terça-feira, 16 de setembro de 2025

mudo penso mudo o mundo imundo

mudo penso mudo o mundo imundo
ninguém fala nada alguém se esconde na
escada a sacada está sombria vazia tal a
soleira do cemitério enigma mistério ossos não
são minérios sào mais raros sào mais caros as
encostas estão escondidas falésias viram
alambrados colinas inclinadas não são crinas
levadas de cavalos selvagens em disparadas
manadas assustadas pensamentos brutais
todos somos loucos a rir no escuro a escarrar
nas paredes a escalar mansardas que medo de
escorregar anda mais devagar igual ao sol a lua
ao chegar a estrada a brilhar o cometa não tem
pressa porque o homem teria que ter? devagar
até retardar a dor o sofrimento a morte cheia de
teor um conteúdo pontudo cadê o amor? deixas
de bobagem não se fala mais nisso muda de
assunto talvez um dia a felicidade seja uma
realidade não tenha mais fim só a tristeza a
amargura a melancolia o destino cruel as
reminicências ruins da vida as tendências da
morte que sempre é tema dilema poesia poema
enredo meta medo ao mais corajoso que até
chora na presença da morte a implorar por uma
vida que sempre levou desprovida de sorte de
perdão de paz de luz de amor de rumo ou norte 

BH, 0200802025; Publicado: BH, 0160902025.

DIRE STRAITS GH:


 

como que um ser medíocre tenta sobressair

como que um ser medíocre tenta sobressair
nos meios de hoje? se hoje para sobressair
sobreviver tem que fazer o que nunca se fez
tem que ser o que nunca foi ou do contrário
é o ostracismo do lugar comum é o mais do
mesmo de cada um que tem que fazer com
que se fale dele bem ou mal porém mais
bem do que mal mesmo quando só faz o mal
para que seja notado comentado viralizado
curtido compartilhado logo em seguida o
vazio o vácuo o vão o oco a val a cal o caos já
foi superado suplementado esquecido
abandonado tenta algo novo não há mais o
moderno revolucionário rebelde não
consegue matar a fome come demais de
novo não consegue saciar a sede bebe
demais outra vez não consegue mais agradar
aos críticos aos leigos aos perfeitos muda de
muda de cara de rosto de face de semblante
de ares de feições muda de sexo de bunda
vira um monstro um alienígena alienado um
intelectual apedeuta um estúpido
endinheirado uma marreta numa bigorna uma
foice um martelo arrepiam-no numa cabeça de 
cabaça onde os hemisférios cerebrais não se comunicam mais onde o corpo caloso entrou
em coma qualquer informação na soma do
soma o produto é a diminuição faz pacto
secreto faz transfusão com sangue de cavalo
ou com sangue azul comprado no banco de
sangue compra tudo novo coração rins pulmões
mas é a velha dama que chama nem arruma a
bagagem deixas tudo para trás estás atrasado meu irmão

BH, 0270802025; Publicado: BH, 0160902025.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

a bandida blandícia da vida oscila na galha

a bandida blandícia da vida oscila na galha
da gaia tal pêndulo fendido tal haste no
hades tal veste de fato de defunto velho
molambo que já foi moleque em molecagem
pelintra pilantra em pilantragem a traçar
putas de tranças nas danças das madrugadas
a subir morros em zig zag a descer ladeiras
desfraldado a costear alambrados veredas
nas mutretas agachado nas muretas vistas
das varandas dos alpendres tudo agora
aboletado nas cangalhas do ancião canalha
ansioso de mortalha pelas montanhas picos
cordilheiras muralhas corcovas corcundas 
corcovado de enfado canseira cegueira cadê
o septuagenário que virou asneira sem
fraldão para caganeira a se esgueirar pelas
beiras a exalar inhaca de cadáver em
adiantado estado de putrefação fétida sem fé
na vida com esperança na morte que se tiver
sorte não será sentida nem o azar de não
amar a ninguém nem a si mesmo nem ser
amado por alguém remador cheio de ais sem
cais sem bonança só tormenta vai de retro
velho que ninguém mais te aguenta 

BH, 030602025; Publicado: BH, 0150902025.

perdi a voz pois era voz dum mofo morto

perdi a voz pois era voz dum mofo morto
perdi as letras pois eram letras mofadas
mortas perdi a palavra pois também era
palavra perecida dum morto mofado para
que viver num mundo torto? de tantos
tontos sonâmbulos aleijados por dentro?
perdi a alma era uma alma penada quanto
mais morria mais pesada ficava difícil de
carregar perdi o ser era um ser perdido
perdi o corpo era um corpo apodrecido para
que ter um corpo plastificado num mundo
tão errado? não quero um corpo quero uma
consciência não quero saúde quero morrer
com a pior saúde do mundo para que morrer
com boa saúde? para que boa saúde num
mundo tão doente de imundo? quero
contestação não quero hipocrisia quero
rebeldia não quero fisiologia quero coragem
não quero vida na covardia duma religião
medieval com um deus feudal não quero
igreja do capital quero um jardim num terreiro num terreno num quintal num
canteiro numa cova numa sepultura bem
floridas rosas cravos jasmins margaridas
não quero pensamento quero ação do vento
tempestade tornado tormento comigo a
burguesia não fica de pé a elite leva um
pontapé um chute no saco um murro bem
dado no pau do nariz uma voadora no pomo
do adão não vens com essa porra de papo
furado para cá não meu irmão aqui é achatamento de crânio com mão de pilão

BH, 040602025; Publicado: BH, 0150902025.

NOS TEMPOS DO MELA CUECA: BREAD GH:


 

poemas não alcançam ninguém

poemas não alcançam ninguém
poesias são vazias para bolsos cheios as
almas são vadias não querem mais saber de
poemas nem querem mais saber de poesias
são coisas medievais são coisas feudais só
queremos coisas modernas imagens que
valem por mil palavras porém quem faz
imagens que valem por mil palavras só as
faz porque teve que ler reler outras milhões
de palavras entre essas milhões de palavras
as poesias feudais os poemas medievais sem
isso adeus até nunca mais o sol todo dia se
renova em energia a lua toda noite se despe
como uma mulher apaixonada para o seu
amante em alucinação tudo isso é poesia é o
que causa alegria é o que manda a tristeza
embora põe fim à felicidade acaba com a
angústia livra o homem da agonia pode quem
faz essas coisas nunca as ver num santuário
num armário numa biblioteca só esquecidas
num ossuário arcas baús malas velhas gavetas
emperradas de cômodas  em caixas de
papelões amarradas com cordões vem alguém
que não conhece o conteúdo que têm com
desdém  joga tudo no lixo ou faz uma fogueira
da inquisição lá se esvai a fumaça a levar de
volta ao infinito o que o universo endereçou aos
que privilegiados capturaram essas poesias as
crias esses poemas os bastardos desesperados

BH, 040602025; Publicado: BH, 0150902025.