terça-feira, 31 de janeiro de 2023

quem é que sabe o segredo das orações poderosas

quem é que sabe o segredo das orações poderosas
ou o mistério das preces fervorosas
ou o enigma das rezas fortes
ou as conjeturas dos salmos sagrados?
e quem é que sabe as soluções das equações
que mudam o universo
ou as respostas dos sistemas que
aperfeiçoam o sistema solar
ou o resultado dos dilemas que
acabam com as maldições?
e quem é que sabe as resoluções dos
problemas da humanidade
e das questões dos seres vivos
e das respostas dos questionários?
é que continuo no mesmo imaginário
e não canto igual a um canário
ou um curió
ou um sabiá
e nem sequer sei voar pelo azul do céu
a adejar tal um livre pássaro
e quem é que sabe qual é o papel de cada um
na espiritualidade
ou ou na naturaza física
ou metafísica
ou no meio ambiente?
é que conhinuo a não ser gente
e só vejo deter gente pobre
e a liberdade longe da gente comum
e ainda penso igual antigamente
e não vivo hodiernamente
e só antiquadamente
e ancestralmente
e antepassadamente como mente
a minha mente mais descaradamente
ao viver demente mas a mim mesmo
do que a outro ser diferente
e como sou indiferente ao ser indigente
e a água da fonte embala magistralmente
o sonho dum desejo ardente
e do amor ser o caminho
e a verdade
e a vida
ao afastar a maldade maravilhosamente
e a paz ser a busca constante
e bacana do ser humano
e o bem da raça humana

BH, 080302022; Publicado: BH, 0310102023.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

e nunca mantive o foco em nada

e nunca mantive o foco em nada
e muito menos força
e fé
e precisava manter o foco na moderação
e na força de vontade
e fé em alguma coisa mas falar é fácil
e o conselho é em vão faças tudo com moderação
ou força na ação
ou andar com fé
para viveres uma vida longa
e vou ao bar
e esqueço o foco no primeiro copo
e em algum lugar
e só vejo a garrafa vazia
e o copo cheio
e quando saio de lá pedaço do meu inteiro
vai para um lado
ou para uma direção
e o pé direito para o lado esquerdo
e o pé esquerdo para o lado direito
tal o corpo de jânio quadros
cheio de trejeitos
e a fé é numa puta na esquina
e a voz vira soluços
e os suspiros arrotos
e a cabeça pendida
e cadê aquele moderado cheio de foco
e de fé
e razão
e vai ali a cambalear
e quase a cair pelo chão
e o pior é que não pode nem fazer
essas bravatas mas
se fala alguma coisa
fica cheio de nove horas
e quer encher o saco de todo mundo que
o quer trazer de volta à lucidez
mas não tem vez
não tem percepção
e a afogar-se histrião
e vira um tolo
e já foi até largado de mão
e mandado embora de casa
por ser insuportável
e com tanta insubordinação
e incompetência para viver
ou fazer o bem
ou ser bom para alguém
ou em alguma coisa
e aí para que manterá o foco
e passará a ser alerta na moderação
mas se não passa um dia
sem trazer uma aflição à parceria

BH, 050502022; Publicado: BH, 0300102023.

não leio mais escrevo menos ainda

não leio mais escrevo menos ainda
e sou o homem que não ler
e li pouco
ou quase nada
e escrever não escrevo mais nada
e nem agradeço de nada
ou quando houver de que
quando alguém vem me agradecer
mas se não faço nada como posso querer
merecer agradecimentos
e crônica poesia prosa verso poema romance
quem faz alguma performance
merece nuance
e não fica a ver naus catarinetas
caravelas pinta santa maria niña
navios fantasmas de pedras portuguesas
e das pedras dos cais dos portos
ou nas pontes detrás dos montes
e segue adiante na linha do horizonte
surfar avante na onda mais saliente
que se espatifa na rocha mais resistente
e a pulveriza em areia ardente
que o vento ajunta
e faz a duna que depois
nem o tempo põe abaixo
e vira um despacho maciço como se fosse
veio de ouro vivo
ou diamante fundido em colisões de universos
ou em impactos galácticos que lançaram
aos infinitos mundos a serem definidos
por civilizações que ainda não existem
como a nossa que ainda não existe na evolução
ou nas que têm a esperança duma revolução
que transforme o homem em criança sempre
em oração a pedir a deus de mãos postas
luz para o coração do homem

BH, 01501202022; Publicado: BH, 0300102023.

tomei um copo duplo de limonada sem açúcar

tomei um copo duplo de limonada sem açúcar
e dei um tempo
e fui ao banheiro mijar
e mijei
e prendi a urina
e soltei
e tornei a prender
e a soltar
e forcei para mijar
até esvaziar bem a bexiga que
cheguei a peidar
e pensei no índice elevado do psa
e pensei na próstata aumentada pela
hiperplasia prostática
e quando me vi já
estava a pensar na infância
quando ia ao dentista
e pensava porra pai paga um cara
para torturar a gente numa cadeira do
dragão dum consultório
e ficava com raiva
e hoje já quase sem os dentes
volto a pensar na próstata
e o que é o pior pois pago um cara para
enfiar um dedão no meu cu
e cutucar o meu cu
como se o meu cu fosse o próprio
e tenho certeza que nem no oróprio cu
mete o dedão igual mete no meu cu
e nem cutuca o cu próprio
igual cutuca o meu mas
que porra é essa que para sobreviver
temos que ser impalados vivos
e passar por torturas
e para evitar tal tragédia
estou a levar uma vida de estoico
e a comer o mínimo possível
e a beber menos ainda
e quando fizer um novo psa
ou um ultrassom
e não derem resultados reduzidos
e ter que levar outra dedada invasiva
agressiva para ficar uns quinze dias a
lamuriar jogarei de vez a toalha
e pendurarei as chuteiras
e recolherei as bandeiras
e não correrei mais atrás do tempo perdido
e nem descansarei à sombra das raparigas em flor

BH, 0210102022; Publicado: BH, 0300102023.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

aparentemente feliz

aparentemente feliz
pois ao som de simple plan
e de boca aberta pois
não respiro pelo nariz que
nasceu obstruído
e nunca foi operado para
poder respirar normalmente
e como disse anteriormente
aparentemente feliz
e sem surtar
e de bem com pai aqui à mesa
e mãe a preparar a comida
e a irmã no trabalho que
agora arrumou uma vaga de professora
numa escola em contagem
e pai mãe fizeram de tudo para a irmã
não aceitar com medo da irmã apanhar
dos políticos
e das polícias
e dos alunos
e pais de alunos mas
a irmã é teimosa
e disse que ama a profissão
e que nasceu para ser professora
e pai falou depois não vai se arrepender
quando levar gás lacrimogêneo na cara
e bomba de efeito moral
e cassetetadas no lombo
e choques elétricos
e tiros de balas de borracha nos olhos
e outras violências mais por parte do estado
e da sociedade
e de quem mais não respeita professores no
país mas infelizmente a irmã não desistiu
e sai de casa às cinco da manhã
e depois de tarde vai à universidade
e só retorna à casa às vezes quase
onze horas da noite
e estuda até o meio da madrugada
chego a ficar com pena da irmã mas
o que posso fazer?
são os ossos do ofício do capitalismo
e cada um carrega a sua cruz

