quinta-feira, 30 de junho de 2011

Agora vedes e Fernando Henrique Cardoso; RJ, 0220501997; Publicado: BH,0300602011.

Agora vedes e Fernando Henrique Cardoso,
Quer processar João Pedro Stédile; ora
Vedes só; e gostaria de saber, quem é
Que vai processar Fernando Henrique
Cardoso? quem é que vai processar Marco
Maciel e Antonio Carlos Magalhães? José
Sarney e Jarbas Passarinho? Luis Eduardo
Magalhães e Antonio Kandir? quem é que
Vai processar Luis Carlos Bresser Pereira
E Pedro Malan? a maioria do Senado e da
Câmara dos Deputados? a burguesia e a
Elite? os verdadeiros culpados, de todo o
Nosso desequilíbrio socioeconômico?
Quem é que vai processar essa corja de
Ladrões safados, corruptos e vagabundos?
Quem é que vai processar os hipócritas que
Vivem às custas da fome e miséria e pobreza
Da maioria do povo brasileiro? toma vergonha
Na cara Fernando Henrique Cardoso; tomara
Que tomes um pau bem dado pelo povo do
João Pedro Stédile: viva a Reforma Agrária.

Reforma Agrária já; RJ, 0220501997; Publicado: BH, 0300602011.

Reforma Agrária já,
Ouça o grito do campo,
O camponês sem terra,
Clama por justiça e trabalho;
O êxodo rural está a exterminar,
A maioria do povo que trabalha
Na agricultura do país;
Reforma Agrária já,
Chega de enrolação e conversa
Fiada; o governo tem que
Devolver, tudo que roubou,
Do trabalhador rural; chegou a
Hora da verdade, da foice e da
Enxada; chegou a hora, do carro
De boi, e do semeador; vamos
Unir o grito da cidade, com o
Grito de terra dos trabalhadores
Rurais deste país;
Reforma Agrária já,
E fim de papo; fora com esse
Governo corrupto, e que não
Quer saber de fazer:
Reforma Agrária já;
Fora com a burguesia predatória.

Que pena e vou chorar; BH, 0260501999; Publicado: BH, 0300602011.

Que pena e vou chorar,
Não sou uma árvore,
Não tenho tronco,
Nem galhos e nem folhas;
Sou afilo, não sou uma flor,
Não tenho caule, nem pétalas,
Perfume e pólen, néctar e fragrância;
Só me resta chorar; não vivo numa
Mata, numa floresta, bosque ou
Jardim; coitado de mim, não sou
Capim, uma grama verde, um capim
Colonial; e quero afiliar-me,
Associar-me à uma sociedade,
Ou corporação que transforme,
As pessoas em plantas, folhas e flores;
Quero filiar-me a uma entidade, que
Transforme a humanidade, em um
Belo jardim, um pomar cheio de
Árvores; e a afiliação deve ser geral,
Com todo ser humano a querer se
Transformar, numa flora natural;
Cada uma mais perfeita, cada uma
Mais bela, com mais perfume,
Com mais sabor que a outra;
Não vou chorar mais, não;
Uma abelhinha voou rente ao
Meu olhar; será que ela confundiu-me
Com alguma rosa?

A pior falha da humanidade; BH, 0250501999; BH, 0300602011.

A pior falha da humanidade,
É a falta de amor,
A falta de paz,
E todas as mazelas,
Que as guerras podem trazer;
A humanidade sabe e conhece,
Todo sofrimento,
Choro e lágrimas,
Que a guerra causa,
Aos semelhantes;
Porém, desde a criação da humanidade,
E não vive sem a guerra,
Não sabe e nem quer,
Viver sem a guerra,
E mostra que não sabe e
Nem conhece tudo;
E até parece que a guerra,
É bem mais importante,
Que a própria existência humana;
E a nossa pior falha,
É justamente essa,
A disseminação da guerra,
A destruição que causa,
Ao nosso meio, ao meio ambiente,
E o terror que espalha,
Às crianças, aos lares, aos homens,
Mesmo àqueles,
Que propagam a guerra;
Quando era menino aprendia,
Que a paz viria, no dia em
Que a humanidade caísse
De joelhos perante Deus,
O mal iria acabar, e que só
A fé e a oração evitariam a guerra.
E não é o que acontece.

Não consigo imaginar nada; RJ, 0220501997; Publicado: BH, 0300602011..

Não consigo imaginar nada,
Não vai dar mesmo certo,
Minha cabeça fundiu derretida,
E faliu de vez também;
E estou sem inspiração sublime,
Gostaria de poder escrever algo,
Que fosse útil a alguém vivo
E de pensar algo nobre
Que, ser humano algum talvez,
Jamais teve a ousadia lúcida,
De pensar, claramente sério,
Para abrir fronteiras abissais,
Intransponíveis no passado,
E apresentar hoje desvendadas
No tempo, como veias abertas,
Aortas escancaradas, a jorrar
Cachoeiras de sangue, de poemas
Desesperados, que se debatem,
Em plana era moderna, nesta
Época atual, de internautas,
Vanguardistas argonautas, e todos
Outros nautas, e os muitos nautas,
Sem nada que possa aproveitar de
Seus cérebros eletrônicos que,
Desbancam velhas cabeças
Carcomidas, cheias de cabelos e
Piolhos e sarnas, donde fluem
Pérolas raras que, todos os Deep
Blue juntos, não são capazes de
Formar; chamai-me o carrasco
Agora, ponhais minha cabeça no
Cepo, vivai com os vossos
Computadores, que vou-me embora
Com putas dores de cabeça,
Que me dais cronicamente.

Guerra Junqueiro, Regresso ao Lar; BH, 0300602011.


Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?...
Há trinta?...
Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me eu lembrar!...
Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
Canta-me cantigas de me adormentar!...
Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...
Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...
Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...
Canta-me cantigas manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a morte, em breve, ma vier buscar!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bob Dylan, It Ain't me babe; BH, 0290602011.







Go' way from my window,
Leave at your own chosen speed.
I'm not the one you want, babe,
I'm not the one you need.
You say you're lookin' for someone
Never weak but always strong,
To protect you an' defend you
Whether you are right or wrong,
Someone to open each and every door,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
Go lightly from the ledge, babe,
Go lightly from the ground.
I'm not the one you want, babe,
I will only let you down.
You say you're lookin' for someone
Who will promise never to part,
Someone to close his eyes for you,
Someone to close his heart,
Someone who will die for you an' more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
Go melt back into the night, babe,
Everything inside is made of stone.
There's nothing in here moving
An' anyway I'm not alone.
You say you're looking for someone
Who'll pick you up every time you fall,
To gather flowers constantly
An' to come every time you call,
A lover for your life an' nothing more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe

Estou obstruído; RJ, 0220501997; Publicado: BH, 0290602011.

Estou obstruído,
Impedido plenamente,
De existir e viver;
Sem amor e sem causa,
Sem paz e sem razão,
Amargurado e infeliz,
A felicidade não habita,
O meu coração;
Meu ser negro e opaco,
Não deixa que a luz,
Passe por mim;
Minha vida apagada,
Vale menos que um toco de vela;
Quem se aproxima de mim,
Logo se afasta,
Ao sentir que,
Não sou útil à humanidade;
Por isso vivo neste esgoto,
Nesta sarjeta interior;
Este gueto que é a minha mente,
Cobriu meu pensamento de andrajos;
Trilho meu caminho,
Coberto por seixos,
A pisar em espinhos;
Caminho tortuoso e duro,
Que nem Jesus Cristo,
Traçou via tão cruel;
E de qualquer maneira,
Que Ele tenha traçado,
Ele era Deus,
Filho de Deus,
E, nem homem sou.

