sexta-feira, 29 de abril de 2022

Som Imaginário: - Matança do Porco (1973).

Poesia de Paulinho da Viola: Para não contrariar você.

Quem sou eu
Pra dizer que você fica
Mais bonita desse jeito ou daquele?
Quem sou eu? Quem sou eu?
Pra falar mal do seu gosto
Da pintura no seu rosto
Quem sou eu? Não sou ninguém
Cada um trata de si
Seus olhos parecem dizer
Muito bem, eu prefiro não falar
Para não contrariar você
Fico no meu samba
Se quiser, pode ficar
Vou lá na Portela
Mesmo que você não vá
Não darei ouvidos
Se você me provocar
Mas aceito um beijo
Se você quiser me dar
Se você quiser me dar
Quem sou eu?
Quem sou eu?
Pra falar mal do seu gosto
Da pintura no seu rosto
Quem sou eu? Não sou ninguém
Cada um trata de si
Seus olhos parecem dizer
Muito bem, eu prefiro não falar
Para não contrariar você

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Se alguém conhecer alguma coisa mais prazerosa.

Se alguém conhecer alguma coisa mais prazerosa
Do que escrever poemas passa para mim e poemas
São pequenos romances de marfim ou poesias de
Aventuras ou sonetos de desbravadores e 
Descobridores e marinheiros de grandes navegações 
E sou só um pequenino componente dessa infinita 
Confraria universal e dessa congregação descomunal 
Que busca a imortalidade e a eternidade das coisas
E a posteridade das letras nos papiros e a perpetuidade
Das palavras nos pergaminhos e cada palavra nos 
Manuscritos é uma lavra e uma mina e um veio e
Uma veia de tesouros e boiadas em estouros  ou 
Elefantes enfurecidos e cavalos selvagens disparados
Por pradarias e quando morro de amor ressuscito 
Um poema ou choro uma canção e busco a alegria 
Através da poesia e dou um jeito na vida num viés
Dum soneto que deixa o mundo satisfeito e a 
Humanidade sem defeito pois a perfeição é a meta
Do meu coração e perece ilusão sem razão e idéia
Sem noção ou ideal sem sustentação e sonho sem
Realização mas paciência em paz com ciência e 
Sabedoria e sapiência de sábio sabiá que sabe voar
Sem imaginar e amanhã quando acordar de manhã 
Já será manhãzinha em outro lugar que outrora era
Noite e sgora é aurora do dia pois que todo dia é dia 
De poesia e sorria quem chora e sorridente quem 
Tristemente não sorria e pede bênção à alegria.

BH, 0201202019; Publicado: BH, 0280402022.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Nada vem amenizar a minha dor.

Nada vem amenizar a minha dor 
E é uma dor de quem não tem 
Amor e nada vem trazer lenitivo
Ao meu coração e é um coração 
De quem não tem razão e aí 
Então canto uma canção para
Derrubar as muralhas das minhas 
Retinas e é apenas uma ilusão já 
Que não tenho nenhum poder à 
Mão e as pedreiras que sustento 
Às costas não vêm ao chão nem
Com dinamites e quando derrubo
Um simples muro surgem infinitos
Donde não sei não e deixo sangrar
A seiva e deixo a hemorragia das
Sementes nas areias quentes e as 
Flores não brotam onde piso e as 
Águas não matam minha sede e me
Afogo nos pântanos movediços 
Dos meus pesadelos esquizofrênicos
E das minhas sensações  psicopáticas
E dos meus comportamentos neurôticos
E das minhas psicoses cotidianas e
Complexos paranóicos e não tenho 
Um único sonho que poderia ser
Chamado de meu e não tenho uma 
Única percepção ou intuição ou talvez 
Um dom que formassem uma bula ou
Receita com soluções de curas para
Estas doenças crônicas que são só 
Curvas que fazem chorar ou que 
Matam a lucidez na fonte de fome e
Oh naus que nunca tive e oh caravelas
Que singram mares bravios e oh 
Marinheiro destemido que nunca fui
E oh oceanos trevosos que o meu
Medo insano nunca me deixou navegar.

BH, 0201202019; Publicado: BH, 0260402022. 

Sinto as horas passar e o tempo encurtar.

