sexta-feira, 22 de agosto de 2025

de mim não me farão uma laranja mecânica

de mim não me farão uma laranja mecânica
ou suco de manga ou biruta de pelourinho
de mim não exporão a cabeça num poste em
via pública serei um esporão um espinho
cravejado no cérebro um cérbero rebelde a
defender meu inferno de mim não tirarão
fidelidade à religião pelo contrário
iconoclasta porei no chão todas as estátuas
de santos de pau oco de pés de barro posso
até respeitar os que foram feitos com o
mármore nobre branco de carrara extraído
das montanhas sagradas do mármore
branco thassos da grécia o calacatta oro o
arabescato corchia das cordilheiras santas
dos alpes apuanos na itália o nero marquina
ou o mais nobre de todos os mármores o
sagrado para santuário o gioia de carrara
porém também pudera não tenho a estatura
dum davi para ser imortalizado em qualquer
tipo de mármore nem dos mais bizarros os
bonequeiros mestres têm muita argila muito
barro vermelho até preto muita madeira
para carvão para me moldar num esboço
num protótipo de homem nunca dum rodhes
um colosso um gigante de maratona sopra
numa flauta de osso não de osso sacro que
não serve para fazer flauta nem levar
ninguém para o céu só para o beleleu donde
nunca deveríamosmos ter saído para
exterminarmos nossa civilização

BH, 040702025; Publicado: BH, 0220802025.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

CHICO BUARQUE, PEDAÇO DE MIM:

Pedaço de mim

Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim

Leva o teu olhar

Que a saudade é o pior tormento

É pior do que o esquecimento

É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim

Oh, metade exilada de mim

Leva os teus sinais

Que a saudade dói como um barco

Que aos poucos descreve um arco

E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim

Oh, metade arrancada de mim

Leva o vulto teu

Que a saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto

Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim

Leva o que há de ti

Que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada

No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim

Oh, metade adorada de mim

Lava os olhos meus

Que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo

A mortalha do amor

Adeus


na última batida do teu coração quando

na última batida do teu coração quando
definitivamente pararam os movimentos da
sístole da diástole o meu quase saiu pela boca
impedi-o com a palma da minha mão enquanto
o universo num grito infinito explodiu meus
tímpanos o caos implodiu meu cérebro vaguei
pelo espaço eterno a procurar a morte sem
sorte ainda não encotrei a minha ou já a
encontrei não sei pois agora não sei de mais
nada como nunca soube nem nunca saberei
porém para que saber dalguma coisa depois da
última batida do teu coração? bom mesmo
então é não saber nunca de nada nem de
agradecer ou de pedir perdão ou de pedir paz ou
de pedir amor ou de dar amor amar serei
homem comum do lugar comum mau a fazer o
mal sem igual nunca o bem sem olhar a quem
todo homem para ser homem tem que ser 
assim sangue nos olhos ódio na face
preconceitos na voz igual à uma pessoa
salafrária tal a um pastor malafaia ainda um
macedo a falar em nome de deus a prometer
os céus a pregar a salvação a ser reverendados
reverenciados pelo gado cristão evangélico ou
não gado é gado em qualquer religião ou em
qualquer ocasião seguirei solitário sempre
sozinho o teu coração o meu já não me
pertence jaz já o levaste contigo quando
partiste só o arcabouço do meu peito vazio
agora é que exala no exílio da minha rua esse
mau cheiro de cadáver em decomposição

BH, 070702025; Publicado: BH, 0190802025. 

estás sem amor estás sem mulher estás sem dinheiro

estás sem amor estás sem mulher estás sem dinheiro
sozinho no rio de janeiro sem dinheiro estás sem amigo
vira todo mundo inimigo ninguém dá mais atenção
nem o pastor da igreja uma benção nem te chama de
irmão ou o padre faz uma encomendação sem dinheiro
não tem samba no terreiro batucada mulata cerveja
gelada segues pelas praias leme copacabana arpoador
ipanema leblon olhas os dois irmãos corcovado
cristo redentor pão de açúcar nenhum milagre
feito por deus nosso senhor cai do céu azul sol a pino
suor na pele sal fino calor só falta agora a polícia
puxar um papo reto num forjado ou uma bala pedida
mandar-te para o saco feito malandro que perdeu a
majestade a dignidade que ninguém mais o respeita
nas rodas de malandros capoeiras rasteiras cais não
levantas mais levas porrada levas sarrafo és passado
para trás entras nas filas pelo parceiro carregas
embrulho para o chegado carregas o pesado para o
irmão chegas ao fim do dia sem condição não saíste do
anonimato ainda sem algum na mão nem ogun
quer ajudar-te oxum chega para lá perdeste os orixás
também não foste ao terreiro nem levaste flores à
iemanjá assim não dá morres afogado na preamar
fingias que sabias nadar acompanhaste em transe
uma morena nua bonita de lá não soubeste mais
voltar só o corpo a boiar encalhou nas areias brancas da praia

BH, 0110702025; Publicado: BH, 0190802025.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

NIRVANA:


 

um dia me lembro de tudo que esqueci aqui

um dia me lembro de tudo que esqueci aqui
escrevo onde só escrevi o que esqueci é que
agora escrevo como um morto sem lembrança
sem memória sem recordação em vida só soube
chorar não queria lembrar de nada só queria
esquecer de tudo hoje explode a cabeça implode
o cérebro ao tentar lembrar dalguma coisa
para escrever nunca encontro nada foram-se
os tempos dos romances das poesias dos poemas
agora são só confetes serpentinas  purpurinas
fantasias alegorias perfumarias enredos superficiais
sambas comerciais marchas de infantarias
cadências de artilharias atropelos de cavalarias
acabaram-se a rebeldia a evolução a revolução
a vanguarda acabou-se o modernismo voltou-se
o conservadorismo o imperialismo o colonialismo
o capitalismo ainda dita as velhas regras da
esvravidão da exploração o liberalismo ainda
controla a vida a morte o sul o norte não
temos saída saúda só ataúde quando temos
dinheiro quando não temos nem existimos
que se foda o mundo inteiro aí jovens com
cabeças de velhos conservadores de senhores
de engenhos feudais de capitães do mato  de
capatazes de fazendas de café ou casa grande
de burgueses medievais de elites pré-históricas
jovens outrora geniais hoje destilam preconceitos
ódios pensamentos monstruosos fundamentalisras
de igrejas construídas em cima de depósitos de ossos

BH, 0110702025: Publicado: BH, 0180802025.

domingo, 17 de agosto de 2025

ACDC:


 

o meu único livro é um livro universal infinito

o meu único livro é um livro universal infinito
a minha única obra-prima jamais ganhará o
prêmio nobel de literatura não a pensam
estilosa pelo contrário gritam que é horrorosa
que acompanha o mundo cruel que admira
israhell que condena a palestina o terrorismo de
gaza que não luta pelo fim do bloqueio
econômico a cuba o meu único livro nunca será
lido é um livro de letras pré-históricas é um livro
de palavras rupestres rudes rotas nenhuma
editora quererá publicar meu livro septuagenário
onde pulsa um coração de puta o coração duma
travesti negra preta cabocla mulata esmagada
pelo calcanhar da elite esmigalhada pela
opressão da burguesia relhada nos pelourinhos
do sistema onde só nós negros somos relhados
não deixeis as crianças terem acesso a este
livro profano herético pagão que só merece a
fogueira da inquisição pois expulso do santuário
excomungado pelos papas borgia meu livro é
uma orgia não tem poemas não tem poesias só
bacanal de bacantes bacanas que batem
palmas aos poderosos balançam as joias aos
reis às rainhas aos príncipes jogueis este livro
no abismo do vulcão em oferenda ao mundo
cão ao caos da fornalha da bíblia aumentada
sete vezes caceis este livro das bruxas das
luxúrias dos magos malignos do gigante de são
ciprião meu livro não fará parte de nenhuma
biblioteca só passeará nos jardins das flores do
mal dos maus que pensam que o mundo é um
paraíso que a terra é um éden meu livro é só um
terreiro de macumba uma escola de aprendiz de magia negra

BH, 040602025; Publicado: BH, 0170802025.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

lembras de quando tinha medo que pulasses dentro do espelho?

lembras de quando tinha medo que pulasses dentro do espelho?
ou de que morresses engasgado quando comias ou ingerias
comprimidos? água não gostavas de beber bebias pouca ou
quase nenhuma por isso não morreste afogado morreste
doutra causa qualquer que não foi por amor que não foi por
mulher porém morreste apesar do pesadelo do desespero que
foi te ver morrer sem nada poder fazer não tens ideia do que
fazias em mim quando si lançavas para trás sem querer saber
o que ia acontecer si jogavas contra as paredes sem voltar
a si lutavas contra o guarda roupa os armários vidros
quebravas lançavas pelas janelas porém tudo isso valia a 
pena estavas aqui bem ou mal bom ou mau estavas aqui eras
tudo que importava estavas aqui observava-te conservava-te
na vã esperança dum dia ser feliz contigo a preservar teu riso
teu sorriso doce tua pele alva de branco de neve só teu copo
continuou na cozinha teu corpo a terra levou de mim a me levar
junto grago-te abraçado a mim dois esqueletos presos
entrelaçados engendrado um noutro casal esmeralda quasímodo 

BH, 0130802025; Publicado: BH, 0130802025.

CHEAP THRILLS:


 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

ai se tivesse o dom de preencher todas as folhas que

ai se tivesse o dom de preencher todas as folhas que
caem das amendoeiras das tamarindeiras
das gameleiras com letras a ser levadas pelos ventos das tardes de todas as estações até
que cheguem à andrômeda ou outras vastas
galáxias mais distantes ai se tivesse um dom
de preencher com palavras as folhas das
relvas das selvas as seivas das árvores
genealógicas ou das árvores das ciências do
bem do mal de gaia da pedra fundamental
da pedra filosofal da caixa de pandora da
panaceia que curam a civilização expande a
evolução perpetua a revolução a decretar
que ninguém mais sofreria não nem criança
morreria de fome ou de sede ou escuridão a
mulher morta pelo homem ai quem me dera
uma espera de esperança de sonho de paz de
criança sem pesadelo sem medo ou angústia
desespero ansiedade só felicidade de mãe a
amamentar de pai a cingir o filho no seio
sem receio nenhuma bomba irá mais cair do
céu nenhuma mina arrancará mais pernas
de meninas seu moço me segura se não vou
dar um troço não quero mais guerra na terra
enterra tuas convicções teus canhões teus
colhões lá no cu do judas aqui não pões no
meu nem no meu torrão decretei paz no
coração da humanidade nos sem idade da
raça rara humana nos sem anos do ser vivo
humano raro quem fizer guerra agora aqui
há de se ver comigo correrá perigo estou
bem armado de lápis papel caneta nas
mãos o que escrevo gera reação de
geração em geração nem o bom deus
concede o perdão da total remissão

BH, 070702025; Publicado: BH, 0110802025.