Meu coração é muito afetivo; BH, 0270701999; Publicado: BH, 0290602011.

Meu coração é muito afetivo,
E tudo que for referente e que,
Diz respeito a afeto quer
Tomar conhecimento; meu
Coração é muito afeiçoado,
Muito afetuoso, e tenho até
Vergonha dele; parece
Coração dum banana; não é
De pedra, não é de aço, não é
De ferro; é um coração de
Manteiga; tem muito afeto
Dentro dele, o que o faz chorar
À toa e a mim também; e que o
Faz ter muito sentimento de
Amizade, carinho e afeição;
Tenho pena do meu coração;
Muito carinhoso, e qualquer
Affaire, qualquer acontecimento
Ou questão, que apaixona ou
Escandaliza de público ou não,
Qualquer caso amoroso, abala
Este meu coração; deixa-o
Prostrado, lançado por terra,
Desprovido e despreparado,
À mercê do vendaval, da
Tempestade e da ventania; e
Não há rochedo, não há terra
Firme, onde possa lançar
As suas raízes; meu coração
É assim; assim é meu coração.

E a fé?; BH, 0250501999; Publicado: BH, 0290602011.

E a fé?
Porque não falar da fé?
Duas letras: efe e e;
Uma só sílaba: fé;
Ai daquele que não tiver fé;
O que será do homem?
O que será da humanidade?
O que será do universo?
Sem a fé?
A fé cura a alma,
E fortalece o espírito;
Remove montanhas,
E abre os oceanos,
Deixa seco o leito
Dos mares, por onde
Se pode andar;
A fé ressuscita, dá fôlego,
Coragem e destemor;
A fé vence o inimigo e
Derrota a maldade,
A mentira e a falsidade,
A pobreza e a miséria;
Com fé tiramos da terra leite,
Da poeira mel
E da rocha água;
Deixamos de rastejar,
Andamos com as próprias pernas,
Traçamos o próprio destino;
Isto é a fé.

Preciso aprender a sofrer; RJ, 0220501997; Publicado,: BH, 0290602011.

Preciso aprender a sofrer,
Tão covarde e medroso,
Que qualquer sofrimento,
Põe-me abaixo;
Preciso aprender a ser
Solitário, um lobo sozinho,
A vagar pelos prados; um
Leão ferido, sem alma à
Vista, que lhe queira curar;
Preciso aprender a padecer,
A morrer todo dia, a perecer
Toda noite e amanhecer podre,
Largado em cima duma maca
De mesa de dissecação, a sofrer
A autopsia, ainda consciente,
Apesar de estar em adiantado
Estado de putrefação;
Preciso aprender a passar por
Isto; contentar-me em dividir
A lavagem que os porcos
Do chiqueiro, se recusaram
Em comer; alimento-me então,
Dos meus próprios vermes;
Tiro das minhas feridas, os
Bichos que saciam minha fome;
Mato minha sede, com o meu
Próprio sangue venoso.

Como posso falar de coisas belas; RJ, 0220501997; Publicado: BH, 0290602011.

Como posso falar de coisas belas,
Saudáveis, amor, paz e união; ou
Falar de felicidade, harmonia e
Irmandade: de um lado vejo a
Burguesia, os abastados e
Milionários, a elite, seus filhotes
E sustentadores; e do outro lado,
O que vejo? vejo o povo, os sem
Teto e sem terra; os sem alimento
E sem educação; e de que lado fico?
Fico do lado dos marginais, das
Prostitutas, homossexuais, oprimidos;
Fico do lado dos explorados,
Torturados, sem saúde, e prego
Então a mensagem, vamos inverter
O quadro: colocar a elite e a burguesia
Em nosso lugar, e irmos todos juntos
Para o lugar deles; bater de pau neles,
Acabar com a burguesia e a elite;
E criar um povo rei, um povo
Soberano, sublime e justo.

A melhor forma de afeminar-se para quem quer; BH, 0270601999; Publicado: BH, 0290602011.

A melhor forma de afeminar-se para quem quer,
É efeminar-se, e não o aferente que conduz o
Homem a esta aférese, que é a perda dum ou
Mais sons, no início duma palavra, e nem na
Afinação da voz; e a afenção só é feita por quem
Entende o assunto, o aferido profissional; o que
Afere, o que vai aferir, conferir com seus
Respectivos padrões; e assinalar na escala, marcar
Uma conferência, para estudar o assunto, avaliar
O timbre, comparar o tom e o que for aferível,
À voz do indivíduo, deixar a flor desabrochar;
Pois não adianta aferrar, nem prender com ferro,
Agarrar pelos colarinhos, segurar fortemente
Pelos pulsos; ancorar a alma no fundo do mar,
Arpoar o coração com arpão, fincar o punhal
No crânio; agarrar-se à uma teoria, apegar-se
À uma tese, aferretar, marcar com ferrete, e
Muito menos estigmatizar o iniciante; aferretear
A vontade do cujo, que quando a voz afina,
Pode ser, mas nem sempre é o sinal, que
O bicho vai mudar de lado.

Para aferventar o espírito; BH, 0270601999; Publicado: BH, 0290602011.

Para aferventar o espírito, e
Dar uma ligeira fervura,
Na vida e na alma; para
Excitar a mente apagada, e
Apressar o caminho,
Em busca das respostas
E das soluções; para
Alvoroçar o cérebro,
Que quer se prender,
Que quer se aprisionar,
Nas masmorras das correntes
Das algemas dos cepos do passado;
Para fluir com sangue novo e fresco, e
Furar com ferrão, e
Picar na ponta da faca, e
Espicaçar com facão,
Toda ideia diabólica,
Todo ideal obscuro,
Que queira tirar o mundo,
Do caminho da salvação e
Afligir até às lágrimas,
Os espalhadores do terror e sofrimento, e
Aferroar com pregão inoxidável,
Com cravo e marreta,
Para deixá-los padecer,
Sem água e pão; e
Para enxergar além do horizonte,
O verdadeiro azul do céu,
O caminho mais curto,
Para transpor o abismo,
Circular a montanha,
Que a nossa pequena fé,
Não vai fazer remover do lugar;
E no final, o desterro com aferro,
Será o preço que cada um,
Pagará por teimar,
Em não querer se integrar.

Sammy Davis Jr, I've gotta be me; BH, 0290602011.


Whether I'm right or whether I'm wrong

Whether I find a place in this world or never belong

I gotta be me, I've gotta be me

What else can I be but what I am

I want to live, not merely survive

And I won't give up this dream

Of life that keeps me alive

I gotta be me, I gotta be me

The dream that I see makes me what I am

That far-away prize, a world of success

Is waiting for me if I heed the call

I won't settle down, won't settle for less

As long as there's a chance that I can have it all

I'll go it alone, that's how it must be

I can't be right for somebody else

If I'm not right for me

I gotta be free, I've gotta be free

Daring to try, to do it or die

I've gotta be me

I'll go it alone, that's how it must be

I can't be right for somebody else

If I'm not right for me

I gotta be free, I just gotta be free

Daring to try, to do it or die

I gotta be me






terça-feira, 28 de junho de 2011

Penso que hoje; BH, 0250501997; Publicado: BH, 0280602011.