BH, 0801202022; Publicado: BH, 0260102023.

e parece brincadeira mas não é não

e parece brincadeira mas não é não
e é a pura realidade o que atravessa a nação
e a viver do lixo
e a recolher comida no lixo
e o que uma elite tão inconsciente
é capaz de fazer para se locupletar do poder
e o que um burguesia irracional
gera ao seu próprio povo para explorá-lo
e para escravizá-lo
e atrasar o país na ganância de se apoderar
dos bens da nação ao deixar o povo à
míngua ao se enriquecer cada vez mais com
o empobrecimento do povo trabalhador
brasileiro
e junto à plutocracia
e sem pudor atacam as reservas indígenas
e as terras demarcadas
e queimam as florestas da amazônia
e exterminam a fauna nacional
e os paraísos ecológicos
e os santuários
e os mananciais de águas puras naturais
e devastam a flora
e combatem
e assassinam os sem terras
e os quilombolas
e espalham agrotóxicos
e envenenam rios
e tudo isso
e muito mais
e impressionante que só o povo trabalhador
brasileiro assalariado
e em sub emprego
e em sub trabalho não tem condição
de defender a sobrevivência
e combater o mal que domina o coração da nação
e precisamos acordar para gritar fora
mocorongo genocida sai daí
e a democracia fica
e fora com seus milicos mamateiros
e suas milícias de maracutaias
e os entreguistas
e os vira-latas que nunca nada fizeram
em engrandecimento do país
e do povo trabalhador brasileiro
e da nação cidadã
e soberana
e democrata que não aceita mais
tantas covardias contra seus filhos

BH, 0110802022; Publicado: BH, 0260102023.

dia internacional das mulheres

dia internacional das mulheres
e muitos vivas
e felicidades
e que as mulheres do mundo uni-vos para
derrubar as desigualdades
e o feminicídio
e o misoginismo
e demais covardias
e injustiças
e violências
e aberrações que
são cometidas às mulheres tais quais
o racismo
e o fascismo
e a quebra dos direitos humanos
e a violência doméstica
e o assédio moral
e o assédio sexual
e demais abusos como os estupros
e os raptos
e sequestros
e os tráficos para escravas
e os cárceres privados
e as torturas policiais
e militares
e os desrespeitos profissionais
e todas as bênçãos possíveis
e impossíveis às mulheres aqui
representadas em mim na pessoa
in memorian da minha mãe
e sem desmerecer as demais mães
a minha mãe é mulher mineira
e brasileira que lutou contra até
generais da sanguinária ditadura que
prendeu o homem dela por ser suposto
comunista que era o meu pai
e mesmo assim nunca se abateu
e nem se arrefeceu
ou esmoreceu
ou se acovardou
e em referência
e em reverência à minha mãe homenageio e
reverencio nestas laudas todas as mulheres
para que sejam respeitadas
e amadas
e nunca covardemente agredidas
e assassinadas como foi a vereadora negra
marielle franco
e que um dia punamos os encomendadores
de tal crime tão hediondo

BH, 080302022; Publicado: BH, 0260102023.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

será que é verdade de que na antiguidade

será que é verdade de que na antiguidade
o sonho de todo ente
e de toda entidade era ser um sábio?
e que todo mundo só pensava um dia
em poder viver com sabedoria
e em sabedoria
e pela sabedoria
mas se foi verdade parece que
isso entediou a humanidade
e o ser humano perdeu o dom de ser sábio
e a raça humana não estuda mais
os principais princípios do dom da sapiência
mas paciência fazer o quê?
e os dons agora são legados a outros seres
que dão mais importância às coisas
das causas
e dos efeitos
e dos raciocínios
e das lucidezes
e das intuições
e das perceções
e malgrado meu
sigo o mesmo caminhoda maioria
e não assimilo uma rajada de vento
ou uma corrente de descarga elétrica
ou um momento de razão
ou uma vibração de noção
e o universo segue adiante para a evolução sem mim
e de castigo não me mostra um ponto
adiante do meu nariz
ou uma agulha imantada que me indique o
norte pois a perdi no paiol do jardim que
virou palheiro vespertino por vênus ter
virado as costas a mim

BH, 01501202022; Publicado: BH, 0250102023.

sei que sempre digo o mais do mesmo

sei que sempre digo o mais do mesmo
e contesto quem é que sempre não diz
o mais do mesmo se somos sempre
compilações do mais do mesmo?
e é desde da antiguidade que
estamos carecas
ou cabeludos de saber que
não há nada de novo
e nunca houve nada de novo
e nem nunca haverá nada de novo
debaixo da terra
ou sobre a terra
ou debaixo dos céus
e nem mesmo nas nossas vãs filosofias
e nas nossas vãs psiquiatrias
e nas nossas vãs psicologias
e nas nossas vãs
e sempre medievais religiões
e religiosidades
e religiosos
e só os espertos se locupletam
com as nossas vis ignorâncias
e só os sabidos
e os sabujos lucram com as nossas crendices
e fazemos questões de nos perpetuar
na estupidez crônica
e de gerações em gerações a deixamos
de herança aos nossos descendentes
e até parece que é uma herança maldita já
que não aprendemos a assimilar a sabedoria
e nem adquirimos o dom do amor
e o dom da paz
e o dom da evolução
e só patinamos no atraso
e no azar da falta de razão
e batemos a cabeça
no muro das lamentações

BH, 01501202022; Publicado: BH, 0250102023.

e diziam antigamente que deus era brasileiro

e diziam antigamente que deus era brasileiro
mas agora com a pandemia
a levar para a morte quase
setecentas mil almas de inocentes vítimas
e com um representante do demônio
na presidência na pessoa do capetão
mocorongo genocida sinto que
deus não é brasileiro nada
ou já teria dado um fim ao negacionismo
e ao obscurantismo
e ao armamentismo
e ao ódio
e se deus fosse brasileiro mesmo
não deixaria o mocorongo genocida brincar
com tantas vidas importantes
e preciosas
e nem ser apoiado por cristãos católicos
e evangélicos protestantes
e pentecostais crentes tradicionais
e apoiado por pastores que
pedem propinas em barras de ouro
e burgueses membros da elite que
lucram muito com o que é desviado
dos direitos do povo trabalhador brasileiro
que fica abandonado
e sem ter a quem recorrer para o socorrer
e a saúde faliu
e a educação quebrou
e as frentes de trabalhos
e de empregos acabaram
e as indústrias sumiram
e as empresas fecharam
e as famílias foram para o meio da rua
ou para as marquises das calçadas
ou para debaixo dos viadutos piores do que
favelas periféricas
e aglomerados suburbanos
e seus redutos
e até a medicina com seus médicos
negacionistas perdeu a credibilidade
e procurar um médico hoje
é um grande risco
e o paciente corre o risco
e nem sabe o que pode acontecer
e muitos preferem até morrer em casa
do que em mãos de médicos açougueiros para não sofrer

