um nascer do sol uma noite de luar para que
Escritora melhor merecedora do Prêmio Nobel de
Literatura do que a madrugada? uma madrugada
Só escreve inumeráveis páginas que levaríamos a
Vida para lê-las os escritos das serras coisa
Mais bela não há até as coisas reles escrevem
As ervas daninhas as formigas as lesmas as
Lagartas minhocas as relvas molhadas quando
Bate a luz do sol o pano de chão a vassoura
De varrer o quintal o cisco no terreiro o besouro
Que mora no oco do pau basta de escritor que
O homem pensa que é é a vez do ledor é a vez
Do leitor que despertam de repente não dão
Conta de ler as coisas aos seus redores

Bem-aventurados os que choram debaixo dos relhos; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0250102015.

Bem-aventurados os que choraram debaixo dos relhos
Das chibatas presos aos cepos aos pelourinhos
Ensanguentados bem-aventurados os que se jogaram
Ao mar para não serem escravos os que foram
Jogados por estarem doentes ou mortos
Bem-aventurados todos aqueles que
Embarcaram na Porta da Viagem sem Volta
Morreram nos exílios sem mais pisarem o solo
Pátrio amado bem-aventurados os que resistiram
Às grandes travessias nos porões dos navios negreiros
Enriqueceram com sangue pele a cultura mundial
Bem-aventurados os que não quiseram ser
Batizados nas religiões oficiais dalguma
Maneira foram mortos ou estigmatizados ou
Amaldiçoados bem-aventurados os reis africanos
Que perderam seus tronos cetros coroas reinados
Bem-aventurados todos os povos que foram
Escravos que duma forma ou doutra sofreram
Violências injustiças em nome das verdades
Bem-aventurados os que também foram
Supliciados em nome das mentiras
Bem-aventurados todos os negros que em
Qualquer parte da história universal foram
Tratados como escórias como animais
Filhos dos demônios simplesmente por
Serem negros bem-aventurados esses negros
Negras que nunca deixarei de amar meus
Ancestrais meus antepassados antecedentes
Aos quais elevo preces orações cânticos
Flores nos altares onde foram sacrificados

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Necrófilos canibais antropófagos; BH, 0901202012; Publicado: BH, 0230102015.

Necrófilos canibais antropófagos
São esses os políticos da era moderna
Inquisidores exorcistas médinus os
Livres pensadores da política democrática
Da atualidade pedófilos adoradores de
Moloch contrabandistas de órgãos
São os formadores da sociedade
Burguesa traficantes de mulheres
Escravocratas exploradores formam
A qualidade da nata da elite
Evoluída essa é a sociedade que
Comanda o estado que esfola o
Povo não são descendentes de povo
São provindos da raia de Demogorgon
Asmodeus chupam tutanos frescos
Comem entranhas inda quentes
Bebem sangue medula óssea em
Coquetéis de orgias em banquetes
Com surubas sodomias violam
Sepulturas de noite roubam nas
Madrugadas ossos para rituais cultos
Ocultos a fazerem sexo com cadáveres
Recém enterrados ou mesmo em decomposição
Não escolhem vítimas isto é cadáveres
Corpos podres ou não vivem em festins
Butins de poderes que não são seus
Réus em ações pagam sentenças as
Costas do povo são carpetes onde limpam
Os pés corpos mortos almas mortas
Espíritos mortos contas bancárias
Astronômicas num planeta tão belo
Ter o seu útero grávido por seres de
Tão vil estirpe de espécie da estepe

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 116; BH, 060701002012; Publicado: BH, 0190102015.

Querubins rasputins pinguins Caminhas
Camões limões grotões torrões Simões
Sarampo catapora varíola sara Saramago
Sarado santo sanado Górgios platônicos
Socráticos sofistas sinfônicos sensorial
Sonrisal alkaceltizer cibalena Helena
Florais rituais tribais mananciais que tais
Serafins que não se sustentam até o fim
Caem de bunda de banda bambas de
Lado todos derreados bombardeados
Nos atois nos corais recifes serenais
Nas areias sereias reais dos verdes mares
Dos seringais não é possível mais ser
Possível ser mais do que ser não ser
Papeis estúpidos papeis levados pelos
Ventos soprados oceanos solares
Corroboreis com os arrebóis das
Abóbadas boreais sombrais dos
Sombreiros noturnos vestais das vestes
Vespertinas sombras assombrais as
Assombrações dos umbrais dos
Portais marginais ralha o corvo torvo
Nunca mais ladrais cães desgarrados
Das caravanas saarianas anjos tortos
Sombreados de crayon caretas de
Carvão carrancas de papelão não
Adiantará pensareis que sois alguma
Coisa se o universo pensar que não
Sois nada quem primeiro tem que
Pensar que sois é o infinito enquanto
Não se revelar a vós nada adiantará
Quietai-vos nos outeiros nas soleiras
Sossegai-vos nas alamedas ornamentadas
De amendoeiras as tardes são tardes pois o
Universo as determinou que fossem tardes

Alameda das Princesas, 756, 115; BH, 0601002012; Publicado: BH, 0190102015.

