terça-feira, 30 de julho de 2024

MUDDY WATERS BLUESBAND 1977

Muddy Waters - Live Westfalenhallen, Dortmund, Germany 10/12/1978

agora de costas para o sol

agora de costas para o sol
pois não tenho mais o sol por companhia
não sigo mais o sol como seguia
não me cansava de olhar para os olhos do sol
não me quedava não me aquietava era irrequieto
o sol não era discreto
estava sempre à minha frente
a me ditar os rumos os ritos os ditos
os temas os lemas os dilemas as rimas
as sinas as sagas os cimos os altos
hoje o sol abandonou-me no meio do deserto
sem água sem oásis sem miragens só dunas
mais dunas de areias tempestades vendavais
hoje o sol nunca mais
só saudades que nunca me acostumarei
só lembranças de crianças recordações
de orações memórias de histórias
o sol lá detrás dos montes depois além dos mares
sem olhar para atrás só a me desprezar sozinho
só a me dizer que terei que aprender a ser solitário
esse sol tão ordinário não aceita companhia
não aceita amizade
pensa que sinceridade é fingimento
sofrimento é falsidade
que são coisas da idade
que agora é aguentar o rojão
cuidar do coração descuidado descuidista
que a noite é eterna onde a madrugada que agrada
nunca chega com o dia

BH, 0140502024; Publicado: BH, 0300702024.

OBRA-PRIMA DE NOEL ROSA, CONVERSA DE BOTEQUIM:

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol
Se você ficar limpando a mesa
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro
Um envelope e um cartão
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas
Um isqueiro e um cinzeiro
Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol
Telefone ao menos uma vez
Para três-quatro-quatro-três-três-três
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empresta algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure esta despesa
No cabide ali em frente
Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ringo Starr Chicago 2001 Pal 1

quando não era fernando pessoa

quando não era fernando pessoa
já gostava de descer pelas ruas
das traseiras das casas já gostava
de ver as cassas por detrás menino
a rondar a cidade menino a sondar
dias ensolarados nos dias chuvosos
a correr pela chuva até cair de boca
no chão a voltar à casa a sangrar a 
levar bronca da mãe que não
suportava todo sujo de lama a 
adentrar pela sala vampiro já fazia
poesia já fazia poema sem saber
que fazia poesia sem saber que 
fazia poema porém me deslumbrava
com rio que passava atrás das casas
as coisas que desciam em direção
ao rio era um rio que mais parecia
um esgoto mas ninguém queria
saber de nada só de nadar todo
mundo se jogava era o rio da 
meninada ninguém tomava
seguíamos rio fora até à serraria
brincávamos na montanha de pó
de serra na duna que já tinha sido
árvores não tínhamos noção razão
consciência éramos meninos girinos
apenas não queríamos saber de mais
nada até chegava pai até chegava
mãe mandava a meninada à casa
a fazer os deveres de casa a tomar 
banho a escovar os dentes a comer 
alguma coisa que menino era bicho
do mato quando nem podia lá  estava
a fazer poesia a fazer poema ainda
não era nem fernando pessoa

domingo, 21 de julho de 2024

um dia encontro a oração certa

um dia encontro a oração certa
a oração que feita acaba evita a 
guerra junto com a fome com a
pobreza é só ter paciência que 
um dia encontro a oração certa
faço essa oração aí adeus viola
adeus elite adeus burguesia miséria
desgraça da raça humana adeus
capitalismo imperialismo colonialismo
deixai só no dia no qual encontrar
a oração certa pois com certeza
deve haver uma oração por aí que
Seja tiro que seja queda a acabar 
com os senhores das guerras a 
acabar com as nações belicistas
os países opressores os povos
sanguinários de religiões fanáticas
igrejas associadas com bancos
para lesar fieis descuidados vou
aguardar aqui com fé com foco
com esperança essa oração poderosa
que feita por terra lança o ódio os 
preconceitos raciais junto com o 
racismo fascismo nazismo genocídio
causadores de flagelados refugiados
desabrigados oprimidos em campos
de concentração ai aí o amor que 
essa oração vai trazer ao meu coração
o perdão não terá tamanho ensinarei
essa oração aos povos às nações aos
países se ainda não sei essa oração
não sei como orá-la porém sei que
há essa oração certa que farei no dia
certo na hora certa no lugar certo
tal qual a pessoa certa a fazê-la amém
amem amemos também amém

BH, 050702024; Publicado: BH, 0210702024.