ninguém pergunta por mim que também não pergunto por ninguém

ninguém pergunta por mim que também não pergunto por ninguém
dizem os ditos faladores que necessitamos perguntar só sobre
ideias nunca sobre gentes pessoas então
penso que estou no
caminho certo que todos os outros seres pessoas gentes
estão no caminho certo já que o caminho
dos ideais
superiores das ideias geniosas não terreais inacessíveis
pois terra é o que temos demais dentro de nós mesmos
filhos da terra só fomos formados de terra pela terra seremos
devorados espalhados nas nossas próprias poeiras das
partículas das moléculas dos átomos das
matérias só
não podemos ser partidos ou provocaremos explosões
atômicas ou nucleares em cadeias sucessivas infinitamente
o cais gerará o fim total estamos a acelerar celerados de
vento em popa com todas as velas desfraldadas que as naus de
toneladas de tão leves parecem flutuar à flor d'água a encantar
marinheiros argonautas internautas doutros
mares uniersais
doutros universos celestiais tudo depende do que gera a
mente de ondas abelhadas que germina uma semente
semelhante sempre avante sem pensar no futuro pois
o futuro ainda não existe não se pode pensar
no que  não
existe por algum momento não existimos também se
ainda não chegamos ao futuro teimais em ajuntar
dinheiros bens saúde salvação se o futuro não vier tudo
será em vão até a morte vivamos então
enquanto temos sorte

BH, O90702025; Publicado: BH, 0110802025.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

quando te vejo igual água entro em ebulição

quando te vejo igual água entro em ebulição
meu vulcão em erupção meu coração em tal
pulsação meu carvão em combustão meu vil
corpo todo em incêndio farol de milha tição
em fumegação lenha boa para defumação só
não posso te ver que sinto comichão à urtiga
coceira de cansanção pela pele pelada póros
em liquefação perco sólido perco gasoso
perco até pastoso perco em qualquer estado
da matéria escura ou clara tua presença
reverbera em qualquer estação primavera
verão outono inverno do ano terreal lunar
ou o doutra dimensão espacial se estás
comigo sou o dono da bola controlo toda a
situação danço conforme a música dou
murros em ponta de faca pego em fios
desencapados dirijo na contramão não tenho
olhos para mais nada és a minha única visão
se tivesse sete vidas as sete depositaria em
tuas mãos não quero mais nenhuma vida
além da tua a não ser a minha para poder te
oferecer sei que é pouco pelo muito que
fazes por mim para merecer não mereço
nem viver mas vivo por ti por ter o teu ser o
único ser entre os seres vivos que sabe me
fazer sentir ser viver pois se navegar é
preciso viver não é preciso se não for guiado
pôr teu coração em sensação em emoção

BH, 090702025; Publicado: BH, 070802025.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

não posso fazer nada pois tenho que fazer meus poemas

não posso fazer nada pois tenho que fazer meus poemas
que não servem para nada pois não posso ser nada nem
um heterônimo tenho que ser meus poemas minhas poesias
para que tanto nada então? a vida não é nada até mesmo
para quem tem tudo que porém no fim não pode levar nem
a si mesmo chega de cobrar ao falar em tanto nada mas
que é nada pode falar em alguma outra coisa? quem é
nada pode ter somar dividir multiplicar alguma coisa?
só diminuir nem vida acrescenta para viver o que é nada
não pode ter nem de comer nem de beber a não ser se for
álcool destilado desdobrado misturado rabo de galo coquetel
molotove tnt de manhã é que se ver o resultado do
arrasa quarteirão o tremor das mãos as palpitações
do coração as depressões os sentimentos guardiães dos
pesadelos dos terrores suores que ensopam camas lençois
fronhas travesseiros sou cego de nascença nem na sofrência
enxergo alguma luz no fim do túnel o trem quando me
atingiu estava com o farol apagado morri desesperado
não havia outro jeito para morrer só morre diferente
quem não faz gesto de gente não tem sentimento nem
sentido ou direção isto é nada em nenhuma dimensão

BH, 0110702025; Publicado: BH, 050802025.

deixai envelhecer curtir igual ao vinho na pipa

deixai envelhecer curtir igual ao vinho na pipa
de carvalho a cachaça no barril de amburana
o whisky no tonel de bálsamo usai todas as madeiras
nobres no processo jequitibá ipê tapinhoã grápia
freijó deixai maturar defumar tal a carne a linguiça
no pau defumador em cima do fogão à lenha da cozinha
de minha avó menino não põe água na moringa
cuidado com a pinga pura não mistura vai estragar
pinga é coisa sagrada só não se pode é abusar
ou se ver até bode preto no altar o padre rouco
pároco não vai gostar apesar de também tomar umas
antes da missa rezar esse vigário padre junta com o
sacristão aí então só estalar de língua é pinga
com limão a mulher o sacristão arruma escondida
na sacristia antes do fim do dia de noite rola a folia
pega essa oferta na caixa de esmola cala a boca da
vadia já bebeu demais pode bagunçar a orgia seu
vigário não é bobo nem otário não comete crime
igual ao padre amaro só toma umas outras escondidas
no armário deus perdoa quaisquer desvios de conduta
não serão umas recaídas profanas chamuscar
no fogo do inferno as batinas santas do santo irmão

BH, 0150702025; Publicado: BH, 050802025.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

JOHN LEE HOOKER:


 

de repente desperto para uma nova era

de repente desperto para uma nova era
as crianças agora dormem em paz na terra
os homens acabaram com as guerras o sol
continua nascente poente nas serras não se
fala mais em fome sede infelicidade tudo se
encerra dos céus não caem mais bombas a
arder os seres vivos todas as armas atômicas
nucleares foram desativadas as pálpebras de
todos pesam com o sono da inocência os
cílios as pestanas entrelaçam-se só se pode
enxergar do amor do perdão as centelhas
sob as sombras das sobrancelhas já a
maldição dos malditos as malvadezas dos
malvados as maldades dos males dos maus
foram todas ao chão bem enterradas em
covas profundas o planeta respira numa
atmosfera renovada o ar não é mais
rarefeito poluído pesadão encardido os
pássaros voam livres das gaiolas viveiros
arapucas alçapões a flora está abençoada a
fauna resguardada ninguém mais agride
ninguém todo mundo acordou vivo no
paraíso terreal real como se estivesse sido
arrebatado ao celestial à essa nova vida de
sonho de criança de mulher no embalo do
ato do gozo do amor que regalo para o
regaço sagrado a mulher no seu devido
lugar tal santa num altar deusa num andor
inviolável intocável só a servir ao amor ou
musa dalgum poeta louco sempre apaixonado

BH, 090702025; Publicado: BH, 040802025.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

JOE BONAMASSA:


 

CHORINHOS DE OURO:


 

BIANCA GISMONTI, MIB:


 

não conheço um poeta que tenha agredido uma mulher

não conheço um poeta que tenha agredido uma mulher
ou batido na santa face duma mulher ou que levantou a
mão à uma deusa mulher a profanar seu sagrado
semblante ou um simples empurrão a jogar o andor no
chão igual a um iconoclasta a destruir uma imagem
num altar na hora que algo assim acontecer no ato o
poeta cai no chão em maldição deixa de ser poeta
bendito passa à galeria dos seres malditos vai direto
para o  corredor da morte cadafalso força fuzilamento
lapidação pública fogueira da inquisição autópsia em
vida dissecação amputação sem sedação quaisquer
castigos são poucos a um poeta que para uma mulher
levanta a mão num feminicídio é o fim da carreira do
judas num suicídio o melhor é levantar outra coisa
o altar eleva os olhos ausculta o coração pode ser por
exibição em oração louvor devoção por apologia ao
sensacionalismo não importa vai todo mundo saber
que é por puro amor vai curtir compartilhar viralizar rir o
poeta está ali a beijar a mulher amada na boca que
coisa louca quer aparecer quer lacração monetização
não faz mal só não pode é levantar a mão é sacrilégio é
heresia não é poeta é herege de que adianta bater numa
mulher aí apanhar dum homem ou até mesmo da
própria mulher? aprendamos com o poeta para o que
foi feita a mulher então para o amor para a paz para o
perdão para o gozo da salvação para o prazer da
vida para a prece a reza a oração poema poesia ode à
alegria sonetos todas as horas todas as noites todos os dias

BH, 090702025; Publicado: BH, 0310702025.

terça-feira, 29 de julho de 2025

a consciência do consciente é elemento potente

a consciência do consciente é elemento potente
deve-se compartilhar consciência vinte quatro
horas por dia pois o ser inconsciente compartilha
inconsciencia nos detalhes nos resquícios nos atos
numa postura que vira descompostura até dentro
dum ônibus ou ao atravessar um automóvel numa
calçada o parachoque encostado na parede a traseira
no meio-fio sem deixar a mínima oportunidade
do pedestre transitar em segurança na calçada
no comportamento inconveniente em tudo que faz se
declara inconsciente na falta de educação de cultura de
ciência ao desprezar a soberania ao agredir a soberania
o elemento inconsciente se transforma num mau
elemento religioso do mais asqueroso se faz preconceituoso
não há nada que o faça voltar à realidade ao progressismo
ou ao modernismo pelo contrário se apega às trevas do
conservadorismo do armamentismo combate aos
direitos humanos civis sociais trabalhistas derrubada
da justiça faz pregação do estado mínimo devoção ao
imperialismo às oligarquias até ao colonialismo
a inconsciência faz o inconsciente voltar ao medievalismo
ao feudalismo ao ponto de combater vacinas faculdades
universidades até mesmo escolas do primeiro
estágio o inconsciente é um ser nocivo à nação
nefasto para a civilização ou à sociedade por mais que
algum método tenta resgatar o elemento inconsciente
da inconsciência a tarefa é infrutífera a fera é indomável
parece que a mente está numa caixa inviolável

BH, 0110702025; Publicado: BH, 0290702025.

decadente sempre até o dia no qual

decadente sempre até o dia no qual
chegar a minha hora fatal letal terminal
muita gente já foi à minha frente está à
espera de mim que vou assim que for
possível no findar da minha tarefa aqui que
não foi fácil pois foi mais difícil devido à
minha dificuldade em quebrar paradigmas
romper a lógica abalar paradoxos sempre
tive medo de quebrar a cara de abraçar a
rebeldia de fazer uma revolução perdia o dia
certo com medo de derrubar o conservadorismo
abater a burguesia exterminar a elite detonar
o status quo predar o stablisment pôr abaixo
o sistema a fazer com que o pelego deixe de
ser pelego ou que o trabalhador seja emancipado
num movimento de emancipação do proletariado
com o proletário revolucionário independente
livre das correntes do capitalismo do escravismo
do colonialismo principalmente do imperialismo
medieval neoliberal sei que é uma utopia sei
que é um onirismo também porém temos de
parar os que querem matar nossos sonhos
ou destruir nossa realidade do contrário
continuaremos cobaias ou capachos ou eternamente
explorados manipulados escravos dos escravos
boçais dos boçais sem luta melhor é dar adeus até nunca mais

BH, 0150702025; Publicado: BH, 0290702025.

