terça-feira, 30 de abril de 2013

"Fines coronat opus o fim coroa a obra porém só comigo": BH, 01º0502001; Publicado: BH, 0300502013.

"Fines coronat opus": o fim coroa a obra, porém, só comigo
Que não acontece isso; e "fugit irreparabile tempus": foge irreparavelmente
O tempo e só eu não consigo fazer nada; e não tenho o "genus
Irritabile vatum": citado por Horácio, a raça irritadiça dos poetas;
E o que resta-me a grosso modo, é este expressar grosseiramente,
Que em linhas gerais, deixo aqui, o mais aproximadamente possível
E sem nada poder expressar; é um dactiloscópico dactiloscrito, é
Um original escrito à máquina manual, segura pelos tentáculos
Da dactiloteca, a pele que envolve, cada um dos dedos dos
Mamíferos; creio que isto seja um xodó, com uma ideia fixa que
Significa mania, do uso de linguagem infantil, que veio do
Francês dada, o dadá, cujo princípio essencial é o apelo ao todo
Subconsciente total, igual ao movimento literário, lançado
Pelo poeta Tristan Tzara, em 1916, o dadaísmo e penso que,
Aqui neste escrito, resgato, como um autêntico dadaísta,
Nesta idade de formador de substantivos femininos abstratos
E que exprimem noção atibutiva, como a bondade da mulher,
De aturar a maldade do homem, nove meses na legalidade
Do útero complacente; e às vezes até a adquirir a fealdade do espírito dele,
A frialdade da alma dele, em preterência à amabilidade da
Própria mulher; à facilidade com que ela ama e
Entrega-se e é mãe, tem capacidade para gerar e total
Uniformidade para criar em qualquer circunstância; e
Afinidade em aceitar e amamentar o filho, com coleção
De irmandade, a fazer de tudo para evitar a mortandade; e a
Dar exemplo de humanidade, de boa ideia de ação
Realizada; e ao não deixar nenhum tipo de barbaridade
Acontecer com o seu filho; mesmo quando às vezes não
Consegue evitar e a forma original persiste no lar
Em que é a majestade; é a potestade, é o poder em
Forma de potência, é o potentado em forma de divindade
E de anjos da sexta hierarquia; que Deus afaste com o seu
Supremo poder, qualquer tempestade do lar da mulher;
E que todo loureiro seja usado para tecer uma coroa de louros
E que ela tenha a fronte cingida por essa coroa, como se fosse
Uma heroína atleta e vencedora das Olimpíadas da vida;
E não gostaria de usar a dafnomancia, a adivinhação por
Meio de folhas de loureiro queimadas; não gostaria de
Usar a manteia do dafnomante e não quero saber
Do resultado dafnomântico, que informa sem consulta
Se a mulher será feliz, ou não; e quero só a felicidade
Da mulher e que aprenda isto e que demonstre
Isto e que pregue isto no seio da humanidade; e
Se um dia, pudesse fazer igual ao Sebastião Salgado,
Também iria daguerreotipar, isto é fotografar ou reproduzir
Por daguerreótipo, do nome do inventor francês Daguerre,
Todos os feitos da mulher; se conhecesse a daguerreotipia, a
Arte da fotografia, da revelação de iodeto e de brometo
De prata contidos em placa de cobre, sob vapores de
Mercúrio, a fixar-se a combinação com cianeto, ou
Hipossulfito, creio que seria um Sebastião Salgado, um
Clássico dálete da lente, como é clássica a quarta letra do
Alfabeto hebraico e saberia escrever tudo que fosse
Verídico a respeito da mulher, desde da almatense, do
País dalmático, à que trabalha com damas quinagem,
Nas operações de damas quinas, à tuxia e à mulher mendiga,
Pedidora de esmolas; e conheci uma, que vivia a pedir,
Tinha uma ferida crônica na perna, porém, o filho,
Estava sempre bem vestidinho, limpinho e arrumadinho;
Mesmo ao ser filho duma mendiga; as danaides, criações
Mitologias dos gregos e moças condenadas a encher,
Eternamente, tonéis sem fundo, comprovam a perseverança
Da mulher; e quisera ter o dom de criar um poema
Denubiano e com a beleza do rio europeu Danúbio e assim
Poder enaltecer o valor da mulher; e também a do daomeano,
Não posso esquecer a de Daomé, a natural e
Habitante desse país e que, se ela sofre, que a partir
De hoje pare de sofrer e seja só mulher e feliz; quero
Entregar meu pescoço ao dardejamento, meu coração
Ao flechamento, meu corpo ao seteamento, não sou
São Sebastião, mas quero esta cintilação; quero
Morrer dardejante, cintilante igual a uma estrela cadente,
Brilhante igual ao sol e coruscante como um cometa;
E com a genialidade do darwinismo, com a doutrina
Biológica , cuja conclusão extrema é o parentesco
Fisiológico e a comunhão de origem em todos os seres
Vivos, com a formação de novas espécies por um processo
De seleção, o evolucionismo darwinista; mas perdoeis-me
A ignorância deste vil ignorante, continuo a pensar que foi
Deus que criou a mulher; a mulher foi o único ser que Deus
Deixou ao criacionismo, com todos seus designativos de
Pelos, com seus tesouros guarnecidos, como o dasicarpo,
Que tem os frutos peludos; e o dasifilo, cujas folhas são
Espessas e pilosas e a folhagem densa; e do restante não
Quero nem saber, nem mesmo do dasipodídeo, espécime dos
Dasipodídeos, família de mamíferos de corpo coberto por
Uma carapuça, como os tatus; o restante, podeis matar com o
DDT, o inseticida sintetizado pelo sábio suíço Paul Hermann
Mueller, 1899-1965, que é sigla de diclorodifeniltricloretana;
Só salveis a mulher, a mãe, a tia, a avó, que têm
Diferentes relações como de posse, lugar, modo, meio, causa,
Tempo, dimensão, origem, matéria, conteúdo, fim
Destino, alvo, valor, menos comparação, pois não
Temos como comparar a mulher com qualquer outro
Ser na face da Terra: a mulher é única na dealbação da vida.

Podeis chacotear e zombar;
BH, 0120402001;
Publicado: BH, 01º0502013.

