quarta-feira, 15 de junho de 2011

Casimiro de Abreu, Pepita; BH, 0140602011.

Minh'alma é mundo virgem - ilha perdida -
Em lagos de cristais;
Vem, Pepita, - Colombo dos amores, -
Vem descobrí-la, no país das flores
Sultana reinarás!

Eu serei teu vassalo e teu cativo
Nas terras onde és rei;
À sombra dos bambus vem tu ser minha;
Teu reinado de amor, doce rainha,
Na lira cantarei.

Minh'alma é como o pombo inda sem penas
Sozinho a pipilar;
 - Vem tu, Pepita, visitá-lo ao ninho;
As asas a bater o passarinho
Contigo irá voar.

Minh'alma é como a rocha toda estéril
Nos plainos do Sará;
Vem tu - fada de amor - dar-lhe co'a vara...
Qual do penedo que Moisés tocara,
O jorro saltará.

Minha'alma é um livro, encadernado,
Co'as folhas em setim;
 - Vem tu, Pepita, soletrá-lo um dia;
Tem poemas de amor, tem melodia
Em cânticos sem fim!

Minh'alma é o batel aprendido à margem
Sem leme, em ócio vil;
 - Vem soltá-lo, Pepita, e correremos
 - Soltas as velas - desprezando remos,
Que o mar é todo anil.

Minh'alma é um jardim oculto em sombras
Co'as flores em botão;
Vem ser da primavera o sopro louco,
 - Vem tu, Pepita, bafejar-me um pouco,
Que as rosas abrirão.

O mundo em que eu habito tem mais sonhos,
A vida mais prazer;
 - Vem, Pepita, das tardes no remanso,
Da rede dos amores no balanço
Comigo adormecer.

Oh, vem! eu sou a flor aberta à noite
Pendida no arrebol!
Dá-me um carinho dessa voz lasciva,
E a flor pendida se erguerá mais viva
Aos raios desse sol!

Bem vês, sou como a planta que definha
Torrada do calor.
 - Dá-me o riso feliz em vez da mágua...
O lírio morto quer a gota d'água,
 - Eu quero o teu amor!

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