BH, 0110802022; Publicado: BH, 0250102023.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

quem me dá um dom aí pelo amor de deus?

quem me dá um dom aí pelo amor de deus?
é que sou mendigo
e não tenho nenhum dom
e peço um dom por mais insignificante que seja
e é como se pedisse uma esmola
ou uma moeda
e é que todo mundo tem um dom
e mesmo que seja um dom vil
e imundo do capitalismo sujo
ou um dom podre do neoliberalismo nocivo
e predatório
e do estado mínimo
e da globalização privatizadora
mas estou aqui neste semáforo
e a esmola que peço a alguém
é um dom dalguma coisa
e que seja a mínima também
mas que me faça me sentir alguém
é que na imundície desta sociedade
ninguém dá um dom sequer a um invisível
quanto mais um dom que faça visível
ou relevante com uma esmola que
retira o esmoler do ostracismo
ou com uma moeda que mate a fome
de dons do mendigo pedinte de porta
em porta de residência
ou de igreja
e de resistência de vez em quando
até que vem mas de igreja nunca
pois não é instituição de caridade
e de portal em portal de matriz
ou filial de basílica
ou paróquia com a canequinha na mão
uma esmolinha aí para o ancião que
nunca teve um dom na vida
mesmo o dom da razão

BH, 01501202022; Publicado: BH, 0240102023.

tanta gente morre a pedir luz

tanta gente morre a pedir luz
e às vezes a recebe
ou duma vela acesa na hora da morte
ou dum holofote spot mais potente
se tiver no lugar do azar sorte
mas tanta gente pede luz na hora da morte
que talvez seja o medo do escuro
e quando era menino tinha medo de escuro
e de água fria
e gritava desesperado quando a minha tia
me dava banho
e não esquentava a água
e ave maria nossa senhora que menino
pirracento que não parava quieto
nem com as surras da mãe
e apanhou em casa
e na rua tanto que virou sem-vergonha
e sem personalidade
e sem caráter
e ainda sem luz artificial
e quanto mais luz própria natural
e sem enxergar direito
e muito menos escutar
e por isso grito sem parar
luz para iluminar
e água quente para banhar
e toma taca
e surra
e couro para apanhar decoro
e ciência
e ética mas
mau caráter não carrega nenhum predicado
ou predicativo
ou adjetivo classificatório
e só os irrisórios
e os simplórios
e os medíocres
e os medianos
e de enganos em enganos
e iludido
e a iludir
passou a vida a entrar pelos canos
dos esgotos da vida
e sem saídas de emergências

BH, 01501202022;Publicado: BH, 0240102023.

pai veio até aqui brincar comigo

pai veio até aqui brincar comigo
passou a mão à minha cabeça
e ao meu rosto
e perguntou se queria mamão cortado
e cobri a cabeça com a coberta
e pai entendeu que não queria nada
e falou que ia colocar o mamão à mesa da sala
e fiquei quieto no meu quarto escuro
e parece que estou bem
e de bem com o mundo
e com a natureza
e com o universo
é que o médico trocou o tarja preta
e agora fico chumbado uma boa parte do tempo
e ouvi pai reclamar preocupado
devido estar por muito tempo prostrado
e que até me preferiria a fazer as minhas
estripolias do que ficar assim boa parte do
dia mas é que mãe já não me aguenta mais
e nem deixo mais ninguém a se aproximar de mim
e para não dar murros nas paredes
nem enfiar os dedos nos olhos
ou bater com a cabeça nas coisas
mãe preferiu optar para mim
por um tarja preta mais potente mas 
pai não fica contente
e até pensa que é covardia comigo
mesmo quando a mãe lembra do dia no qual
pediu um beijo
e levou uma mordida no nariz que
só soltei quando senti o gosto
do sangue venoso
e frio do pai mas
mãe tem razão
e assim não me machuco mais
e nem a ninguém
e os vizinhos não reclamam dos meus gritos
e nem dos estrondos das minhas porradas nas paredes
e o barracão não tem mais barraco
e fica até numa paz de cemitério

BH, 0130602022; Publicado: BH, 0240102023.

a outra face é a face oculta debaixo da carapuça

a outra face é a face oculta debaixo da carapuça
e do capuz
e a outra cara é da carranca mas
não carranca moldada por mestres vitalinos
e sim carrancas de barcaças do barqueiro caronte
que navega no rio do hades onde os seres
têm mais de três fauces tal o guardador dos
rebanhos perdidos
e das ovelhas presas nos espinheiros
e o cérbero açougueiro o cão carniceiro de
três cabeças
e cada cabeça duas faces num total
de seis faces do mal mas
que podem se camuflar em muitos outros
rostos rotos tortos mais
e não vira nenhum para levar o soco quando
recebe algum em um dos rostos rotos tortos
de esquecidos nos labirintos de mentes
dementes de loucos que escrevem sem saber
porque as histórias das paralelas além dos
cinturões dos universos nascentes de
mananciais de galáxias que gerarão outras
milhares de gerações de faces que não
aprenderão a se arrepender
ou a se esvaziar a consciência
ou a tirar o peso da culpa do cangote
e a pedra do cacaio
e aliviar as corcovas das corcundas da cacunda
e a morte não terá costado
e a morte não acostará ao alambrado
e as dores perderão as raizes
e a nova geração será de civilização
berço de todas as civilizações superiores
de seres formados só por mentes iluminadas que navegarão nos mares dos oceanos
dos éteres das eternidades

BH, 0160102022; Publicado: BH, 0240102023.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

quando se é jovem

quando se é jovem
pega-se numa folha de papel
e numa caneta
e do nada pingam-se letras na face da folha
e sem se saber donde palavras misteriosas
surgem no rosto do papel
e são linhas indefinidas
ou desconhecidas
e são linhas além das paralelas
e que estão fora do sistema
ou estão fora do universo
e o jovem rebelde entra em febre
e febril brilha mais que a ursa maior
e torna pequeno o aglomerado de constelações
e insignificante o conglomerado de estrelas
através de poesias infinitas
e poemas eternos
e tudo quando se é jovem é hiperbólico
e alucinado
e ansiedade
e desassossego pois a genialidade pede pressa
e não para para viver
e depois que passa tudo torna-se insuportável
e aquela vida ávida só quer a morte
e quando a morte demora surgem as lamúrias
e as lamentações
e as melancolias
e as ladainhas em sussurros
e as orações em cicios
e as rezas em murmúrios
e o tempo então para
e tudo para
e o jovem agora é um pária
ou um parasita
e não suporta uma letra
e não levanta uma palavra nem do chão
e sucumbe moribundo
ou meditabundo no fundo dum quarto
imundo donde a luz fugiu
e o ar sumiu
e o frescor juvenil evaporou-se
e só um ardor ardido de aqui jaz um
molambo moleque antes voraz em vida
e com toda a pressa de viver