Podeis chacotear e zombar 
E dizer que são porcarias; a hora de deliciar-me
Chegará e saberei usufruir e gozar e colher,
Os frutos do que plantar; saberei desfrutar,
Pode até demorar, esperarei para desfruir;
Cada desfrechar que lanço, é um
Atirar de flechas, como dum cupido, um
Disparar de arcos, e um dia acerta o alvo;
E verei a bandeira tremular, desferir golpes ao
Vento, soltar vibrações, e desfraldar sem
Desfortuna; será o fim da infelicidade a chegar,
Será o desforrar de toda a desgraça; e
Tudo vai dar-me compensação; só
Não quero vingar, e nem vingança:
Tirar o ferrolho e colocar um novo, é
Uma desforra sem desagravo; é só
Um desforço para dar uma satisfação,
Tomar uma prova; desgravar sem violência
E desforçar como no descamisar o milho;
Nada de desembainhar facão, ou a
Espada, tirar as folhas ou as pétalas das
Rosas; e deixar desfolhar no tempo próprio,
Ou na desfolhação; a moléstia vegetal
Caracterizada pela queda do desflorir,
Do desflorescer, e do desvanecer; agora,
Atenção: desflorestar, derrubar as matas,
As árvores em larga escala, tanto de
Um terreno, como duma região,
Vai acabar por nos matar; é isso
Mesmo, vai acabar por exterminar-nos;
É triste perder o brilho, e o frescor, murchar,
Perder as flores; é triste deflorar a natureza,
Violar a virgindade dum botão; tirar as
Flores dos caules, desflorar, prender as
Flores nos vasos; que nojo é a desfloração,
A violação e o desfloramento; e a herança então,
É o desfilhar, tirar os filhos e os rebentos
Desmamados e despovoar a natureza?
Não é apreciar o desfile fúnebre, é olhar o
Desfilar dos pássaros e das borboletas.

É ruim ser desorientado gastador,
BH, 0120402001;
Publicado: BH, 01º0502013.

É ruim ser desorientado gastador,
Que se descontrolou como um veículo, e
Pior ainda, sentir que não tem governo;
É desgostoso ser desgovernado, ter desgosto
De ter um prefeito omisso; ser descontente
Por ter um governador omisso, e sentir o
Que tem o mau sabor, como o de ter um
Presidente pior ainda; só causou-me descontentamento,
Sinto mágoa e desprazer; não é por querer
Melindrar-me, é por não gostar mesmo;
Todos eles só souberam descontentar-me,
E o presidente, a desgostar-me mais, cada
Vez mais; que desgaste eu sinto na alma,
No prefeito eu votei, tudo bem; já no presidente
E no governador, não; tenho que digerir,
Deixar consumir pelo atrito, gastar de
Pouco a pouco, até o desgastar final;
Porém, no fundo, espero que a história,
Mostre-me que estou errado em relação
A eles; a audácia que sinto em FHC, vulgo Fernando
Henrique Cardoso, só causa-me mal e asco; a
Elegância e a desenvoltura, cheiram-ma à falsidade,
E à hipocrisia; porém, espero desgarrar
Deste conceito, espero que com o tempo,
Desgarre de mim esta ideia, e que
A história revele que estou errado;
Estou a desviar o rumo da embarcação,
A extraviar-me da verdade, e a
Desencaminhar-me da realidade? e
A perverter o certo e a desgarrar o correto?
Sou solto e livre, mas não sou pervertido,
Não sou extraviado, como alguém que,
Desgarrou-se dos seus princípios; não sou
Desgarrado por perversidade, e a cantiga
Popular por desabafo, a desgarrada, sempre
Mostra as mazelas que eles fazem contra
O povo; e se puder, quero ver desgalhar,
Cortar os galhos deles; e para a que se
Presta a zombaria do FHC, vulgo Fernando Henrique
Cardoso, contra os que são contra ele; ele
Não é desfrutável, e é algo de que o povo não
Pode desfrutar, e tem que pagar tintim por
Tintim, de tudo de errado que fez, que
Roubou e que deixou roubar ilegalmente.


terça-feira, 23 de abril de 2013

Simplicidade habita comigo e singeleza mora em mim; BH, 0310501º0602001; Publicado: BH, 0230402013.