Texto sagrado escrito por um profano
Manuscrito sacro escrito por um proscrito
Literatura santa gerida por mente apócrifa
Escritura de santuário lavrada na terra
Arada para pomar de frutas cristalizadas
Frutos carnosos ânsias das elucubrações
Que ponham fim aos manuseios aos
Manufaturados que semeiam conflitos
Conflagrações flagrantes de delitos
Despidos de fragrâncias portadoras de
Essências conscientes a luz lúcida da
Lucidez não permite embriagar a não
Ser pela angústia de obter magnitude
Com estatura de ser sóbrio a todo
Instante em que um momento for um
Texto balaio um cesto um falcão
Peregrino grávido de letras fez um
Ninho para chocar as palavras
Donde nascem solitários textículos de
Biquinhos abertos famintos a disputarem
Uns com os outros a sobrevivência o
Mais fraco jogou o mais forte do ninho
Comeu sozinho a isca trazida no
Bico da alimentação quastorritumbas
Quastarras quastarrinhas das quastarrapetas
Quandrinhas coandras quarrimãe minha
Santa Genoveva parabelum papamarelum
Nobis noa avoa albatroz veloz catapreta
Catacoara poca taquara seca na broca do
Bambu surucucu cucurucucu paloma coruja
Agourenta filha de urubu com gralha de
Corvo de coveiro de cemitério que de sul a
Norte que vento sopre torpe tudo acaba em morte

Alameda das Princesas, 756, 114; BH, 0601002012; Publicado: BH, 0190102015.

Quem pode mandar alguma coisa para mim
Aí do além? um tapa na cara um soco no
Olho um murro no estômago um chute no
Saco uma rasteira ou uma capoeira? quem
Pode dar um empurrão aí do além? um mar
Revolto um oceano tenebroso um rio
Caudaloso ou uma lagoa traiçoeira? é
Muita calmaria quando remoem-se os ventos
As velas ficam flácidas não mais bojudas é
Muita bonança o que todos querem as
Naus não saem do lugar ou navegam à
Deriva pelo mar quem pode mandar um raio
Aí um trovão um relâmpago? é muita inércia
A vida precisa de descarga de alta potência
Voltagem máxima alguém precisa sacudir o
Tabuleiro para arrumar as pedras já vi os
Filmes antes muitos protagonistas muitas
Personagens até as mais próximas com
Parentescos me detestaram me detestam
Ou me detestarão é que sou mau ator mal
Protagonista má personagem não
Represento bem sou mau diretor de
Filmes ruins com teores de terror já vi as
Cenas antes fiz todas as tomadas os cortes
As montagens as trilhas sonoras a bilheteria
Não correspondeu causou um real fracasso
Perdi a reputação agora alguém precisa
Mandar dos confins das nascentes das
Vertentes dos mundos um inusitado fato que
Afaste o fado que aboletou-se nas corcundas
Dos camelos nas corcovas dos dromedários
Minh'alma é puta atriz pornô coadjuvante ao ver
Um holofote despe-se toda nua em busca de fama

Liberdade! Liberdade! Abra as Asas Sobre nós! Samba Enredo - Imperatriz

Alameda das Princesas, 756, 113; BH, 0601002012; Publicado: BH, 0190102015.

Um dia esqueço sabeis porque pois
Nenhum mal dura eternamente
Nem nome guardarei na memória
Como alguém que sofre de amnésia
Um dia esqueço não terei mais
Traumas não terei mais lembranças
Nem quererei recordações ficarei
Livre das ruminações mentais um dia
Todos os fatos serão apagados
Banidos da alma do espírito como
As culpas os arrependimentos
Crescerei mentalmente que nada me
Abalará no futuro que imagino tão
Escuro mas que não o temerei às
Vezes inda piso em falso indeciso
Como se estivesse ir ao cadafalso
Inda não abandonei de todo aquele
Medo por falta de conhecimento
Inda vacilo naquela covardia antiga
Por falta de sabedora mas as coisas
Não acontecem assim tão de repente
Com paciência tolerância chegarei
Lá suplementarei-me superarei-me
Nas vacilações procurarei dominar o
Dom da competência correrei atrás
Na tentativa de ser competente
Competitivo mas não gerador de
Lucros ganhador de dinheiros isto
Não não nasci para estas provações
Não saberei corresponder à altura
Para os que têm essas expectativas ao
Meu respeito traçarei uns textos em
Linhas tortas sinuosas curvas mas nunca
Andarei em linha reta como um poema

Alameda das Princesas, 756, 112; BH, 0601002012; Publicado: BH, 0190102015.

