domingo, 21 de dezembro de 2025

visitei pai à noite passada fiquei ao pé da cama

visitei pai à noite passada fiquei ao pé da cama
onde outrora dormi hoje pai dorme entrei no
sonho de pai vi que andava nu por uma cidade
do interior parecia-me a cidade na qual pai
nasceu tinha um rio uma ponte perto dum
mercado onde de noite pai sentava com a turma
fumava maconha gostava de olhar o rio de pedir
tomate com sal ao moço que vendia bebia
pinga marialva fagulha faísca comia tira-gosto
de linguiça torresmo carne de sol depois ficava
escorado nas paredes a rir do estado do tempo
tinha uma rua que gostava muito de ir desde
menino a francisco sá onde apanhou muitas
gonorreeas cancros com as putas dessa rua
passeei com pai pelo sonho pai não me
percebia entrava num lugar entrava noutro
falava que era um medina dos pretos dos
negros pai não gostava dos medinas brancos
falava que os medinas brancos escravizaram os
medinas negros os medinas pretos depois pai
bebia mais na pregação até a polícia ria sombra
peregrina na penumbra fiquei com vontade de
acordar pai porém não conseguia fomos ao
morro do zig-zag depois ao morro do cruzeiro
da caixa d'água que parecia uma casa subimos
o morro dos velhacos sem cansar dançamos
com o caninha verde do clube sete de setembro
com os chapas de caminhões pai gostava de
imitar esses homens rudes que coçavam
o saco de pernas abertas mas pai era um
ingênuo não vou visitar pai mais não vó
constrangia o coração vô ficava resmungão

BH, 01001202025; Publicado: BH, 02101202025

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

morri não vi pai ganhar o tal prêmio nobel de literatura

morri não vi pai ganhar o tal prêmio nobel de literatura
que tanto o velho ruminava nos seus devaneios
como o coronel que esperava cartas que ninguém
escrevia agora mesmo se quisesse não posso nem tenho
como ajudá-lo numas mensagens para que possa então
psicografá-las gostava muito de falar em comunismo
que era comunista falava em socialismo que era socialista
que era contra colonialismo imperialismo neoliberalismo
pensava que com isso ganharia algum prêmio nobel
que seja lá do que for cá comigo não levo fé porém a ideia
fixa da cabeça do bode velho ninguém removia nem
com as minhas porradas minhas bordoadas pois pai de vez
em quando merecia ainda mais quando bebia enchia a
moringa a se auto intitular de velho comunista fã
fiel de fidel chegava à casa de cara amassada nariz achatado
com todo mundo a rir do molambo falava que era queda
da bike que não apanhava na rua porém embriagado
o que percebo daqui é que me parece que não desistiu
olha que já vai para mais de setenta era tempo de
pensar numas ladainhas algo mais moderno umas preces
mais progressistas umas orações mais libertadoras
umas rezas mais rebeldes se falar de boa ideia com
pai vai logo pensar na pinga no limão no gelo açúcar
caipirinha nem perto de morrer olha que morri antes
todo mundo pensava que pai morreria primeiro
mas vim na frente ficou por lá ainda a teimar em
suas aleivosias que ninguém atura como na ditadura
a pensar todo dia no tal prêmio nobel de literatura