Simplicidade habita comigo e singeleza mora em mim
E luto pelo desadorno superficial do meu ser, pois quero ser um homem
Singelo; ser um ser simples e desadornado do supérfluo, e não
Quero é que chameis-me de desconceituador ou de desabonador
Ou ainda de desacreditador, nem da juventude, e nem da velhice,
E não abrais processos contra mim, pois não sou um Sócrates, e
Não terei altura, e não saberei defender-me; a pior coisa é ser
Desconceituado, ser desacreditado perante os seus; Sócrates não
Suportou, preferiu morrer, e já não terei a coragem de morrer
Assim, cheio de dignidade tanto quanto Sócrates; estou destreinado
Em virtude, desabituado com a razão e desacostumado com a
Grandeza interior; Sócrates foi grande, e foi longe, fez logo o próprio
Desacorrentamento, não ligava para desmaio com a presença dele, se
Causava delíquio ou desarmonia; não ligava para a discordância, e
Para o desacordo que a liberdade dele causava, mas, teve sustentação
E argumentação; fez a própria defesa e não era fala de inconsciente,
Não era espírito desmaiado, cérebro de desacordado; era espírito
Presente, tinha como poucos tiveram até hoje, presença de espírito, e
Foi, então, desaconselhado a abrir mão da consciência; e a ser taxado
De inoportuno na sociedade, queriam mostrá-lo, como um não
Prevenido; um não avisado, sem conselho, e ele, então, desacompanhado
E só, isolado, solitário, mas, a transbordar de coragem, de fé, de
Confiança, de consciência, de infinidade de princípios, preferiu morrer,
A ter a sua escola, como o que está fora de seu lugar; antes morrer a ser
Desacomodado, ter o discurso desarrumado pelos sofistas, melhor a
Cicuta, do que a má companhia; antes o veneno do que ter a reputação
Execrada publicamente, e soube como ninguém a desacidificar a dor, e a
Tirar o sabor ácido de tudo o que parecia fel aos normais, morreu doce;
E estava sempre alerta, atento, e nunca era pego em desacerto, erro e
Tolice, e desacordo, não eram com ele, por mais que quisessem os sofistas,
Não o podiam por inoportuno e desatinado; nunca caberia a ele a alcunha
De despropositado, e não era inconveniente, e não era errado, e morreu
Para não ser chamado de desacertado; a meta de Sócrates era a de desacerbar
A vida do homem, livrar do amargor e suavizar em vida a si mesmo; adoçar
E abrandar antes da morte o mortal, e o seu destino cruel, e não foi
Desacautelado ao beber cicuta; foi por opção, poderia se livrar, e ser um
Normal que não tem cautela, um pai descuidado, ou marido imprevidente, ou
Mestre desleixado; morreu longe e livre disso tudo, não se conheceu dele uma
Insubordinação, e uma falta de respeito ou desacatamento; o dia em que
Também desacanhar-me, tanto quanto ele, nada poderá deter-me, nenhum
Acanhamento, e tornarei esperto e desembaraçado; vereis um tal desacanhado,
Afoito e resoluto, que farei um desacampar na alma, é o mau a levantar arraial
E a deixar de estar em acampamento dentro do meu coração; lógico é que nós
Hoje, bilhões de viventes, não conhecemos no nosso meio, alguém que tem o
Valor e a qualidade que Sócrates teve; de repente, pode até acontecer, nos
Bolsões de pobreza e de miséria e de desgraça do nosso cotidiano, um
Representante, que tenha agido, de acordo com que Sócrates agiu, com desabuso;
Isento de preconceitos, desabusado, petulante e atrevido, inconveniente e tudo o
Que se pensar e se escrever sobre ele, com toda e a mais completa imaginação, e
Inspiração, poe cada um dos nossos bilhões de pensamentos, ainda será 
Pouco, o que se tem a dizer e a se escrever sobre ele; atingiu em vida o seu
Desabrocho e em espírito o desabrochamento, e se morreu desabrochado, nunca
Saberemos; não podemos dizer que ele morreu, era um desapertado, solto, aberto,
E fica para nós, entes de cabeças ocas, fechadas, difícil saber o que realmente
Aconteceu; nosso desabrimento, aspereza no trato, rudeza, no rigor do tempo,
Não nos deixa à altura de entender tal comportamento; somos pequenos e
Insignificantes demais, choramos no desabrigo, pela falta de abrigo, desamparo; e
Somos uns chorões, pranteadores contumazes, lamentadores extremos, e se algum
De nós ficar desabrigado, exposto à calúnia, e desprotegido igual a Sócrates, logo
Iríamos desabraçar as nossas razões; retirar os braços de nossas cruzes, cerrar o
Abraço com a morte, e temer o desabordamento, mesmo a sofrer o desabono e o
Desfavor, e a depreciação que Sócrates não suportou; foi o primeiro desabonador
Da morte, o primeiro desacreditador dela, e morreu como um desmoralizador,
Maior do que a morte; a morte foi pequena para ele, e penso que ela nem existiu, e
Ninguém hoje pode dizer de Sócrates um desabonado, ou um desacreditado e falto
De meios; superou os maiores e a desabituação, não permitiu a verdade desabitar
O ser dele, e nem a liberdade despovoar a alma, não era um corpo sem moradores,
Um organismo ermo, um deserto desabitado; não possuia desabilidade, e nem
Inabilidade em discutir com quem quer que quisesse, o desate não foi em vão, o
Desabamento não foi o dele; a parte que desabou duma construção não foi a sua,
O tombamento dele foi o que foi feito pela humanidade, e poucos sabem desabalroar
Na hora certa; desatracar antes da tempestade, desprender as amarras e afastar-se do
Porto; poucos são assim, conhecem um desabalroamento ou uma desatracação da
Falsidade; quando fazem um desabafo, é com lamúria de prejuízos, mostram só a
Expansão do que perderam; só vangloriam-se do desafogo fisiológico, e não conhecem
Desabafamento com moral, e na hora de demonstrarem virtude, o espírito não está
Tranquilo; e qual que é livre na razão? qual é realmente desembaraçado para exercer a
Liberdade? a cidadania? a sabedoria? o direito? cada um só sabe reclamar por si que é
Um desagasalhado; não tem o que comer, não tem o que vestir, não tem o que beber, não
Tem onde morar; é o choro do desabafado vão, é o choro em vão, uivam, clamam ao céu
Pelo designativo de afastamento dos céus, uivam pela privação; sentem a ação contrária
Da natureza e só sabem amaldiçoá-la, perguntam: que negação somos nós? e puxam os
Cabelos num destoucar descabelado, num descascar de frutos podres, e desarticular de
Palavras blasfemas: quer ser mais desagreste, algumas vezes com rancor que tem sido
Reduplicativo, reforçativo no furor, que teimam de desinfeliz, onde cada um quer ser
Mais desnudo que outro; só não sabem que estão a se despir somente da razão, da
Virtude, da moral, do equilíbrio e do valor de suportar o que o destino nos legar; o
Tribunal que esperava o derruimento de Sócrates, a única coisa que viu foi o próprio
Desmoronamento; jamais Sócrates se sentiu derruído, derrubado ou desmoronado; e
Nós sabemos disso, assistimos que nem a morte foi capaz de derrubar um homem que
Conheceu a si mesmo; nenhuma provação é capaz de prostrar um bom, nenhum agouro
É capaz de fazer cair ou lançar por terra um rochedo do tamanho que foi o Sócrates;
Um escolho rígido, que derrubamento algum chegou a abalar, e quem esperava vê-lo
Derrubado ou caído ou prostrado, ficou ele próprio derribado, arruinado, deposto:
Sócrates venceu até a derruba derrotista dos sofistas; traçou um roteiro de vida
Jamais conhecido, um derroteiro austero e elevado, arrogância de vencedor que só
Usa a força da inteligência; nunca foi errado no rumo que devia levar, nunca se mostrou
Desanimado, extenuado para trabalhar, vencido para amar ou derrotado para entender
A paz; foi derrogatório das más leis e usou de derrogação no que envolvia os maus
Princípios; pediu anulação duma lei ruim, por uma lei boa, derrogador do medo e
Anulador da covardia, anulante da mentira e derrogante da falsidade e fez o total
Derrogamento da ilusão pura como um arrastador das paixões e não de arrastado por elas:
Um destruidor de desejos, e não destruído por eles, um desmoronador de ilusões, e não
Um desmoronado por elas; enfim, um derrocador de preconceitos: assim, obrigado
Platão, quero agradecer-te pela excelente defesa, muito obrigado Platão, e também a
Xenofonte, pelos Memoráveis; e eu aqui a escrever sobre o Sócrates como se ele
Precisasse que um medíocre qualquer escrevesse sobre ele que nos deixou de tudo.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Patagônia, 1155, 3; BH, 01901202011; Publicado: BH, 0180502013.