UNPLUGGED, ERIC CLAPTON:


 

terça-feira, 16 de julho de 2024

IMPERATRIZ, ONDE CANTA O SABIÁ:

 ONDE CANTA O SABIÁ

Caminhando Um canto se ouve no ar Vem da terra Vem do meu cantar Dança quem dança Dança quem não dançou (bis) Neste samba envolvente Nossa gente chegou O show da natureza Esculturando a razão Um toque de beleza Batendo forte em meu coração Do céu, à terra, a Lua Iluminando a imensidão Dos nossos rios e matas Chuês de cascata Riquezas do chão Chove chuva Chove sem parar Assim canta o sertanejo (bis) Nessa terra onde ecoa O som do sabiá No povo, a busca incessante De um momento feliz A Imperatriz em festa Hoje aqui se manifesta No palco da raiz

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL, Abram Alas para a Folia, aí vem a Mocidade:

Hoje eu vou erguer meu estandarte Vou mostrar beleza e arte Dos antigos carnavais Vou me vestir de alegria Com a Mocidade minha gente Abrindo alas pra folia Vejam que beleza o Zé Pereira No Bloco do Sujo com a zubamba a tocar Essas canções tão famosas Do folclore popular Quebra, quebra gabiroba Quero ver quebrar Mamãe eu quero, oi, mamar E na avenida colorida O sol a folia de luz e calor Onde o Pierrot e a Colombina alegremente Trocam lindas juras de amor As negras, brancas e mulatas Mostrando um "show" de visual, oi Ao som do batuque alucinante Vindo de terra distante Para alegrar o carnaval O corso e as grandes sociedades Eram o luxo da cidade Lá vai a baiana Rodando pra lá e pra cá Arrastando a sandália Fazendo o meu povo cantar Lara, larara, larara ôôôô

segunda-feira, 15 de julho de 2024

MARTINHO DA VILA, TRIBO DOS CARAJÁS:

TRIBO DOS CARAJÁS

NOITE DE LUA CHEIA

ARUANÃ !

MENINA MOÇA É QUEM MANDA NA ALDEIA

A TRIBO DANÇA E O GRANDE CHEFE PENSA

EM SUA GENTE

QUE ERA DONA DESTE IMENSO CONTINENTE

ONDE SONHOU SEMPRE VIVER DA NATUREZA

RESPEITANDO O CÉU

RESPIRANDO AR

PESCANDO NOS RIOS

E COM MEDO DO MAR

ESTRANHAMENTE O HOMEM BRANCO CHEGOU

PRA CONSTRUIR, PRA PROGREDIR, PRA DESBRAVAR

E O ÍNDIO CANTOU

O SEU CANTO DE GUERRA

NÃO SE ESCRAVIZOU

MAS ESTÁ SUMINDO DA FACE DA TERRA

ARUANÃ ! ARUANÃ AÇU

É A GRANDE FESTA

DE UM POVO DO ALTO-XINGÚ

domingo, 14 de julho de 2024

PEBA NA PIMENTA:

Seu Malaquias preparou cinco pebas na pimenta

Só o povo de Campinas, seu Malaquias convidou mais de quarenta
Entre todos os convidados, pra comer peba, foi também Maria Benta

Benta foi logo dizendo: Se arder não quero não!
Seu Malaquias então lhe disse: Pode comer sem susto, pimenta
Não arde não!

Benta danou-se a comer a pimenta era da braba
E danou-se a arder, ela chorava e se mar-dizia
Ai se eu soubesse dessa peba não comia!

Ai, ai, ai, Seu Malaquias
Ai, ai, você disse que não ardia
Ai, ai, tá ardendo pra danar
Ai, ai, tá fazendo uma arrelia

Depois houve o arrasta-pé o forró 'tava esquentando
O sanfoneiro então me disse tem gente aí que dançando soluçando
Procurei pra ver quem era
Mas era a Benta reclamando

Ai, ai, ai, Seu Malaquias
Ai, ai, você disse que não ardia
Ai, ai, ai tá ardendo eu sei que tá!
Ai, ai, ai mas tá me dando uma agonia

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Konstantinos Kaváfis, A origem; Publicado: BH, 070402013.

O prazer proibido consumou-se. 