BH, 01001202025; Publicado: BH, 01801202025

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

já fui lá ontem não preciso ir hoje

já fui lá ontem não preciso ir hoje
visitei os amigos os garçons os cozinheiros
falei com as faxineiras os seguranças as
lavadeiras passadeiras passei um bom
bocado no meio de todos a passear pelas
repartições reparti meu coração com os
corações todo mundo ali me conhecia o velho
mundo o novo mundo sabiam que
estava ali a visitar o passado no presente
com o futuro à frente não precisas fazer
alarde a pimenta arde o sal salga o açúcar
adoça o álcool embriaga a adaga corta o
punhal fura cantei com quem sabia cantar
falei com quem sabia falar ouvi com quem
sabia ouvir pensei com quem sabia pensar
amei com quem sabia amar amanhã levanto
acampamento vou embora igual a um poeta
que foi para passárgada ser amigo do rei não
sei porém vou embora com alguém não levo
nada mas posso levar tudo igual a outro
poeta levar uma mulher comigo quem mais
precisa dalguma coisa com uma mulher
consigo? estou do lado dos poetas onde há
poetas há imortalidade eternidade posteridade
poeta é ifinitude tem uma alcunha universal um
nome sideral um sobrenome espacial um
apelido dimensional tem todos os nomes como
os astros têm pode nem ser uma boa
companhia ao simples ao simplório ao singular
ímpar por ás vezes ser instável intratável porém
é um poeta nem precisa ser mais nada quando
todos querem ser tudo ter tudo até pagar para
ser para ter alguma coisa uma fotografia uma
imagem uma estátua de barro de terra de sal
vem a água dissolvente universal dissolve tudo
dissolve até o nada num letal ponto final

BH, 01201202025; Publicado: BH, 01701202025

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

NELSON GONÇALVES:


 



lua lua lua lua que saudades de ti estou aqui

lua lua lua lua que saudades de ti estou aqui
sempre só a chorar a única coisa que aprendi
quantas vezes quis te ver não apareces para
mim grito no escuro no quarto que era teu na
cama na qual dormias quando eras meu
tomaram-te dos meus braços deixaram meus
abraços vazios nada mais tenho para abraçar
volta para enxugar minhas lágrimas me buscar
me faças parar de chorar eras quem me
compreendias nunca reclamavas de mim
fazíamos tudo juntos ouvíamos músicas
assistíamos tvs sempre estavas aqui até que
um dia acordei sem ti antes não tivesse
acordado num telefonema anônimo no meio
duma madrugada já me avisava que tinhas
partido mais partido fiquei lacerado abatido
coração ao avesso nunca mais tive o choro
contido contigo não chorava nem na dor nunca
mais tive o pranto estancado as lágrimas
enxugadas as dores enxotadas não sei onde
estás agora nem sei que horas parto à procura
de ti porém todo dia te procuro no firmamento
no horizonte no embalo do vento quero
distinguir teu rosto nas nuvens te desenhar no
azul anil celeste do céu azul para compreender
o que a tua ida na minha alma partiu pois desde
então nunca mais foi alma

BH, 01401102025; Publicado: BH, 01501202025

domingo, 14 de dezembro de 2025

OBRA-PRIMA DE ALDIR BLANC E JOÃO BOSCO, INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS:

 Dotô,

jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou,
Mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais,
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
Sem dó falou,
sem dó falou ,que por ela eu podia cegar.

Se eu dou,
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
Bastou,
Durante dez noites me faz jejuar
Levou,
As minhas cuecas pro bruxo rezar.
Coou,
Meu café na calça prá me segurar

Se eu tô
Devendo dinheiro e vem um me cobrar
Dotô,
A peste abre a porta e ainda manda sentar
Depois,
Se eu mudo de emprego que é prá melhorar
Vê só,
Convida a mãe dela prá ir morar lá

Dotô,
Se eu peço feijão ela deixa salgar
Calor,

Mas veste o casaco veste casaco prá me atazanar
E ontem,
Sonhando comigo mandou eu jogar
No burro,
E deu na cabeça a centena e o milhar

Ai, quero me separar

Sextina passo a passo, de Silvane Siveira Fernandes.

Como vento entre folhas da estação,

Sentimento vívido, plácido amor,

Marejados, lágrimas entre os olhos,

Sem regras, roteiro deixou no passado

Impressões que carrega por toda vida,

Vai-se-me a esperança e fica o passo.

 

Nas areias e mares sigo meu passo,

Tempo, contemplação em cada estação,

Momento, o destino unindo vidas,

No encontro, na calma daquele amor

Gestos nobres que ficaram no passado,

Lembrança do encanto de seus olhos.