CAETANO E CHICO: PARTIDO ALTO:

 


CAETANO E CHICO:


 

segunda-feira, 28 de julho de 2025

a cada dia que passa escrevo menos

a cada dia que passa escrevo menos
leio menos falo menos vejo menos vivo
menos como se fosse desaprender das coisas
desapegar das letras no apagar das palavras
ao enturvar dos pensamentos passo hora na
expectativa diante das linhas das paralelas
das passarelas às vezes até de madrugada
na esperança de ser honrado por algum ente
iluminado do universo que queira me
mandar um verso um soneto mesmo de pé
quebrado um raicai um rap do hip hop
qualquer coisa porém nada nado em vão no
vão da sacada nenhuma sílaba monosilaba
disilaba trisilaba quanto mais uma polisilaba
fiquei mudo o resto da vida perdi a língua o 
idioma as cordas vocais cardíacas pêniais o
pêndulo não oscila mais só meus ais ecoam
nas paredes ocas nuas que parecem muros
de cemitérios velhos abandonados com as
cruzes caídas para os lados esqueletos
encostados as caveiras tristes os ossos
quebrados nunca mais vi um cometa nem o
de halley ou uma estrela cadente sou só um
velho septuagenário doente à espera do
poente não mais serei um sol nascente

BH, 0150702025; Publicado: BH, 0280702025.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

universo pega essa mão que pega uma pena

universo pega essa mão que pega uma pena
passeia com essa mão por teus organismos
intestinos entranhas reentrâncias saliências
vales cânions montanhas picos cordilheiras
essa mão é cega mão de cego enxerga pelo
tato pela pele pelos buracos póros essa mão
é mão morta de morto nunca fez nada nunca
construiu ou edificou é mão de anão onã
mão de pagão procrista nunca plantou o
trigo amassou o pão é mão perdida no vào
da escada nas curvas das estradas no vácuo
da vida já agrediu muito não deu esmolas
nunca se postou em oração nunca fez um
carinho uma retribuição uma ternura um
gesto de positividade de paz de perdão de
amor é mão assassina arranca o bem pela
raiz perversa não escreve versos pelo
contrário mata a poesia latente destrói o
poema poente é mão de lenhador de quem
sabe manipular uma motosserra um
machado uma máquina que arrasta
correntão é mão de menino malino maligno
que abre ovo de passarinho no ninho é mão
que não serve para pergaminho nem fazer
manuscritos partituras escrituras linhas
presentes é mão calejada de cajado ralada de
vara machucada de varão aleijado por dentro
pelo mal causado pela religião do dito cristão

BH, 0150702025; Publicado: BH, 0230702025.

TRANSCENDENTAL PIANO:


 

terça-feira, 22 de julho de 2025

CHICO BUARQUE: DVD:


 

CHICO BUARQUE:


 

quero mudar o universo porém houve quem

quero mudar o universo porém houve quem
mudou minha vida por dois mil dinheiros aí
meu universo nunca mais foi o mesmo então
minha vida nunca mais foi a mesma pedi me
perdi fui judas me vendi fui execrado fui até
humilhado me fiz serviçal cativo passivo o
servo aio mau guardador dos bens da patroa
que sempre clama deus te ama deus é amor
jesus te ama jesus te abençoa deus abençoe
porém faz de mim jaz refém sequestrado preso
escravo possuído com consciência pesada ou
sentimento culpa arrependimento infinitos o
réu indesejado o levado ao suplício ai ao ato
de sacrifício cruz nas costas cravos nos pés
nas mãos costelas perfuradas canelas rotas
quebradas coroa de espinhos joelhos ralados
tentado endemoniado mentecapto tudo por
não ter devolvido os dois mil dinheiros ralos
roubados o verdadeiro judas se suicidou por
trinta não tenho as mesmas disposições pagãs
coragem insana continuarei devedor nada mais
paga essa falta de amor que seca que defeca
que disseca o cadáver ainda fresco quisera
não ter cometido o erro que cometi porém o
cometi a filha foi cobrada a mulher foi abalada
a esfinge segue a destilar enigmas paga-me ou
devoro-te faço-te édipo como teus olhos cegos

BH, 0220702025; Publicado: BH, 0220702025.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

andei pelo vale escuro da sombra da morte sem saúde

andei pelo vale escuro da sombra da morte sem saúde
medicina diagnóstico sem alá maomé mesquita
passei por medina meca esfinges pirâmides cheguei
ao vale dos reis pelo mediterraneo nilo tigre eufrates
califa em camelos caravanas safaris africanas
savanassaara dunas movediças areias em tempestades
tendas odaliscas tâmaras carneiros danças do ventre
cavalos árabes puro sangue uma obra-prima da fauna
uma obra de arte da natureza sarças oliveiras
uma obra da bela arte da flora em flor que amor vi o
deserto engoli o sol a lua brotar da areia escura as
estrela a mostrar o caminho entre os grãos que
refletiam a luz na escuridão ventou frio acendi o
lampião o pavio da lamparina de azeite zênite a
via-láctea cheia de leite de cabra nobre tacho de cobre
nenhum inseto no ar um sapo ou uma rã a coachar
nem na miragem nem no oásis nem na fonte que
apareceu de repente detrás duma duna quando o
dia amanheceu os cães ladravam a caravana
passou
em ventania levou tesouros ouro prata mirra incenso
não se sabia para quem eram três reis numa estrebaria

BH, 0150702015; Publicado: BH, 0210702025.

