quinta-feira, 20 de abril de 2023

estou a procurar aqui

estou a procurar aqui
sem encontrar
uma poesia que
pudesse me libertar
um poema que
soubesse me elevar
e uma mulher que
quisesse me amar
é que sou sem igual
singular desigual
dúbio individual
e nem sei ser plural
tal paternal
quiçá filial
porém teimo
em estar aqui
já quase bem perto de partir
e não queria partir assim
sem deixar uma parte de mim 
e incompleto incerto
e duvidoso idoso
anoso anguloso
linear sinuoso
já pelancoso
e só a cultivar o lado rancoroso
que fim horroroso de vida lamentoso
e nem animais irracionais merecem
fim de vida infrutífero assim
a cultivar folhas mortas que nem o vento quer mais bolinar
ou espalhar pelos jardins quintais
apelo para mim
aos direitos dos animais
e o lenho enfumaça
e não arde
e não pega mais fogo
e o carvão deste lenhoso
não serve mais para assar
e nem as cinzas para adubar a terra insípida ai minha poesia
quem diria que sem ti
sofreria no fim desta vida sem labor
e sem cicatrizar as feridas

BH, 050402023; Publicado: BH, 0200402023.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

pensa em mim alguém aí

pensa em mim alguém aí
que não penso em ninguém aqui
porém queirais me perdoar 
é que não nasci para pensar
quem pensa raciocina
e nem sei raciocinar
quem pensa tem noção
e não tenho nem razão
e um dia encontro um norte
e se abandonar o azar
noutro dia encontro a sorte
e aí abraço de vez a vida
e desprezo totalmente a morte
e sinto saudades
e fico triste
e chego a chorar
é que o meu coração não sabe amar racionalmente
e vive às turras
ou em guerras
e vive a procurar encrencas
e nunca encontra felicidade
e quando pensa que é feliz
não dá mais tempo para fazer o que não fiz então diz daí para mim alguma palavra de amor
é que não conheço nada
e nasci ontem
ainda estou sujo de placenta
e o meu sangue é venoso
e só recebo sangue artificial
e tenho sede de sangue fresco arterial 
e uma única gota acaba o meu mal

BH, 030402023; Publicado: BH, 0170402023.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Lucasso, "Cabeça de Fauno"; BH, 030402023; Publicado: BH, 0140402023.

hoje ganho a vida diferente

hoje ganho a vida diferente
do que era antigamente
e para muitos até perco a vida
e ganho é a morte
porém para mim
ávido pela vida ávida
a vida não me parece tão ruim
é que todos querem muito sempre tudo
e o que quero é sempre pouco nada
ou só o suficiente para poder viver
e também para poder morrer
pois muitos só querem dinheiros
ou joias
ou diamantes
ou pérolas
e já sou indiferente a isso
e quero só letras
ou palavras
as quais já me são suficientes
quem tem letras
ou palavras tem tudo
e dizeis que não tenho ambição
mas a minha ambição é justamente esta
destruir o capitalismo
e a minha ambição é não gostar de nada
referente ao neoliberalismo
ou da falsa globalização
que fiquem com os tesouros
que fico com o meu coração
e meu coração é selvagem
nada domesticado
ou amestrado
e o meu coração não é de cão ensinado
e nem manipulado
é rebelde
é livre
não habita peito pacato
e sim revoltado pregador de revoluções
e de liberdades anatquistas
e de juventude independente
e de mocidade eternamente em busca
do rejuvenescimento do discernimento

BH, 030402023; Publicado: BH, 0140402023.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

se meu bem me perdoar

se meu bem me perdoar
nunca mais vou pecar
e vou poder ir para o céu
se meu bem me perdoar
porém se meu bem não me perdoar
é o inferno que será o meu lugar
e é por isso que necessito dum perdão
do fundo do coração do meu bem
ou do contrârio irei para o fundo do porão
do coração do meu bem
mas é o que não quero
nem o mofo do sótão
quanto mais o do coração
então meu bem me dá o teu perdão
e não serei mais pecador
e muito menos sofredor
e só terei o teu amor
e a paz que é capaz de resgatar
qualquer rapaz que anda na perdição
da devassiďão
da escuridão
então acenda o teu farol
e guia a minha embarcação ao ancoradouro
do teu cais seguro
e terei futuro puro juro
que nunca mais encalharei
em outras angras dos reis
ou fundearei âncora
em outro porto obscuro
pois seguiremos juntos a luz que guia o dia
e a noite também
e todo final da nossa oração
será um amém

BH, 030402023; Publicado: BH, 0130402023.

o estado deveria ser a obra-prima

o estado deveria ser a obra-prima
mais perfeita criada pelas mãos dos homens porém ao ser ausente omisso injusto o estado se torna imperfeito a gerar banditismo corrupções corrompidos corruptos corruptores fome doenças desequilíbrios sociais tais pobrezas misérias calamidades tragédias
quando o estado nâo dá o devido retorno
ao cidadão criador sustentador do estado
através duma educação inclusiva de alto nível
e oportunidades com salários iguais dignos a homens
e mulheres o estado deixa o misoginismo exposto junto com o racismo sobreviverem com a volta do nazismo
e muitos outros preconceitos malignos que deveriam nos envergonhar como legítimos criadores do estado mas não
tanto o estado como nós os criadores
e sustentadores nos vangloriamos desses preconceitos
e tecemos loas aos banditimos das elites
e das burguesias com suas corrupções
e seus corruptos estimados
e seus corruptores
e nos ufanamos de nos dar bem contra os que não se dão bem
e nem têm bens nem méritos ou informações privilegiadas os quais são barrados ou passados para trás mesmos que às vezes tenham currículos até melhores
dos que se pensam donos do estado
e o assaltam
porém o estado é de todos os povos cidadãos privilegiados ou não
e de toda a nação soberana
burguesa ou não
da elite ou não
plutocrata ou nâo
o estado foi construído por todas as mãos