Penso que hoje,
É dia vinte e cinco de maio
E estava a pensar,
Que era vinte e quatro;
Perguntei à minha sobrinha:
Quanto do mês é hoje?
E respondeu-me:
Vinte e três;
Logo, segunda, vinte e quatro;
E hoje, terça feira, vinte e cinco;
Agora percebo o que está certo;
Não tenho mais dúvidas;
Já localizei-me no tempo,
Já localizei-me no espaço;
Estou em Belo Horizonte,
Capital de Minas Gerais;
A esperar uma oportunidade,
De colocar à luz do dia,
Tudo que já criei, se criei tudo;
Nestes quarenta e quatro anos,
De existência, e se encontrar,
Pelo menos um ledor,
Neste imenso Brasil,
Darei-me por satisfeito;
Darei-me por pago;
Pois tenho que reconhecer,
Que não sou nenhum mago,
Não sou nenhum santo,
E nem sei fazer milagres;
E lidar com a escrita, 
Tem que ser uma coisa ou outra.

O mar soprou; RJ, 0230501997; BH, 0280602011.

O mar soprou,
Sobre nosso amor,
A brisa mais fresca,
Que a noite de verão,
Poderia ter;
Na hora exata,
Em que recebia,
Em minha boca,
O beijo cheio de desejo,
De tua deliciosa boca,
Ávida de beijo;
Melhor não poderia ser,
Passar assim a noite,
Juntinho de ti;
Agarradinhos à beira-mar,
Sem nada para separar,
Sem nada para perturbar;
Só no ouvir do vai e vem,
Das ondas do mar,
Que vêm espiar,
A brincar com a noite,
Nesta alegre canção,
De embalar amor.

Estou tão fora do tempo; BH, 0240501999; Publicado: BH, 0280602011.

Estou tão fora do tempo,
Tão deslocado do espaço,
Que nem sei que dia é hoje;
Marquei no papel, vinte e
Quatro de maio de mil
Novecentos e noventa e
Nove; porém, não tenho
Como confirmar, que dia é
Hoje; espero que seja, vinte
E quatro de maio de mil
Novecentos e noventa e
Nove, mesmo, para ficar
Tudo certo; se não for,
Que desculpe-me o leitor,
Se um dia houver um que
Faça questão, mas não
Vai ficar a saber, quanto é
Hoje do mês; terça-feira,
E sei que é, pois ontem
Foi segunda, e antes de
Ontem foi domingo; estou
Tão fora do tempo, tão
Fora de época, de era e de
Moda, que nem sei, qual é
O meu papel, nesta vasta
Engrenagem que move a
Humanidade, em busca do
Amor, da felicidade, da paz
E da razão; torço com o fim
Das guerras e da perdição.

A última folha da vida; RJ, 0280501997; Publicado: BH, 0280602011.

A última folha da vida,
Acabou de virar,
A última página do livro,
Que conta a trajetória,
Dum espermatozoide,
Em busca duma consolidação,
Num mundo normal,
Com guerras e guerrilhas,
Terrorismos e sequestros,
Fome e miséria;
E tudo de normal,
Que uma humanidade,
Precisa passar a sentir;
A última gota foi pingada,
Pode até fecundar,
Formar um ser,
Cheio de complexos e problemas;
Vai herdar todos os temores,
Todos os medos e covardias,
De toda a raça humana,
Que sobrevive neste mundo;
Pode até ser clonado,
Pode até ser de proveta,
De tubo de ensaio,
E tudo mais;
É a última molécula de ar,
Dentro do pulmão;
É a última gota de sangue,
Dentro do coração;
Foi tudo lavado,
É tudo novo,
Colocado de plástico;
Acabou-se o temor humano,
Agora só humanóides,
Sem medo de céu e
Sem medo de inferno:
É a última folha da vida.

E só sei fingir e só sei simular; BH, 0270601999; BH, 0280602011.

E só sei fingir e só sei simular,
A verdade não me habita, e
A mentira é o meu lugar; só
Sei abalar, causar doença, e
Atingir as pessoas, atacar
Todos aquelas que querem
Ajudar-me, me tirar das
Sombras; meu órgão não
Transmite saúde, meu estado
É péssimo; e não sei agir com
Naturalidade; só sei adotar
Maneiras pedantes, adotar
Atitudes grosseiras; posto-me
E expresso-me de modo
Exagerado; penso que sou
Um bom ator; o meu papel é
Afetar as pessoas, principalmente
Aquelas que demonstram comigo,
Uma certa afetividade; a minha
Afetação é que é o meu mal;
O meu pedantismo, a minha
Presunção; e o pior é que sou um
Cego, um ex-artista amador; não
Sei enxergar-me, ver-me, olhar-me
E sinto aferrolhar meu coração, ao
Fechar-me por dentro com ferrolho,
E guardar bem dentro de mim,
Os sete pecados capitais; guardar,
Igual se guarda dinheiro, as dez
Faltas condenadas, nos Dez
Mandamentos.

Estamos aqui; BH, 0280401999; Publicado: BH, 0280602011.

Estamos aqui,
Na Rua Epaminondas Moura e Silva,
Número 86, fundos, Planalto, BH, MG,
Eu e o Lucas meu filho;
Nazaré saiu pra procurar emprego,
Felipe foi ao colégio,
Yaznayah também;
Como ainda não tenho nada para fazer,
E não encontramos escola para o Lucas,
Ficamos os dois em casa;
Ontem ele extraiu no dentista,
Um dente careado;
Agora vive a zanzar pela casa,
Casa não, porão, onde tudo umedece;
Quase todos os meus livros mofaram
Ou foram furados por traças;
Vendi alguns bons para beber umas;
Entra numa porta,
Sai na outra,
Vai à cozinha,
Vai ao banheiro;
Assusta as moscas,
Mexe e remexe nas coisas;
Dois solitários;
O céu está nublado,
Mas sem jeito de chuva;
No fogão uma panela de feijão,
Ferve para o jantar;
Lavei alguma louças,
Li um pouco,
E agora escrevo estas parcas linhas,
A tentar banir o tédio,
Que quer se apoderar,
De minha alma.

Quando a porta se abrir; RJ, 0270501997; Publicado: BH, 0280602011.

Quando a porta se abrir,
E a luz passar por mim,
Como um raio x,
Os obstáculos que se tornam,
Nossos sofrimentos diários,
Se transformarão,
Em brincadeiras de crianças;
Não mais terei tormentos,
Tempestades, nem as naturais;
Nada de furacões e ciclones,
Nada de maremotos e terremotos;
Só esperança e bonança;
Nada de tromba d'água,
Frente fria e ressaca;
Enchente de lágrimas,
E gritos de lamúrias;
Deixa só a porta se abrir,
Escancarar-se à minha frente,
E jogarei ladeira abaixo,
Todos os empecilhos,
Que atrasam a vida,
Que a gente leva;
Mais um pouco de paciência,
Mais um pouco de tolerância;
Já me sinto banhado,
Por uma luz diferente,
Uma luz que vem de dentro
Da escuridão interior;
Sinto-me livre,
Leve e solto, feito a neve,
Que cai macia de madrugada,
A deixar as pessoas mais unidas;
Mais ligadas em intermináveis
Noites de amor;
Quando a porta se abrir,
Deixa só a porta se abrir.

Guerra Junqueiro, A benção da Locomotiva; BH, 0280602011.