Penso que todo aquele que pensa que o
Mundo é um lugar de perdição ou é
Profano mundano banal habitado por
Demônios capetas satanases espíritos
Iníquos anjos caídos dos céus deveriam
Abandonar o mundo esses que olham
Tudo veem lúciferes demogorgons
Asmodeuses molochs em todos os
Lugares deveriam fazer suas mudanças
Para os céus imediatamente para os que
Pensam que literatura é coisa dos diabos
Cultura é algo do inferno para energúmenos
Arte é obra demoníaca cinema é performance
Satanista o melhor será retornarem às
Cavernas platônicas acorrentarem-se
Em suas paredes subterrâneas o mundo
É belo á azul é a nossa casa o nosso
Lar doce lar habitamos aqui tratarmos
Os nossos semelhantes seus comportamentos
De endemoninhados? quero viver é aqui
Beber da água daqui comer da comida
Que encontro aqui respirar o ar amar a
Mulher daqui morrer aqui aqui me
Acabar não autorizo ninguém a dizer que o
Meu espírito irá ao purgatório ou ao céu
Ou ao inferno só ao meu espírito a mais
Ninguém caberá escolher a morada final
Não pensais por mim não peçais por mim
Quem imagina que o mundo é inferno é casa
De demônios que mude do mundo para lugar
Bem longe é este o meu pensamento a respeito
Desses profetas suas profecias apocalípticas

Estácio de Sá 1992 - Paulicéia Desvairada - 70 anos de Modernismo.

Eu vi (ai meu Deus eu vi)
O arco-íris clarear
O céu da minha fantasia
No brilho da Estácio a desfilar
A brisa espalha no ar
Um buquê de poesia
Na Paulicéia desvairada lá vou eu
Fazer poemas, e cantar minha emoção
Quero a arte pro meu povo
Ser feliz de novo
E flutuar nas asas da ilusão

Me dê, me dá, me dá, me dê
Onde você for eu vou com você

Lá vem o trem do caipira
Prum dia novo encontrar
Pela terra, corta o mar
Na passarela a girar
Músicos, atores, escultores
Pintores, poetas e compositores
Expoentes de um grande país
Mostraram ao mundo o perfil do brasileiro
Malandro, bonito, sagaz e maneiro
Que canta e dança, pinta e borda e é feliz
E assim transformaram os conceitos sociais
E resgataram pra nossa cultura
A beleza do folclore
E a riqueza do barroco nacional

Modernismo movimento cultural
No país da Tropicália
Tudo acaba em carnaval...

Alameda das Princesas, 756, 111; BH, 0401002012; Publicado: BH, 0190102015.

Quando o dia não acontece não há
Jeito que o faça acontecer hoje
Foi um dia que não aconteceu dia
Perdido que quando não é dia não
Há nada que salve esse dia o que
Sinto é que desde o dia em que
Nasci dia nenhum para mim aconteceu
Para disfarçar me iludo me engano
Finjo que aconteço acontece que
Não aconteço de fingimento em
Fingimento o tempo passa só
Lamento o santo dia perdido nesta
Agonia ansioso desespero-me
Nem posso fitar-me no espelho sem
Entrar em contradições arranjo um
Adorno para o cabelo uma postura
Para a atitude do corpo borrifo um
Perfume saio tal um alguém que
Passa a impressão de que é alguém
Feliz realizado nada o dia me diz
Nada o dia existe em mim nada o
Dia acontece em mim mesmo com o
Sol a queimar-me a pele ou a deixar
A minha ossada calcificada mas fito
As coisas engraçado as coisas
Existem quando as coisas me fitam
Mesmo sem falar nada fazer um
Movimento ou fingir de novo em
Acontecimento as coisas percebem
Que não existo a folha seca cria vida
Com o vento todos procuram a sombra
Com o sol bebem d'água fresca
Saciam-se de lá não contemplam-me
Sol sombra água fresca coisas do dia

Alameda das Princesas, 756, 110; BH, 0401002012; Publicado: BH, 0190102015.

Alguém já disse isto vou repetir o papel
Do escritor não é falar é escrever me
Lembro quando Pablo Picasso disse não
Falo tudo mas pinto tudo gostaria de
Recordar aqui minha mãe antigamente
Falava quem fala demais dá bom-dia a
Cavalo morde a língua peixe morre é
Pela boca caveira quem te matou? foi a
Língua meu senhor estes ditos de minha
Mãe levaram-me ao silêncio a falar pouco
Ou quase nada isto em qualquer lugar
Desde os tempos de grupo sempre fui
Calado mudo depois evolui para cego
Depois surdo penso que o papel do
Escritor além de pensar muito não falar
Nada é o de escrever tudo é esta a
Marca registrada do escritor recato de
Regato riso de riacho alardes de tardes
Modorrentas silêncios de subterrâneos
Largueza de horizonte altitudes de
Firmamento o escritor é o vento que
Traz a brisa o sereno que chega com a
Noite o orvalho do amanhecer do dia
A obra pode até ser retumbante bem
Barulhenta com algazarra de legiões
Epicentros de terremotos de maremotos
Erupções de vulcões tormentas de tornados
Tempestades mas o escritor é catacumba
Calabouço sepulcro a obra pode ser
Trovão raio furacão o escritor não o
Escritor é bonança de fundo de mar mudez
De raiz na terra fértil então reitero o papel do
Escritor não é falar é deixar que as obras falem

Alameda das Princesas, 756, 109; BH, 0401002012; Publicado: BH, 0190102015.