 

Na manhã doce e fresca em teus olhos

Continuo sem medir, sigo e passo,

Na escuridão lembranças do passado,

Recomeços rumo à nova estação

Carregados de nostalgia e amor,

Será sentimento para toda vida?

 

Margens do rio, calmaria da vida

Cheias de encantos refletem seus olhos,

Depois da paixão que queima, vem o amor

Livre, confiante, elegante passo,

Conforta, acolhe em toda estação,

Saudade que segue seus passos, passado

 

Perguntas sem respostas se fez passado,

Flores brotam, rebrotam — jardins da vida,

No caminho que escolho, mudo o passo,

Tempo, dúvida como nova estação,

Em teus braços certeza reluz nos olhos,

Nossa união, memórias do amor!

 

Sem carinho, relação ficou sem amor,

Caminho seguiu,  tudo virou passado;

Ser triste ou feliz? … escolho o passo

Na água corrente levando a vida,

Sem sol, girassol diante de seus olhos,

Rio secou antes da nova estação.

 

No céu estrelado, passado de amor,

Na nova estação brilho em meus olhos,

Entre o céu e a terra, passo — vida.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

DIVAGAÇÕES, LLEWELLYN MEDINA:

 Divagações 


A vida é curta

e a certeza de nossa finitude 

mas há tanta vida nela

a manhã de sol entrada 

tenuemente pela fresta da janela

o espreguiçar da alvorada 

a bocejar  em dó menor


lá fora tanta coisa (não)acontece 

tanta coisa bela

o besouro contra a vidraça 

o besouro contra a janela 


a noite na Austrália 

lembra Ismalia 

Ismalia não é boa lembrança

melhor lembrar Amélia 


e ainda não cumprimentei o sol

mas a cabeça já está tão cheia 

("o que você tem nessa cabeça irmão")

amenidades platitudes 

disciplinada sucessão 

escovar os dentes 

fazer a barba 

bateria de remédios pra antecipar a vida

(ou a certeza de nossa finitude)


cumprimento o sol

numa sucessão inexorável 

banho frio pra'cordar os sentidos 

banho quente pra'dormecer os sentimentos

lembrança pra expulsar o esquecimento 

o dia vai no rabo da manhã 


na América expulsaram os imigrantes 

(crise em Governador Valadares)

"Paris é uma festa"

minha terrinha também

todos correm pra Paris 

"A torre Eifel alastrada de antenas como um caranguejo" 

fogem de minha terra

(também fugi)

perdida nas dobras dessa misteriosa Minas


a manhã escorre mansamente 

(espero que seja possível a manhã escorrer)

a lembrança foge ariscamente 

o dia segue "impávido colosso"

vou a contragosto 


é custoso lembrar 

(relembrar sangra)

contar as estrelas 

fugiam de meus turvos olhos 


luta titânica entre lembrança e esquecimento 


pensou nos amores vencidos 

esqueceu-se deles todos 

entranhados nas dobras de sua lembrança 

depois tem a primeira declinação 

o começo rosa rosae 

o final a tabuada de nove 


o dia vai a galope 

a rapidez de Hermes

tanta contradição no dia

pagar contas um tormento

senha pra guardar 

abracadabra esquecimento 


o sol a cento e oitenta graus 

 a notícia de que Israel quer transformar 

Gaza num belo e bem verde campo de golfe

não me conformo

Josué cercou e tomou Jericó 

mas Jericó fica na Arábia 

"o lugar que não existe"

deve ser o fundamento pra tomar Gaza  

Gaza existe em meu solidário coração 


o dia escorre celeremente 

talvez possa dizer

o dia "vai fondo"

como se diz em meu estranho país Minas Gerais 

lá nos arredores de Patos de Minas 

e seja o que Deus quiser 


a tarde vem morna e desafiadora 

seu espírito precisa flanar 

lembrar das coisas esquecidas 

a cor dos olhos de seu amor de juventude 

(e que Machado apelidou a todas de Capitu

e aquele russo que a Revolução expulsou 

chama de LO-LI-TA)


a vida pode ser complicada 

e você nem percebe 

a tarde chega fininha 

 o cantar dos passarinhos 

na gaiola da vizinha

varanda silencia


na Austrália "brother"