Eles se erguem do leito e, sem falar-se, 
Vestem-se à pressa. 
Saem da casa em separado, às escondidas; vão-se 
Um tanto inquietos pela rua, como se 
Temessem que algo neles revelasse 
Em que espécie de leito possuíram-se.
Mas, do artista, como a vida se enriquece! 
Amanhã, no outro dia, anos depois, serão escritos 
Os versos que aqui têm sua origem.

Meu sonho é escrever com fecundidade; BH, 01º0801101202005; Publicado: BH, 0260302013.

Meu sonho é escrever com fecundidade
Quando penso em escrever penso em
James Joyce penso na qualidade de fecundo
Quando penso em escrever penso em Fernando
Pessoa penso na abundância que foi que ainda é
Continua a ser tantos outros de grande produção
Que se fosse pensar neles agora duma vez só meu
Pensamento seria bem pequeno não teria faculdade
Reprodutora facilidade de produção de obras de arte
Nem proliferação que me igualasse à fecundez dos
Nossos grandes nomes da humanidade meu sonho
É um escrito fecundativo um manuscrito fecundante
Um pergaminho composto de teor fertilizante que
Servisse para fecundar não só a mim mas a todo
Representante da raça humana se tivesse o dom de
Comunicar a um germe o princípio a causa imediata
Dum desenvolvimento penso que assim saberia
Fertilizar desenvolver fomentar concertar as
Melhores ideias para a felicidade dos seres humanos
Por isto procuro pensamento fecundante
Espírito fecundador ser um ser fecundativo
Aumentar a minha fecundação para que seja
Maior do que a de febo do que a de febra que me
Compõem para que não seja simplesmente uma carne
Uma carne sem osso sem gordura muito menos uma fibra
Ou só um nervo composto de força  de energia
Um faz tudo nesta arte que amo poder ser considerado
O indivíduo que exerce variadas indústrias se ocupa
Em múltiplos misteres uma leal real factótum escrita feita
De ferro Fe meu sonho é um dia ser capaz de ser capaz ser
Salvo resgatado pela poesia mas ao ser este fato falido o
Farinhento deste semblante feculento que se dissolve com
Qualquer favônio vento não o vento considerado próprio
Que trazia felicidade qualquer outro desmancha meu ar
Feculoso já próximo do fateiro da morte sinto que tenho
Que guardar a alma numa fateira pendurada num gancho
Ou num arpã com que se tiram objetos do fundo d'água o
Espírito até que já foi uma espécie de âncora para fundear
Pequenos barcos hoje é só procelas nenhum gancho de
Ferro para pendurar carnes segurará a minha quando
A morte vier buscá-la de mim aqui nesta terra não restará
Talhada ou porção pedaço fatia é por isto que deixo a
Minha obra me fatiar fazer de mim em fatias a mostrar o
Quanto sou trágico de aspecto sinistro de jeito profético
De fado fatídico chego a ser fatigador quando falo o
Mundo torna-se cansativo o destino fatigante o caminho
Exaustivo porém a luta sem fatigamento a vida sem fadiga
Sem o estafante que nos causa prazer no fim da jornada
Ou o fatigiado que valorizará o nosso pensamento no fim
Do período foi fatigante mas valeu a pena é meu sou
Meu sou eu podeis me fatigar no sofrimento na
Injustiça podeis me importunar enfastiar cansar
Morrerei fatigioso feliz cansativo embriagado
De lucidez aquele que prediz o futuro que fala que é
Profeta vaticinador fatíloquo infalível ou fatiloquente,
Não passa dum néscio nem deixa de ser presumido
Petulante vaidoso oco pois o fátuo no fundo um louco
Não conhece nem o fatímida o descendente de Fátima filha
De Maomé cuja descendência se formou a tribo dos
Fatímidas que constituíram o império do Magrebe em
Marrocos é assim que quando escrevo mesmo ao não atingir a
Grandeza de quem escreve de verdade dispo-me da roupa  o
Terno de todo vestuário do fato da farpela da fatiota nu
Feito um idiota que não sabe coisa nem ação feita que
Não sabe o que é real não entende um acontecimento
Sem sucesso não dá conta nem dum rebanho pequeno
Com efeito só entende de intestino de barriga de animais

Konstantinos Kaváfis, À espera dos bárbaros; Publicado: BH, 050402013.

