segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

quando se é jovem

quando se é jovem
pega-se numa folha de papel
e numa caneta
e do nada pingam-se letras na face da folha
e sem se saber donde palavras misteriosas
surgem no rosto do papel
e são linhas indefinidas
ou desconhecidas
e são linhas além das paralelas
e que estão fora do sistema
ou estão fora do universo
e o jovem rebelde entra em febre
e febril brilha mais que a ursa maior
e torna pequeno o aglomerado de constelações
e insignificante o conglomerado de estrelas
através de poesias infinitas
e poemas eternos
e tudo quando se é jovem é hiperbólico
e alucinado
e ansiedade
e desassossego pois a genialidade pede pressa
e não para para viver
e depois que passa tudo torna-se insuportável
e aquela vida ávida só quer a morte
e quando a morte demora surgem as lamúrias
e as lamentações
e as melancolias
e as ladainhas em sussurros
e as orações em cicios
e as rezas em murmúrios
e o tempo então para
e tudo para
e o jovem agora é um pária
ou um parasita
e não suporta uma letra
e não levanta uma palavra nem do chão
e sucumbe moribundo
ou meditabundo no fundo dum quarto
imundo donde a luz fugiu
e o ar sumiu
e o frescor juvenil evaporou-se
e só um ardor ardido de aqui jaz um
molambo moleque antes voraz em vida
e com toda a pressa de viver

BH, 0290402019; Publicado: BH, 0230102023.

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