Para tudo é necessário um aprendizado
Uma cultura um cuidado para tudo é
Preciso uma supremacia uma jactância
Uma constância se não vejamos o que
Nos acontecerá no dia a dia se não
Tivermos uma expectativa se não
Vivermos um conhecimento ao
Efetuarmos a mais insignificante das
Coisas em nossas vidas do levantarmos
Ao deitarmos para dormir ou qualquer
Que seja a ação devemos exercê-la
Com sutileza sabedoria paciência
Tolerância praticar o viver para
Adquirir experiência de vida observo
Que falta a muitos a observação cada
Um pensa poder mais do que o outro
Comete todo o tipo de aberração
Desrespeita as leis esquece os deveres
Ultrapassa os direitos não pergunta
Não informa não recebe informação
Com todas as deficiências que tenho
As imperfeições limitações luto
Bravamente para adequar-me ao sistema
Ao estado à sociedade de maneira que
Possa atenuar o meu sofrimento mas não
É fácil lidar com bancos SUS Sistema Único
De Saúde STF Supremo Tribunal Federal PF
Polícia Federal PIG Partido da Imprensa
Golpista políticos políticos polícias ônibus
Bares lanchonetes estudantes civis religiosos
Trânsito motociclistas bicicletas transeuntes
É uma verdadeira prova de resistência
De sobrevivência o que nos requer
Muita saliência sem contundência

Alameda das Princesas, 756, 108; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0190102015.

O universo é o meu útero o meu casulo
De gestação submerso nesta placenta
Espero dia após dia a minha formação
O dia em que for nascer que seja o dia
Da minha libertação o universo é a
Minha barriga de mãe está grávido de
Mim quer dar-me à luz no infinito
Já nascerei do tamanho desse colosso
Em vez de envelhecer rejuvenescerei
Como acontece por mais que o tempo
Passe mais novo é o universo este
Fenômeno acontecerá comigo serei
Um protótipo desta fenomenologia o
Universo é o meu pai a minha mãe a
Minha casa neste berço serei embalado
Mimado ninado acalentado não chorarei
Criança a querer de mamar não pirraçarei
Luxento a levar palmadas a minha
Escola o meu colégio a minha creche
Universidade o universo será o meu
Professor aprenderei o que aprendem
As estrelas com as galáxias terei a
Força das gravidades dos astros suas
Atrações saberei de cor as leis
Universais morarei nos aglomerados
De constelações terei o mesmo brilho
Dos pulsares dos quasares das
Quanta que são daqui não levarei
Lembranças de angústia de ilusão
De ansioso só o do saber do
Conhecimento que guardarei no
Coração mamãe terá orgulho de mim
Papai dirá que em fim honrei a família

Alameda das Princesas, 756, 107; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0190102015.

Trago o coração cheio de lamentações
São os meus fracassos o que poderia
Ter sido não fui tenho os ressentimentos
Comigo mágoas remorsos feridos as
Derrotas as guardo bem guardadas
Não posso livrar-me delas tenho nas
Minhas reservas mentais as frustrações
Quanto mais perto chego do tempo mais
Deprimido fico o tempo para longe vai
Não chego nem perto do meu tempo meus
Tempos estacionaram-se em cima de mim
A criarem limo em minhas costas ferrugem
Na minha ossada bolor nas minhas
Carnes meu coração não bate com
Esperança como bate o coração dum
Poeta meu peito vazio minhas mãos vazias
Meus pés sem chão meu chão é
Pantanoso brejo charque as minhas
Facetas estão em pedras brutas em
Nenhum cristal nobre foi lapidado o meu
Rosto rude é duro o meu semblante
Não tenho alegria radiante de todo trovador
Tenho sim é o dom circunspecto do ser
Que é cheio de dor não acordo do
Pesadelo em que entrei nem quando
Estou acordado toda noite tenho medo
De dormir não sonho não tive o direito
De sonhar o que passa por mim é
Transformado em reclamações vãs
Argumentações de quem não tem
Argumento ou a atitude que a vida exige

Alameda das Princesas, 756, 106; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0190102015.

Canto os ventos nos meus cantos nos quatro
Cantos do mundo canto as nuvens canto
Os céus do infinito do universo canto
Os meus cantos em versos quem não sabe
Cantar na certa não sabe dançar canto
Danço como os ventos nos pátios do
Firmamento minha vida é cantar antes que a
Morte venha me velar canto os fundos dos
Oceanos canto os fundos dos mares nasci
Para cantar no ovário no útero na placenta
A nadar canto em qualquer estado da matéria
Nos elementos que me fazem vibrar canto
Nos organismos nas entranhas nos tutanos
Canto na medula no sangue que faz vida nos
Compartimentos do coração canto tudo que
Alegra-me que entristece-me desde quando
O dia nasce até quando entardece canto a
Noite a madrugada a luz as trevas a
Penumbra as sombras os vultos as
Silhuetas as crianças a fazerem caretas sou
Cantor do eterno da posteridade da
Eternidade sou cantor da imortalidade que as
Coisas precisam ter canto as chuvas as águas
As estiagens nem das areias dos desertos
Posso esquecer canto os dunas as
Montanhas tudo o mais que posso ver
Canto as almas os espíritos os deuses os
Santos os fantasmas as assombrações
Canto o que não posso cantar as forças das
Imensidões canto o abismo as falésias as
Pradarias os outeiros as veredas das
Encostas canto os imensos paredões

sábado, 17 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 105; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0170102015.