O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
E de coroa solene se assentou
Em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
O chefe deles. Tem ponto para dar-lhe
Um pergaminho no qual estão escritos
Muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
Usam togas de púrpura, bordadas,
E pulseiras com grandes ametistas
E anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos,
De ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
Tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
Derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
E aborrecem arengas, eloquências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
E todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
E gente recém-chegada das fronteiras
Diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

Konstantinos Kaváfis, O Deus abandona Antônio; Publicado: BH, 050402013.

Quando, à meia-noite, de súbito escutares 
Um tiaso invisível a passar 
Com músicas esplêndidas, com vozes - 
A tua Fortuna que se rende, as tuas obras 
Que malograram, os planos de tua vida 
Que se mostraram mentirosos, não os chores em vão. 
Como se pronto há muito tempo, corajoso, 
Diz adeus à Alexandria que de ti se afasta. 
E sobretudo não te iludas, alegando 
Que tudo foi um sonho, que teu ouvido te enganou. 
Como se pronto há muito tempo, corajoso, 
Como cumpre a quem mereceu uma cidade assim, 
Acerca-te com firmeza da janela 
E ouve com emoção, mas ouve sem 
As lamentações ou as súplicas dos fracos, 
Num derradeiro prazer, os sons que passam, 
Os raros instrumentos do místico tiaso, 
E diz adeus à Alexandria que ora perdes.

Konstantinos Kaváfis, Ítaca; Publicado: BH, 060402013.

Se partires um dia rumo a Ítaca, 
Faz votos de que o caminho seja longo, 
Repleto de aventuras, repleto de saber. 
Nem Lestrigões nem os Ciclopes 
Nem o colérico Posídon te intimidem; 
Eles no teu caminho jamais encontrarás 
Se altivo for teu pensamento, se sutil 
Emoção teu corpo e teu espírito tocar. 
Nem Lestrigões nem os Ciclopes 
Nem o bravio Posídon hás de ver, 
Se tu mesmo não os levares dentro da alma, 
Se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo. 
Numerosas serão as manhãs de verão 
Nas quais, com que prazer, com que alegria, 
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto 
Para correr as lojas dos fenícios 
E belas mercancias adquirir: 
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos, 
E perfumes sensuais de toda espécie, 
Quanto houver de aromas deleitosos. 
A muitas cidades do Egito peregrina 
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente. 
Estás predestinado a ali chegar. 
Mas não apresses a viagem nunca. 
Melhor muitos anos levares de jornada 
E fundeares na ilha velho enfim, 
Rico de quanto ganhaste no caminho, 
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse. 
Uma bela viagem deu-te Ítaca. 
Sem ela não te ponhas a caminho. 
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre. 
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência, 
E agora saber o que significam Ítacas.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

O escritor é um eno é um vinho que quanto mais velho melhor; BH, 04040230280602003; Publicado: BH, 0240302013.