BH, 0290402019; Publicado: BH, 0230102023.

domingo, 22 de janeiro de 2023

quem não sabe perder com certeza não sabe ganhar

quem não sabe perder com certeza não sabe ganhar
e uma das maiores grandezas da humanidade
é justamente saber perder o que talez
é até mais importante do que saber ganhar
e os ganhadores são muitos
ou infinitos pois todos só querem saber de ganhar
e ganham sempre que
são raros os perdedores
e os ganhadores quando perdem
se desesperam pois
não estão acostumados com a perda
ou com a derrota
ou com o fracasso
e usam de todos os meios para manter as vantagens
e os lucros
e os resultados positivos
e os domínios sobre os mais fracos
e menos preparados que estão sempre ali
dispostos a perder para gerar louros aos vencedores
e medalhas aos vitoriosos
e ficam satisfeitos com as cascas das batatas
pois sem os derrotados
e sem os perdedores
e os fracassados
não haveriam os laureados
e os congratulados
e os premiados
e os ovacionados
e os ostentadores
e orgulhosos
e ambiciosos
e soberbos
e heróis
mas um deslize fatal
e lá se vai a fortaleza
e um passo em falso
ou um contrapé
e adeus andor de procissão
ou adeus desfile em carro aberto
ou adeus passar em revista tropas de batalhões
ou de pelotões com armas postas
ou apresentadas
e adeus regalias de ser sempre o primeiro
e o mais importante
e adeus reverências
e saudações
e é o fim do foro privilegiado
e agora é hora de pagar à justiça popular

BH, 02601202022; Publicado: BH, 0220102023.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

dalguns alguns querem as hemorroidas

dalguns alguns querem as hemorróidas
e de mim o cara quer a minha próstata
e enfia o dedão no meu rabo
e diz assim para mim
aqui está o pedido
para extirpar a tua próstata
mas porquê doutor?
é para não virar câncer
mas ainda não virou não
e como é que o senhor sabe?
é que ainda não enrigeceu
e quando o tecido enrigece
é sinal de que
pode ser câncer
e não queria que arrancasse
a minha próstata
mas fazer o quê?
e quem sou o que para saber das coisas
ainda mais coisas do reto
e se sou o único que não sei de nada
e saio com o rabo todo ardido
tal qual o rabo do gabo
e enrabichado
e já prostrado
e frustrado
e já que agora vou ter o rabo estourado
e sexagenário
e quase septuagenário
e a sofrer invasivas estranhas nas
combalidas entranhas das vergonhas
envelhecidas que não querem deixar adormecidas
e a salvação é que chego no boteco de tradição
com o meu chegado no balcão que
mesmo duro não me nega uma ilusão
e consigo encher a cara então
para chegar à casa arrumado
com a alma desarrumada
sem dar explicação

BH, 0100802022; Publicado: BH, 0180102023.

assim que o sol passar por aqui

assim que o sol passar por aqui
deixarei tudo que estiver a fazer
e sigo o caminho que o sol me iluminar
e quando a noite chegar não ajuntarei
pedras nas estradas para travesseiro
e muito menos para cama
e a sonhar seguirei a senda que o raio da lua
refletir em mim
e no rio que margeia o jardim
e se a noite não tiver luar não faz mal
tenho uma estrela guia por simpatia
e tenho uma constelação por figa
e uma galáxia como trevo da sorte
e andarei sem medo pelo vale das sombras
e da morte
e à beira-mar ouvirei o mar que ouvia
quando era menino na concha de caramujo
que ficava em cima da mesinha
da sala da casa da minha tia
e sem saber de nada descobri a poesia
e nunca mais quis saber
nem da noite
nem do dia
e passei a procurar nos poemas esse ruído
que para mim era dilema
quando me vi pela primeira vez a me gladiar
com as ondas do mar a quebrar no meu peito
e nunca mais deixei de me apaixonar
pelas lágrimas de iemanjá
e minha mãe me chamava
e meu pai me chamava
menino vem estudar mas
o bem-te-vi estava ali
e o beija-flor parado no ar
e o sabiá a gorjeiar
e as tamarindeiras da praça
e os pés de imbus
e as jaqueiras
e os coqueiros
e os cajueiros
e as palmeiras
e as gameleiras
e as amendoeiras d'ouro
e a chuva que vinha
e as gentes corriam para a chuva não as pegar
e a meninada corria para a chuva para se molhar
e mamãe papai não quero profetizar
e vou é aprender a poetar

BH, 01401202022; Publicado: BH, 0180102023.

tentei mas falhei em todas às vezes nas quais tentei

tentei mas falhei em todas às vezes nas quais tentei
e quem nunca tentou
e se desmoralizou?
só quem nunca tentou
mas não é fácil tentar
sem se desmoralizar
e todo tentador bem
ou mal
e ao ser bom
ou ao ser mau
é um desmoralizado
e fazer o quê?
carregar culpa no cartório a vida toda por
ser um fracassado
e ser complexado a vida toda por
ser um derrotado?
e o ser envelhece
e não aprende superar o passado
e algo sempre volta a incomodar
e a despertar velhas depressões com caras novas
e antigos pânicos
e velhas culpas adormecidas
e velhos pesos na consciência ressuscitados
e o ser envelhecido enche a cara sem poder encher
e sai de baixo
e não tem mais lugar onde enfiar a cara
e o balde de vômito não cabe mais nada
e o ser envelhecido vira neném
e regurgita à toda hora
e tem refluxo
e defluxo à noite toda
e não dorme
e mija na cama a parecer que
voltou aos tempos de criança pirracenta
e birrenta que a mãe cansava de ensoar
e ensaboar
e enfiar a taca
e a sorte do ser envelhecido perto da morte
é que não se pode bater
mas mesmo assim sempre aparece um doido
para socar a mão na cara deste ser
envelhecido doído
e muito murro é pouco no casmurro
e o ser envelhecido se safa no sofá
cheio de garapa de cana caiana
e de bagaceira
e é só uma regaceira só no regaço da vida
velha bagunceira do velho palhaço que
não aprende nem a peidar
sem molhar os fundos das calças
e sem arder o rabo
ave velho gabo
no que parecem ser
cem anos de solidão

BH, 030202022; Publicado: BH, 0180102023.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

abri os olhos

abri os olhos
e nasci na manjedoura
com um pouco de palhas me cobri
e mãe de resquardo no pisador
e pai a ressonar na cama
e depois fui para a lama
e não chorei
e pai diz que homem não chora
e quando cresci virei chorão
e mãe também não chorava
e pai só chorou no enterro da vó
e quando irmã casou
e pai era de ferro
e de minério
e de minerais
e de metais
e de pedras preciosas
e pai não vi nunca mais
e guardo vagas lembranças
e tenho parcas recordações
e nem sinto mais saudades
e mãe também já me abandonou
e vivo onde não sei
e não tomo mais banho
e me machuco todo
e bem que podiam pedir
uma eutanásia para mim
e penso que seria a melhor forma
e assim assistidamente pararia de sofrer
e nem seria mais vestígios
ou resquícios nas vertigens de ninguém
e nem nos pesadelos
e nem nos sonhos
e quem sabe se um dia onde não sei onde
encontraria pai
ou encontraria mãe pois tenho certeza
de que me aceitariam do jeito que sou
e mãe sempre é mãe
e pai sempre é pai também
e não me abandonariam uma segunda vez
e se soubesse chorar choraria
e depositaria as lágrimas num altar