A obra está completa.
A máquina flameja,
Desenrolando o fumo em ondas pelo ar.
Mas, antes de partir mandem chamar a Igreja,
Que é preciso que um bispo a venha baptizar.
Como ela é concerteza o fruto de Caim,
A filha da razão, da independência humana,
Botem-lhe na fornalha uns trechos em latim,
E convertam-na à fé Católica Romana.
Devem nela existir diabólicos pecados,
Porque é feita de cobre e ferro; e estes metais
Saem da natureza, ímpios, excomungados,
Como saímos nós dos ventres maternais!
Vamos, esconjurai-lhes o demo que ela encerra,
Extraí a heresia ao aço lampejante!
Ela acaba de vir das forjas d'Inglaterra,
E há-de ser com certeza um pouco protestante.
Para que o monstro corra em férvido galope,
Como um sonho febril, num doido turbilhão,
Além do maquinista é necessário o hissope,
E muita teologia... além de algum carvão.
Atirem-lhe uma hóstia à boca fumarenta,
Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar,
E lancem na caldeira um jorro d'água benta,
Que com água do céu talvez não possa andar.

Imagine afear-me duma vez por todas; BH, 0270601999; Publicado: BH, 0280602011.

Imagine afear-me duma vez por todas
 E tornar-me um feio, igual a um afegão, ou
Um talibã do Afeganistão, que nem a mais
Bela afegã, vai querer beijar; são ultra-radicais,
Muçulmanos demais, os afeganes das capitais,
Os afegãos do interior, não têm afeição pelo
Ocidental; não têm inclinação afetiva, não
Querem amizade; querem o terrorismo, a
Bomba atômica; não sabem ser um povo
Afeiçoado, e que sentem afeição por outro
Povo; não sabem ser um povo amigo; é um
Povo belicoso; o alimento deles é a guerra;
E o afeiçoamento do poeta é maior, o poeta,
Quer afeiçoar, inspirar afeição, a esse povo
Hostil; o poeta quer dar feição e forma, às
Mulheres desse povo; adaptar à realidade do
Mundo, acomodar a paz e o amor, no
Semblante carregado das burcas; nas barbas
De arame farpado dos homens bombas; e
Deixar as crianças afegãs, tomar afeição pelas
Flores e não pelos fuzis, bombas, corão;
E no futuro da humanidade, esse povo afeito
Adulto, já habituado e acostumado ao afeto,
Com amor e paz no mundo, sobreviver livre.

Deixei cinco dias atrás; RJ, 0160401999; BH, 0210230401999; Publicado: BH, 0280602011.

Deixei cinco dias atrás,
A cidade do Rio de Janeiro,
E mudei-me de mala e cuia,
Para Belo Horizonte, a
Capital de Minas Gerais;
E hoje, 21 de abril,
Dia da comemoração,
Da Inconfidência Mineira,
E dia da morte do grande mártir,
Joaquim José da Silva Xavier,
O Tiradentes,
Aproveito para escrever,
A primeira manifestação minha,
Aqui na minha volta,
À esta agradável cidade;
Apesar de que ontem,
Fui descaradamente roubado,
Ao retirar a minha identidade,
E a segunda via do CPF;
Em cada local fui roubado,
Em cinco reais;
Fora estes incidentes,
A volta e o encontro com a família,
Ocorreram em mais perfeita paz;
E aqui termino,
Este primeiro manifesto,
Em solo mineiro,
Depois de vinte e cinco anos,
Fora deste eixo materno;
Voltei para ficar.

Preciso sair deste buraco; RJ, 0270501997; Publicado: BH, 0280602011.

Preciso sair deste buraco,
Galgar este abismo,
Emergir deste espaço de depressão,
Que me deixa atormentado,
Em verdadeiro estado de pânico;
Preciso dar a volta por cima
Ou vou me matar;
Vou dar fim a esta vida cruel,
Sem amor e paz,
Sem perspectivas de melhoras;
Não vejo saída no fim do túnel,
Não vejo uma luz natural,
Capaz de me guiar pelas veredas,
Que me levam de encontro,
À felicidade desejada;
É necessário paz e presença de espírito,
E isto não tenho;
Perdi há muito tempo;
Vivo numa corda bamba,
Inseguro e intranquilo,
A procurar agulha em palheiro,
Na escuridão do infinito,
Que se fechou sobre mim,
E me enterrou de ponta cabeça;
E quando vi a fria que entrei,
Era tarde demais,
Não deu mais tempo para reagir,
Foi o caos em minha alma,
O inferno em meu espírito;
Perdi todas as chances,
Que me foram apresentadas,
Perdi todas as oportunidades,
Que foram lançadas à minha frente;
A inteligência falhou,
Na hora certa,
E todo caminho que tentei seguir,
Tinha um abismo no meio.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Como gostaria de ser um ser agradável; BH, 0270601999; Publicado: BH, 0270602011.

Como gostaria de ser um ser agradável,
Suave no trato, um homem cativante, afável
Com todo mundo; como gostaria, de
Afazendar-me, comprar muitas terras, possuir
Muitas fazendas, onde a fauna e a flora, a
Natureza toda, seriam intocáveis; como 
Gostaria de enriquecer, comprar todas as
Serrarias, todas as fábricas de armas, e
Fechá-las, de uma vez por todas; como
Gostaria de afazer-me, sem a presença
Da preguiça, habituar-me ao trabalho,
E acostumar-me a não viver na dependência
Dos outros e nem do povo, igual ao bando
De parasitas do congresso e outras funções
Públicas; como gostaria de ter muitos
Afazeres, aquilo com que me ocupar,
Que não seja estas letras tautológicas;
Deveres do dia a dia, trabalho infinito,
Em benefício das matas, florestas e
Bosques, e tudo que dependesse de um
Poder maior, para ser respeitado, para
Ser preservado, onde ninguém, ninguém
Mesmo, metesse a mão, para poder
Destruir; e minha afecção, meu estado
Mórbido, meu comportamento doentio,
Minha doença, seria amar ao mundo,
Desta tal maneira.

Tantas são as dívidas; RJ, 0160401999; Publicado: BH, 0270602011.

Tantas são as dívidas,
Que não sei,
Como fazer para pagá-las;
E nem sei por onde começar,
Se devo aluguel e contador,
Impostos e taxa de incêndio,
Água e luz, açougue e cloro;
Tantas são as dívidas, que,
Se o dinheiro não entra,
Entra o pãnico; e quando o
Dinheiro entra, não dá para
Cobrir as despesas finais;
O dia em que me livrar,
De todas as dívidas, que tenho,
Vou começar um pé de meia,
Juntar um dinheirinho,
E pensar no futuro;
Agora a situação, não
Está para bobear; se bobear,
Perde; se dormir, a dívida
Cresce; e tantas são elas,
Que perdemos as contas;
Perdemos as esperanças
De poder pagá-las;
E se não pagarmos,
Passamos por caloteiros,
E a maior vergonha do pobre,
É ser chamado de mal pagador.

Podes dizer o que quiseres; RJ, 0260501997; Publicado: BH, 0270602011.

Podes dizer o que quiseres,
Podes me xingar, me bater
E amaldiçoar; dizer que,
Eu não presto, que não
Sirvo para ti, para nada, e
Que vais me abandonar;
Podes dizer que sou feio,
Careca e barrigudo, que
Não gosto de tomar banho;
Podes dizer que como demais,
Bebo demais, que não sou
Moderno e nem sei me cuidar;
Permanecerei calado, minha
Voz não vou levantar; e se
Quiseres sair e bater a porta,
Podes ter a certeza, que
Também não vou chorar;
E nem vou derramar uma
Lágrima sequer, por mais
Que sejas mulher; resolvi a
Não sofrer, e vou até fazer
Um samba e lançar um CD;
Quem sabe não seja
Compensado, e ganhe de
Mão cheia, um montão
Igual a ti; pois no mundo,
O que não falta, é mulher
A querer amar; a querer
Um homem; para lhe dar
Calor e saber dar de volta
O carinho recebido; a boca
Cheia de beijos, e o devido
Valor; podes dizer o que
Quiseres; não vais mais encher
Meus ouvidos de tantas
Lamentações.

domingo, 26 de junho de 2011

The Ross Sisters, Solid Potato Salad (1944); BH, 0260602011.

