não é aquela vida ávida por desejos
prazeres amores a herança encarnada
é ódio rancor ira raiva vingança contra
mulheres velhos crianças criaturas
nem se fala na natureza já tantas vezes
dizimada maltratada mares poluídos
oceanos mortos rios exterminados
lagoas secas lagos contaminados
nascentes abortadas a vida não é amor
paz meio ambiente lazer viver
a vida é matança chacina execuções
papai mata mamãe mamãe mata bebê
polícia assassina jovens nos subúrbios
das periferias países perseguem
refugiados flagelados governos fazem
vistas grossas ao racismo xenofobismo
nazismo injustiça violência covardia
a vida não é poesia a dar à luz um
poema nem com cesariana nem com
aborto provocado parto normal o
poema nasce morto a musa maior a
mulher mãe avó tia prima irmã amiga
amante amada a que era a fruta da
poesia o fruto jaz a um canto amontoado
pele de papel ossos de vidro olhos baços
a definhar lentamente sem aparentar
nada do que outrora foi gente a vida
hoje é indigente indiferente à felicidade
justifica-se o injustificável com a maior
naturalidade pensa-se o impensável
maquinalmente maquiavélicamente a notícia
amanhã é esfregada na cara de todos
até arder os olhares o bombardeio segue
interminável na ansiedade de provocar
outra tragédia que gere mais audiência
do que a anterior com pavor horror
redobrados segue-se a vida contaminada
numa aberta ferida crônica viciada
BH, 080102017; Publicado: BH, 0220202024.