Para quem não é o quem para o
Que não é o que a vida deflora a
Morte a morte estupra a vida para
O tempo que não é o tempo a hora
Sem minuto o minuto sem segundo
Universo sem mundo para o homem
Que não é homem para a mulher que
Não é mulher não vale nenhum dos
Nomes o nome que não é o nome
Para o ontem que era o hoje para o
Hoje que era o ontem o amanhã é
Para o que não é o amanhã o livro é
Palpável papiro de folhas de fibras
Palmas para o que não está escrito
É o escrito que não foi dito quem
Quiser escreve quem não quiser
Não ler a escrita não é literatura
A literatura não é a escrita o que
É não será escrito só quando o
Destino vier consumar a
Reminiscência alterar a cadência
No contrapé do compasso da
Batida do coração o pé de vento
Segurar com a mão alçar voo
Da imensidão mirar a mais alta
Dimensão a sorte é um invento
Que quem inventa pensa que
Pode inventar o azar é uma
Desculpa de quem não sabe
Inventar para aquele que não
É aquele deixará um dia
Transparecer a outro dia uma
Noite engendrar a outra noite com
Uma madrugada intrínseca no útero

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 104; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0160102015.

Vacilei demais pisei na bola abusei
Da regra três sou reincidente réu
Confesso condenado tive meu
Nome cosido nas bocas dos sapos
A poesia que faço não vingou o
Poema gorou não joguei a bola
Esperada perdi de goleada não
Fui convocado para a seleção meu
Futebol de tão pequenininho não deu
Para o técnico me escalar nem entre
Os reservas apelei para uma vaga de
Gandula fui expulso de campo pelo
Juiz de fora nas muitas vezes a bola
Era minha o jogo de calções camisas
Eram meus só a vaga no time titular
Era o que  não tinha direito tens
Problema de desenvolvimento de
Cérebro de desenvolvimento de
Mente atleta não serves para jogador
Vadiei por campos campinhos
Vagabundeei de gramados em
Gramados iletrado nas artes
Na difícil arte de jogar fácil não fiz
Gol de letra nem de palavra nem de
Placa ou de bicicleta o gol mais
Feito que é o gol de mão que todo
Mundo sabe fazer perdi não marquei
Encerrei a carreira sem diversão
Sem lazer restou-me recorrer à ficção
De viver à realidade de morrer na
Mentira de não ser magoei a torcida
Saí do clube brigado com a diretoria
Com a porteira fechada as chuteiras
Penduradas não posso mais voltar para
Jogar é estender a fachada noutra estrebaria

Alameda das Princesas, 756, 103; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0160102015.

Poeta desce desta arca és um animal
Que não tem par quando o mundo
Acabar em água serás o único que
Não se reproduzirás os demais animais
Desta arca são representados em
Macho fêmea entraste aqui sozinho
Nada até encontrares um monte bem
Alto um Ararat um Pirineus um Sinai
Agarres no topo dum desses montes o
Mais alto lá aonde a água não vai nesta
Arca não podes ficar poeta sempre
Contraria a Deus Deus pode querer
Afundar-nos poeta se não sabes nadar
Agarra-te a um bom pedaço de madeira
Comeces a boiar os outros animais
Ameaçam a querer amotinarem-se motim
Na embarcação é o que a tripulação
Precisa evitar terei que jogar-te fora no
Meio das águas serão quarenta dias
Quarenta noites de dilúvio nada posso
Fazer por causa dum animal maldito
Não posso pôr todo o projeto a perder
Se a barca afundar não restará ninguém
Para povoar novamente a terra se inda
Fosses o Jonas poderias ficar no ventre
Dalgum peixe grande mas nem Jonas
Tu és então poeta fora já desta nave
Espera aí vi ali uma musa é uma das
Tuas filhas merecedora duma poesia
Pega lá uma pipa de vinho um bom
Queijo nobre um naco de assado
Vamos cá fazer uma bela duma orgia

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 102; BH, 0201002012; Publicado: BH, 0150102015.

Negro é sangue de meu sangue
Sou sangue de negro meu sumo
Meu suco meu muco são das
Origens negras meus espermas
Meus óvulos são de negros dos
Negros são meus meu Deus é
Negro minha religião é negra
Meu mundo é todo o mundo negro
As danças os ritos os cultos os
Rituais as macumbas os sambas
As umbandas os meus santos são
Negrinhos do Pastoreio Beneditos
Beneditas minha igreja é a igreja
Negra das tribos africanas das
Tabas indígenas das aldeias ciganas
Adoro ao Sol adoro a Lua adoro
A Força da Gravidade mas não
Sei quem os criou adoro aos Ventos
As Tempestades os Raios Trovões
Maremotos Terremotos Tsunamis
Adoro todas as forças que mudam o
Universo de lugar fazem parar o
Tempo fazem o sol esfriar adoro
As estrelas que a milhares de
Quilômetros de distância são capazes
De me encantar adoro o infinito não
O deixo de endeusar na imortalidade
Das letras na eternidade das palavras
Na posteridade das coisas que não
Posso deixar de adorar não posso
Adorar nem seguir nada criado
Pelos homens nem deuses nem
Religiões porém sigo aos meus livres
Pensamentos sem querer convencer
De nada a ninguém penso com a
Minha própria cabeça certo ou errado
Da maneira que nasci sozinho
Sozinho vou para o buraco

Alameda das Princesas, 756, 101; BH, 0300902012; Publicado: BH, 0150102015.