Não quero me afaimar; BH,0260601999; Publicado: BH, 0260602011.

Não quero me afaimar,
Pelo sucesso e pela fama;
Não quero me projetar,
Ver causar em mim,
Fome por lucro ou cifrão;
Não quero me ver famoso,
Afamar-me perante as pessoas,
Se não tenho talento,
Não tenho dom,
E nem tenho carisma;
Quero só afamilhar-me,
Constituir família numerosa,
Como mineiro do interior;
Não quero afanar para mim,
A atenção de ninguém,
Nem da mídia
E nem da imprensa;
O feio é conseguir com afã,
Pagar qualquer preço,
Se vender por qualquer preço,
Roubar a verdade,
Entregar-se ao trabalho, e
Afadigar-se para propagar a mentira;
E como sofro de afasia, padeço,
Tenho incapacidade,
E dificuldade de falar,
E escrevo com afã;
Sou um ser afásico,
Afastador de tudo,
Referente a fala;
E não sei falar;
Este é o meu afastamento,
Minha distância;
E agora é aprender a escrever,
É afastar-me de vez, e
Desviar-me de quem,
Quer que eu fale,
Alguma coisa.

Quatro membros efetivos; RJ, 0160401999; Publicado: BH, 0260602011.

Quatro membros efetivos,
Da sociedade dos cabeças ocas,
Estão reunidos agora,
Ali em frente ao bar;
Bebem cervejas e divagam,
Na falta de pensamentos,
Na falta de perspectivas,
E de lucidez de espírito;
São quatro membros titulares, da
Sociedade dos cabeças ocas;
Nada por dentro,
Nada por fora;
Só o quadro triste que vejo,
Por estarem aqui à frente,
Quatro componentes,
Dos cabeças ocas;
Quem quiser entrar,
Pode entrar;
Não é necessário pensar;
Não é necessário existir;
É só ficar parado,
No tempo e no espaço,
Não projetar nada,
Não fazer nada,
E nem esperar por nada;
Nem pela morte,
Pois a morte não quer,
Nenhum membro,
Da sociedade,
Dos cabeças ocas.

Às vezes nos pegamos desprevenidos; RJ, 0260501997; Publicado: BH, 0260602011.

Às vezes nos pegamos desprevenidos,
Despreparados e indecisos;
Às vezes nos encontramos em dúvidas,
Sem saber o que fazer,
Sem saber qual o caminho a seguir;
A incerteza e a desesperança,
Nos tornam pessoas vacilantes,
Temerosas e fragilizadas;
E acabamos a não sair do lugar, a
Perder as oportunidades,
Que estão sob nossos narizes,
E não conseguimos aproveitar;
Qualquer bater de pé,
Nos faz estremecer;
Qualquer grito mais alto,
Nos faz rastejar,
Nos humilha ao chão,
E ficamos estendidos,
Sem sequer uma reação;
É por isso que devemos,
Procurar a todo momento,
Estar sempre em plano,
Com a nossa inteligência,
Com a nossa sabedoria,
E com os nossos sentidos;
Toda atenção é pouca,
E a prevenção,
Pode salvar nossas vidas;
Se todos os atos que fizermos,
For em equilíbrio,
Com nosso conjunto mental,
Sairemos do atoleiro,
E nossa compensação virá,
Em forma de benefícios,
Que nos fará encontrar,
Uma vida melhor.

A afabilidade da chegada; BH, 0270601999; Publicado: BH, 0260602011.

A afabilidade da chegada,
Da aproximação da noite,
Traz a certeza de que vai ser afável,
Depois do dia afadigar, do
Causar fadiga no trabalho, do
Fatigar de andar pelas ruas, a
Perseguir os lucros nas bolsas; e ao
Cansar, sentado no escritório, no
Afligir com o pequeno salário,
Que o patrão dá de esmola, pelo
Trabalhar com afã, tudo pausa, ao
Sentir o afagar da noite e
Fazer afago na esposa
E nas crianças;
Acariciar o lençol da cama,
Alisar os cabelos da amada,
Alimentar a mente quente,
Com ideias e projetos saudáveis;
Aparar as saliências do lar,
Com sabedoria e inteligência;
Desbastar a voz de homem,
Tornar o homem menos basto, com
A voz menos espessa,
Tirar o grosso da voz no
Falar com a esposa, e
Fazer desaparecer o que há de rude,
Ou de grosseiro dentro da alma;
Aperfeiçoar o sussurro
E num afago, de demonstração de carinho,
Num gesto carinhoso, numa carícia,
Num mimo só,
Por a amada no colo,
Cantar uma canção de ninar,
Levar as crianças para a cama e
Deixar a tranquilidade da noite,
Embalar o amor verdadeiro,
O melhor amor possível,
Merecedor de todo prazer.

O amor sublime amor; RJ, 0160401999; Publicado: BH, 0260602011.

O amor sublime amor;
E que maravilha é o amor,
Imenso e sem fim;
É mais alto que o céu,
E mais profundo que o mar;
Quem não tem amor,
Quem não sabe amar,
Não pode se revelar,
Uma pessoa digna,
De ser chamada de pessoa;
Se nós juntássemos,
Todas os qualificativos,
Que todas as línguas do mundo,
Idiomas e dialetos possuem,
Não seriam suficientes,
Para definirem o amor;
Só é amor,
Porque é justamente aí,
Que nós paramos;
Por não conhecer o ser humano,
Um sentimento maior;
É o amor cantado,
Em todas as canções,
Músicas e melodias;
E ainda é pouco,
Diante da pureza,
Que o amor exala.

Estou aqui postado diante de ti; RJ, 0140501997; Publicado: BH, 0260602011.

Estou aqui postado diante de ti;
Rastejei igual a uma serpente, o
Mais vil dos répteis;
Comi as sobras que os porcos,
Não tiveram mais vontade de comer;
Convivi com ratos de verdade,
Em verdadeiras tocas e esconderijos,
Cheios de lacraias e escorpiões;
Meu espírito quebrantado,
Coração dilacerado,
Alma afundada em dúvidas,
Por dívidas impagáveis
E sem dádivas que nunca recebi;
O teu olho passou por mim,
Atravessou-me em cheio o peito,
Fiquei traspassado por teu olhar,
Como se ele fosse uma lança em brasa,
Fulminou-me de vez;
Olhar mais cortante,
Do que o fio de navalha;
Não adiantou toda a negação,
De todo o complexo do meu eu,
Em virtude do teu eu;
Pois tu me transformastes em cinzas,
Sem observar que meu ser padecia
E que só uma migalha do teu amor,
Só um reflexo do teu olhar,
Uma molécula da tua saliva,
Bastaria para ressuscitar-me;
E tu nada e nem sombras;
Voastes pássaro fora da gaiola,
Gaivota pulsante e livre,
Que nenhuma corrente de coração,
Prendeu até os dias de hoje;
Porém cujo coração,
Usou e destruiu tantos corações,
A matá-los sem percepção para o amor,
Inclusive o meu.

O ar (III) para aqueles que não tomam conhecimento; BH, 0270601999; Publicado: BH, 0260602022.