Os morros choram encharcados das ressacas
Dos deuses festeiros; beberam todo o vinho,
E em revolta com o fim do vinho, em
Turba, transformaram todas as águas dos
Mananciais do Olimpo, em vinho; e beberam
Mais e mais vinho, comeram carneiros
Assados com temperos de olivais e hortelãs;
Amaram as ninfas, as ninfeias e as ninfetas,
Fizeram orgias pelos tabuleiros, enseadas,
Pradarias e falésias; geraram montanhas,
Montes, cordilheiras, picos, cimos, cimeiras;
Caíram dos cumes e cumeeiras, rolaram nas
Pedras das pedreiras, nas rochas dos rochedos
Dos despenhadeiros, nos sais das salinas, nas
Areias das dunas, nas ondas dos mares; se
Penduraram nos relâmpagos, nos raios e nos
Trovões; fizeram tempestades nas torres dos
Conventos, igrejas, mosteiros, castelos
E demais casarões assombrados da idade média;
Brincaram com naves espaciais, do jeito que
Brincávamos com barquinhos de papel,
Nas correntezas depois dos temporais; riram
Dos vendavais, esses deuses bêbados, debochados, que
Desprezam fieis, ignoram templos e altares
Erguidos a eles e fazem ouvidos de mercador
Às orações, às rezas, às cantorias, e aos hinos
De louvores em suas homenagens; esses
Bêbados deuses, menosprezam a fé, e a religião
E abominam milagres; são sádicos, detestam
Curas de seus seguidores; quereis vê-los também
Bêbados e a beberem todo o vinho? quereis
Vê-los embriagados? detestam a sobriedade
E amam a loucura, a esquizofrenia e a
Insanidade dos seus devotos; choram quando
Eles estão alegres e fazem os morros chorarem;
E de ressaca incomodam mortos nos cemitérios.


Pretendo escrever até o fim dos meus dias;
BH: 0110702000;
Publicado: BH, 0280402013.


Pretendo escrever até o fim dos meus dias,
Num projeto de escrever sem projeto, num estilo de
Escrever sem estilo; e sem ser aristoso e sem deixar
Pragana, como a barba da espiga de milho; e sem ser
Aristado e teimar, até adquirir a luz do pensamento
Aristotélico, do filósofo Aristóteles, grego do século V
AC; e até adquirir a doutrina conforme o partidário dele;
E usar a aritenoide em forma de taça, como o nome
Do par de cartilagens da laringe, situadas à direita
E à esquerda da linha mediana e que guiam
O alimento e evitam a sufocação; e, porém,
Quero inverter o caminho e quero ser justamente
Sufocado pelas letras e pelas palavras das frases; e
Resgatar o ariti, o indivíduo dos Aritis, nome que
Dão a si mesmos os índios Parecis, e ao dialeto da
Língua pareci; e ser pajem da aritmancia, ser
O aritmante que vai inverter a verdade,
Na suposta arte de adivinhar por números na
Ciência da aritmancia, tal o indivíduo dado
À prática, o aritmante e conhecedor aritmológico,
Da ciência que se ocupa dos números e da
Medição das grandezas em geral, segundo a
Classificação de Ampere na aritmologia;
Vou padecer por todas estas falhas, por todas
Estas faltas, estes erros desconhecidos, ocultos
E disfarçados sob todas as formas de
Palavras desconexas que do aritmo grego arithmos;
Sem número suficiente para definir toda
Aritmografia, que é a arte de exprimir
Por sinais convencionais as quantidades cuja
Composição se conhece, na poesia fora do
Aritmográfico, perdido no instrumento para sanar
Mecanicamente operações aritméticas, inventadas
Por Gattey, matemático francês, em 1811; que hoje
Desencadeou na máquina de calcular,
E o dia em que me ver armentoso, possuidor
De muitos rebanhos, de armezim e tafetá de Bengala,
Cada armentio uma intelectualidade; uma aquisição
Armental do saber e do conhecimento, como
O armelino, o arminho mamífero vestido de armelina,
A pele branca de alma como a neve, imaculada;
O fiel de armazém, encarregado da cultura
Armazentista, zeloso e criativo, que não
Conhece o medo de ousar e afasta a
Covardia de criar seja lá  que for e
Mostra ao mundo a cria e a criatura;
Já trago armazenado dentro de mim o motivo
Da vontade, já tenho guardado o ideal de
Continuar, mesmo sem saber o caminho, para
Não cair no armazelo; na armadilha de pegar
Ignorantes, na espécie de rede de pescar incautos
Navegantes não acautelados, imprudentes; e cegos
São os ingênuos e crédulos que afogam nas trevas;
E depois que chegar o dono e o proprietário de armarinho
Que só quer vender vendas para os olhos, cabelos para
As cabeças e dentes para as bocas; línguas e narizes no
Primeiro armarinheiro de partes e de membros
De órgãos de cadáveres humanos insepultos;
E já que não se pode acabar com a violência,
Com um bom aumento do salário mínimo, é
Fazer pelo menos uma armaria; e uma arrecadação
De todas as armas, guardá-las em arsenal;
E os proprietários da arte heráldica, responsáveis,
Não passarão as armas às mãos criminosas; e
Assim no fogo dianteiro duma viatura, desarmar,
Descarregar o armão, a carreta que reboca as peças
De artilharia, deixarão de ter utilidade;
Sobrarão só as papas para abrir o apetite aos cavalos;
E ao armar o Armando que virou nome de homem,
E tudo que diz respeito a armamentos, todo conteúdo
Armamentário ser esvaziado da alma do homem; e é
Despir as armaduras, as fasquias de madeira para
Equilibrar os arcabouços dos navios de guerras; e
Derrubar as armadoiras e ninguém mais falará:
E estou armado, provido de armas e munições, e
Munido e preparado para matar; viverás sem
Ser necessário andar acautelado, prevenido e
Disposto só a viver em paz ao dar um basta
A todo tipo de violência, brutalidade e dor;
O arlesiano de Arles, na França, penso que vive
Em calma e em tranquilidade, pelo menos
O nome nos faz imaginar assim;
Que estamos mais para arlequíneos, os animais
De cores variadas de espírito arlequinal, que
Só quer saber é do carnaval, como o aritmômetro
Só quer saber de números; e a deixar a qualidade,
A espiritualidade e toda luminosidade ser
Absorvida pelas trevas e penumbras eternas;
Alcance uma vela com a mão e acenda-a
No teu coração, para tua alma, mente,
Memória, cabeça, cérebro, ser, tu;
Confessei antes de perder o que nunca encontrei,
Nunca procurei nada, e nem nunca soube
Querer; só tenho vergonha e pudor provincianos;
Amarrado pela religiosidade, censurado
Por todos, ignorado e não aceito, por mais
Que tento passar uma boa aparência; e
Não conseguirei chegar ao meu objetivo,
Não trarei interesse e nem atrairei
A mim os louros de minha vã literatura;
Que a injustiça seja feita e que nunca
Venha à tona o que quer que seja que
Esta mão cega tenha deixado registrado
Em qualquer pedaço de papel inocente,
Indefeso e desamparado sem poder reagir,
Com a violência das letras que o ferem de morte,
Que abrem feridas, chagas na face branca,
De cada folha perdida pelas madrugas
Desta vida inútil.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Não adianta tentar conter a ignorância do indiferente; BH, 0300601º0702001; Publicado: BH, 0160502013.