BH, 030402022; Publicado: BH, 0170102023.

e não perdoes mais nada não

e não perdoes mais nada não
é que não merece perdão
é reincidente vacilão erra
e permanece no erro
e não retifica
e não ratifica
e torna a errar
e vem pedir desculpas
e não perdoes mais nada não
e por mais que implore
e que se exploda
e sai para lá assombração
e não rezes mais não
e nem ores
ou proses
ou verses
ou faças preces que
não mais apetecem
e já superaram as expectativas das frustrações
e já findaram as esperanças
e não vingaram as sementes
e não geminaram as raízes
e então perdeu a credibilidade
e a palavra
e uns dizem que
até a honra perdeu
e desacreditado com o rabo entre as pernas
vira-latas abandonado enxotado pelo dono que
não quer mais saber de cachorro a latir
e cão a ganir pelos cantos
e se esconde nos escombros
e não espanta nem sombra
e nem vulto
e tem é medo de escuro
e de palhaços
e espantalhos
ou de qualquer outra alegoria
e passa o resto do dia a resmungar
com a alama vazia vadia

BH, 0100802022; Publicado: BH, 0170102023.

num dia vou de hugolino

num dia vou de hugolino
noutro volto de miguel
com fome de antenor
e faquir estoicista de josé
e aí numa noite me compõe a rosa
e noutra a rosinha
e pele da vó conceição
mãe da mãe da mãe
e sede da vó naninha
e lucidez de lourenço
e seriedade de gaspar
e mira de manoelzinho
e formado de antepassados
e de ancestrais
e dos antecedentes do vô donato pai do pai
e da vó madinha mãe do pai
e no rio o saracoteio de lourdes
as quizombas de alzira
e com mais de sete peles
e muito mais de sete vidas gato preto fruto
da árvore genealógica do preto velho nestor
e da árvore da ciência do bem
e do mal conceição moradora infinita do
jardim do éden
e fui o único expulso do paraíso
e não fiz por merecer o regozijo
e exijo prece
e oração para a imperfeição do meu coração
e ergui o castelo de cartas em cima da
fortaleza de areia
e os meus tesouros são as recordações
e as lembranças
e as memórias das glórias vividas nos
tempos na infância das minhas histórias

BH, 070402022; Publicado: BH, 0170102023.

antigamente a coisa mais importante era escrever

antigamente a coisa mais importante era escrever
e hoje é sobreviver
é que vai nos faltar água
e vai nos faltar comida
e lugar para morar
e quando todo o sistema já estiver
totalmente robotizado
o ser que terá menos importância
será o ser humano
e a humanidade perceberá que
a raça humana não precisará mais viver
e quem quiser teimar terá que se escravizar
ou se vender
ou se render
e contra a força controladora ninguém resistirá
e só o poder reinará
e o homem que era o produto do meio
será o meio a gerar o homem que
só será resultado
e depois sobra
e por fim descartado na aritmética
ou na matemática
ou na geometria
sem lugar para morrer
e quem quiser de comer
e quem quiser de beber
e quem quiser de viver
se não puder pagar
terá que se contentar
em migrar nômade peregrino em terras estranhas
a disputar água para as entranhas
a cavar terra com mãos
e unhas a procurar raízes comestíveis
e nem fogo encontrará para cozinhar assar
ou ferver o alimento que encontrar
e de repente se ver canibal
e antropófago a se devorar um
ao outro
e vampiro a beber o sangue ralo
e venoso
um do outro
vudu zumbi

BH, 040502022; Publicado: BH, 0170102023.

domingo, 15 de janeiro de 2023

o que que teria de genial na genealogia

o que que teria de genial na genealogía
e na fenomenologia do espírito que
não seja elegia
e só ode à alegria?
é que a tristeza não tem fim
e a felicidade sim
e já ouvi esta frase em algum lugar por aí
mas a estigmatização continua como se fosse
uma maldição contínua
ou uma marginalização
ou uma bandidagem
ou uma vagabundagem
ou uma vadiagem
ou uma malandragem
e não é nada de genial
ou de colossal
ou de maravilha
e é a vida nua
e crua
e dura de batedor de rua
e de corredor atrás de lucros para sustentar
os senhores que comandam a vida dita moderna
e a velha morte à entrada da porta à latrina
da retrete à sarjeta do bairro nobre
ao gueto da periferia da metrópole
aos bairros do subúrbio
e do mundo civilizado
ao submundo selvagem
ao bas found do trabalho sujo
do underground de vanguarda
ao modernismo que
de moderno não apresenta nada
de mentalidade iluminada
e dum dia para outro
tudo é apagado num mata borrão
e lamentado na esquina
ao estender a mão
e pedir uma propina
é um réquiem
é um resquest in pacem
ou si vis pacem para bellum
e vade retro quo vadis
pois não é vade mecum
e sim à merda
antes de receber na cara
a última pazada de cal salgada

BH, 060202022; Publicado: BH, 0150102023.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

e hoje vivo aos retalhos

e hoje vivo aos retalhos
ou talvez
aos resquícios
e só sei que não vivo
e a engabelar meio mundo
ou ao mundo inteiro fujo da morte mesmo
sem dinheiro
e sem sorte dou um corte no azar como um
bom driblador
e cada dia para mim é um gol
e cada noite uma goleada
e cada madrugada uma vitória expressiva
e acordo campeão do mundo
e artilheiro
e levanto as taças
e os canecos
e os troféus
e finjo que não sou trouxa
e nem bobo
ou tolo
ou besta
e ainda saio por aí a escrever para ganhar
o prêmio nobel de literatura a quem quiser
me oferecer pode ser o poeta que foi
despejado
e agora mora debaixo duma marquise
ou pode ser o rebelde que não aceita a
sociedade
e constrói refúgio debaixo do viaduto
ou abre uma caverna numa lacuna imunda
ou uma loca que mais parece uma cloaca
ou ofertar de remendos em remendos
aos felizes
e de mímicas em mímicas macaco imito os mitos
e faquir não merendo todo dia
e janto noite sim
e noite não
e almoço quando o santo lembra de mim mendigo
e me diga aonde vou
e me diz algo ao meu coração
se amiga não tenho
e amigo não sou
e nem sei donde venho mas a paz me habita
quando jaz em mim a infelicidade
e mesmo que momentânea
e jaz em mim a melancolia
e vem a euforia da alegria pode até ser o
álcool na veia não importa vou abrir a porta
e deixar a tristeza ir embora
e viver sem peso na consciência
e viver sem sentimento de culpa
e viver sem remorso
e viver sem consciência pesada
e viver sem arrependimentos de alma penada