O ar (III) para aqueles que não tomam conhecimento,
Da existência e importância do ar;
Para aqueles que respiram, e
Não sabem porque,
E nem merecem o ar que respiram;
Vivem de aeroporto em aeroporto,
E não vivem o local com instalações
Propriadas para decolagem
E pouso de aeronaves, e
Atendimento de seus tripulantes,
Passageiros e serviços;
Que a aerostática é parte da mecânica,
Que estuda o equilíbrio,
Dos gases da atmosfera;
E que o estudo dos aeróstatos,
A tese do aerostático ou o referente à
Aerostática, no uso do balão inflado,
Com gás, que se eleva no ar,
E até dirigível; a aerovia, rota de aviões,
Do transporte aeroviário, tem quem
Trabalha em terra e é aéreo, numa
Empresa ou outra causa;
Num afã, deixo de legado,
Todo o trabalho excessivo do ar,
A azáfama pelo conhecimento do ar,
A labuta que é estudar o ar, a
Fadiga que causa a falta de ar,
O anseio veemente do pulmão,
Onde o ar puro,
Não pode mais chegar;
A aflição daquele que tem asfixia,
Que morre afogado,
Que morre asfixiado, tem
Suspensão da respiração, com
Sufocação, e não aprende a amar o ar;
Prolongue a vida do ar, e
A tua será eterna.

sábado, 25 de junho de 2011

Beatles, You've Got To Hide Your Love Away; BH, 0250602011; ouçam, cantem, toquem, dancem.


G       D                F          G
Here I stand with head in hand
C                            F    C
Turn my face to the wall
G         D         F          G
If she's gone, I can't go on
C                      F          C/D
Feeling two feet small
G      D       F         G
Everywhere people stare
C                     F      C
Each and everyday
G     D            F          G
I can see them laugh at me
C                       F       C   D/D7b/D6b/D5b
And I hear them say
G                       C                     D4/D/D9/D
Hey, you've go to hide your love away
G                       C                     D4/D/D9/D
Hey, you've got to hide your love away
G           D  F    G
How can I even try
C                F    C
I can never win
G         D       F        G
Hearing them, seeing them
C                    F     C    D
In the state I'm in
G               D    F         G
How could she say to me
C                       F      C
Love will find a way?
G         D       F         G
Gather' round all you clowns
C                       F       C   D/D7b/D6b/D5b
Let me hear you say
G                        C                      D4/D/D9
Hey, you've got to hide your love away
G                         C                     D4/D/D9
Hey, you've got to hide your love away
G/D/F/G/C/F/C
G/D/F/G/C/F/C/D

José Ignácio Pereira, O céu; BH, 0250602011.

O céu é o sagrado livro da lei,
O pão é a oferta do trigo maduro,
É preciso acreditar que tem futuro,
A esperança do amor, cantar, cantei.

Tempo de unir os corações,
Celebrar a era nova que virá.
Tempo de estender a mão e a flor,
Tempo de cantar ao Deus-dará.

Que se forme a nova criatura
A reger o mundo para a paz,
Se a fé é o batismo da água pura,
Um pouco do milagre a gente faz.

Agora o tempo humano se incendeia.
Há de para sempre renascer.
Somos todos nós os grãos de areia
Da praia do mistério conhecer.

Amada Maya, a lua permanece
Marcando o tempo da transformação.
A gente quando reza faz a prece
Do sonho de salvar o coração.

Estrelas são palavras reluzentes,
Clamando afeto o firmamento fala,
Meu canto são luzeiros tão ardentes,
Eu vou cantar o amor em Guatemala.

Llewellyn Medina, Morro de saudade; BH, 0250602011.

Morro de saudade dos morros de Minas
Meias laranjas que teimam em recortar o horizonte
Dos rios preguiçosos que parecem voltar
Fazendo curvas elegantes
Sempre em direção ao mar longínquo.

Morro de saudade da cidadezinha do interior
Do galo que canta ao alvorecer
E do outro que responde co-co-ro-co-có
Até que os cale a força da manhã.

Morro de saudade da palmeira solitária
Que sustenta simétricas folhas bem longe do solo
Num desenho harmonioso de linhas retas
E despojadas.

Morro de saudade da rua de paralelepípedos
Que faz ecoar os passos
Do mineiro desconfiado
Porque as coisas são como são
Mas não o revoltam.

A estrada de Minas é sempre vigiada
Pelo boi que balança o rabo filosoficamente
Concordando em que as coisas são sempre assim
E mudá-las que há de?
Mas esta é apenas uma Minas
Muitas outas há
Por isso se diz
Minas Gerais
É por ela que eu morro de saudade.

Tito Júlio Fedro, A novilha, a cabrinha, a ovelha e o leão; BH, 0250602011.

A sociedade com o mais forte nunca é segura;
Esta pequena fábula atesta a minha proposição.
A vaca, a cabrinha e a ovelha, alvos constantes
De agressões, fizeram uma sociedade com o
Leão na floresta.
Como tivessem capturado um veado corpudo,
Após separarem as partes, assim falou o leão:
"Eu pego a primeira.
Ela é minha porque me chamo rei.
Vós me entregais a segunda porque sou socio.
A terceira me cabe porque tenho mais força.
Se alguém tocar na quarta, ser-lhe-á aplicada a
Pena."
Assim o maldoso arrebatou, sozinho a presa
Inteira.

Manoel de Barros, O Aferidor; BH, 0260602011.

Tenho um Aferidor de Encantamentos.
Uma açucena encostada no rosto de uma criança
O meu Aferidor deu nota dez.
Ao nomezinho de  Deus no bico de uma sabiá
O Aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura
O Aferidor deu nota vinte.
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada
Sentado nas pedras de suas próprias ruínas
O meu Aferidor deu DESENCANTO.
(O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai.)

Casimiro de Abreu, Palavras no Mar; BH, 0250602011.

Se eu fôsse amado!...
Se um rosto virgem
Doce vertigem
Me desse n'alma
Turbando a calma
Que me enlanguece!...
Oh! se eu pudesse
Hoje - sequer -
Fartar desejos
Nos longos beijos
Duma mulher!...
Se o peito morto
Doce confôrto
Sentisse agora
Na sua dor;
Talvez nesta hora
Viver quisera
Na primavera
De casto amor!
Então minh'alma,
Turbada a calma,
 - Harpa vibrada
Por mão de fada -
Como a calandra
Saúda o dia,
Em meigos cantos
Se exalaria
Na melodia
Dos sonhos meus;
E louca e terna
Nessa vertigem
Amara a virgem
Cantando a Deus!

Antônio Nobre, Soneto X; BH, 0250602011.

Longe de ti, na cela do meu quarto,
Meu corpo cheio de agoirentas fezes,
Sinto que rezas do Outro-mundo, harto,
Pelo teu filho, Minha mãe, não rezes!

Para falar, assim, vê tu! já farto,
Para me ouvires blasfemar, às vezes,
Sofres por mim as dores cruéis do parto
E trazes-me no ventre nove neses!

Nunca me houvesses dado à luz, Senhora!
Nunca eu mamasse o leite aureolado
Que me fez homem, mágica bebida!

Fôra melhor não ter nascido, fôra,
Do que andar, como eu ando, degredado
Por esta Costa d'África da Vida.

                                                              (Coimbra, 1889.)

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Poema em Linha Reta; BH, 0250602011.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se o oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus supriores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Nietzsche, Mal!; BH, 0250602011.

Mal!
Mal!
Como?
Ele não está indo para trás?
 - Sim!
Mas vocês o compreendem
Mal se o criticarem.
Ele recua como todos aqueles
Que se preparam
Para dar um grande salto.