Alguma coisa há que não sei explicar
Que nos faz passar no meio das feras
Sem as feras nos atacar alguma coisa
Há além do longe nos rostos presos
Nas paredes nos muros nas folhagens
Alguma coisa há imagens não sei se
É Deus não sei se é o acaso se é a
Sorte que nos faz passar entre os
Lobos ou não estão famintos ou
Alguma coisa há somos feitos de
Terra levantamos do chão os
Elementos entram nas composições
Dos nossos organismos as matérias
Nos formam com as suas moléculas
Seus átomos suas partículas os
Seres nos habitam habitamos os
Seres se num dia somos homens
Num outro não somos mais alguma
Coisa há por trás das coisas ouvimos
Vozes ouvimos nos chamar naquelas
Silhuetas naqueles simulacros que
Habitam a penumbra alguma coisa há
Nas sombras um aspecto um vulto
Um perfil não sei explicar mamãe me
Falou que é Deus minha avó que era
Assombração meu avô Lampião
Porém alguma coisa há lá onde o
Tempo nasceu uma distância que não
Se pode alcançar calcular dizem que
Leva-se uma eternidade para se chegar
Lá no dia em que comecei a ir no dia
Em que nasci inda não cheguei nem
Sei se chegarei não sei o que há mas,
Alguma coisa há verei no dia que terminar

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 100; BH, 0300902012; Publicado: BH, 0140102015.

Minhas letras são sem pés mancas
Capengas aleijadas minhas palavras
São sem cabeça caducas doidas
Meus atos são loucos insanos quem
Observa-me vê que não tenho atitude
Normal comportamento meus
Argumentos parecem zunidos de asnos
De jumentos meus fatos são boatos
A mentira é o meu pão de cada dia
Qualquer assunto me assusta minha
Sombra não me ouve nem me ajuda
Apesar de maior melhor do que sou
Não colabora comigo a trago cozida
Às solas dos meus pés quando
Penso em escrever algo puxa a minha
Mão como um freio de mão fico
Retido detido detestável nada
Amigável não levo nada ao pé da
Letra não lavo nada com as minhas
Lágrimas o dia em que descobrir Deus
Por mim mesmo vou dizer assim
Descobri Deus por mim mesmo sem
Jesuíta sem padre sem pastor sem
Cabeça de ninguém um Deus por
Minha cabaça não sigo nenhuma
Palavra, nem as que coloco no papel
Faço cada papelão de envergonhar a
Nação não aprendo nada nem com
Ensinamento cabeça de casco duro de
Roer totalmente dominada por injúria
Difamação ignorância estupidez
Bizarrice mesquinhez não faço nada
Para acabar com a maldade íntima
Apelo à ruindade quando quero pensar
Fazer o quê? nasci assim assim vou morrer

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 99; BH, 0300902012; Publicado: BH, 0130102015.

A leitura no país deveria ser encarada
Como política de estado o governo
Deveria incentivar a criação de
Bibliotecas caseiras com os principais
Clássicos universais estrangeiros
Nacionais deveria facilitar de
Todas as maneiras sem burocracia
As publicações de livros premiar
Ledores escritores com o superficialismo
Em que vive a nossa sociedade sem
Ideologia sem cidadania sem soberania
Sem educação sem cultura sem leitura
Sem escrita totalmente alienada pela
Mídia fácil é praticamente impossível
Disseminar o vício da leitura morto
O hábito da escrita já que não se
Escreve mais no país com as raríssimas
Exceções conhecidas o governo
Precisa intervir com urgência neste grave
Problema social fazer como uma
Obrigação um dever a facilitação do
Povo a ler sem leitura não há perdão
Não há salvação ficamos enfadados
A levar a vida no tédio no superficial
Sem escrita perdemos a fala os atos
A atividade os princípios a ética o
Raciocínio a razão é necessário
Urgentemente a promoção da escrita à
Mão com valorização dos melhores
Manuscritos inclusive com exposição
Em praça pública das melhores
Caligrafias povo sem escrita povo
Sem leitura povo sem identidade
Povo sem futuro só nós mesmos
Somos os únicos culpados somos
As nossas próprias vítimas

Beth Carvalho - A chuva cai [1980]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 98; BH, 0300902012; Publicado: BH, 0120102015.