Não adianta tentar conter a ignorância do indiferente 
E reprimir o omisso é quase impossível; só mesmo Deus para
Estorvar o ignorante, pôr embargo à estupidez e embargar
Duma vez por todas, lei arbitrária; a justiça hoje é para o total
Impedimento dos pobres, livrar os ricos de obstáculos e poderosos
De qualquer estorvo; a justiça serve para validar medida
Preventiva de retenção de bens e rendimentos, não obstante,
Mantém livre jornalista que matou covardemente a amante; e manda para
Casa criminosos ricos que estavam presos; legaliza apagão de
Governos corruptos e sei que não adianta, mas pergunto:
Para que serve a justiça brasileira? para encher as
Penitenciárias de pretos, pobres, putas e marginalizados semianalfabetos;
Quem tem embarque no banco da justiça é só o que tem inveja
E orgulho, é o que presta o serviço, depois de embarcar por
Mãos dalgum amigo; já quem anda do lado de fora é
Para o embarricar, o meter em barrica e defender com barricada
O tesouro dos donos da justiça; meu pronunciamento pode
Nem ter embasamento, meu princípio não é o que serve
De base a uma construção semântica e nem serve de estudo
Da evolução do sentido das palavras através do tempo e do
Espaço, mas, com teor semântico, ou não; com significação,
Ou sem ser significativo, mas o que tenho de dizer de relativo:
E sem cerimônia, com desprezo mesmo das convenções sociais:
É que a falta de semelhante, a falta de rosto, a falta de
Aparência da justiça é uma vergonha; podem não embasar
O meu pronunciamento, podem não alicerçar, mas a ação da
Justiça é de embasbacar; causa pasmo e falsa admiração,
É para pasmar a falta de ufanismo que a justiça recebe,
Pois não tem mais crédito e nem mais esperança; já
Que demonstra o pior embate do povo, a maior adversidade
Que encontramos pela vida; um coronel, que serviu para
Embater, produzir choque que resultou em cento e onze mortos,
Encontra-se livre, por esbarrar na impunidade da justiça; é
De se embatucar a qualquer mortal, é de se embaraçar
Qualquer raciocínio, é se se atrapalhar qualquer tentativa
De quem quer ser justo e procurar por justiça; é por isso,
Que prefiro embebedar-me, prefiro tornar-me um bêbedo,
Confesso que prefiro embriagar-me, quando leio nos jornais
Que deputados ganham exorbitadamente, também uma grande
Falta de justiça; e tudo começa a perturbar a minha mente,
É de alucinar-me, para que servem deputados, minha gente?
Para que servem senadores e vereadores? para que servem
Governadores e prefeitos? câmaras e congresso: burguesia e elite?
Prefiro embebedar meu ser, molhar minh'alma, ensopar meu
Espírito, sorver o álcool, absorver o sangue e concentrar para dizer,
Que o impregnar disso é que causa a desigualdade, a corrução
Da sociedade, o fim do estado, da esperança e de
Qualquer expectativa de liberdade; não sinto-me apaixonar por
Nada, e nem embeiçar-me com algum embelezamento;
Tento embelezar o meu texto, e morro, e tento embelecer e
De súbito o efeito sai ao contrário; o belo é um rato
Seco, um olho seco para ornamentar a besta, e bestificar como
Se pudesse obstinar-me e inverter, e embestar-me contra a
Injustiça; porém, o que falo ninguém escreve, o que
Escrevo ninguém ler; sou tão insignificante, que não
Encontro como embevecer-me, causar algum enlevo
E embevecimento ou extasiar alguém; não tenho
Êxtase e meu ânimo é de embicadura, sem ânimo na ação de
Se chegar à embarcação para a amarra; dou um nó
Cego e não desato mais, e aí é só o amuar, o zangar, e
Um tal de embezerrar, embicar num rochedo; é um abicar
Num recife, dar de forma de bico num coral, espatifar
Literalmente e lá se vai o sonho eminente a transformar-se
Num pesadelo iminente; e tudo de sublime, de excelente
E que excede em nós e nos outros, perdemos igual
A um emir, chefe muçulmano, que acaba de ser
Destituído do seu emirado, a ficar sem o estado ou
Sem a região governados por ele, que se sente sem a
Emissão de dignidade; não adianta, mas um dia,
Adiantará, e aí, será diferente, o indiferente e o omisso
Deixarão de ser omisso e indiferente; e não darão votos
Para eleger seres omissos e indiferentes, insensíveis e insensatos.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Fernando Pessoa, Entre o luar e o arvoredo.

Entre o luar e o arvoredo, 
Entre o desejo e não pensar 
Meu ser secreto vai a medo 
Entre o arvoredo e o luar. 
Tudo é longínquo, tudo é enredo. 
Tudo é não ter nem encontrar.
Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a  brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

John Lennon, Imagine.


Imagine

Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que Matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só

Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade do Homem
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só

sábado, 6 de abril de 2013

Nietzsche, Vaidade de exceção.

Este homem possui uma grande qualidade que serve para seu
Próprio consolo; seu olhar passa com desprezo sobre o resto de
Seu ser - e quase tudo faz parte desse resto!
Mas ele se repousa de si mesmo quando se aproxima dessa
Maneira de seu santuário; o caminho que o leva até lá já lhe
Parece como uma escada de degraus largos e doces: - e, crueis
Que vocês são!, gostariam de chamá-lo vaidoso por causa disso.

Llewellyn Medina, Fico imaginando.

Fico imaginando pequenos milagres
Desses de que até os milagreiros desdenham
Pois são os que sempre devem ser guardados
E nunca lembrados, e nunca lembrados.

Manoel de Barros, O Fingidor.

O ermo que tinha dentro do olho do menino era um
Defeito de nascença, como ter uma perna mais curta.
Por motivo dessa perna mais curta a infância do menino mancava.
Ele nunca realizava nada.
Fazia tudo de conta.
Fingia que lata era um navio e viajava de lata.
Fingia que vento era cavalo e corria ventana.
Quando chegou a casa de fugir de casa, o menino
Montava num lagarto e eia pro mato.
Mas logo o lagarto virava pedra.
Acho que o ermo que o menino herdara atrapalhava as suas viagens.
O menino só atingia o que seu pai chamava de ilusão.