minha avó que era lógica quebrava a lógica

minha avó que era lógica quebrava a lógica
não prende o pum não que  dá nó nas tripas
deixava minha mãe em saias curtas muitas
vezes a mim em alegria das coisas que fazia
sentada no quintal do barraco onde morava
ao me mandar à cozinha pegar na moringa
uma pinguinha todo mundo pensava que a
moringa era de água porém era de cachaça
acende meu cigarro na brasa do fogão para
mim aproveita leva a canequinha no fundo
já sabia que o restinho de pinga que deixava
era para mim para dar meus primeiros golinhos
ao mandar acender o cigarrinho de palha já
entendia também que era para dar meus primeiros
traguinhos quando as putas da rua francisco
sá iam lá para rezas preces orações ladainhas
terços da minha avó aí era uma alegria maior
nas brincadeira nas bolinaçoes nas pegações
nos correr das mão bobas daqui dali de cá de
lá nada de lógica nada de ética de maldade
de ruindade preconceito tudo tinha direito
era tudo da lei nas compras com a minha
mãe minha avó no descuido dos feirantes
levava de graça mais do que minha mãe
pagava ainda me presenteava com o que
conseguia levar das lojas da rua direita do
centro da cidade ai que saudades ai que alívio
dizia o padre quando acabava a procissão a
missa no altar com a minha avó a me levar
embora para casa seguro pela mão o padre
da paróquia de nossa senhora falava até um amém

BH, 0170702025; Publicado: BH, 0210702025.

CHET BAKER:


 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

quando penso nos líderes africanos que o capitalismo matou

quando penso nos líderes africanos que o capitalismo matou
ou o colonolialismo assassinou ou o imperialismo exterminou
ou o liberalismo dizimou meus pensamentos seriam muitos não
caberiam na minha cabeça minhas palavras bem mais do que
as dos dicionários enciclopédias bibliotecas minhas letras em
quantidades hiperbólicas maiores do que as de todos os alfabetos
desconhecidos ou conhecidos os nomes desses líderes com
todos os nomes que já existiram ou que existirão serão
lembrados tais os nomes de patrice lumumba vítima da covarde traição
que sofreu nunca deveriam ser esquecidos sempre pronunciados
como resistência idem thomás sankara ou kwame nkrumah
eduardo mondlane steve bico outros muitos outros meninos
meninas jovens mulheres homens que foram depredados
precocemente porém a áfrica continua a ser saqueada
ouro prata cobre diamantes cérebros cabe a nós a defendermos
aos líderes rebeldes revolucionários atuais igual ao de burquina
fasso Ibrahim traoré com seu primeiro-ministro jean emmanuel
ouédraogo que não podem ter o mesmo fim de
muammar gaddafi
outro líder revolucionário rebelde que só queria o bem do seu
próprio povo a áfrica é um continente só não deveria haver
fronteiras entre as nações nem irmãos contra irmãos com todos
a compartilhar pacificamente pois já doou à humanidade à
civilização sangue pele suor órgãos riquezas tal ao leopoldo ll
da bélgica tão cruel genocida agora basta deixai a áfrica ditar
teu próprio destino andar com as próprias pernas em 
harmonia irmandade liberdade fraternidade igualdade
sem interferência de quem quer que seja

BH, 0150702025; Publicado: BH, 0170702025.

a saúde mental melhora a cabeça da gente?

a saúde mental melhora a cabeça da gente?
minha mente está doente demente decadente
septuagenário decrépito enclausurado em cárcere
privado com carcereiro carniceiro acostumei-me
à pouca luz fotofóbico até a meia-luz ofusca-me a visão
de morcego marmota toupeira as crateras estão todas
entupidas as fossas a transbordar mucosas os póros
sebentos a expelir suores gordurentos os ares nojentos
os cheiros fedorentos não suporto nem aguento até
do ventilador o vento calorento a pele de papel velho
ensebado quer desgrudar da carne podre em pelancas a
cara de carranca a face falsa o rosto roto a boca arrota
desgostos quem se importa com fantasma que não
assusta nem criança? quem vê invisível em andança
pelos cantos a arrastar os pés acorrentados presos às
bolas do passado? preciso duma vacina de saúde mental
aos setenta é surreal marginal que a vida toda levou
vida de vagabundo de vadio de vagabundagem
de vadiagem a dar trabalhos de noite até de manhã cunhã
mucama poranga hoje durmo no pisador às vezes pisado
pela senhora pelo senhor dói para quem era feitor capitão
do mato hoje é só fedor sem paz sem amor sem perdão
só inconsciente com a consciência pesada mãos trêmulas
pés sem chão ausência de ar nos pulmões dor no peito
motivo dos defeitos pronto para um defunto perfeito
ou talvez o mais certo um cadáver fresco imperfeito

BH, 060502025; Publicado: BH, 0170702025.

domingo, 13 de julho de 2025

uma vez numa madrugada duma quebrada um cara me falou

uma vez numa madrugada duma quebrada um cara me falou
tens que buscar o fio da meada confesso que não entendi a
metáfora o cara continuou repetiu tens que encontrar o veio
da lavra confesso que também não entendi a metafísica de
batear de separar o joio do trigo ficava com a joia rara a pérola
negra branca da cor que for o ouro maciço para fazer o
feitiço acontecer mesmo que não sejas bruxo mago ou outra
coisa que queiras ser tens que decidir com ousadia com
audácia com coragem de enfrentar a aragem da madrugada
mais tenebrosa a brisa mais horrorosa a poesia não nasce
numa rosa ou num lírio ou num sorriso duma criança
poesia não é elite não é burguesia é maresia salgada o sal
da terra na pele na ferida aberta lombrei que cara doido
fala coisa por coisa palavras que não dizem nada letras que
não formam tesouros besouros espetados vivos em alfinetes
meninos queimados vivos meninas assadas em espetos de
defumadores não teve jeito perdi o fio da meada bati
cabeça a noite toda bebi mais do que deveria fui parar numa
delegacia os policiais tentaram me agredir me ameaçaram
de morte com arma em punho mostrei um livro que trazia
comigo que foi o meu escudo foi a minha proteção vi que
meti mais medo em toda guarnição fui liberado quando o
dia raiou sem nenhum arranhão sorte minha meu irmão