é manhãzinha 

pensamentos vem de lá pra cá 

perdem-se seus pensamentos

pensamentos vão amanhã 

a vida continua nela mesma

(aliás a vida simplesmente continua)


assim as coisas são 

difícil é reconhecer a natureza delas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

meu coração é um jardim suspenso da babilônia

meu coração é um jardim suspenso da babilônia
um colosso de rodhes um gigante de maratona
um crânio fossilizado de luzia com todas as
informações civilizatórias um teseu tesudo que
matou o minotauro um perseu espelhado que
matou a medusa que deixava tudo empedrado
meu coração é o conjunto de todas as obras as
maravilhas das eras dos mundos da ilíada da
odisseia dos lusíadas da mitologia grego
romana de andrômeda dos deuses do olimpo
dos clássicos do erudito do gregoriano é um
atlas é um talos um guerreiro espartano com
meu coração não me engano diáfano donde o
mal foi obliterado o sol inalterado a luz não
turva nas curvas as flores são colhidas frescas
envoltas em papéis de buquês de noivas nos
altares das plataformas elevadas dos patamares

BH, 0901202025; Publicado: BH, 0901202025

LUIZ GONZAGA, TBO:


 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

abduzido em coma induzido alcoólico anônimo

abduzido em coma induzido alcoólico anônimo
em coma alcoólico esquecido com amnésia de
memória simplória lembrança sem bonança
criança sem esperança órfão sem adoção
beberrão sem vinho vou morrer nas praias
depois de atravessar os oceanos pacífico
atlântico índico ártico antártico vou morrer nas
areias dos desertos de atacama neguev saara
lobo solitário da estepe a uivar para a lua coiot
sedento sem sangue para beber abutre
peregrino faminto sem carne para comer não
passo em teste de sobrevivência urubu-rei sem
reinado sem súditos sem cetro sem coroa sem
castelo perdi a majestade saci-pererê acabei de
perder a única perna mula sem cabeça deixei a
cabeça fincada na estaca na beira da estrada o
corpo no tronco do pelourinho vou morrer
menino ainda sem destino pisarei em brasas
vivas lavas de vulcões cinzas das gargantas dos
infernos dos terços dos quartos dos quintos
encontrei dante encontrei beatriz o poeta virgílio
o cego tirésias édipo homero borges todos os
cegos sinceros bati às portas que queres?
quero ver enxergar como vós perdi a visão
gritas filho dos cãos no caos tendes piedade de
mim só o ciclope me atendeu polífemo me
perguntou quem és? volvi ninguém cego ǰá sou
quero enxergar igual à montanha desabou um
bloco de pedra me esmagou fui lançado de
volta ao mar a voz do vigia ecoou morto ao mar
morto à vista não foi nenhum peixe vivo que o vomitou

BH, 02801102025; Publicado: BH, 0801102025

A HISTÓRIA DUM FILHO DA PUTA DURÃO, CHARLES BUKOWSKI:

os mortos vêm correndo de lado segurando anúncios de pasta de dente, 

os mortos ficam bêbados na véspera

de Ano Novo

satisfeitos no Natal 

gratos no Dia de Ação de Graças

entediados no 4 de Julho 

vadiando no Dia do Trabalho

confusos na Páscoa 

sombrios em enterros 

fazendo palhaçadas em hospitais 

nervosos no nascimento; 

os mortos compram meias e calções

e cintos e tapetes e vasos e mesinhas de centro, os mortos dançam com os mortos 

os mortos dormem com os mortos 

os mortos comem com os mortos.

os mortos ficam famintos contemplando cabeças de porcos. 

os mortos ficam ricos. 

os mortos ficam mais mortos. 

esses filhos da puta. 

este cemitério acima do solo. 

Uma lápide para a bagunça, eu digo: humanidade, você entendeu tudo

errado desde o começo.