Manuel Bandeira, Delírio.

Que será que desperta em mim neste momento
Uma inquietação que é quase uma agonia?
Há uma solução lá fora... É o soluço do vento,
E perece sair de minh'alma sombria.

Por que, na solidão desta tarde que morre,
Sinto o pulso bater em pancadas de medo?
Por que de instante a instante uma lembrança ocorre,
A que estremeço como um terrível segredo?

Por que pensei em minha mãe agonizante?
Por que me acode a voz daquele amigo morto?
Será a sombra da morte aquela névoa errante,
E morrerei desamparado e sem conforto?...

Como a casa é deserta? E como a tarde é fria!
Plange cada vez mais o soluço do vento,
E parece sair de minh'alma sombria.
Desânimo... Desesperança... Desalento...

Mãos femininas... Mãos de amante ou de esposa,
Quem me dera sentir em minha árida fonte
O aroma que impregnais, tocando, em cada cousa...
A carícia da brisa... A frescura da fonte...

Mas nenhuma virá, no instante em que me morro,
Dar-me a consolação deste longo martírio.
Nenhuma escutará o grito de socorro
Do meu penoso, do meu trágico delírio.

Que me importa o passado? à minha natureza
Repugna essa volúpia enorme de saudade
Ó meu passado, ruinaria sem beleza!
Eu abomino a tua escura soledade.

O tempo... Horas de horror e tédio da memória...
Ah, quem mo reduzira ao minuto que passa,
 - Fosse ele de paixão inerte e merencória,
Na solitude, no silêncio e na desgraça!

                                                               
                                                               Clavadel, 1914

Casimiro de Abreu, Deus!

Eu me lembro! eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento:
"- Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior do que o oceano,
Ou que seja mais forte do que o vento?"

Minha mãe a sorrir olhou p'ros céus
E respondeu: - "Um ser, que nós não vemos,
É maior do que o mar, que nós tememos,
Mais forte que o tufão! Meu filho, é - Deus!"

Mário Quintana, Estranhas aventuras da infância.




Era um caminho tão pequenino
Que nem sabia aonde ia,
Por entre uns morros se perdia
Que ele pensava que eram montanhas...


Enquanto a tarde, lenta, caía,
Aflitamente o procuramos.
Sozinho assim, aonde iria?
Porém, deixamos para um outro dia...


Perdido e só, nós o deixamos!

E quando, enfim, ali voltamos
Já nada havia, só ervas más...
Tão vasto e triste sentiste o mundo
Que te achegaste, desamparada...


E foi bem juntos que regressamos,
Ombro com ombro, a mão na mão,
Enquanto, lenta, caía a tarde
E nos espiava a bruxa negra...


E nos seguia a bruxa negra
Que hoje se chama Solidão!

Mário Quintana, A Noite.

A Noite é uma enorme Esfinge de granito negro
Lá fora.
Eu acendo minha lâmpada de cabeceira.
Estou lendo Sherlock Holmes.
Mas, nos ventres, há fetos pensativos desenvolvendo-se...
E há cabelos que estão crescendo, lentamente, por debaixo da terra,
Junto com as raízes úmidas...
E há cânceres... cânceres!... distendendo-se como lentos dedos...
Impossível, meu caro doutor Watson, seguir o fio desta confusa e deliciosa história.
A Noite amassa pavor nas entrelinhas.
É um grude espesso, obscuro...
Vontade de gritar claros nomes serenos
PALLAS NAUSICAA ATHENA Ai, mas os deuses se foram...
Só tu aí ficaste...
Só tu, do fundo da noite imensa, a agonizares eternamente na tua cruz!...

Tito Júlio Fedro, O velho leão, o javali, o touro e o burro.

Todo aquele que perdeu a antiga dignidade é, em (sua)
Pesada queda, alvo de zombaria até de covardes.
O leão, consumido pela idade, destituído de vigor, jazia prostrado.
O javali chegou até ele.
Com dentes fulminantes, vingou, com uma dentada, a antiga injúria.
Em seguida, o touro lhe perfurou o corpo hostil, com chifradas terríveis.
Quando o burro viu que a fera estava sendo maltratada sem defesa,
Arrebentou-lhe a cabeça com coices.
Então ao expirar (o leão disse):
"Suportei indignado que os fortes me ultrajassem, (mas) pareço morrer
Duplamente porque sou coagido, no perecer, a suportar que (também)
Tu (ó burro), (que és a desonra da natureza) me vilipendies."

Nietzsche, No curso de minha viagem.