Sinto as horas passar e o tempo encurtar 
E fui pelo vento e caí em perigo e só me 
Resta lamentar meus sofrimentos pelos
Caminhos e choro pelas pedras perdidas
E pelas nuvens solitárias e as raízes à 
Mostra que ficam ressequidas pela 
Inclemência do sol e corro com a minha
Gota d'água na mão atrás do fogo a subir
A chapada com a velocidade da luz e a 
Terra esturrida me machuca os pés 
Estorvados e a cinza ainda quente dilacera
As solas quando piso o chão enfumecido
E tropeço nos seres da natureza que agora 
São torrões de carvões aquecidos  e brasas
Ainda fumegantes ou tições em fumo e
Fumacentos e nada mais posso fazer e
Lacrimejo lágrimas secas dos meus olhos 
Desérticos e a minh'alma árida busca 
Refúgio e refrigeração em meu espírito 
Tormentado no espinhaço e não encontramos
Justificativas para os que atiçam chamas
Contra a natureza numa violência nunca
Vista e se não nos amamos e nem nos 
Respeitamos uns aos outros e como teremos
Amor e respeito pelo nosso sistema ambiental 
E a nossa biodiversidade dos quais tanto nos 
Dependemos para a nossa própria existência? e 
Será que seremos tanto irracionais para sempre? 

BH, 0201202019; Publicado: BH, 0260402022.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Viradouro, E a magia da sorte chegou.

 Uma estrela brilhou

Brilhou, brilhou, brilhou
Tão cintilante e os magos iluminou
Será, será
O novo sol do amanhã (do amanhã)
O arco-íris da aliança
Que não se apagará
Vem do Oriente
Com sua arte de criar
Na palma da mão lê a sorte
Com a magia do seu olhar
Chegando ao velho continente
A marca da desilusão
Castigo, degredo, açoite
Por que tanta discriminação?

A cada passo
A poeira levanta do chão
Ferreiro, feiticeiro, bandoleiro
A liberdade é sua religião

E vem chegando
O dono desse chão
No berço, a mão do menino
Abriu-se ao destino
Eis a nova Canaã

Ê, ê cigano
Bandeirante em busca de cristais
Canta, dança, representa
Dá vida a nossos laços culturais

Cigano-rei, mineiro iluminado
O mundo não vai esquecer
Plantou no solo brasileiro
A realização do amanhecer
É uma nova era, ô, ô
A magia da sorte chegou

O sol brilhará, oi
Surge a estrela-guia
E sob a proteção da lua
Canta Viradouro que a festa é sua.

domingo, 24 de abril de 2022

Há uma ave que rompe o próprio peito.

Há uma ave que rompe o próprio peito
Para dar de comer às suas criaturas e
Tal qual essa ave deve ser um poeta ao
Romper o próprio peito ao dilacerar o
Coração em busca da letra perfeita que
Gera a palavra perfeita e juntas chegam
À perfeição que é a meta que almeja a
Humanidade e o poeta abre as próprias
Veias numa hemorragia que mata a sede
De sangue da raça humana ou que rega
Os terrenos inóspitos do ser humano e
O poeta é desse triunvirato e o poeta é
Esse cinturão dum centurião o cetro dum
Rei Dom ou a espada dum Scaramouche
Mascarado a combater os seres macabros
E o ódio do fascista que se alimenta do 
Fascismo e nessa guerra o poeta é
Imprescindível com seu coração inabalável
E seu espírito reto e tem lâmpadas nos pés 
E seus caminhos são iluminados e tem asas
Na imaginação para derrotar o 
Conservadorismo e os preconceitos e a 
Imperfeição e o obscurantismo dos corações
Empedrados e das mentes chumbadas e dos
Cérebros opacos dos cérberos da sociedade
Mesquinha e desigual que mata de fome o
Semelhante e que mata de ódio o adversário
E que mata de sede o igual e que mata o
Pobre como se fosse diversão compartilhada.

BH, 02501102019; Publicado BH, 0240402022.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

A mais perfeita das coisas.

A mais perfeita das coisas
Não fez só coisas perfeitas 
E fez também a mais 
Imperfeita de todas as 
Coisas imperfeitas e a
Chamou de homem e o 
Homem por natureza é
Realmente o ser mais 
Imperfeito da natureza e não
Se pode negar e na tentativa
De criar uma obra-prima ou
De eternizar uma obra de 
Arte ou de imortalizar uma 
Bela arte a mais perfeita de
Todas as coisas errou feio e
Todas as vezes que tentou
Corrigir a emenda saiu pior
Do que o estrago feito e não
Há como revisar esse projeto
Mórbido e não há como 
Retificar esse croqui bizarro
E não há como ratificar esse
Processo bisonho e enxertar
Essa planta daninha e não há
Como iluminar esse esboço
Medonho e segue a maldição
De geração em geração e cada
Uma mais imperfeita do que a
Outra e cada obra gerada pela 
Mais imperfeita de todas as 
Coisas imperfeitas já criadas é
Mais macabra do que a outra e
Mais mentecapta e energúmena
E mais nefasta e pernóstica e
Utiliza de toda agressividade
Para pôr fim a si mesma ao
Esquecer os principais princípios
Humanos e os direitos humanos
E a teoria da humanidade e a 
Tese do humanismo e todo homem
Deve amar um ao outro como se
Ama a si próprio e aí poderia
Aprender alguma outra coisa
Perfeita para atingir a perfeição.

