quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

resquícios com vestígios de vertigens de mim

resquícios com vestígios de vertigens de mim
aquela montanha é minha não preciso
transpô-la sou aquela pedra no meio do
caminho não necessito arredá-la do meu
universo que me pertenece
e autista possessivo possesso não o divido
com ninguém nem com os deuses
e nem com os anjos
e nem com os demônios das minhas
adversidades
e detalhes de retalhos de mim
e das incongruências da minha vida
e das reminisceências da minha morte
e premonições dos meus sonhos
e dos meus pesadelos
e do meu destino cruel
e malgrado meu que malogrado
não sou um bem-aventurado
e não fui bem-vindo à minha aventura que
é um precipício aberto numa fenda
duma rocha maciça
ou dum abismo inoxidável debaixo da ponte
de corda bamba
e de pinguela de teia de aranha que
oscila na imensidão ó coração de cordeiro
ponha a cabeça no cepo
e o carrasco quer descer o machado
ó sombra do que fui outrora na aurora
e o ocaso me devora nos meus restos mortais
ó estrelas apagadas que
como sou a luz já é extinta
ó cosmos tão infinito quanto a minha inexistência
ó palavras fenecidas
ó vãs esperanças de ter atenção
do azul do céu azul
onde ter o que tem esse pássaro que voa
e não se importa com o que tem 
e leva-me minhas cinzas cativo
e o vento açoita-me
e dispersa-me como uma relva daninha seca
ou uma palha no redemoinho
ó penugens do que era
ó harmonia da filarmonia da sinfonia
dessa orquestra universal que não tive

BH, 0200502019; Publicado: BH, 040102023.

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