terça-feira, 23 de abril de 2013

Simplicidade habita comigo e singeleza mora em mim; BH, 0310501º0602001; Publicado: BH, 0230402013.

Simplicidade habita comigo e singeleza mora em mim
E luto pelo desadorno superficial do meu ser, pois quero ser um homem
Singelo; ser um ser simples e desadornado do supérfluo, e não
Quero é que chameis-me de desconceituador ou de desabonador
Ou ainda de desacreditador, nem da juventude, e nem da velhice,
E não abrais processos contra mim, pois não sou um Sócrates, e
Não terei altura, e não saberei defender-me; a pior coisa é ser
Desconceituado, ser desacreditado perante os seus; Sócrates não
Suportou, preferiu morrer, e já não terei a coragem de morrer
Assim, cheio de dignidade tanto quanto Sócrates; estou destreinado
Em virtude, desabituado com a razão e desacostumado com a
Grandeza interior; Sócrates foi grande, e foi longe, fez logo o próprio
Desacorrentamento, não ligava para desmaio com a presença dele, se
Causava delíquio ou desarmonia; não ligava para a discordância, e
Para o desacordo que a liberdade dele causava, mas, teve sustentação
E argumentação; fez a própria defesa e não era fala de inconsciente,
Não era espírito desmaiado, cérebro de desacordado; era espírito
Presente, tinha como poucos tiveram até hoje, presença de espírito, e
Foi, então, desaconselhado a abrir mão da consciência; e a ser taxado
De inoportuno na sociedade, queriam mostrá-lo, como um não
Prevenido; um não avisado, sem conselho, e ele, então, desacompanhado
E só, isolado, solitário, mas, a transbordar de coragem, de fé, de
Confiança, de consciência, de infinidade de princípios, preferiu morrer,
A ter a sua escola, como o que está fora de seu lugar; antes morrer a ser
Desacomodado, ter o discurso desarrumado pelos sofistas, melhor a
Cicuta, do que a má companhia; antes o veneno do que ter a reputação
Execrada publicamente, e soube como ninguém a desacidificar a dor, e a
Tirar o sabor ácido de tudo o que parecia fel aos normais, morreu doce;
E estava sempre alerta, atento, e nunca era pego em desacerto, erro e
Tolice, e desacordo, não eram com ele, por mais que quisessem os sofistas,
Não o podiam por inoportuno e desatinado; nunca caberia a ele a alcunha
De despropositado, e não era inconveniente, e não era errado, e morreu
Para não ser chamado de desacertado; a meta de Sócrates era a de desacerbar
A vida do homem, livrar do amargor e suavizar em vida a si mesmo; adoçar
E abrandar antes da morte o mortal, e o seu destino cruel, e não foi
Desacautelado ao beber cicuta; foi por opção, poderia se livrar, e ser um
Normal que não tem cautela, um pai descuidado, ou marido imprevidente, ou
Mestre desleixado; morreu longe e livre disso tudo, não se conheceu dele uma
Insubordinação, e uma falta de respeito ou desacatamento; o dia em que
Também desacanhar-me, tanto quanto ele, nada poderá deter-me, nenhum
Acanhamento, e tornarei esperto e desembaraçado; vereis um tal desacanhado,
Afoito e resoluto, que farei um desacampar na alma, é o mau a levantar arraial
E a deixar de estar em acampamento dentro do meu coração; lógico é que nós
Hoje, bilhões de viventes, não conhecemos no nosso meio, alguém que tem o
Valor e a qualidade que Sócrates teve; de repente, pode até acontecer, nos
Bolsões de pobreza e de miséria e de desgraça do nosso cotidiano, um
Representante, que tenha agido, de acordo com que Sócrates agiu, com desabuso;
Isento de preconceitos, desabusado, petulante e atrevido, inconveniente e tudo o
Que se pensar e se escrever sobre ele, com toda e a mais completa imaginação, e
Inspiração, poe cada um dos nossos bilhões de pensamentos, ainda será 
Pouco, o que se tem a dizer e a se escrever sobre ele; atingiu em vida o seu
Desabrocho e em espírito o desabrochamento, e se morreu desabrochado, nunca
Saberemos; não podemos dizer que ele morreu, era um desapertado, solto, aberto,
E fica para nós, entes de cabeças ocas, fechadas, difícil saber o que realmente
Aconteceu; nosso desabrimento, aspereza no trato, rudeza, no rigor do tempo,
Não nos deixa à altura de entender tal comportamento; somos pequenos e
Insignificantes demais, choramos no desabrigo, pela falta de abrigo, desamparo; e
