sexta-feira, 24 de junho de 2011

Mário Quintana, Velha História; BH, 0240602011.

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria.
Até que apanhou um peixinho!
Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e
Tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que
O homem ficou com pena.
E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo
A garganta do coitadinho.
Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para
Que o animalzinho sarasse no quente.
E desde então ficaram insaparáveis.
Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote,
Que nem um cahorrinho.
Pelas calçadas.
Pelos elevadores.
Pelos cafés.
Como era tocante vê-los! - o homem, grave, de preto,
Com uma das mãos segurando a chícara, de fumegante
Moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando,
Com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso
E levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho
Especial...
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do
Rio onde o segundo dos dois fora pescado.
E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas.
E disse o homem ao peixinho:
"Não, não me assiste o direito de te guardar comigo.
Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da
Tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira?
Não, não e não!
Volta para o seio da tua família.
E viva eu cá na terra sempre triste!..."
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o
Peixinho n'água.
E a água fez um redemoinho, serenando... até que o peixinho
Morreu afogado...

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