O escritor é um eno é um vinho que quanto mais velho melhor

Que indica a proveniência naturalidade não a enofobia que causa

A aversão ou o horror o escritor também traz a enofilia a inclinação

Ao vinho a maioria é de enófilo beberrão amigo comerciante de

Vinhos bons assim sem ser enófobo está mais para um enóforo

Casado com uma enófora tal ao vaso para vinho sagrado entre os

Romanos trazido pelo escanção criado que servia o vinho que até

Chega a curar a enoftalmia a retração anormal do olho dentro da

Órbita é no enoitar no chegar do anoitecer no encanto do enoutar

Que o poeta sai em busca do enol considerado como excipiente

Medicinal à cura da alma o que não se consegue com a forma

Alcoólica derivada dum aldeído ou acetona só ao servir o enólico

Espiritual a substância do corante tinto da enolina demais poder

Tirado do enológico a gerar a enomancia arte de adivinhar pela cor

Do vinho a aumentar a enomania a paixão doença resultantes do

Abuso do enomaníaco o louco beberrão enólatra no nosso caso

Só nos resta o enomel o xarope que tem por base o vinho em que

O açúcar é substituído por mel os euroméis são os que realmente

Nos interessa nesta ensinança neste ensinamento ensilado

Armazenado igual cereal em silos a pena ensiforme que tem a

Forma de espada é que fere o papel com caractere seu furor ensífero

A deixar para a eternidade este que não se usa mais depois do

Vendaval de ilusão continua ainda enradicado em mim a impressão

De que o bem radicado o amor arraigado ou o perfil de bom

Implantado não serão suficientes para suavizarem o meu lado

Enraivado o meu pedaço que está com raiva o teor irritado

Enraivecido quase colérico irado às vezes sem motivo

Encolerizado por qualquer descuido alheio não existe enramada

Cobertura de ramos de árvores ou sombra ramada que refresque

Meu tormento m tronco enramado um vasto arvoredo que tem

Ramos formado para enramalhar ou para enramalhetar ornar

Adornar enramilhetar com ramalhetes reunir todo o verde não

Deixar enrançar criar ranço ou estragar com o lodo os pântanos

Vêm enranchar com as almas bandear-se com os espíritos inda

Agrupar-se com as entidades a cada palavra que pena sinto

Enrarecer em mim a cultura sinto tornar raro o explicitar da ideia

Ralo o pensamento cada vez mais rarejar as soluções para a

Enrascadela em que se encontra a humanidade que vive sem as 

Resoluções para a enrascadura em que se enfia a cada dia cada

Homem tem o seu enrascar cada ser passa por sua entalação cada

Um carrega a sua complicação se afunda na barafunda da enrascada

A ajuda que aparece é só de gente intrigante de pessoa conflitante

Mexeriqueira enredadeira trepadeira de costas alheias semelhantes

Um dia gostaria de ver a intriga acabar enredo ruim essa enredadela

Perversa que sofre a raça humana não dou prazo ao intrigante nem

Ouvido ao mexeriqueiro desprezo o mal enredador acabo com o

Enredamento evito o entrelaçamento da intriga com mexerico

Enredeiro comigo só o que cria cultura poema  poesia ode alegria

Vinicius de Moraes, Retrato de Maria Lúcia; Publicado: BH, 0130402013.

Tu vens de longe; a pedra 

Suavizou seu tempo 

Para entalhar-te o rosto 

Ensimesmado e lento

Teu rosto como um templo 

Voltado para o oriente 

Remoto como o nunca 

Eterno como o sempre

E que subitamente 

Se aclara e movimenta 

Como se a chuva e o vento

Cedessem seu momento 

À pura claridade 

Do sol do amor intenso!

quarta-feira, 10 de julho de 2024

penso que se o universo disponibilizasse para mim

penso que se o universo disponibilizasse para mim
toda a fenomenologia do espírito universal jamais
destilaria uma única espiritualidade ou penso que
se o universo determinasse que adquirisse a total
genealogia da moral talvez não tivesse nenhuma 
moral junto à essa sociedade amoral imoral se os
deuses dos mares dos oceanos determinassem que
executasse tarefas junto aos trabalhadores do mar
nada resgataria do fundo do oceano nem os meus 
enganos ou a minha própria vida ou se fosse
obrigado a mim a exercer os doze trabalhos de 
hércules com a preguiça física ou mental que tenho
a andar devagar que chego a parar não executaria
nenhum trabalho exemplar meu vinho seria tão ruim
por ser fermentado nas vinhas da ira que só beberia 
o ódio destilado ou que diante dos ulisses o de 
troia ou o de dublin a ressaca não me deixaria
enxergar cego gritaria do útero da montanha por
minha mãe ninguém ou escarraria fantasma pelas
calçadas da cidade num fog de fogo num germinal
escatalógico que na minha metamorfose de inseto que
nunca me transformaria em gente a perder para a 
justiça da burguesia o judiciário da elite o processo
que me condenaria por querer por abaixo o sistema
ou derrotar o capital em vão gritaria por cem anos de
solidão trabalhadores do mundo uni-vos lancemos 
todas as ditaduras ao chão urgentemente nesta utopia
ou só nos restará os cânticos ao elogio da loucura

BH, 0100702024; Publicado: BH, 0100702024.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Pretendo escrever até o fim dos meus dias; BH: 0110702000; Publicado: BH, 0280402013.