BH, 0230302023; Publicado: BH, 0130402023.

terça-feira, 11 de abril de 2023

as palavras já as esquecemos

as palavras já as esquecemos
pois já nascem mortas nas nossas bocas
e não temos o poder de ressuscitá-las nas nossas línguas de víboras venenosas
e é por isso que não damos ouvidos ao que foi dito ou damos ouvidos de mercadores ou nos fazemos de ouvidos olvidos
e as palavras caem ao léu
e as letras no beleleu
e a língua já morreu
e o idioma não viveu
e a expressão idiomática não sobreviveu
e hoje somos mudos
e surdos
e cegos nos nossos absurdos pois não precisamos mais dos sentidos
e nem das sensações
e muito me3nos das emoções
e abelhas perdemos os ferrões
e as direções
e zangões zumbis voamos com asas de ícaros pregadas com ceras
e são voos sem instrumentos às cegas
e damos de caras
e faces
e bocas com os obstáculos
e nem sabemos mais como voltar a nós mesmos
e nem nos conhecemos mais
e ditam tudo por nós
e de acordo com o que temos
ou com o que não temos
somos condenados aos céus
ou aos infernos
mas não de acordo com as nossas vontades mas sim de acordo com os donos
das nossas vontades
que não somos nós

BH, 0230302023; Publicado: BH,0110402023.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

e passa-se o tempo

e passa-se o tempo
e não ganha-se o tempo perdido
que muitas vezes não se sabe como o perdeu e ganhou-se dinheiro é o que importa
e lucros muitos lucros
e poder também pois coisas podres
e fúteis todos sabem ganhar
e só não sabem perder
e depois que perdem vivem-se a lamentar
e a lamuriar nos muros dos quintais
e a chorar nas paredes das salas
e a prantear nas muralhas das fronteiras
e a lamber nas solas dos sapatos
e nos couros que dão pois
nunca tomam
nem caem
nem às escondidas pois são infalíveis
e heróis sempre vitoriosos
e fanfarrões contadores de histórias
e de causos faustos falsos falidos
e potentes sempre que não falham
são os homens modernos de academias
de barras pesadas onde levantam pesos saudáveis mas são reles mortais perecíveis descartáveis que fingem não saber o que são e se passam por deuses
e se posam de santos
e têm ares de anjos
e são demônios nas caladas das quebradas
e cada um com seu demônio particular pior do que o outro
e cegos não enxergam que só perderam tempo
e ganharam dinheiro
mas as almas não cresceram

BH, 0200302023; Publicado: BH, 0100402023.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

comi as folhas de relvas de walt whitman

comi as folhas de relvas de walt whitman
e virei animal irracional também
e ruminei poemas ao luar
e flatulei poesias aos dias
e mastiguei comida mastigada doutra boca
e doutro estômago fisiológico desci pelo
exôfago
e rarefeito em embolia pela laringe
e atravessei a faringe liquefeito suco gástrico e amargor da bílis pastoso surfei por outros tubos porém conheci o mundo selvagem do submundo mendigo do político imundo
e sanguessuga só suguei sangue venoso ou artificial ou encontrado no lixo pois o sangue arterial me fazia mal todo dia
e me arruinava não me melhorava
e fazia hemodiálise fazia transfusão era só confusão taquicardia em meu coração
e efeito colateral da rejeição
e enferrujado era expulso do peito estragado um coração estagnado estrangulado que nenhum peito sadio abrigava pois só habitava entre os habitantes marginalizados das estradas tais pedintes de encruzilhadas mulheres putréfatas putas prostituídas nos prostíbulos cobertas de feridas ou travestis violentadas ainda crianças estupradas que todos escondiam por motivos religiosos ou morais ou por status quo ou sine qua non
e as flores do mal de poesia surreal ou do poema regurgitado entre nacos de carne viva crua mal mastigada mal passada ou o vômito engolido aos arrancos espasmódicos e espermas de caďáveres encontrados em necrotérios cujos gases fazem parecer vivos mas é só uma má impressão dum fogo fátuo que qualquer morto causa depois de morto ao meter mais medo do que o vivo estranho que é encontrado pelas curvas das estradas

BH, 0170302023; Publicado: BH, 050402023.

domingo, 2 de abril de 2023

The Beatles - 1964 - Beatles For Sale

sou candidato ao prêmio nobel de literatura

sou candidato ao prêmio nobel de literatura
porque sou ao contrário do picasso pois
picasso dizia não falo tudo mas pinto tudo
e digo mais não falo tudo nem pinto tudo
porém escrevo tudo tanto que chego a ser
prolixo não consiso nem lacônico mas me
torno até estúpido ignorante repetitivo
e piegas simplório inglório a teimar mesmo
sem a genialidade de picasso sem liceu sem
licença sem nada no completo ensaio do
nada que chego a ser complexado mas que
vão às favas o certo é que escrevo para ser o
prêmio nobel de literatura o mais não
importa ou que não se abra a porta ou nem a
janela porém aqui na favela só encontro
motivos temáticos ou inspirações nas ruelas
nos becos nas vielas das valas ao inferno
aberto pois uma vala de esgoto nunca está
para um céu aberto porém sim para um
inferno aberto pois é só o que o capitalismo
sabe fazer é nos transformar em
sobreviventes do inferno donde não
conseguiremos fugir nem com as nossas
leituras quanto mais com as nossas
escrituras ou com as nossas escritas que
sempre serão proscritas
e nunca serão sagradas ou consagradas mas
sacripantas profanas que
pelo prêmio nobel de literatura têm ganas

BH, 0150302023; Publicado: BH, 020402023.