BH, 02501102019; Publicado BH, 0220402022.

terça-feira, 19 de abril de 2022

E não aprendi nada nas escolas.

E não aprendi nada nas escolas
E o que queria aprender era 
Como ser azul e nas escolas não 
Aprende-se a ser azul e uma 
Borboleta aprendeu a ser azul e 
Saiu por aí a esbanjar elegância 
E altivez num voo de embasbacar 
Testudos e casmurros e a vida 
Toda e não embasbaquei a não
Ser a mim mesmo esse testudo
Teimoso a garranchear letras e a
Cabriolar palavras rupestres em
Folhas de cavernas que depois
Ficam a amarelecer-se pelos
Recantos ou esquecidas como os
Ossos são esquecidos nos fundos
Das sepulturas ou lixões de aterros
Sanitários e morrerei sem aprender 
A ser azul ou a saber porque o céu 
É azul ou o que leva o firmamento 
A esse tom de cor azul de doer o
Coração e nessas lengalengas 
Penso que deixo poemas e nesses 
Nenhenehenhens penso que deixo
Poesias e morro de azia devido ao 
Meu estômago tão maltratado por
Gorduras e açúcares e alcoois e olho 
O  volume da minha pança e desisto
De querer ser qualquer tipo de azul 
E só fico com inveja e com despeito 
Pelo desprezo recebido e parto em 
Retirada com os meus defeitos entre
As pernas um cão vira-latas a
Perambular de calçada em calçada 
E a ser enxotado e chutado por
Transeuntes apressados que correm
Desesperados em busca do nada. 

BH, 01901102019; Publicado: BH, 0190402022. 

Acabou de acabar agora a cerveja.

Acabou de acabar agora a cerveja 
E com certeza não sei o que fazer 
Para comprar mais já que não
Posso roubar e se pudesse e 
Tivesse a ousadia e a audácia e a 
Coragem dum ladrão ou a fé e a 
Cara de pauta dalgum cidadão do
Mal pois cidadão do bem não 
Presta e entraria num estabelecimento 
E só sairia de lá em coma alcoólico
E não teriam como me cobrar as
Despesas e mesmo que chamassem
A polícia nada poderia ser feito 
Comigo em coma e se um dia 
Voltasse do coma diria a todos ao
Redor que estava com amnésia e 
Que não lembrava de nada e que 
Não poderia ter sido o que tivesse 
Cometido o crime mas sim um dos
Milhares de inquilinos que vivem
Dentro de mim e aí teriam que me
Mandar para a casa livre e leve e
Solto feito um passarinho azul a voar
No céu azul como uma música 
Soprada por um trompetista azul e
Alguém dirá que os poetas não dizem 
Nada e que só coçam o saco na frente 
Das mulheres como um socó coçador
De saco solitário e que só sabem ficar 
Bêbados e a gastar algum dinheiro se
Tiverem e que não gostam de fazer 
Nada e nem de trabalhar e o poeta 
Olha para os lados e para as cercas de
Arame que cercam as cercanias e os 
Quintais e os terreiros dos terrenos e
Terráqueo deita de costas nos capimzeiros 
E perde o olhar no fim do firmamento.

BH, 01201901102019; Publicado: BH, 0190402022.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Há muito tempo que parei no tempo.