Pretendo escrever até o fim dos meus dias
Num projeto de escrever sem projeto num estilo de
Escrever sem estilo sem ser aristoso sem deixar
Pragana como a barba da espiga de milho sem ser
Aristado teimar até adquirir a luz do pensamento
Aristotélico do filósofo Aristóteles grego do século V
AC até adquirir a doutrina conforme o partidário dele
Usar a aritenoide em forma de taça como o nome
Do par de cartilagens da laringe situadas à direita
À esquerda da linha mediana  que guiam o alimento
Evitam a sufocação porém quero inverter o caminho
Quero ser justamente sufocado pelas letras pelas
Palavras das frases resgatar o ariti o indivíduo dos
Aritis nome que dão a si mesmos os índios Parecis
Ao dialeto da língua pareci ser pajem da aritmancia
Ser aritmante que vai inverter a verdade na suposta
Arte de adivinhar por números na ciência da
Aritmancia  tal o indivíduo dado à prática o
Aritmante conhecedor aritmológico da ciência
Que se ocupa dos números da medição das
Grandezas em geral segundo a classificação de
Ampere na aritmologia vou padecer por todas
Estas falhas por todas estas faltas estes erros
Desconhecidos ocultos disfarçados sob todas
As formas de palavras desconexas que do
Aritmo grego arithmos sem número suficiente
Para definir toda aritmografia que é a arte de
Exprimir por sinais convencionais as
Quantidades cuja composição se conhece na
Poesia fora do aritmográfico perdido no
Instrumento para sanar mecanicamente operações
Aritméticas inventadas por Gattey matemático
Francês em 1811 que hoje desencadeou na máquina
De calcular o dia em que me ver armentoso possuidor
De muitos rebanhos de armezim tafetá de Bengala
Cada armentio uma intelectualidade uma aquisição
Armental do saber do conhecimento como armelino 
Arminho mamífero vestido de armelina a pele branca
De alma como a neve imaculada o fiel de armazém
Encarregado da cultura armazentista zeloso criativo 
Que não conhece o medo de ousar afasta a covardia
De criar seja lá  que for mostra ao mundo a cria a
Criatura já trago armazenado dentro de mim o motivo
Da vontade já tenho guardado o ideal de continuar,
Mesmo sem saber o caminho para não cair no armazelo
Na armadilha de pegar ignorantes na espécie de rede de
Pescar incautos navegantes não acautelados imprudentes
Cegos são os ingênuos crédulos que afogam nas trevas
Depois que chegar o dono o proprietário de armarinho
Que só quer vender vendas para os olhos cabelos para
As cabeças dentes para as bocas línguas narizes no
Primeiro armarinheiro de partes de membros
De órgãos de cadáveres humanos insepultos
Já que não se pode acabar com a violência
Com um bom aumento do salário mínimo é
Fazer pelo menos uma armaria uma arrecadação
De todas as armas guardá-las em arsenal
Os proprietários da arte heráldica responsáveis
Não passarão as armas às mãos criminosas
Assim no fogo dianteiro duma viatura desarmar
Descarregar o armão a carreta que reboca as peças
De artilharia deixarão de ter utilidade
Sobrarão só as papas para abrir o apetite aos cavalos
Ao armar o Armando que virou nome de homem
Tudo que diz respeito a armamentos todo conteúdo
Armamentário ser esvaziado da alma do homem é
Despir as armaduras as fasquias de madeira para
Equilibrar os arcabouços dos navios de guerras
Derrubar as armadoiras ninguém mais falará
Estou armado provido de armas munições
Munido preparado para matar viverás sem
Ser necessário andar acautelado prevenido
Disposto só a viver em paz ao dar um basta
A todo tipo de violência brutalidade dor o
Arlesiano de Arles na França penso que vive
Em calma em tranquilidade pelo menos o
Nome nos faz imaginar assim que estamos
Mais para arlequíneos os animais de cores
Variadas de espírito arlequinal que só quer
Saber é do carnaval como o aritmômetro só
Quer saber de números a deixar a qualidade
A espiritualidade toda luminosidade ser
Absorvida pelas trevas penumbras eternas
Alcance uma vela com a mão acenda-a
No teu coração para tua alma mente
Memória cabeça cérebro ser tu
Confessei antes de perder o que nunca encontrei
Nunca procurei nada nem nunca soube
Querer só tenho vergonha pudor provincianos
Amarrado pela religiosidade censurado
Por todos ignorado não aceito por mais
Que tento passar uma boa aparência;
Não conseguirei chegar ao meu objetivo
Não trarei interesse nem atrairei
A mim os louros de minha vã literatura
Que a injustiça seja feita que nunca
Venha à tona o que quer que seja que
Esta mão cega tenha deixado registrado
Em qualquer pedaço de papel inocente
Indefeso desamparado sem poder reagir com
A violência das letras que o ferem de morte
Que abrem feridas chagas na face branca de cada
Folha perdida pelas madrugas desta vida inútil

É ruim ser desorientado gastador; BH, 0120402001; Publicado: BH, 01º0502013.