BH, 01301202022; Publicado: BH, 0130102023.

e o povo trabalhador brasileiro

e o povo trabalhador brasileiro
urgentemente
e necessariamente precisa colocar fim
aos políticos fisiológicos com suas políticas
fisiológicas
e que a rir iguais hienas fazem do povo
trabalhador brasileiro carcaça de carniça
de despojo
e tais aves de rapina surrupião o que podem
e o que não podem da trabalhadora nação
brasileira
e entregam aos inimigos direitos
e só deixam deveres como se vivéssemos
numa escravidão
e toda santa eleição os que batem recordes
de votos são justamente os candidatos
mais despóticos
ou mais carrascos
ou mais sanguessugas
ou mais exploradores de mãos de obras
baratas
e desqualificadas
ou enganadores
ou que fazem pouco caso com a situação dos
aposentados
ou dos jovem das periferias
ou dos professores que são mal
remunerados
e desrespeitados pelos estados
e municípios
e país
e pais
e alunos
e demais desrespeitadores que não estão
nem aí para os professores
e a evolução passa por uma revolução que é
a não eleição nunca mais desses lobos
vorazes
e desses cães carniceiros
e desses porcos de chiques chiqueiros
e desses abutres famintos que geram
famélicos
e dessas hienas fominhas que devastam tudo
onde as mãos alcançam
e pregam estado mínimo ao povo que paga
impostos
e se locupletam de todas as regalias
e mamatas
e benesses
e maracutaias do poder onde tudo é pago
por nós o povo trabalhador brasileiro
e que lutamos para nos conscientizar mas
ainda não sabemos como levar a
conscientização a nós mesmos

BH, 01301202022; Publicado: BH, 0130102023.

é hilariante aético neves falar

é hilariante aético eves falar
em institucionalização da prática
entre público
e privado se em mg aconteceu o quê?
será que bebeu de novo?
e deve ter bebido
e o mineiro mais carioca do país que aparece cambaleante no cervanes da prado júnior
a distribuir notas de cem de gorjetas com
dinheiro surrupiado sorrateiramente do
povo mineiro que só o elegeu devido aos
churrascos nas fazendas dos amigos
ruralistas regados com muita cachaça
e muita cerveja gelada
e assim o povo apolítico
e analfabeto político
e omisso do estado
continua a perpetuar no poder
esses políticos fisiológicos
e sem compromissos com as coisas públicas
e com o brasil
ou com a nação brasileira
e quando o povo não pensa
mg padece
e o brasil atrasa
e as riquezas nacionais são delapidadas
e vão por água abaixo a cidadania
e a soberania
e a autonomia
e as liberdades
e os direitos
e temos que acordar para não repetirmos em
todas as eleições esses mesmos erros dessas
mesmas aberrações políticas de elegermos
as mesmas bizarrices que sorridentes hienas
nos desprezam
e nos são indiferentes

BH, 090302022; Publicado: BH, 0130102023.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

em pleno século vinte e um

em pleno século vinte e um
e a nação trabalhadora brasileira se vê
às voltas com movimentos populares
e sociais para uma tentativa de preservar
nossa democracia trabalhista que
o mocorongo da presidência no momento
deseja golpear de morte
e as instituições que embasaram o golpe
na nossa presidenta dilma vanna Rousseff
se ver agora a correr o risco de serem
fechadas por milicos golpistas que querem
manter mamata maracutaias
dos salários astronômicos
e cargos para parentes
e amigos
e influências no estado
e na sociedade
e nunca o país tomou conhecimento
de tantos militares que odeiam o povo
trabalhador brasileiro
e o próprio país dos quais exploram
e desrespeitam até às últimas consequências
ao apoiarem milícias armadas até os dentes
pelo mocorongo genocida presidente que
destruiu a educação
e a ciência
e a tecnologia
e acabou com a saúde
e os planos de vacinas
e com grandes apoios de crentes
e evangélicos armamentistas
e fascistas reacionários
e racistas
e muitas outras mazelas mais
que não combinam com a sociedade
moderna
e livre
e evoluída
e progressista
ou independente
e só a luta
e muita luta
e consciência
o povo da nação trabalhadora brasileira
conseguirá superar essa fase trágica
e de trevas
e terror
e ódio
e mesmo com a justiça a fazer vistas grossas
ao mocorongo genocida breve nos
livraremos do pesadelo
e da famíglia
e das milícias armadas
e das pessoas negacionistas
e das forças armadas despreparadas

BH, 0210802022; Publicado: BH, 0120102023.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

ideias ideias ideias

ideias ideias ideais
quem não as têm não é ninguém
e só se é alguém quando se tem um ideal também
ou um sonho que evita pesadelos
e desesperos
e sonhar é navegar
e navegar é preciso
e viver é o sonho de cada um que carrega
o ideal grávido de ideias mas a pena maior
é que a maioria morre sem realizar nada
e sem viver nada
e só a ter pesadelos a vida toda
e a maioria não alcança a felicidade
ou a razão pura
ou a consciência plena mas
paciência a vida é assim mesmo
e todo dia alguém tem de morrer
para um outro viver
e é a sorte de um
e é o azar doutro
e é a riqueza de um
e a pobreza de muitos
e é a comida para um
e a fome para milhares pois
têm que deixar de comer
para um só matar a própria fome
e assim segue a vida em direção à morte
e se não sabemos viver o certo é que nunca
saberemos morrer
e morreremos sempre em vão
e sem ideias
e sem ideais
e sempre pequenos
e indiferentes
e anônimos
e invisíveis
e não faremos diferença
e muito menos falta
e quando darem por nossas faltas
já estaremos nas cinzas das fornalhas
ou espalhados nas poeiras levadas
pelos ventos vagabundos das estradas

BH, 050502022; Publicado: BH, 0110102023.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

pai com as folhas indecifráveis

pai comas folhas indecifráveis
relvas cheias de caracteres rupestres
e rabiscos de paredes de cavernas
e faias fossilizadas
e pegadas de ancestrais
e vestígios de antepassados
e resquícios de antecedentes
e esqueletos
e caveiras
e ossos envelhecidos
e encardidos pelos tempos idos
e pai a encher as folhagens de todos os tipos de ventos
e de ventanias
e de vendavais
e de temporais
e não para nunca mais
e fico cá do meu canto a observar o velho lá
curvado com as corcundas nas costas
e as corcovas no cangote
e a cacunda de cupin no cacaio
e tento tomar a pena do pai
e fala pera aí
e largo
e volto ao meu recanto entretido com um
velho celular que trava mais que as juntas
enferrujadas do velho quando entravam
mas é o único passatempo que encontro a
rever filmes
e desenhos
e seriados antigos como as coisas da idade da pedra
e da pré-história que o pai tenta legar
à pós-história nas ramagens amarelas que
encontra pelos recintos dos aposentos de
aposentado daqui do pequeno apartamento
que mais parece um barracão de favela onde
a gente espera a morte para zombar da cara dela
e navegar por mares nunca dantes
navegados numa velha caravelas
ou nave dos argonautas
ou nau catarineta mas não somos
marinheiros nem mestres de saveiros
e a água aqui é água de chuva de goteira do banheiro
e sempre ao deus dará que não temos dinheiro