Há muito tempo que parei no tempo 
Pois o tempo não está ao meu lado e
Não estou ao lado do tempo e mesmo
Depois que Marcel ensinou a buscar 
O tempo perdido não me encontrei 
Nos caminhos de Swan e vaguei perdido
Por outras estradas vicinais e outros 
Portos e outros cais e por outros  
Caminhos de atalhos e por outros 
Tempos que me levaram aos alhos e
Bugalhos caralhos que merda é essa
De vida sem cerveja e como que um
Ser humano digno e nobre pode 
Passar a vida sem tomar um belo dum 
Porre de cerveja? os mentecaptos e
Energúmenos que habitam as moradas
Humanas precisam beber muito e
Jogo cerveja em cima dos meus e ficam
Embriagados e vão dormir e não 
Fazem maus e nem incomodam uns 
Aos outros e o problema é a quantidade 
Que bebem e haja cifras e cifrões 
Para sustentar seus vícios e quanto
Mais os sufoco e os afogo no álcool 
Os filhos da puta mais querem beber e
Os mando às putas que os pariram e é
O mesmo que não se falasse nada e 
Querem é nadar nas cervejas geladas e
Suspiram e soluçam e não me deixam 
Em paz e têm mais sede por álcool do 
Que a minha avó velhinha danada para
Gostar dumas e doutras e penso que a 
Única coisa que herdei dos ancestrais e
Antepassados foi a sede insaciável da 
Minha avó e os moradores das moradas 
Cavernosas interiores vieram depois.

BH, 01201102019; Publicado BH, 0180402022.  

sábado, 16 de abril de 2022

Tom Jobim, Poético.

 De manhã escureço

De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando



terça-feira, 12 de abril de 2022

pai estava ao computador a bater

pai estava ao computador a bater
furiosamente no teclado e do quarto 
estava sentado no chão e de frente
ao ventilador e mesmo devido à
ventania que balançava as cousas do
puxadinho aquelas batidas do pai no 
teclado do computador me incomodaram
e fui lá e acabei com a festa e pai
tentou dialogar ao falar que precisava
terminar o que havia começado e não
regateei e peguei-o pelo braço direito
que sei que sente dores devido uma
queda de bicicleta e o retirei de frente
do teclado e o mandei para a cozinha
e poxa amigão não és amigo mesmo
hein? senta lá no teu cantinho e
espera a mãe chegar da rua enquanto 
acabo aqui e não dei nem nenhuma 
bola e pegou o copo com cerveja com
ovo cru e a lata e o caderno e a caneta
e foi para a cozinha e se sentou à mesa 
e começou a escrever e voltei ao quarto
e sentei no chão diante do ventilador e
fiquei de cá a ouvir o ranço da caneta na face
áspera do papel da folha de caderno do pai 

BH, 01201102019; Publicado: BH, 0120402022.  

Ai que vontade de escrever uma obra-prima.

Ai que vontade de escrever uma obra-prima
E ganhar um Prêmio Nobel de Literatura ou
Escrever uma obra de arte ou uma obra que
Representasse as belas artes ou a sétima arte
E ai que vontade de ser um artista das artes
Plásticas de bronzes ou de ferros ou é ouros
Ou de madeiras e madeira talvez não e não 
Teria coragem de matar uma árvore para
Fazer uma obra qualquer e as árvores são 
Sagradas e merecem ser preservadas e 
Santificadas e viver em santuários e para
Atingir tal capacidade e teria que ser um ser
Curado e sarado e sem todas estas doenças 
Que acabam com a personalidade deprimem
E hoje sou um ser incompleto a faltar-me
Alavancas e ferramentas e profissionalismo 
E esbanjo amadorismo e não me tornarei 
Excepcional nalguma arte no meu curto 
Tempo que ainda me resta de vida ou 
Comprovasse o velho ditado morre o homem 
E fica o nome e gostaria de deixar meu nome
Numa ideia à posteridade e meu sobrenome 
Num ideal à imortalidade e meu apelido num
Sonho à eternidade porém em mim tudo é o
Demais comum do mortal e do mortal mais 
Morto que a morte já matou e que terá na
Lápide da campa da sepultura aqui jazz o que 
Sonhou com o Prêmio Nobel de Literatura. 

BH, 090902019; Publicado: BH, 0120402022. 

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Em silêncio a tarde vai à procura do anoitecer.

