sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

e hoje vivo aos retalhos

e hoje vivo aos retalhos
ou talvez
aos resquícios
e só sei que não vivo
e a engabelar meio mundo
ou ao mundo inteiro fujo da morte mesmo
sem dinheiro
e sem sorte dou um corte no azar como um
bom driblador
e cada dia para mim é um gol
e cada noite uma goleada
e cada madrugada uma vitória expressiva
e acordo campeão do mundo
e artilheiro
e levanto as taças
e os canecos
e os troféus
e finjo que não sou trouxa
e nem bobo
ou tolo
ou besta
e ainda saio por aí a escrever para ganhar
o prêmio nobel de literatura a quem quiser
me oferecer pode ser o poeta que foi
despejado
e agora mora debaixo duma marquise
ou pode ser o rebelde que não aceita a
sociedade
e constrói refúgio debaixo do viaduto
ou abre uma caverna numa lacuna imunda
ou uma loca que mais parece uma cloaca
ou ofertar de remendos em remendos
aos felizes
e de mímicas em mímicas macaco imito os mitos
e faquir não merendo todo dia
e janto noite sim
e noite não
e almoço quando o santo lembra de mim mendigo
e me diga aonde vou
e me diz algo ao meu coração
se amiga não tenho
e amigo não sou
e nem sei donde venho mas a paz me habita
quando jaz em mim a infelicidade
e mesmo que momentânea
e jaz em mim a melancolia
e vem a euforia da alegria pode até ser o
álcool na veia não importa vou abrir a porta
e deixar a tristeza ir embora
e viver sem peso na consciência
e viver sem sentimento de culpa
e viver sem remorso
e viver sem consciência pesada
e viver sem arrependimentos de alma penada

BH, 01301202022; Publicado: BH, 0130102023.

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