Se ler é uma tarefa difícil poucos
Gostam de ser ledores escrever mais
Complicado é escrever é tão raro
Que só quem tem enamoramento
Com as letras enfeitiçamento com
As palavras consegue criar uma
Frase desintricada ou um pensamento
Com elucubração cada um tem
Dentro de si um escritor enrustido
Mas não tem um leitor tenho comigo
Um argumento que se houvesse mais
Leitores teríamos menos criminosos
Mas o próprio mercado a sociedade
O estado as igrejas nos afastam dos
Livros quem não lê meu irmão mal
Escreve mal fala mal ouve mal vê
Esta é antiga fico triste ao chegar à
Casa dalgum amigo que me mostra
O carro novo amoto reluzente o som
A geladeira o freezer o computador
De última geração o celular tudo
Mas não mostra uma estante com
Um único livro não mostra um
Quadro na parede quando usa o
Computador não acessa um sítio de
Leitura meu sonho maior é escrever
Bem não nego muito sei que não
Encontrarei leitor para o que
Escrevo não importa sempre que
Puder incentivarei a escrita através da
Minha escrita incentivarei qualquer
Leitura que embora não seja de minha
Autoria escrever melhor não há
Espero encontrar prazer igual um dia
Ler o que se escreve se for uma boa
Cativante leitura só cada um pode
Sentir consigo mesmo é intimista
Solitária a leitura deveria ser a primeira
Lei do universo teríamos menos prisões

domingo, 11 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 97; BH, 0280902012; Publicado:BH, 0110102015.

Hoje estou impossível precisava passar esta
Dor de cabeça mas percebo que não é
Minha está dentro da minha cabeça mas
Não é uma dor minha é uma dor que talvez
Sócrates tenha sentido ou Platão ou até
Mesmo Saramago ou o nosso Machado de
Assis algum escrito de mestre dum destes
Mestres ocupou a minha cabeça com esta
Dor não vou dizer que seja o Cervantes ou
O Montaigne ou o Nietzsche que sofreram
Muito de dor de cabeça dizem este martelar
Nas têmporas é dalgum homem da idade
Da pedra lascada a bater nas paredes das
Cavernas do meu crânio é a pré-história
Todinha que está aqui dentro a causar-me
Dor de cabeça é o chumbo das tintas de
Picasso Dali, Van Gogh ou o absinto é o
Choro de Dali por Gala ou de Bishop por
Lota esses espíritos essas almas esses
Demônios forçam-me a dar vidas aos seus
Pensamentos esses seres inda querem ser em
Mim os sirvo servem de mim os filhos de
Pessoa por exemplo enchem meu saco mordem
Meu cérebro não sossegam nem quando
Acaba o desassossego com a chegada de
Manoel de Barros em materialização falei que
Estava impossível mas não eles que estão
Impossíveis fantasmas arrastam-me nas
Correntes pelos corredores dos hospícios
De minha mente

Dona Ivone Lara - Tendência

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 96; BH, 0280902012; Publicado: BH, 090102015.

Rapazes a melhor coisa que acontece comigo
Companheiros é quando descubro um veio
Um filão camaradas numa mina de letras
Palavras amigos mesmo que sejam usadas
Repetidas infinitas vezes o que me faz
Realmente me sentir bem pândegos é
Desentocar de dentro do interno pensamentos
Empedrados ideias adormecidas lembranças
Esquecidas recordações nostálgicas apagadas
Rapazes não tendes percepções de como me
Sinto feliz ao chegar em mim a intuição não há
Preço que pague um momento deste é
Inusitado é um prazer indescritível preencher
Um papiro um pergaminho a ser enegrecido
Pelo tempo um manuscrito a ser perdido uma
Lápide duma pedra uma placa dum mármore
Ou uma face de qualquer outro mineral ou
Mistério de minério como poderia dizer
Camaradas o que Platão sentiu ao dar luz ao
Mito da Caverna? se sou o que o leio o tento
Pensar ao interpretar fico em êxtase
Imaginais o cara que cria aquilo depois
Serenou esperou voltou a si balançou a
Cabeça meneou o semblante vasculhou o
Firmamento ao sentir o tamanho a bitela
Que era a obra companheiros se por acaso
Chorar não zombais de mim queirais perdoar
Pela fraqueza do fracasso que sou se
Conhecerdes o que falo talvez não choreis
Sois fortes sois nobres sois durões sou não
Sou menino ainda sou um daqueles prisioneiros
Talvez tenha até ajudado os outros a matar o
Que se libertou seria o nosso libertador
Rapazes companheiros amigos camaradas
Sou assim mesmo meio emotivo não titubeeis
Pagueis umas pingas para mim está tudo certo

Alameda das Princesas, 756, 95; BH, 0280902012; Publicado: BH, 090102015.

Não fazer um pingo de questão de diminuir
Por conta própria a grande estupidez não
Tomar a mínima atitude de atenuar a vil
Ignorância não mover o mínimo neurônio
Para aplacar a imbecilidade forma-se
Assim o perfeito idiota o que corre da
Lucidez esconde-se da razão não
Demonstra uma noção a respeito das
Coisas dos princípios das causas
Dos efeitos aí o que traz na alma é
Angústia no espírito desespero no ser
Ansiedade é muito fácil querer acabar
Com o comportamento bizarro com o ato
Mórbido não pode é deixar virar doença
Pois para viver para sarar ficar são sarado
Depois que virou doença crônica é mais
Difícil o que deprime é não ser consciente
Não agir com consciência não desejar ser
Conscientizado penso que o que põe para baixo
É acordar não pensar na inteligência não
Pensar em começar o dia na sabedoria na
Paciência na tolerância o que abre portas
São cultura educação saber fazer toda
Qualquer questão de tomar conhecimento
Absorver um teor de discernimento
Preservar um dom da fala da leitura do
Pensar do escrever do viver querer
Realmente ser feliz é começar a pensar assim
Por onde posso iniciar o processo de extinção
Da minha ignorância pessoal intransferível?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Alameda das Princesas, 756, 94; BH, 0280902012; Publicado: BH, 070102015.