No curso de minha viagem empreendida através das numerosas morais,
Delicadas e grosseiras, que reinaram e ainda reinam no mundo, encontrei
Certos traços que recorrem regularmente ao mesmo tempo e que estão
Ligados uns aos outros: tanto que no final adivinhei dois tipos fundamentais,
Dos quais se desprendia uma distinção fundamental.
Há uma moral de senhores e uma moral de escravos: - acrescento desde
Agora que, em toda civilização superior que apresenta caracteres misturados,
Se pode reconhecer tentativas de aproximação de duas morais, mais
Frequentemente ainda a confusão das duas, um mal-entendido recíproco,
E por vezes sua estreita justa posição que chega até a reuni-las num mesmo
Homem, no interior de uma só Alma.
As diferenças de valores no domínio moral surgiram, seja sob o império
Que ressentia uma forma de bem-estar a tomar plena consciência daquilo
Que a colocava acima da raça dominada - seja naqueles que eram dominados,
Entre os escravos e os dependentes de todos os níveis.
No primeiro caso, quando são os dominadores que determinam o conceito
"Bom", os estados de alma sublimes e altivos são considerados como o que
Distingue e determina a classe.
O homem nobre se separa dos seres em que se exprime o contrário desses
Estados sublimes e altivos: despreza esses seres.
Cumpre observar em seguida que, nessa primeira espécie de moral, a antítese
"Bom" e "ruim" equivale àquela "nobre" e "desprezível".
A antítese "bom" e "mau" tem outra origem.
Desprezam-se o covarde, o temeroso, o mesquinho, aquele que não pensa
Senão na vantagem imediata; de igual modo, o ser desconfiado, com seu
Olhar inquieto, aquele que se humilha, o homem-cão que se deixa maltratar, o
Adulador mendigo e sobretudo o mentiroso: - é crença essencial de todos os
Aristocratas que o comum do povo é mentiroso.
"Nós os verídicos" - esse era o nome que se davam os nobres na Grécia antiga.
É evidente que as denominações de valores foram primeiramente aplicadas
Aos homens e mais tarde somente, por derivação, às ações.
É por isso que os historiadores da moral cometem um grave erro ao começar
Suas pesquisas por uma pergunta como esta:
"Por que elogiamos a ação que se faz por piedade?"
O homem nobre possui o sentimento íntimo que tem o direito de determinar o
Valor, não tem necessidade de ratificação, estima que aquilo que lhe é
Prejudicial em si, sabe que se as coisas são honradas é ele que as honra, é o
Criador de valores.
Tudo o que encontra em sua própria pessoa, ele o honra.
Semelhante moral é a glorificação de si mesmo.
No primeiro plano, encontra-se o sentimento da plenitude, da potência que quer
Transbordar, a felicidade da grande tensão, a consciência de uma riqueza que
Gostaria de dar e se expandir.
O homem nobre, ele também, vem em auxílio dos infelizes, não ou quase não
Por compaixão, mas antes por um impulso que cria a superabundância de força.
O homem nobre presta honra aos poderosos em sua própria pessoa, mas com isso
Honra também aquele que possui o império sobre ele próprio, aquele que sabe
Falar e calar, aquele que tem prazer em ser severo e duro para consigo mesmo,
Aquele que venera tudo aquilo que é severo e duro.
"Wotan colocou em seu peito um coração duro", assim se lê numa antiga saga
Escandinava, palavras realmente saídas da alma de um viking orgulhoso.
De fato, quando um homem sai de semelhante espécie é orgulhoso por não ter
Sido feito para a piedade; é por isso que o herói da saga acrescenta:
"Aquele que, quando jovem, já não possui um coração duro, jamais o terá!"
Os homens nobres e ousados que pensam dessa forma são os antípodas dos
Promotores dessa moral que encontra o indício da moralidade na compaixão,
No devotamento, no desinteresse; a fé em si mesmo, uma altiva hostilidade e
Uma profunda ironia diante da "abnegação" pertencem, com tanta certeza, à
Moral nobre como um leve desprezo e uma certa circunspecção com relação
À compaixão e ao "coração quente". -
São os poderosos que sabem honrar, essa é uma arte, o domínio em que são inventivos.
 O profundo respeito pela velhice e pela tradição - essa dupla veneração é a base do
Mesmo direito - a fé e a prevenção em favor dos antepassados e em detrimento das
Gerações futuras são típicas na moral dos poderosos; e quando, ao contrário, os
Homens das "ideias modernas" que acreditam quase instintivamente no "progresso" e
No "futuro", perdendo cada vez mais a consideração pela velhice, mostra já
Suficientemente com isso a origem plebéia dessas "ideias".
Mas uma moral de senhores é sobretudo estranha e desagradável ao gosto do dia
Quando afirma a severidade de seu princípio, que não se tem deveres senão para com
Seus iguais; que a respeito dos seres de classe inferior, com relação a tudo que é
Estranho, pode-se agir à sua maneira, como "o coração mandar" e, de qualquer
Mameira, mantendo-se "além do bem e do mal": - pode-se, se se quiser, usar aqui de
Compaixão e daquilo que a ela se liga.
A capacidade e a obrigação de usar amplo reconhecimento e de vingança infinita -
Somente no âmbito de seus iguais - a sutilidade nas represálias, o refinamento na
Concepção da amizade, uma certa necessidade de ter inimigos (para servir de algum
Modo de derivativos às paixões como a inveja, a agressividade, a insolência e, em
Suma, para poder ser um amigo verdadeiro): tudo isso caracteriza a moral nobre que,
Já o disse, não é a moral das "ideias modernas", o que a torna hoje difícil de conceber,
Difícil também de desenterrar e descobrir. -
Mas é coisa bem diferente com a outra moral, a moral dos escravos.
Suponhamos que os seres sob servidão, oprimidos e sofredores, aqueles que não são
Livres, mas incertos de si próprios e cansados, que esses seres comecem a moralizar:
Que ideias comuns encontrariam em suas apreciações morais?
Provavelmente gostariam de exprimir uma desconfiança pessimista contra a condição
Humana, talvez uma condenação do homem juntamente e de toda sua condição.
O olhar do escravo é desfavorável às virtudes dos poderosos: o escravo é cético e
Desconfiado e sua desconfiança é fina com relação a todos os "bens" que os nobres
Veneram, gostaria de se convencer que, mesmo lá, a felicidade não é verdadeira.
Ao contrário, apresenta à plena luz as qualidades que servem para amenizar a
Existência daqueles que sofrem: aqui o vemos prestar honra à compaixão, à mão
Complacente e segura, venerar o coração ardente, a paciência, a aplicação, a
Humildade, a amabilidade - de fato, essas são as qualidades mais úteis, são
Praticamente os únicos meios para aliviar o peso da existência.
A moral dos escravos é essencialmente uma moral utilitária.
Chegamos no verdadeiro lar de origem da famosa antítese "bom" e "mau": no
Conceito "mal": - se inclui tudo aquilo que é poderoso e perigoso, tudo o que possui
Um caráter temível, sutil e forte e não desperta nenhuma ideia de desprezo.
Segundo a moral dos escravos, o "homem mau" inspira o temor; segundo a moral dos
Senhores, é o "homem bom" que inspira temor e quer inspirá-lo, enquanto o "homem
Mau" é o "homem desprezível".
A antítese atinge seu auge quando, por uma consequência da moral de escravos, uma
Forma de desdém (talvez mais leve e benevolente) acaba por ser ligada mesmo aos
"Homens bons" dessa moral.
De fato, o homem bom, segundo a maneira de ver dos escravos, deve ser em todo caso
O homem inofensivo.
Ele é bonachão, talvez um pouco estúpido, em resumo, é um bom homem.
Em toda a parte onde a moral dos escravos chega a dominar, a linguagem mostra uma
Tendência a aproximar as palavras "bom" e "tolo". -
Última diferença fundamental: a aspiração à liberdade, o instinto de felicidade e todas
As sutilezas do sentimento de liberdade pertencem à moral e à moral dos escravos tão
Necessariamente como a arte e o entusiasmo na veneração e no devotamento são o
Sintoma regular de um modo de pensar e de apreciar aristocrático. -
Agora se pode compreender, sem mais explicações, porque o amor como paixão - é
Nossa especialidade européia - deve ser necessariamente de origem nobre: sabe-se
Que sua invenção deve ser atribuída aos cavaleiros-poetas provençais, esses homens
Magníficos e engenhosos do "alegre saber", aos quais a Europa deve tantas coisas e quase ele própria.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XXX

Cupido tirando
Dos ombros a alvaja
Num campo de flores
Contente brincava.