BH, 070202022; Publicado: BH, 0100102023.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

dalguns alguns querem peles

dalguns alguns querem peles
ossos pelos para colecionar como fetiches
doutros sangue para pactos
e ainda acessórios para patuás
e saem pelas madrugadas à caçar fantasmas
atrás de vítimas descuidadas
surrupiam sonos 
roubam osonhos
fecham encruzilhadas
trancam ruas
obstruem pontes
constroem muros muralhas
põem abaixo morros
montanhas de ferro ouro casebres
barracos barracões
nas encostas das veredas
nos secos dos sertões
e as cacimbas sisternas piscinas
e os potes jarras talhas moringas
viram ampulhetas
desertos com areias de rios temporários
antigos templários davam de beber às suas bestas
davam de comer às suas mulas alazões
afiavam nas pedras espadas 
cortavam pescoços infiéis 
saladinos sabinos ladinos 
sabinadas sabidos deixavam de lado
sabedorias
abraçavam alegorias serpentinas
confetes purpurinas 
bailarinas colombinas pierrôs
quartas-feiras de cinzas
ao deixar delegacias ainda em fantasias
povo vadio aos apupos vaias zombarias
esposas a esperar esposos
raros maridos cornos mansos
a esperar as mais libertinas espanholas
megeras meretrizes ocasionais
marinheiros aos cais sem fardas
ou algo mais antepassados ancestrais
antecedentes dos antigos carnavais

BH, 01301202022; Publicado: BH, 090102023.

e a lagoa que parecia o mar

e a lagoa que parecia o mar
está lá do mesmo jeito
e a gameleira que metia medo
e o muro do cemitério que assustava
e o morro da matriz onde aparecia aparições
e os becos das confusões
e as ruas das putas
e os barrancos dos barracos
e casebres
e barracões
e das casinhas de pau a pique
e sapê
e estava tudo lá no mesmo lugar sem tirar
nem pôr
e onde morava dona naninha?
e o beiço apontava a direção
e a rudia na cabeça da equilibrista preta
a equilibrar uma lata d'água
ou um pote
ou uma jarra
ou uma talha
ou uma trouxa de mulher da trouxa
ou bugigangas numa cesta de palha
ou um amarrado de lenhas
ou de varas de taquaras
e todas eram equilibristas
e fuxiqueiras
e faladeiras
e fofoqueiras a murmurar as vidas alheias
ou o marido
ou o namorado
ou o amante
e o pau rolava no morro da caixa d'água
ou no morro dos velhacos 
ou da maria tomba homem
onde é o morro do zig-zag?
e eram facadas pra cá
e pernadas pra lá
e navalhadas na zona
e tiros na noite
e porradas nos botecos
e nas tendinhas
e delegacia
e delegado
e polícias
e todo mundo encarcerado mulher
e homem tudo amontoado
e o polícia a zombar feito um descarado

BH, 0100802022; Publicado: BH, 090102023.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

e sou da antiga de mente de antigamente

e sou da antiga de mente de antigamente
antepassada antecedente ancestral
e sou da antiga ultrapassado retrógrado medieval
e quero impedir abortos de estupros
e quero expor vítimas ao escárnio
e achincalhar quem sofre racismo
e quero ser cristão mas quero
armas nas minhas mãos
e esculachos ódios iras raivas
e quero ser chamado de pessoa do bem
ao ser misógino xfóbico preconceituoso
e quero desprezar as leis de newton
e a teoria da evolução da espécie em pró da
criação anti vacina ciência negacionista
e perdi de vista os tempos nos quais defendi
a terra plana sem me ruborizar de vergonha
e sem me intimidar
e fico até admirado por não ter remorso
ou consciência
ou sentimento de culpa
ou depressão por tanto mal que causei à
nação com a minha religião
e o meu pastor me fez desprezar a cultura
e a arte
e o semelhante
e não aprendi a amar ninguém
nem como a mim mesmo pois
defendo o garimpo predatório na amazônia
em reservas indígenas
e defendo queimadas para beneficiar o agronegócio
e defendo os venenos dos agrotóxicos em
benefícios dos lucros
e não me incomodo nenhum pouco pela vida
dalgum morto
ou a destruição das serras sagradas pelas
mineradoras a usar a água dos mananciais
dos santuários
ou pelas barragens que soterraram quase
quinhentas pessoas vivas
ou pela pandemia que já matou
quase setecentas mil vifas importantes
e não movi nenhum nervo do rosto
e realmente sou o máximo em referência
para a humanidade abominar
no que é de mais moderno
e registro tudo no meu caderno

BH, 0260602022; Publicado: BH, 040102023.

entocado intocável lobo da estepe

entocado intocável lobo da estepe
a uivar para a lua
e de longe os ventos respondem
e as folhagens
e os gravetos que gravam nos ciscos que
são sonetos
e os riachos sorisos de rios que riem
e os regatos miam em ré
e os ribeirões sombrios
e os açudes sossegados mansos
e os espelhados caminhos prateados
e a noite segue inerte para quem não a
conhece mas vibra para quem é de fibra
tem cordas de violinos cavaquinhos violas
ou violões
e poetas vilões roubam riquezas da noite
e engravidam a madrugada que dá à luz
ao dia na estrada
e vampiro o poeta foge para o esconderijo
e rijo dorme teso como se fosse morto
cadáver roto que ninguém quer encontrar
em nenhuma encruzilhada para
encomendar
ou rezar uma missa de corpo ausente
ou fazer uma oração
ou uma prece pueril que seja para que
o defunto não peleja nas brenhas por onde
tem que andar a catar grãos de poeiras para
fazer picumãs
e forrar os forros
e os assoalhos das casas velhas
e tudo é velho quando o poeta é velho
e por mais que façam uma boa maquiagem
o presunto parecerá vencido
e com jeito de carne estragada

BH, 0100802022; Publicado: BH, 040102023.

resquícios com vestígios de vertigens de mim

resquícios com vestígios de vertigens de mim
aquela montanha é minha não preciso
transpô-la sou aquela pedra no meio do
caminho não necessito arredá-la do meu
universo que me pertenece
e autista possessivo possesso não o divido
com ninguém nem com os deuses
e nem com os anjos
e nem com os demônios das minhas
adversidades
e detalhes de retalhos de mim
e das incongruências da minha vida
e das reminisceências da minha morte
e premonições dos meus sonhos
e dos meus pesadelos
e do meu destino cruel
e malgrado meu que malogrado
não sou um bem-aventurado
e não fui bem-vindo à minha aventura que
é um precipício aberto numa fenda
duma rocha maciça
ou dum abismo inoxidável debaixo da ponte
de corda bamba
e de pinguela de teia de aranha que
oscila na imensidão ó coração de cordeiro
ponha a cabeça no cepo
e o carrasco quer descer o machado
ó sombra do que fui outrora na aurora
e o ocaso me devora nos meus restos mortais
ó estrelas apagadas que
como sou a luz já é extinta
ó cosmos tão infinito quanto a minha inexistência
ó palavras fenecidas
ó vãs esperanças de ter atenção
do azul do céu azul
onde ter o que tem esse pássaro que voa
e não se importa com o que tem 
e leva-me minhas cinzas cativo
e o vento açoita-me
e dispersa-me como uma relva daninha seca
ou uma palha no redemoinho
ó penugens do que era
ó harmonia da filarmonia da sinfonia
dessa orquestra universal que não tive