Nietzsche, O Filósofo e a Velhice; BH, 0240602011.

Não é sábio deixar que a tarde julgue o dia: pois com muita frequência
O cansaço se torna justiceiro da força, do sucesso e da boa vontade.
Igualmente a mais extrema prudência deveria ser imposta à velhice e a
Seu julgamento sobre a vida, visto que a velhice, precisamente como a
Tarde, gosta de manter as aparências de uma nova e sedutora moralidade
E sabe humilhar o dia pelo vermelho de seu acaso, seus crepúsculos, sua
Calma pacífica ou nostálgica.
O respeito que testemunhamos ao velho, sobretudo se esse ancião é um
Velho pensador e um velho sábio, mas torna facilmente cegos a respeito do
Envelhecimento de seu espírito e é sempre necessário colocar à luz os
Sintomas de semelhante envelhecimento e cansaço, isto é, mostrar o
Fenômeno fisiológico que esconde atrás do juízo e do preconceito moral, a
Fim de não nos tornarmos os tolos da piedade e de não prejudicar o
Conhecimento.
De fato, não é raro que a ilusão de uma grande renovação moral e de uma
Regeneração se apodere do ancião e que, a partir desse sentimento, este
Emitia, sobre a obra e o desenvolvimento de sua vida, juízos que poderiam
Levar a crer que acaba de chegar precisamente à clarividência: entretanto, a
Inspiradora desse bem-estar e desse juízo de segurança não é a sabedoria,
Mas o cansaço.
O sinal mais perigoso dessa fadiga é certamente a crença no gênio que
Geralmente não se apodera, senão a partir dessa idade da vida, dos grandes
E semi-grandes homens do pensamento: a crença numa posição excepcional
E em direitos excepcionais.
O pensador que possui esse gênio se considera então livre para levar as coisas
Com superficialidade e decretar mais do que demonstrar: mas é provável que
Seja precisamente a necessidade dessa superficialidade que comprove o
Cansaço do espírito, que é a principal fonte dessa crença, que a precede no
Tempo, embora não apareça.
Além disso, queremos usufruir nesse momento resultados de nossos pensamentos,
Em conformidade com a necessidade de fruição comum a todos os cansados e a
Todos os anciãos; em lugar de examinar novamente esses resultados e recomeçar
A semeá-los, temos necessidade para isso de prepará-los para um gosto novo,
Para torná-los comestíveis e tirar-lhes a secura, a frieza e a falta de sabor: é o que
Faz com que o velho pensador se eleve aparentemente acima da obra de sua vida,
Enquanto na realidade ele a estraga pela exaltação, pelas doçuras, pelos azedumes,
Pelo nevoeiro poético e pelas luzes místicas que lhe mistura.
O que aconteceu a Platão foi o que acabou por acontecer a esse grande francês
Íntegro, ao lado do qual os alemães e ingleses deste século não podem colocar
Ninguém - ninguém como ele soube tomar e dominar as ciências exatas - Augusto
Comte.
Terceiro sintoma de cansaço: essa ambição que agitava o peito do grande pensador
Quando era jovem e que então não encontrava em parte alguma como satisfazer,
Essa ambição também envelheceu; como alguém que não tem mais nada a perder,
Ela se apodera dos meios de satisfação e mais imediatos, isto é, aqueles das
Naturezas ativas, dominadoras, violentas, conquistadoras: a partir de então quer
Fundar instituições que levem seu nome, em vez de fundar edifícios de ideias.
Que lhe importam agora as vitórias e as honras etéreas do reino das demonstrações!
O que é para ele uma imortalidade pelos livros, uma euforia tumultuosa na alma de
Um leitor!
Em compensação, a instituição é um templo - ele bem o sabe, e um templo de pedra,
Construído para durar, mantendo seu deus em vida muito mais seguramente que o
Sacrifício de almas ternas e raras.
Talvez encontre também, nessa época, pela primeira vez esse amor que se dirige mais
A um deus que a um homem, então todo o seu ser se acalma e se amolece aos raios
Desse sol, como um fruto no outono.
Sim, ele se torna também mais divino e mais belo, o grande ancião - e é, apesar de
Tudo, a idade e a fadiga que lhe permitem amadurecer assim, tornar-se silencioso e
Repousar na idolatria radiosa de uma mulher.
Agora conseguiu fazer de seu antigo desejo altaneiro discípulos verdadeiros, desejo
Superior até mesmo a seu próprio eu, discípulos que seriam o verdadeiro prolongamento
De seu pensamento, isto é, adversários: esse desejo tinha sua fonte numa força intacta, na
Altivez consciente e na certeza de poder tornar-se, ele também, a todo momento, o
Adversário e o inimigo irreconciliável de sua própria doutrina - agora necessita resolutos,
Camaradas sem escrúpulos, arautos, um cortejo pomposo.
Agora não é mais capaz de suportar o isolamento terrível em que vive todo o espírito que
Torna seu voo sempre à frente dos outros, cerca-se a partir de então de objetos de
Veneração, de comunhão, de enternecimento e de amor, quer finalmente gozar dos mesmos
Privilégios que todos os homens religiosos e celebrar o que venera na comunidade; irá até
O ponto de inventar uma religão para ter essa comunidade.
É assim que vive o velho sábio e acaba por cair imperceptivelmente numa vizinhança tão
Aflitiva dos excessos clericais e poéticos que mal se ousa pensar em sua juventude sábia
E severa, em sua rígida moralidade cerebral de então, em seu horror viril pelas iluminações
Súbitas e divagações.
Outrora, quando se comparava com outros pensadores mais velhos, era para medir
Seriamente sua fraqueza em relação à força deles e para se tornar mais frio e mais leve livre
Com relação a si próprio: agora não se entrega mais a essa comparação a não ser para se
Embriagar com sua própria ilusão.
Outrora pensava com confiança nos pensadores do futuro e via-se a si mesmo com deleite
Desaparecer um dia em sua luz mais brilhante: agora está atormentado pela idéia de não poder
Ser o último, pensa nos meios de impor aos homens, com a herança que lhes lega, uma limitação
De seu pensamento soberano, receia e calunia a altivez e a sede de liberdade dos espíritos
Individuais; - depois dele, mais ninguém deve dar livre curso a seu intelecto: ele próprio 
Quer ser para sempre o dique onde batem sem cessar as ondas do pensamento - esses 
São seus desejos muitas vezes secretos e nem sempre confessados!
Mas a dura realidade que se esconde por trás desses desejos é que ele mesmo se deteve
Diante de sua doutrina, com ela traçou para si um limite, um "até aqui e não mais longe".
Canonizando-se, redigiu também sua sentença de morte: daí em diante seu espírito 
Não tem o direito de se desenvolver, seu tempo terminou, o ponteiro parou.
Quando um grande pensador quer fazer de si mesmo uma instituição,  
Cooptando a humanidade do futuro, pode-se admitir com certeza que ele além do  
Apogeu de sua força, que está muito cansado e  muito próximo de seu declínio.     

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XII; BH, 0240602011.

Topei um dia
Ao Deus vendado,
Que descuidado
Não tinha as setas
Na impia mão.
Mal o conheço,
Me sobe logo
Ao rosto o fogo,
Que a raiva acende
No coração.

"Morre, tirano;
Morre, inimigo:"
Mal isto digo,
Raivoso o aperto
Nos braços meus.
Tanto que o môço
Sente apertar-se,
Para salvar-se
Também me aperta
Nos braços seus.

