quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

entocado intocável lobo da estepe

entocado intocável lobo da estepe
a uivar para a lua
e de longe os ventos respondem
e as folhagens
e os gravetos que gravam nos ciscos que
são sonetos
e os riachos sorisos de rios que riem
e os regatos miam em ré
e os ribeirões sombrios
e os açudes sossegados mansos
e os espelhados caminhos prateados
e a noite segue inerte para quem não a
conhece mas vibra para quem é de fibra
tem cordas de violinos cavaquinhos violas
ou violões
e poetas vilões roubam riquezas da noite
e engravidam a madrugada que dá à luz
ao dia na estrada
e vampiro o poeta foge para o esconderijo
e rijo dorme teso como se fosse morto
cadáver roto que ninguém quer encontrar
em nenhuma encruzilhada para
encomendar
ou rezar uma missa de corpo ausente
ou fazer uma oração
ou uma prece pueril que seja para que
o defunto não peleja nas brenhas por onde
tem que andar a catar grãos de poeiras para
fazer picumãs
e forrar os forros
e os assoalhos das casas velhas
e tudo é velho quando o poeta é velho
e por mais que façam uma boa maquiagem
o presunto parecerá vencido
e com jeito de carne estragada

BH, 0100802022; Publicado: BH, 040102023.

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