O papel de quem tem uma pena na mão
É passar para as linhas do papel as
Linhas que tem dentro de si as linhas
Que temos do nosso lado de fora já
Foram exploradas são conhecidas
Calculadas nominadas as linhas que
Precisam ser desvendadas são as que
Estão debaixo da nossa pele as linhas
Das nossas estrias internas as que se
Escondem dentro dos nossos vasos
Sanguíneos no interno dos nossos
Ossos cada um tem dentro de si um
Tesouro de sinais de letras palavras de
Fórmulas formas de signos símbolos
De conjecturas indagações cada um
Tem um baú uma arca um sótão um
Porão uma gruta uma caverna uma
Loca um abismo uma elevação com
Pérolas joias ouro prata diamante
Incontáveis riquezas desconhecidas são
Metais nobres raros são aços de
Composições especiais são minerais
Essenciais que tornam um simples papel
Branco vazio oco em obra-prima são
Minas de veios inesgotáveis são nascentes
De rios d'águas doces potáveis são
Pingadeiras tão constantes que formam
Cataratas transbordam os mares os
Oceanos oceanos de pedras preciosas
Este papel o desempenho a rigor com toda
A minha nobreza de ator de linha de escola
Clássica de liceu erudito de academia de
Protagonistas personagens que não são
Coadjuvantes meu avô pegava folhas de
Papel as transformava em caretas diachos
Multicores coloridas carrancas como não sei
Fazer o mesmo traço letras palavras a ermo

Llewellyn Medina, O Milagre, II, Coda.


                                   O milagre

                                   II
                                   Coda

A palavra fez nascer vilas inteiras
magicamente uma amendoeira
tornou-se ela mesma um universo tão insondável
quanto o  olhar distante daquele
acaba de divisar as bordas de Hades
mãe generosa de suas entranhas
veio o alimento
que anestesiou aquela geração
canções de protesto – a palavra me ensinou
orações mecanicamente repetidas – a palavra me ensinou
verdades incontestáveis
o operário na cadeia
o operário na cadeia de produção
“fiat lux!” a sabedoria
a máquina de cartão de crédito – senha “1984”
hiroshima nagasaki fila do INSS
foi assim
foi assim que a palavra quase morreu
vieram médicos paramédicos SAMU
padres bispos filósofos vieram
vieram deuses
veio  deus
veio a intolerância
a palavra inventou a palavra solidão
moto contínuo  Pedra de Roseta
começa e finda em si mesma
diz o “You Tube”
a palavra encerra
o fim de todas as coisas


sustentar a palavra
dói tanto quanto o sol de verão
quando entranha nos ossos
mítico/misterioso ofício
como o batismo da criança
                          da cria
um dia andou sobre suas próprias pernas
duendes saltitantes orfeus/eurídices
no oriente falavam-se outras palavras
não era o tempo de babel
hoje é o tempo de babel
os homens sabiam-se uns dos outros
os homens não sabem uns dos outros
olham com espanto o caleidoscópio
mistério da vida
dizem que a palavra voou
há testemunhas desse momento
rumor do vento monção
silenciosas prisões
grilhões quartos escuros
dias sombrios
morre a palavra
outro ourives volta a ouvir seu silêncio
novas chamas saltam
das fricção das pedras.


Llewellyn Medina, O Milagre, Prelúdio.

                                               O  milagre                                       
           
                                               Prelúdio

Fiquei triste quando soube o significado dessa  palavra
a  primeira que o ventou trouxe à seara
perdida em alfarrábios
labirintos inextricáveis
são tantos os símbolos
fazem nascer o sol toda manhã no Arpoador
quem me falou da palavra  deus
viajou por paragens paralelas perdidas
lendas vindas d’África
foi assim que talvez tenha vindo
quem chamou de canto o primeiro som da cotovia
quem o diferenciou de outro canto
este é um canário
qual foi a primeira palavra
que o generoso depositário das coisas
de todas as coisas
dos sonhos da manhãs de outono
as mais belas
das noites de escuridão
rompida pelo estalar do raio
barulho do trovão vem depois
           
            “Estamos aqui talvez para dizer:
            casa, ponte, árvore, porta, cântaro, fonte,
            janela – e ainda: coluna, torre...
            mas para dizer, compreende, para
            dizer as coisas como elas jamais
            pensaram ser intimamente.”

Foi o tempo no tempo
em que sabia que não sabia
e quase era santo
oh! mas quanto pecava nessa minha santidade
como o brilho das asas da varejeira
parada no ar espia
era o tempo em que não sabia
e a palavra entranhou-se nas coisas
surgiram as flores a dor o estertor da morte
metamorfoseada Grande Ceifadora
e houve então a nudez o sabor o sal
a tristeza incontida da insignificância


tudo é tão fugidio
a nuvem forma indizíveis formas enigmas

era talvez um bom tempo