BH, 0200502019; Publicado: BH, 040102023.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

faças alguma coisa para a sociedade mas o quê?

faças alguma coisa para a sociedade mas o quê?
faças alguma coisa para a comunidade mas o quê?
ora já sei entrarei numa academia
e malharei a bunda
e inflarei as nádegas
e bombarei de glúten os glúteos
e terei centenas de centímetros de rabo raba
e milhares de visibilidades likes curtidas
e compartilhamentos
e mostrarei as coxas
e a barriga malhada de tanquinho
e os braços injetados
e as costas largas saradas mas
o que farás em benefício da coletividade?
as academias estão abarrotadas
e as bibliotecas vazias
e virarei lutador de programas apelativos
e ganharei cinturões
ou participarei de confinamentos em casas
ou fazendas
ou de supostos perdidos pelados em matas a
vencer limites desafios
e virarei celebridade
e serei famoso convidado de honra
de eventos festas banquetes
e estarei em alas de vips
e com paparazzis aos meus pés
e luzes de spots
e milhões de cliques de máquinas
fotográficas
ou de celulares de última geração
e farei comerciais
anúncios em tvs
e jornais
e estarei em todas as plataformas
e não haverá um que não terá inveja de mim
e orgulho
e quererá fazer o que fiz
e serei referência
e serei exemplo de meritocracia
e quebrarei paradigmas
e serei candidato a algum cargo eletivo
e o povo me amará
e serei bajulado
e laureado
e farei palestras de como vencer na vida
pelos próprios esforços

BH, 050502022; Publicado: BH, 030102023.

agora que temos na presidência da república

agora que temos na presidência da república
federativa do brasil um presidente
homofóbico racista misógino o que será
daquele brasil cristão republicano
democrático?
e o que será do país trabalhista
trabalhador adepto do trabalhismo
com um governo subserviente ao capital
e entreguista ao mercado
e anti nacionalista?
a nossa juventude que já não tinha
perspetiva de futuro agora se ver às voltas
com os ataques à educação à saúde
e sabotagem às ciências ao desenvolvimento
e com uma equipe administrativa que quer
acabar com as aposentadorias
e com os aposentados
e nada mais barra a destruição da cidadania
e o acinte à soberania
e o achincalhe ao povo com o fim dos
direitos sociais o vilipêndio aos cofres
públicos tomados de assaltos por uma
família de maníacos milicianos desesperados
que querem se perpetuar no poder
e para isso cooptaram o executivo
e o legislativo
e o judiciário
e os meios de comunicação
e os militares
e polícias federal
e civl
e todos atônitos com as correntezas de
benesses não enxergam o saco de maldades
contra o povo mais humilde
e os desprivilegiados
e os mais vulneráveis
e mata-se pretos
e pobres
e índios sob às vistas das organizações de
controle nacionais
e internacionais que até condenam mas
nada podem fazer já que a burguesia
e a elite
e os rentistas só têm a lucrar com tais
descalabros
e assim sustentam a plutocracia
e abraçam a aristocracia
e mandam às favas os escrúpulos numa
repetição cruel da história mais recente do brasil
e só o povo em massa mesmo
e unido à juventude rebelde
e à classe trabalhadora
e aposentados podem colocar um freio
nessas diligências desgovernadas
e precisamos ser rápidos antes que seja
tarde demais ao nosso país

BH, 0240502019; Publicado: BH, 030102023.

cadê a inspiração que pensei que tivesse

cadê a inspiração que pensei que tivesse
e cadê a meditação a concentração?
e cadê as coisas que pensei que me engrandeciam?
a poesia
o poema
o soneto do qual sou neto
e cadê a lucidez de espirito a consciência?
e cadê a luminância a intuição?
e cadê a percepção a fé
a coragem a audácia a ousadia?
e cadê os dons?
e pensei que era cheio de dons universais
e dons espirituais
e que nada nunca passei dum reles mortal
enganador enganado fingidor fingido
e contumaz mentiroso que quanto mais
pensa em falar a verdade mais mente
escancaradamente
e cadê a mente iluminada privilegiada?
e observa que não passou
duma velha criança a fazer velhacarias
de velhacos
e patifarias de patifes
e cadê a velhice sadia
de mente sana in corpore sano?
se só o que faz é um aqui jaz num epitáfio
numa sepultura solitária de solitária duma
prisão de alta periculosidade cujos
prisioneros são todos mortos vivos
e vivos mortos zumbis modernos de vodus
sem sonhos
e tudo que tocam viram pesadelos
e não saem dos labirintos
e das desistências
e das inconlusões
e latejam nas maldições das maldades eternas
e nas estigmatizações
e nas tatuagens dos tempos
e nas falas dos ventos sem respostas para os enigmas
e sem resultados para os mistérios
e sem soluções para os problemas
e sem luz para os olhos
e sem tato para os dedos das mãos
e sem sentidos
e sentimentos
são tempestades de tormentos

BH, 0100102022; Publicado: BH, 030102023.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

aquela montanha é minha mãe não pariu um rato

aquela montanha é minha mãe não pariu um rato
e quando aquela montanha não era minha mãe
minha mãe é aquela estrela que não apaga o brilho
e mesmo com o passar do tempo da eternidade junto com o tempo da imortalidade
e ainda acompanhado com o tempo da posteridade a luz
e o brilho daquela estrela só aumentam
e vão deixar para trás o infinito que galopa à
velocidade da luz para tentar alcançar
dimensão tão incalculável
e num complô se juntam todas as dimensões
e a estrela se transfigura num complexo
composto que parece ser um aglomerado
de bilhões de estrelas
e é só a minha mãe a me ensinar a álgebra
e a aritmética
e a matemática
e as genealogias dos fenômenos
e as genialidades das genealogias
e as conjecturas das coisas com suas causas
e efeitos
e sigo minha mãe montanha
e sigo minha mãe estrelas
e aprendo cada vez mais pois estamos juntos em espírito
e em verdade
e em almas
e em entidades
e chega sempre para mim com seus
conselhos cósmicos
e suas orações de tempestades solares
e seus salmos de furacões universais
e seus hinos de louvores que ecoam nos
vácuos tubulares
e são ouvidos por distâncias
e mais distâncias de anos-luz
a derrubar desfiladeiros
e paredões
e a liberar a luz da liberdade no mais
opressor pensamento
que queira a mortalidade

BH, 0210102022; Publicado: BH, 020102023.