quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

silêncio de infelicidade de morte

silêncio de infelicidade de morte
no barraco do barranco na boca da favela
parece que todo mundo morreu de bala perdida
ou a policia invadiu a favela executou os favelados
um por um dentro dos seus barracos
pois não ouço um murmúrio qualquer que seja
uma música nem funk nem brega nem sertaneja
samba já não se fala mais na favela
pagode sumiu com batuque atabaque
macumba tambor tantã de batucada
a favela está igual a um cemitério ou 
necrotério ou instituto médico legal
como se todo mundo tivesse morrido
morreram os malandros as mulatas os mestres-salas
morreram os menestréis as porta-bandeiras
passistas cavaquinistas cuiqueiros ritmistas
agogôs tamborins na favela agora
virou um céu mas quando a polícia
exterminadora do futuro chega
o que impera é o medo do presente
o pontapé na porta do barraco
tiro na cara corpo na vala
criança no esgoto choro no gueto
lençol manchado de sangue
música fúnebre réquiem enterro 
mães desesperadas
pais atônitos
ninguém pode fazer nada no tapa na cara
todo bandido finge de trabalhador
tudo traficante que está a atirar na policia
que está a fazer o seu digno trabalho a
ceifar a juventude na fonte do rejuvenescimento
ouço nas janelas dos barracos nos barrancos
as namoradas nos lamentos

BH, 0501002023; Publicado: BH, 01º0202024.

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