Somos uns chorões, pranteadores contumazes, lamentadores extremos, e se algum
De nós ficar desabrigado, exposto à calúnia, e desprotegido igual a Sócrates, logo
Iríamos desabraçar as nossas razões; retirar os braços de nossas cruzes, cerrar o
Abraço com a morte, e temer o desabordamento, mesmo a sofrer o desabono e o
Desfavor, e a depreciação que Sócrates não suportou; foi o primeiro desabonador
Da morte, o primeiro desacreditador dela, e morreu como um desmoralizador,
Maior do que a morte; a morte foi pequena para ele, e penso que ela nem existiu, e
Ninguém hoje pode dizer de Sócrates um desabonado, ou um desacreditado e falto
De meios; superou os maiores e a desabituação, não permitiu a verdade desabitar
O ser dele, e nem a liberdade despovoar a alma, não era um corpo sem moradores,
Um organismo ermo, um deserto desabitado; não possuia desabilidade, e nem
Inabilidade em discutir com quem quer que quisesse, o desate não foi em vão, o
Desabamento não foi o dele; a parte que desabou duma construção não foi a sua,
O tombamento dele foi o que foi feito pela humanidade, e poucos sabem desabalroar
Na hora certa; desatracar antes da tempestade, desprender as amarras e afastar-se do
Porto; poucos são assim, conhecem um desabalroamento ou uma desatracação da
Falsidade; quando fazem um desabafo, é com lamúria de prejuízos, mostram só a
Expansão do que perderam; só vangloriam-se do desafogo fisiológico, e não conhecem
Desabafamento com moral, e na hora de demonstrarem virtude, o espírito não está
Tranquilo; e qual que é livre na razão? qual é realmente desembaraçado para exercer a
Liberdade? a cidadania? a sabedoria? o direito? cada um só sabe reclamar por si que é
Um desagasalhado; não tem o que comer, não tem o que vestir, não tem o que beber, não
Tem onde morar; é o choro do desabafado vão, é o choro em vão, uivam, clamam ao céu
Pelo designativo de afastamento dos céus, uivam pela privação; sentem a ação contrária
Da natureza e só sabem amaldiçoá-la, perguntam: que negação somos nós? e puxam os
Cabelos num destoucar descabelado, num descascar de frutos podres, e desarticular de
Palavras blasfemas: quer ser mais desagreste, algumas vezes com rancor que tem sido
Reduplicativo, reforçativo no furor, que teimam de desinfeliz, onde cada um quer ser
Mais desnudo que outro; só não sabem que estão a se despir somente da razão, da
Virtude, da moral, do equilíbrio e do valor de suportar o que o destino nos legar; o
Tribunal que esperava o derruimento de Sócrates, a única coisa que viu foi o próprio
Desmoronamento; jamais Sócrates se sentiu derruído, derrubado ou desmoronado; e
Nós sabemos disso, assistimos que nem a morte foi capaz de derrubar um homem que
Conheceu a si mesmo; nenhuma provação é capaz de prostrar um bom, nenhum agouro
É capaz de fazer cair ou lançar por terra um rochedo do tamanho que foi o Sócrates;
Um escolho rígido, que derrubamento algum chegou a abalar, e quem esperava vê-lo
Derrubado ou caído ou prostrado, ficou ele próprio derribado, arruinado, deposto:
Sócrates venceu até a derruba derrotista dos sofistas; traçou um roteiro de vida
Jamais conhecido, um derroteiro austero e elevado, arrogância de vencedor que só
Usa a força da inteligência; nunca foi errado no rumo que devia levar, nunca se mostrou
Desanimado, extenuado para trabalhar, vencido para amar ou derrotado para entender
A paz; foi derrogatório das más leis e usou de derrogação no que envolvia os maus
Princípios; pediu anulação duma lei ruim, por uma lei boa, derrogador do medo e
Anulador da covardia, anulante da mentira e derrogante da falsidade e fez o total
Derrogamento da ilusão pura como um arrastador das paixões e não de arrastado por elas:
Um destruidor de desejos, e não destruído por eles, um desmoronador de ilusões, e não
Um desmoronado por elas; enfim, um derrocador de preconceitos: assim, obrigado
Platão, quero agradecer-te pela excelente defesa, muito obrigado Platão, e também a
Xenofonte, pelos Memoráveis; e eu aqui a escrever sobre o Sócrates como se ele
Precisasse que um medíocre qualquer escrevesse sobre ele que nos deixou de tudo.



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