É ruim ser desorientado gastador
Que se descontrolou como um veículo
Pior ainda sentir que não tem governo é
Desgostoso ser desgovernado ter desgosto
De ter um prefeito omisso ser descontente
Por ter um governador omisso sentir o que
Tem o mau sabor como o de ter um presidente
Pior ainda só causou-me descontentamento
Sinto mágoa desprazer não é por querer
Melindrar-me é por não gostar mesmo
Todos só souberam descontentar-me
O presidente a desgostar-me mais cada
Vez mais que desgaste sinto na alma no
Prefeito votei tudo bem já no presidente
No governador não tenho que digerir
Deixar consumir pelo atrito gastar de
Pouco a pouco até o desgastar final
Porém no fundo espero que a história
Mostre-me que estou errado em relação
Aos tais a audácia que sinto em FHC
Vulgo Fernando Henrique Cardoso só
Causa-me mal asco a elegância a
Desenvoltura cheiram-me à falsidade à 
Hipocrisia porém espero desgarrar deste
Conceito espero que com o tempo
Desgarre de mim esta ideia que a
História revele que estou errado
Estou a desviar o rumo da embarcação
A extraviar-me da verdade a
Desencaminhar-me da realidade? a
Perverter o certo a desgarrar o correto?
Sou solto livre mas não sou pervertido
Não sou extraviado como alguém que
Desgarrou-se dos seus princípios não sou
Desgarrado por perversidade a cantiga
Popular por desabafo a desgarrada sempre
Mostra as mazelas que fazem contra o povo
Se puder quero ver desgalhar cortar
Os galhos deles para a que se presta a
Zombaria do FHC vulgo Fernando
Henrique Cardoso contra os que são contra
Não é desfrutável é algo de que o povo não
Pode desfrutar tem que pagar tintim por
Tintim de tudo de errado que fez que
Roubou que deixou roubar ilegalmente

Podeis chacotear a zombar a dizer que são porcarias; BH, 0120402001; Publicado: BH, 01º0502013.

Podeis chacotear a zombar a dizer que são porcarias

A hora de deliciar-me chegará saberei usufruir gozar

Colher os frutos do que plantar saberei desfrutar pode

Até demorar esperarei para desfruir cada desfrechar

Que lanço é um atirar de flechas como dum cupido

Um disparar de arcos um dia acerto o alvo verei a

Bandeira tremular desferir golpes ao vento soltar

Vibrações desfraldar sem desfortuna será o fim da

Infelicidade a chegar será o desforrar de toda a

Desgraça tudo vai dar-me compensação só não quero

Vingar nem vingança tirar o ferrolho colocar um novo

É uma desforra sem desagravo é só um desforço para

Dar uma satisfação tomar uma prova desgravar sem

Violência desforçar como no descamisar o milho nada

De desembainhar facão ou a espada tirar as folhas ou

As pétalas das rosas deixar desfolhar no tempo próprio

Ou na desfolhação a moléstia vegeta caracterizada pela

Queda do desflorir do desflorescer do desvanecer agora

Atenção desflorestar derrubar as matas as árvores em

Larga escala tanto de um terreno como duma região vai

Acabar por nos matar é isso mesmo vai acabar por

Exterminar-nos é triste perder o brilho o frescor

Murchar perder as flores é triste deflorar a natureza

Violar a virgindade dum botão tirar as flores dos caules

Desflorar prender as flores nos vasos que nojo é a

Desfloração a violação o desfloramento; a herança então

É o desfilhar tirar os filhos os rebentos desmamados

Despovoar a natureza? não é apreciar o desfile fúnebre é

Olhar o desfilar dos pássaros das borboletas nas tardes vivas

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Vladimir Maiakovski, À esquerda; Publicado: BH, 020502013.

Em frente, marche! Basta de falar!

