quarta-feira, 5 de abril de 2023

comi as folhas de relvas de walt whitman

comi as folhas de relvas de walt whitman
e virei animal irracional também
e ruminei poemas ao luar
e flatulei poesias aos dias
e mastiguei comida mastigada doutra boca
e doutro estômago fisiológico desci pelo
exôfago
e rarefeito em embolia pela laringe
e atravessei a faringe liquefeito suco gástrico e amargor da bílis pastoso surfei por outros tubos porém conheci o mundo selvagem do submundo mendigo do político imundo
e sanguessuga só suguei sangue venoso ou artificial ou encontrado no lixo pois o sangue arterial me fazia mal todo dia
e me arruinava não me melhorava
e fazia hemodiálise fazia transfusão era só confusão taquicardia em meu coração
e efeito colateral da rejeição
e enferrujado era expulso do peito estragado um coração estagnado estrangulado que nenhum peito sadio abrigava pois só habitava entre os habitantes marginalizados das estradas tais pedintes de encruzilhadas mulheres putréfatas putas prostituídas nos prostíbulos cobertas de feridas ou travestis violentadas ainda crianças estupradas que todos escondiam por motivos religiosos ou morais ou por status quo ou sine qua non
e as flores do mal de poesia surreal ou do poema regurgitado entre nacos de carne viva crua mal mastigada mal passada ou o vômito engolido aos arrancos espasmódicos e espermas de caďáveres encontrados em necrotérios cujos gases fazem parecer vivos mas é só uma má impressão dum fogo fátuo que qualquer morto causa depois de morto ao meter mais medo do que o vivo estranho que é encontrado pelas curvas das estradas

BH, 0170302023; Publicado: BH, 050402023.

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