O leve corpo
Ao ar levanto;
Ah! e com quanto
Impulso o trago
Do ar ao chão!
Pôde suster-se
A vez primeira;
Mas à terceira
Nos pés, que alarga,
Se firma em vão.

Mal o derrubo,
Ferro aguçado
No já cansado
Peito, que arqueja,
Mil golpes deu.
Suou seu rosto;
Tremeu gemendo;
E a côr perdendo,
Bateu as asas;
Enfim morreu.

Qual bravo Alcides,
Que a hirsuta pele
Vestiu daquele
Grenhoso bruto,
A quem matou;
Para que prove
A emprêsa honrada,
Co'a mão manchada
Recolho as setas,
Que me deixou.

Ouviu Marília
Que Amor gritava;
E como estava
Vizinha ao sítio
Valer-lhe vem.
Mas quando chega
Espavorida,
Nem já de vida
O fero monstro
Indício tem.

Então Marília,
Que o vê de perto
De pó coberto,
E todo envolto
No sangue seu,
As mãos aperta
No peito brando,
E aflita dando
Um ai, os olhos
Levanta ao Céu.

Chega-se a êle
Compadecida;
Lava a ferida 
C'o pranto amargo,
Que derramou.
Então o monstro
Dando um suspiro
Fazendo um giro
Co'a cabeça vista,
Ressuscitou.

Respira a Deusa;
E vem o gôsto
Fazer no rosto
O mesmo efeito,
Que fêz a dor.
Que louca idéia
Foi, a que tive!
Enquanto vive
Marília bela,
Não morre Amor!

Gonçalves Dias, Introdução à "Loa da Princesa Sancta"; BH, 0240602011.

Bom tempo foi o d'outrora
Quando o reino era cristão,
Quando nas guerras de mouros
Era o rei nosso pendão,
Quando as donas consumiam
Seus teres em devação.

Dava o rei uma batalha,
Deus lhe acudia do céu;
Quantas terras que ganhava,
Dava ao Senhor que lhas deu,
E só em fazer mosteiros
Gastava muito do seu.

Se havia muitos Infantes,
Torneio não se fazia;
É esse estilo de Frandres,
Onde anda muita heregia:
Para os armar cavaleiros
A armada se apercebia. 

Chamava el-rey seus vassalos
E em côrtes logo os reunia:
Vinha o povo atencioso,
Vinha muita cleregia,
Vinha a nobreza do reino,
Gente de muita valia.

Quando o rei tinha-os juntos
Começava a discursar:
"Os Infantes já são homens,
Vou-me às terras d'além-mar
Arma-los e cavaleiros;
Deus Senhor m'ha de ajudar."

Não concluia o pujante
Rei - de assim lhes propor
Clamavam todos em grita
Com vozes de muito ardor:
"Seremos nessa folgança,
Honra do nosso Senhor!"

E logo todos em sembra,
Todos gente mui de bem,
Na armada se agazalhavam,
Sem se pesar de ninguém;
E os Padres de São Domingos
Iam com eles também.

Iam, sim, os bentos Padres:
E que assim fosse, e rezão,
Que o sancto em guerras d'Igreja
Foy hum bom sancto christão:
Queimou a muitos hereges
No fogo da expiação!

Quando depois se tornava
Toda a frota pera cá,
Primeiro se perguntava,
"Que terras temos por lá?"
Quem Deos tanto confia,
Sempre Deos por si terá.

El-rei tornava benino,
Como coisa natural:
"Temos Ceita, Arzilla ou Tangere,
Conquistas de Portugal!"
E todos, a voz em grita,
Clamavão: real! real!

Bom tempo foy o d'outr'ora
Quando o reyno era christão;
Os moços davão-se á guerra,
As moças á devação:
Aquella terra de mouros
Vivia em muita afflicção.

Deo-nos Deos tantas victorias,
E tanto pera louvar,
Que os Padres de Sam Domingos
Ja não sabião rezar;
Todo-lo tempo era pouco
Pera louvores cantar!

Sendo tantas as batalhas,
Nem recontro se perdeo!
Aquelles Padres coitados
Não tinhão tempo de seo
Levavão todo cantando
Louvores ao pay do céo.

Louvores ao pay do céo,
Que eu inda possa trovar,
Quando não vejo nos mares
Nossas quinas tremolar;
Mas somente o templo mudo,
Sem guarnimentos o altar!

Vejo os sinos apeados
Dos campanarios subtiz,
E a prata das sacristias,
Servida em misteres vis,
E ante aos leões de Castella
Dobrada a Luza cerviz!

Canr'eu, em bem que sou Padre,
Diga que sou Portuguez:
Arço de ver nossas coizas
Hirem todas ao revez,
Arço de ver nossa gente
Andar comnosco ao envez.

Mercê de Deos! minha vida
He vida de muita dura!
Vivo esquecido dos vivos
Na terra da desventura;
Vivo escrevendo e penando
N'um canto de cella escura.

Do meo velho breviário
Só deixarei a leitura
Pera escrever estes carmes,
Remedio á nossa armagura;
O corpo tenho alquebrado,
Vive minha alma em tristura.

Babilak Bah, Ninguém; BH, 0240602011.

Nin
Guém
Exige
Um pó
Ema de
Fidel nem
Tão pouco
Uma
Canção do Che
Menos
Ainda uma ópera
Composta
Pelas
Mãos de Mao,
No en
Tanto
Exige-se do ar
Tista pos
Tura poli
Tica e ideo
Logia

Mário Quintana, Velha História; BH, 0240602011.

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria.
Até que apanhou um peixinho!
Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e
Tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que
O homem ficou com pena.
E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo
A garganta do coitadinho.
Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para
Que o animalzinho sarasse no quente.
E desde então ficaram insaparáveis.
Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote,
Que nem um cahorrinho.
Pelas calçadas.
Pelos elevadores.
Pelos cafés.
Como era tocante vê-los! - o homem, grave, de preto,
Com uma das mãos segurando a chícara, de fumegante
Moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando,
Com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso
E levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho
Especial...
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do
Rio onde o segundo dos dois fora pescado.
E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas.
E disse o homem ao peixinho:
"Não, não me assiste o direito de te guardar comigo.
Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da
Tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira?
Não, não e não!
Volta para o seio da tua família.
E viva eu cá na terra sempre triste!..."
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o
Peixinho n'água.
E a água fez um redemoinho, serenando... até que o peixinho
Morreu afogado...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Manuel Bandeira, Solau do Desamado; BH, 0230602011.

Donzela, deixa tua aia,
Tem pena do meu penar.
Já das assomadas raia
O clarão dilucular,
E o meu olhar se desmaia
Transido de te buscar.
Sai desse ninho de alfaia,
 - Céu puro de teu sonhar,
Veste o quimão de cambraia,
Mostra-te ao fulgor lunar.
Dá que uma só vez descaia
Do ermo balcão do solar
Como uma ardente azagaia
O teu fuzilante olhar.
Donzela, deixa tua aia,
Tem pena de meu penar...
Sou mancebo de alta laia:
Não trabalho e sei justar.
Relincham em minha baia
Hacanéias de invejar.
Tenho lacaio e lacaia.
Como um boi no meu jantar!
Castelã donosa e gaia,
Acode o meu suspirar
Antes que a luz se me esvaia,
Tem pena do meu penar.
Vou-me ao golfo de Biscaia
Como um bastardo afogar.
Minh'alma blasfema e guaia,
Minh'alma que vais danar,
Dona Olaia, Dona Olaia!
 - Meu alaúde de faia,
Soluça mais devagar...