onde outrora dormi hoje pai dorme entrei no
sonho de pai vi que andava nu por uma cidade
do interior parecia-me a cidade na qual pai
nasceu tinha um rio uma ponte perto dum
mercado onde de noite pai sentava com a turma
fumava maconha gostava de olhar o rio de pedir
tomate com sal ao moço que vendia bebia
pinga marialva fagulha faísca comia tira-gosto
de linguiça torresmo carne de sol depois ficava
escorado nas paredes a rir do estado do tempo
tinha uma rua que gostava muito de ir desde
menino a francisco sá onde apanhou muitas
gonorreeas cancros com as putas dessa rua
passeei com pai pelo sonho pai não me
percebia entrava num lugar entrava noutro
falava que era um medina dos pretos dos
negros pai não gostava dos medinas brancos
falava que os medinas brancos escravizaram os
medinas negros os medinas pretos depois pai
bebia mais na pregação até a polícia ria sombra
peregrina na penumbra fiquei com vontade de
acordar pai porém não conseguia fomos ao
morro do zig-zag depois ao morro do cruzeiro
da caixa d'água que parecia uma casa subimos
o morro dos velhacos sem cansar dançamos
com o caninha verde do clube sete de setembro
com os chapas de caminhões pai gostava de
imitar esses homens rudes que coçavam
o saco de pernas abertas mas pai era um
ingênuo não vou visitar pai mais não vó
constrangia o coração vô ficava resmungão
BH, 01001202025; Publicado: BH, 02101202025
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