Em silêncio a tarde vai à procura do anoitecer 
E à mesa da cozinha sozinho sondo a tarde a 
Perscrutar alguma reminiscência ou reverberação
Que justifiquem a minha vida e oiço ruídos 
Roídos pela tarde como uma traça num livro 
Velho e oiço o tic tic dos pássaros e o tic-tac do 
Relógio e marulhos dos pombos que chegam ao
Pombal e algum cachorro late ao longe como se
Tivesse sido atropelado por algum automóvel e
Nenhum galo canta mais nas redondezas das
Adjacências e olho as janelas de ouros e o morrer
Lentamente do dia tão saliente e que agora 
Agoniza como se fosse uma gente doente e o 
Vento levanta a toalha da mesa e sacode algumas 
Roupas que ainda estão nos varais e umas aves
Velozes e perdidas buscam seus refúgios e lembro
Das naus perdidas em altos-mares d'além terras
E de detrás dos montes e penso em Camões e
Seus mares nunca dantes navegados e em 
Caminha que navegou nos meus mares em
Calmarias e muitas das naves e caravelas que 
Não voltaram aos cais dos portos? e as 
Embarcações que foram a pique e adormecem
Nas profundezas dos oceanos? e nas cercanias 
Já jazem as penumbras vespertinas e as sombras 
Descem e assombram o meu pequenino coração 
Menino que nunca cresceu e fantasmas ocultos
Saem das minhas geleiras e súbitas mãos abrem
Chuvas oblíquas sobre a minha cabeça de nenem
Com a moleira ainda amolecida e aberta a latejar
De ansiedade e angústia e é a minh'alma a pedir 
Aos céus alguma astúcia. 

BH, 030902019; Publicado: BH, 0110402022.

domingo, 10 de abril de 2022

Finda-se este dia a findar-me mais um dia.

Finda-se este dia a findar-me mais um dia
Que não sei se terá amanhã manhã e
Quem saberá? e olho o anoitecer e meus
Olhos não enxergam mais os besouros a
Voltar às suas tocas e buracos e perguntam
Cadê as borboletas dos entardeceres e dos
Anoiteceres? e cadê os pirilampos e os 
Vagalumes e os cu de luz? e cadê os grilos
E os gafanhotos rotos e as libélulas? e cadê 
Os sapos e as mariposas e as cigarras? meus
Olhos são olhos de cegos perguntadores e 
Não adianta colocar altares em frente e 
Nem edifícios ou mesmo luxuosos espigões
E mansões e meus olhos são olhos de 
Blimunda mulher de Baltazar Sete-Sóis e 
Só querem enxergar lagartas e taruiras e
Lagartixas e só querem enxergar morcegos
E corujas e as constelações mais distantes e
Os aglomerados de galáxias mais longínquas 
E conjuntos de exoplanetas noutros sistemas 
Solares e o meu olhar pergunta qual é o 
Olhar que é mais olhar do que o meu olhar? e
Todos os meus olhares olham embevecidos
Para mim com os fundos dos olhos e todos os 
Fundos de olhos são fundamentos profundos 
E são azuis e mergulho nestas profundezas 
Para enxergar os outros mundos e os outros 
Universos e encontro o meu olhar num espelho
Polido de diamante celestial.

BH, 030902019; Publicado: BH, 0100402022.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

E ainda estou a dever ao universo.

E ainda estou a dever ao universo 
Um verso alexandrino ou um 
Clássico camoniano numa estrofe
Do Luzíadas e ainda não surfei nas 
Ondas dos mares nunca dantes 
Navegados e nas batalhas das 
Armas dos barões assinalados e
Nunca fui ao inferno de Dante em
Companhia de Virgílio em busca da
Beatriz e continuo este Sancho 
Pança a ser manteado por todo 
Mundo e este Dom Quixote a 
Namorar Dulcinéias Del Toboso e a
Combater moinhos de ventos como
Fossem invencíveis gigantes e ainda
Estou a dever à história e pressinto 
Que morrerei no débito e sem poder
Pagar com uma obra-prima ou com
Uma obra de arte ou das belas artes
A minha dívida por minha existência 
Neste universo infinito e que quer 
Fazer-me infinito e não compreendo 
O meu papel e nem compreendo o
Papel do universo e vem o tempo e
Vem o vento e levam estas letras e
Desfazem estas palavras e mudo 
Amuo-me diante das forças que me
Impedem de voar e grávido da 
Gravidade que não me deixa a
Atmosfera a puxar-me para cima e
Não posso ir lá no cimo daquele 
Firmamento quitar pessoalmente a
Minha conta atrasada e ser envolvido
Eternamente pelo azul mais azul já existente. 

BH, 01º0902019; Publicado: BH, 080402022.

E não beijei uma boca hoje.

