dois dias para um ano da tua morte continuo com a
sorte de sentir saudades eternas de me sentir forte para
poder chorar a culpa do meu azar de não ter ido no teu
lugar o que que quererei fazer aqui sem ti? o mundo
perdeu o significado não tenho mais lugar para olhar
gostava de mirar tua face tuas miragens tuas viagens
pelo universo teus devaneios de reminiscências tuas
reverberações vibrações redemoinhos agora vivo aos
volteios pelos cômodos do barracão pelas cômodas do
barraco na encosta do barranco que margeia a boca da
favela aperto a fivela aperto a arruela apago a vela de
sete dias fecho o botão sinto sopro no coração não é de
vida sinto tonturas não é de bebida sinto falta não é de
comida sinto falsidades sinto tudo que não eras mentiras
hipocrisias preconceitos defeitos tudo mudou sem ti
nada continua a mesma coisa sigo perdido sem agulha
bússola rosa dos ventos alavanca astrolábio sem ponto
de apoio defunto rejeitado cadáver em adiantado estado
de putrefação sem cova sem sepultura sem campa sem
tampa sem epitáfio pedra para repousar a cabeça não
tenho nem para posar em frente ao sepulcro ou para pousar
acocorado como um pássaro num galho tudo em mim
era o que eras a era não será a mesma até logo tenho que
ir logo pois não voltas mais logo nunca mais ai até logo
BH, 03001202024; Publicado: BH. 020102025.