E o corpo tenrinho
Depois, enfadado,
Incauto reclina
Na relva do prado.

Marília formosa,
Que ao Deus conhecia,
Oculta espreitava
Quanto ele fazia.

Mal julga que dorme
Se chega contente,
As armas lhe furta,
E o Deus a não sente.

Os Faunos, mal viram
As armas roubadas,
Saíram das grutas
Soltando risadas.

Acorda Cupido,
E a causa sabendo,
A quantos o insultam
Responde dizendo:

"Temíeis as setas
"Nas minhas mãos cruas!
"Vereis o que podem
"Agora nas suas".

Babilak Bah, o que sai.

O
Que
Sai
Da
Boca
É o
Que
Se
Cria.

Babilak Bah, A pedra.

A pedra medita na água
A serpente habita debaixo da pedra
Guardiã de segredos
Filosofais.

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, O mesmo Teucro.

O mesmo Teucro duce et auspice Teucro
É sempre cras - amanhã - que nos faremos ao mar.

Sossega, coração inútil, sossega!
Sossega, porque nada há que esperar,
E por isso nada que desesperar também...
Sossega...
Por cima do muro da quinta
Sobe longínquo o olival alheio.
Assim na infância vi outro que não era este:
Não sei se foram os mesmos olhos da mesma alma que o viram.
Adiamos tudo, até que a morte chegue.
Adiamos tudo e o entendimento de tudo,
Com um cansaço antecipado de tudo,
Com uma vontade prognóstica e vazia.
O que há em mim é sobre tudo cansaço -
Não dito nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço,
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseja o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço.                                                                            

                                                                                                           0/10;1934




Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, O frio especial.
Publicado: BH, 050402013.

O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.

                                                                                                            (9/10/1917)

Philippe Desportes, Ícaro.

Precipitou-se aqui o jovem audacioso,
Que para ao Céu voar mostrou muita coragem:
Seu corpo aqui tombou, despido de plumagem,
Deixando todo herói dessa queda invejoso.

Ó venturoso afã de um peito glorioso
Que um bem enorme extrai de exígua desvantagem!
Venturoso revés que merece homenagem,
Pois o vencido faz tornar-se vitorioso!

Não temeu seu verdor aquela estranha via,
A força lhe faltou, não faltando ousadia:
Abrasou-o do Astro-Rei o ardente fogaréu.

Morreu porque buscou generosa aventura,
O Céu foi seu desejo, o mar a sepultura:
Houve anseio mais belo ou rico mausoléu?

Dia de finados na parede da minha cozinha hoje; BH, 0201102000; Publicado: BH, 050402013.

Dia de finados na parede da minha cozinha hoje, 
É dia de finados, converso com os meus mortos; numa
Foto grande, com moldura, tenho a me fazer companhia,
Nada mais nada menos, do que a Clementina de Jesus,
Em obra do fotógrafo Roberto Garcia; vejo a Clementina
De Jesus, todos os dias; reverencio-a, porém, hoje é
Diferente, hoje é dia de conversar com todos eles; em
Frente a ela, em quadro menor, vejo o Zé Keti, em foto de
Autor desconhecido, a segurar uma bisnaga na
Mão; logo depois da porta do banheiro, deparo
Com a grandeza de Nelson Cavaquinho, também
Do mesmo fotógrafo de Clementina de Jesus; no vão entre
As duas janelas, está o Carcará, o João do Vale, na
Mão um microfone; a foto é presente dado a mim, pelo
Grande amigo Luberto, que não sei por onde anda;
A seguir vem uma fotografia com Jair do Cavaco,
Zé Keti, e outros dois, ao violão; depois da porta,
Outra foto antológica de dois mendigos a se beijar,
Também de Roberto Garcia, e uma gravura de
Edson Dantas, "A Morte de Luis Buñuel", e na
Parede do lado da geladeira, o único que penso
Que ainda está vivo, é o Jards Macalé, em show no
Seis e Meia, também presente do meu amigo
Luberto; na parede atrás de mim, uma pintura à mão,
Com dedicatória do autor, da cantora Billie Holyday,
Um quadro com Cartola, a aparecer parte do rosto,
Zé Keti entre ele e o Nelson Cavaquinho, com violão:
Detalhe: no outro quadro com o Nelson, ele segura
Um cavaquinho, à frente dum microfone, como se
Estivesse a dar um show, nalgum lugar; inda na
Parede às minhas costas, tenho a Elizeth Cardoso a cantar
Também ao microfone e o retrato do Futuca, da
Velha Guarda e um dos fundadores da Imperatriz
Leopoldinense, em foto de Atayde dos Santos, o Tatá;
Esses são os mortos que me acompanham nas vãs
Madrugadas da minha cozinha e a quem reverencio
Hoje, no dia dos finados, a mandá-los os meus
Recados e recomendações e a esperar as mensagens
Deles também, para fazer um remate feliz  duma obra,
Como o ourives trabalha o ouro; e o sinal gráfico que se
Tem para abranger, numa só designação, vários objetos,
Ou termos, é por isso que quero ser o que explica um
Fato, um fator decisivo; uma ferramenta para apertar
E desapertar peças mecânicas e a peça para abrir e fechar
Um mecanismo e entender, para não transformar
Este nosso mundo, num charvascal, num lugar imundo,
Onde nem os mortos queiram ficar; e preferem usar o
Chavão, a expressão muito gasta pelo uso, de passar desta para
A melhor e não manter esse chauvinismo, o nacionalismo
Exagerado, de que antigamente era motivo de orgulho;
Hoje é chato falar em nacionalismo, incomoda
Mais do que piolho na púbis virgem; é inoportuno e dar um ar
De semblante achatado, de superfície sem relevo, a chatice
Que é falar em nacionalismo; serve para chatear até
O presidente, só o vejo aborrecer-se, quando é para tratar
Do assunto; ele prefere passear pelas marambaias, em chata,
Embarcação de carga de fundo achatado, porém, com
Luxo à altura da imagem dele, que precisa de barras de aço
Para sustentáculo, como se ele fosse tão pesado quanto
Carroceria de veículos, automóveis; para suportar o ego
Do presidente só um chassi, pois ele não é a chapa
Sensibilizada que se coloca na câmara fotográfica
E deveria da mesma forma ser reverenciado entre os mortos;
Mas não entre os meus ilustres mortos e sim entre os
Mortos indigentes e sem identificações dos cemitérios
Clandestinos; tenho que chasquear dele, tenho que zombar,
Escarnecer, é só o que ele merece e o que posso fazer.