quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

assim que o sol passar por aqui

assim que o sol passar por aqui
deixarei tudo que estiver a fazer
e sigo o caminho que o sol me iluminar
e quando a noite chegar não ajuntarei
pedras nas estradas para travesseiro
e muito menos para cama
e a sonhar seguirei a senda que o raio da lua
refletir em mim
e no rio que margeia o jardim
e se a noite não tiver luar não faz mal
tenho uma estrela guia por simpatia
e tenho uma constelação por figa
e uma galáxia como trevo da sorte
e andarei sem medo pelo vale das sombras
e da morte
e à beira-mar ouvirei o mar que ouvia
quando era menino na concha de caramujo
que ficava em cima da mesinha
da sala da casa da minha tia
e sem saber de nada descobri a poesia
e nunca mais quis saber
nem da noite
nem do dia
e passei a procurar nos poemas esse ruído
que para mim era dilema
quando me vi pela primeira vez a me gladiar
com as ondas do mar a quebrar no meu peito
e nunca mais deixei de me apaixonar
pelas lágrimas de iemanjá
e minha mãe me chamava
e meu pai me chamava
menino vem estudar mas
o bem-te-vi estava ali
e o beija-flor parado no ar
e o sabiá a gorjeiar
e as tamarindeiras da praça
e os pés de imbus
e as jaqueiras
e os coqueiros
e os cajueiros
e as palmeiras
e as gameleiras
e as amendoeiras d'ouro
e a chuva que vinha
e as gentes corriam para a chuva não as pegar
e a meninada corria para a chuva para se molhar
e mamãe papai não quero profetizar
e vou é aprender a poetar

BH, 01401202022; Publicado: BH, 0180102023.

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