terça-feira, 3 de janeiro de 2023

cadê a inspiração que pensei que tivesse

cadê a inspiração que pensei que tivesse
e cadê a meditação a concentração?
e cadê as coisas que pensei que me engrandeciam?
a poesia
o poema
o soneto do qual sou neto
e cadê a lucidez de espirito a consciência?
e cadê a luminância a intuição?
e cadê a percepção a fé
a coragem a audácia a ousadia?
e cadê os dons?
e pensei que era cheio de dons universais
e dons espirituais
e que nada nunca passei dum reles mortal
enganador enganado fingidor fingido
e contumaz mentiroso que quanto mais
pensa em falar a verdade mais mente
escancaradamente
e cadê a mente iluminada privilegiada?
e observa que não passou
duma velha criança a fazer velhacarias
de velhacos
e patifarias de patifes
e cadê a velhice sadia
de mente sana in corpore sano?
se só o que faz é um aqui jaz num epitáfio
numa sepultura solitária de solitária duma
prisão de alta periculosidade cujos
prisioneros são todos mortos vivos
e vivos mortos zumbis modernos de vodus
sem sonhos
e tudo que tocam viram pesadelos
e não saem dos labirintos
e das desistências
e das inconlusões
e latejam nas maldições das maldades eternas
e nas estigmatizações
e nas tatuagens dos tempos
e nas falas dos ventos sem respostas para os enigmas
e sem resultados para os mistérios
e sem soluções para os problemas
e sem luz para os olhos
e sem tato para os dedos das mãos
e sem sentidos
e sentimentos
são tempestades de tormentos

BH, 0100102022; Publicado: BH, 030102023.

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