BH, 070702025; Publicado: BH, 0130702025.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

O MELHOR DE NINA SIMONE:




 

nada que escrevo me regata das trevas que nado

nada que escrevo me resgata das trevas que
nado
nem poesia como se soubesse o que é poesia onde
morro afogado nem poema como se também soubesse
o que é poema onde sufocado no vômito debato
nada salva-me das sombras onde estou crucificado
ou das penumbras onde latejo na escuridão nem luz
de farol nem luz da lua nem luz do sol nem luz da rua
nada devolve-me a alegria nem a ode à alegria 
as suítes
as cantatas as fugas para jesus a alegria dos homens
de bach nada me recupera do ostracismo já tentei
dum tudo virei um nada já nadei em mar aberto quase fui
parar no fundo já bebi todas mais algumas nas madrugadas
das garrafadas das goladas quebrei a cara nas quebradas
levei porradas dei porradas esporradas parei em delegacias
em hospitais fui botado para correr apanhei do forte descontei
no fraco tive medo dos valentões meti medo nos covardes
quo vadis não sei para onde vou não vou para o céu
vou para a zona tomar mais umas ou outras se não tiver
umas putas me alivio numas travestis o negócio
não é chorar
é sorrir chorar é para quem é infeliz sou feliz como uma
meretriz que recebeu um quinhão pelo bom trabalho
prestado a algum alheio coração estou bêbado
não nego
neu irmão bebi demais meu nego porém para quem
nunca teve nada perdeu tudo beber demais nunca é muito

BH, 070702025; Publicado: BH, 0110702025.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

não leias as minhas coisas alheias não semelhante

não leias as minhas coisas alheias não semelhante
não vais gostar do que não é oração reza prece terço
nem rosário são cousas de ossuários dos assoalhos
dos sótãos são causos dos porões te farão mal teu coração
virgem não está acostumado com o ateu profano
procristo teu coração não é couraçado de leão é
coração de cordeiro ordeiro de carneiro preso no
espinheiro sem pele de lobo não chegará a bode velho
fornicador será semopre um coraçãozinho de cabra a
balir a fazer os outros rir de ti vais dormir no canto da
cama vieste da lama não tens fama só difamas os
nomes os sobrenomes dos homens se te pegarem não
balirás mais receberás muitas balas perdidas na cara de
rapaz aparecerás no jornal do noticiário diário com
tarjas nas vistas dos olhos arregalados de morto de
novo com face de recém-morrido de pouco tempo não
tentes o que não aguentes a vida é para outros que
não têm sentimentos não têm virtudes fazem as piores
coisas por quaisquer trintas dinheiros nem poderás
dizer o que demais reles um ser humano pode dizer
meu deus estou a fazer um poema meu deus estou a fazer
uma poesia tudo que sair da tua boca de boçal contaminará a
humanidade ou extinguirá a raça humana toma esse
cianureto por carraspana enfias no reto essa banana de
dinamite toma essa cicuta como se fosse uma cana vais
dormir a vida toda sem mudar a pele de escamas na tua cama

BH, 070702025; Publicado: BH, 090702025.

domingo, 6 de julho de 2025

o povo trabalhador brasileiro é pelego da extrema-direita

o povo trabalhador brasileiro é pelego da extrema-direita
não mais se sensibiliza com pautas da esquerda nem
com o povo trabalhador brasileiro proletário rebelde combativo
revolucionário libertador o povo trabalhador brasileiro
pelego prefere o ianque ao socialista prefere o império ao comunista
prefere pensar que é capitalista burguês da elite do que pensar
com a cabeça de trabalhador de proletário a abraçar o pensamento
trabalhista a estudar o trabalhismo a se encantar com o
comunismo facilmente se escancara ao consumismo do
mercado enganador se deixa levar pelas falsas propagandas
pelas ilusões que não acabam com as desilusões então
reverbera na inconsciência na inocência despreza a consciência
coloca em evidência políticos fisiológicos políticas de estado
mínimo abomina direitos humanos abre mãos de direitos
sociais aí políticos corruptos corruptores corrompidos com
suas corrupções deitam rolam com os votos do povo trabalhador
brasileiro pelego patronal defensor da extrema-direita
suas políticas fisiológicas extremas de fim de mundo de igrejas
comandadas por pastores picaretas que enchem as próprias
burras de dinheiro esvaziam a barriga do povo pagão proletário
brasileiro que envergonha a civilização em nome da religião faz
surgir o nazismo impede o fim do racismo ver renascer o
fascismo a fortalecer o liberalismo predador que empobrece
quaisquer corações dignos que empedra quaisquer corações
que pulsam com a ternura do amor

BH, 0170602025; Publicado: BH, 060702025.