E não beijei uma boca hoje
E nem a boca da noite beijei 
À boca da noite e não beijei 
Uma boca hoje e dá cá essa
Língua macia e salva esses 
Documentos cadastrais à 
Minha vida que no meu peito 
Se asfixia e se esvai numa 
Vida normal e sem um tino
De poesia ou um tiro de 
Poema e como posso ter
Alegria? e bicicletei à orla 
Da lagoa e cheguei à beira e
Quase caí ao dar uma 
Bandeira e meu braço doeu
A noite inteira e não estou 
De brincadeira e quem 
Brinca com fogo mija na
Cama e rebola bola e diz que 
Dá que dá e diz que dá na 
Bola e na bola e na hora não 
Dá e a lagoa não tem sapo e 
Nem cururu e não vi cobra e
Nem surucucu ou peba na 
Pimenta ou pisa na fulô ou
Quiabo e jiló ou maxixe e 
Taioba angu e tutu e vatapá e 
Bobó e mocotó e sarapatel e 
Dobradinha e morcela e 
Chouriço e couve cortada 
Fininha e farofa de ovos e café 
Preto forte e mingau de milho 
Verde e torresmo à pururuca e 
Comida na gamela e capitão 
Feito com a mão para quem teve
Vó e com todo mundo sentado 
No chão ou do terreiro ou do
Quintal e era muito bom e nada
Fazia mal e manteiga natural no 
Pão caseiro quentinho e leite 
Com nata e nunca mais vi e era
Muita coisa boa do tempo das
Minhas avós e nunca mais vou 
Ver bem sei antes de morrer.

BH, 0220802019; Publicado BH, 080402022 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Antônio Furtado, "Poesias e Crônicas", Um Fato Comun.

Depois de uma noite
Trabalho cansativo
Corpo esgotado
Caindo de sono
Após rápido banho
Indo em direção ao ponto de ônibus
Um casal passeava
Um vira lata fazia companhia
Repentinamente ele me estranhou
Mordendo a minha perna
Bronqueado, o xinguei
Por pouco, o casal não me bateu
Procurei um médico
Na saúde pública
Tomei a vacina antirrábica
Duas doses da tetânica
Doeu até a alma
Braço inchou
Durante um ano
Dei sequência à dosagem da vacina
No coitado do umbigo
Duas espetadas no local de mês a mês
Enfermeira conversando
 - Doe nada!
Chamando-me de frouxo
Recebi o devido médico (atestado)
Doutor o assina validando-o
Tranquilamente comenta:
 - Você se encontra imunizado
Completando :
 - Podes morder os cachorros 
 - Eles não correm risco nenhum 
Soltando forte gargalhada.  

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Camaradas quando que o povo varrerá o capilalismo do mapa?

Camaradas quando que o povo varrerá o capitalismo do mapa?
E porque no capitalismo tudo é permitido à elite e à burguesia 
E à cleptocracia e à plutocracia e aos poderosos capitalistas? e o
Povo precisa parar urgentemente de defender o capitalismo e
Pregar e exigir o fim do neoliberalismo e o povo precisa combater 
A globalização e esse modelo moleque de regime que quer controlar
Tudo e explorar até às últimas consequências e entregar tudo e 
Ao povo nada e para nós o povo que não temos o direito de nem
Nos amar uns aos outros o ódio da sociedade e o confinamento 
Nos guetos e nos aglomerados de favelas e nas periferias oprimidas
Dos subúrbios segregados e o povo não é unido e nem tem a real
Noção do poder que tem e sempre aparece um com vãs promessas
A puxar as rédeas do povo para trás ou para frear o povo quando 
O povo está embalado e em disparada no rumo ao desenvolvimento 
E ao progresso e ao futuro promissor de revolução infinita e contínua 
E revolução e evolução são irmãs siamesas e progresso e futuro 
São irmãos xipófagos e liberdade e cidadania e soberania são 
Gêmeas univitelinas e são almas e espíritos livres e superiores e o
Povo precisa entender que o capitalismo é corrosivo e nocivo e
Pernóstico e nefasto e que o capitalismo é exploração e opressão e
Geração de miséria e pobreza e desastres ambientais e guerras e
Campos de concentração e de refugiados e de flagelados e os 
Donos do poder e das finanças precisam manter o povo sob o
Tabuleiro e para isso usam padres e pastores e suas igrejas e 
Bancos e profetas e bispos e  missionários e cardeais e demais 
Lacaios e capachos e vassalos e ventríloquos da justiça mesqinha 
Do judiciário capitulado a peso de ouro para seifar todos os 
Direitos sociais populares e humanos e com corroboração do
Legislativo e do executivo e até de órgãos controladores internacionais e
Camaradas do mundo contra o capitalismo unamo-nos ou seremos destruídos. 

BH, 0140702019; Publicado: BH, 01º0402022.