O tempo dos oradores já passou.
Hoje tem a palavra
O Camarada Mauser!
Não há outra lei senão a da natureza.
Somente Adão e Eva estão com a verdade.
Abaixo as leis, abaixo as cadeias!
Fustiguemos a carroça da história
À esquerda, à esquerda, à esquerda!
Em frente, à conquista
Dos Oceanos!
Tendes canhões em vossos navios de aço.
Já esquecestes como os fazer falar?
Que a coroa abra uma goela
Quadrangular,
Que o leão britânico ruja
Que importa?
A comuna está em marcha
E manterá a vitória!
À esquerda, à esquerda, à esquerda!
Aqui é a sombra e a morte, mas lá longe
Do outro lado das montanhas
O sol se levantou sobre um mundo novo.
Lá, além das planícies,
O solo estremece sob os passos inumeráveis
De homens impávidos e livres.
Camaradas, nós somos um rochedo de granito.
Os bandidos da Entente se arremessam contra ele.
Mas nada abaterá a Rússia Soviética.
À esquerda, à esquerda, à esquerda!
Eles não puderam furar os olhos atilados da águia 
Que olha e compreende as lições do passado.
Avante, pois, meu povo, e já que o pegaste
Estrangula teu carrasco!
A trombeta dos bravos já soou o alarme.
Nossos estandartes aos milhares avermelham o céu.
Só a rota dos traidores é que conduz à direita.
À esquerda, à esquerda, à esquerda!

Vladimir Maiakovski, Conversa sobre poesia com o fiscal de vendas; Publicado: BH, 040502013.

Cidadão fiscal de rendas, desculpe a liberdade!

Obrigado... não se incomode...  estou à vontade! 
A matéria que me traz é algo extraordinária: 
O lugar do poeta na sociedade proletária.. 
Ao lado dos donos de terras e senhores industriais 
Estou eu também citado por débitos fiscais.
Nós somos proletários e motores da pena. 
A poesia é como a lavra do rádio 
- Um ano para cada grama.
Para extrair uma palavra, 
Milhões de toneladas de palavra-prima.
Porém, que flama de uma tal palavra emana 
Perto das brasas da palavra-bruta!
Tal palavra põe em luta milhões de corações 
Por milhares de anos.
Você conhece por certo o fenômeno rima.
Em linguagem de fisco
A rima é uma letra a termo fixo
Para desconto ao fim da linha
Sem mais prazos.
E sai-se à caça da minúcia de flexão ou sufixo
Na caixa escassa das conjugações e casos.
Tenta-se pôr uma palavra nessa linha,
Ela não cabe, força-se, e se esfarinha.
Cidadão fiscal de rendas, eu lhe juro,
As palavras custam ao poeta um duro juro.
Para nós, a rima é um barril.
De dinamite. 
O verso, um estopim.
A linha se incendeia e quando chega ao fim
 explode
E a cidade em estrofe voa em mil.
No questionário há um monte de quesitos: 
“O Sr. fez viagens?  Sim ou não?
Mas, como, se eu fiz vôos infinitos 
Em dezenas de pégasos nesses 15 anos ?
Cidadão, condescenda, as passagens são caras!
A poesia - toda ela - é uma viagem ao desconhecido..
A máquina da alma com os anos se trava,
E dizem: - ao arquivo, acabou-se, um de menos! 
O tempo em sua corrida minhas têmporas esmaga. 
E vem então a mais terrível das amortizações 
- A de almas e corações, última paga.
A minha dívida é uivar com o verso, 
Entre a névoa burguesa, boca brônzea de sirene. 
O poeta é o eterno devedor do universo, 
E paga em dor porcentagens de pena.
Estou em dívida com os lampiões da Broadway, 
Com o Exército Vermelho, 
Com vocês, céus de Bagdádi, 
Com as cerejeiras do Japão e toda a infinidade 
A que não pude dar a sobra de uma ode.
Mas, para que afinal essas molduras?
Para que fazer da rima, mira
E do ritmo, chibata?
A palavra do poeta é a tua ressurreição, 
A tua imortalidade, cidadão burocrata  .
Daqui a séculos, do papel mudo toma um verso
E o tempo ressuscita.
Cidadão fiscal de rendas, eu encerro. 
Pago 5 rublos e risco todos os zeros. 
Tudo o que quero é um palmo de terra ao lado 
Dos mais pobres camponeses e operários.
Porém, se vocês pensam que se trata apenas 
De copiar palavras a esmo,
Eis aqui, camaradas, minha pena:  
Podem escrever vocês mesmos!