OZZY OSBOURNE:


 

quinta-feira, 3 de julho de 2025

cansei de viver sem ti cansei de viver

cansei de viver sem ti cansei de viver
agora o que me importa é não importar nem
mais com a hora a hora que for a hora será a
hora sem relógio sem ponteiros sem tic tac
sem tempo sem movimento rotatório sem
movimento translatório sem dias sem noites
sem meses sem anos sem sol sem lua sem ti
assim será tudo para mim todos tentam-me
trazer à vida não quero só quero ir à morte a
vida levaste me deixaste no azar sem sorte o
corte não fechou o talho escancarou a ponte
caiu o muro de arrimo ruiu a estrutura
desabou perdido perdi a liberdade sigo
preso acorrentado escavo escravo cativo
nativo o universo me abandonou depois que
lá chegaste o universo se renovou não é mais
o mesmo deixou as coisas velhas para atrás
o universo agora dá graças a ti a me matar
de inveja fico por aqui o vento faz de mim
qualquer cisco de jardim poeira de sótão
cheiro de porão bafio de ralo picumã de casa
velha sobrado arriado soleira sem beira
varanda onde ninguém anda varal sem vara
pastor sem cajado índio sem tacape cacique
sem borduna dedo sem dedal anel aliança
arco-íris sem cores me contento com as
marcas nas paredes dos teus antigos eventos

BH, 040602025; Publicado: BH, 030702025.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

cavar literatura em sepultura

cavar literatura em sepultura
igual a um morto do pântano cava
a morte em todos os cantos
espíritos nas encruzilhadas
putas pelos bares das quebradas
das madrugadas das estragadas travestis
nas esquinas marginais traficantes pretos
pedras brancos injetadas veias embotadas
lágrimas salgadas misturas químicas de sais
de cloros de bicarbonatos de sódios
que ódio a literatura não sobe ao pódio
é literatura de submundo
do rés-do-chão é literatura de ser imundo
espírito de porco do chiqueiro social
é literatura do lixo não é luxo
é osso quebrado sem cartilagem
sem meniscos sem tutanos
é fratura exposta sem anestesia
com nervos à mostra
coluna vertebral sem medula cervical
literatura formal pobre de metáfora
utopia sonho fala das periferias
fala dos céus suburbanos sombrios
balas perdidas nas cabeças das crianças
nas caras dos homens nas barrigas
grávidas das mulheres das favelas
a merda é que é sempre
com o pessoal da favela
extermínio genético
limpeza étnica
aporofobia com racismo
literatura do abismo do gueto da fossa
do lixão sanitário
do esgoto a inferno aberto com céu fechado
pontapé na porta do barraco ou do barracão
és o único culpado de tudo meu irmão
que vives sem literatura ou sem ganha-pão

BH, 0260502025; Publicado: BH, 0300502025.

já desisti da esperança do sonho da vda da realidade

já desisti da esperança do sonho da vida da realidade
já desisti até da morte se a morte quiser se contentar
comigo terá que ser assim do jeito que sou meu pai
não se contentou minha mãe não se alegrou todo mundo
se frustrou comigo porque que com a morte teria de ser
diferente? não será não arrumará nada comigo
ossos velhos enferrujados enfraquecidos vistas
turvas babas fartas corisas abundantes catarros
cor de ouro remelas amarelas cataratas de lágrimas
cachoeiras de lamentações carnes apodrecidas
moribundo sorumbático meditabundo vagabundo
vadio em vadiagens siderais cósmicas espaciais
universais corvo de pirata a grasnar no ombro nunca mais
já comeu um olho meu sou tudo que a morte vai encontrar
quando vier me levar caveira de corsário tatuagem
de bucaneiro nada a nadar na lama da cama porra
velho não honraste os pais o país honras pelo menos
tuas horas finais teus molambos de restos mortais
como carregarei essas mortalhas pelo infinito fora?
procuras uma urna para depositar essas descomposturas
que vergonha de cadáver terei que arrastar não me
submeterei a tal vexame fiques aí que se danes

BH, 0250402025; Publicado: BH, 0300602025.

domingo, 29 de junho de 2025

desculpa meu amigo mas é complicado

desculpa meu amigo mas é complicado
não posso provar nada ainda mais quando
todos querem que prove alguma coisa não
funciono sob pressão nem atmosférica não ajo
em caixa de alta tensão ou de ebulição não vou
segurar esse pepino ou descascar esse abacaxi
ai de mim malgrado meu desde que nasci
habito com os que odeiam a paz o amor o
perdão pois já estão em guerra há muito tempo
hoje sigo o princípio do meu mestre antônio
candeia filho ao afirmar que quem guerreia pela
paz a verdadeira paz nunca há de ter nunca há
de encontrar a guerra é criada pela burguesia
sustentada pela elite mantida pelos
plenipotenciários praticada pelos pobres levada
infinitamente pelos senhores das armas das
guerras do imperialismo os genocidas do
capitalismo os exploradores do colonialismo do
liberalismo nada de novo no front tudo a mesma
coisa desde que o homem é homem abriu mão
da civilização da irmandade da fraternidade da
liberdade do compartilhamento do mundo
abraçou o extermínio criou os flagelados gerou
os refugiados os campos de concentração
resultou os falidos as falências os famélicos
não há mais volta mais algumas voltas ao redor
do sol o planeta se apagará seguirá tição torrão
a fumegar a fumar fumo fumaça sem raça
humana todos que queriam tudo agora não têm
nada nem a si mesmos com o que se contentar
ecos de minha alma de meu ser de meu espírito
já perceberam que não eram nada mais disso
não evoluíram para tal almejo não ficarei de fora
também serei um réptil réprobo em rastejo na
direção do nada a nadar aflito para o infinito

BH, 0230402025: Publicado: BH, 0290602025