Charles Bukowski.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

se chegar à tua casa na sala cair morto

se chegar à tua casa na sala cair morto
fazes da mnha pele um tapete oriental persa
turco da minha cabeça troféu coloca na parede
das tripas do sangue chouriço morcela do
coração conserva em vidro com formol dos
ossos patuás o osso sacro no santo graal com
vinho de boa qualidade os olhos mortos
enterres aos pés duma gameleira os miúdos
sarapatel sururu buchada de bode preto
sarrabulho caruru xinxim ai de mim dobradinha
à moda do porto não me sirvas fria é sacrilégio
profanação heresia não se come dobrada fria
nem pessoa nem de noite nem de dia se sobrar
alguma coisa útil do fútil inútil alma ser espírito
recomendas às vivendas das ciganas os bruxos
quilombos dos pretos aos cais dos negros às
tribos tabas ocas aldeias dos índios pajés às
fumaças dos xamãs não digas a ninguém que
amaste-me o universo já sabe que amei-te

BH, 0501202025; Publicado: BH, 0501202025

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

penso que quem é extrema-direita ou direta

penso que quem é extrema-direita ou direta
que para mim é a mesma coisa só é assim por
pura inconsciência ou por não querer ser
consciente nem aceitar a consciência pois optar
por livre arbítrio ser armamentista lutar contra a
educação a ciência a cultura as artes os artistas
os estudantes até contra as universidadesas
faculdades só pode ser por totais faltas de
faculdades mentais espirituais racionais
intelectuais nada mais explica a opção do ser
humano pela extrema-direita imperialista
capitalista neoliberal colonialista antidemocracia
não há nada que demova o extremista do
assédio dos pastores fundamentalistas
conservadores das igrejas neooentecostais tudo
isso causa um mal sem precedente à civilização
a política fascista do deus pátria família incluem
nazismo racismo militarismo sectarismo
xenofobismo ódio perseguições aos imigrantes
aos campos de refugiados flagelados guetos
extermínios genocídio a manada em disparada
destrói tudo por onde passa vida acordos do
meio ambiente povos originários tradicionais
quilombolas nações indígenas floras faunas
o que puder pensar que tem relações com o
comunismo socialismo a extrema-direita joga
na fornalha da inquisicção

BH, 0180902025; Publicado: BH, 0401202025

METALLICA, GHC:


 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

RORY GALLAGHER:


 


BAD COMPANY:


 

clima de velório no mundo sem ode à alegria

clima de velório no mundo sem ode à alegria
yankees atrasados atrás duma boa guerra a
saciar instintos sádicos desejos mórbidos
gaza palestina vegeta paliativamente sem lar
pão água áfrica resiste triste democracias
desertos naturezas mortas humanidade
desertou de si extermina a raça humana
preda o ser humano implode cidadania
desaba soberania princípios dignidade quem
vota elege carrascos algozes verdugos
seifadores de direitos impositores de deveres
criadores de esquadrões da morte que
eliminam o estado criam ausências cancelam
presenças com o reinado da letal
extrema-direita que não  tem vínculo com
nenhum compromisso humano político
educacional social finge de religiosa banca
teocracias igrejas bancos outras ilusões que
mantêm o povo sedado inerte em letargia
sem responder a nenhum estímulo de
rebeldia liberdade independência revolução
quem tenta algum tipo de voo livre é
sumariamente ignorado isolado deixado de
lado os meios de comunicação mídias fazem
o trabalho sujo no papel de entreter o povo
em casa forjam opiniões espalham notícias
falsas reportagens tendenciosas
sensacionalistas manipulam assassinam
reputações todo um serviço bem feito para
a eternização da extrema-direita nas falsas
democracias mundo fora

BH, 0301202025; Publicado: BH, 0301202025

RAIZA FIGUEIREDO:

contemplativa

pelo direito à pausa

e não fazer nada, no correr das horas
são tantos estímulos
mensagens, demandas e notificações
na sociedade da pressa

a filosofia escreve sobre o cansaço contemporâneo
e freud, se estivesse vivo
falaria da aceleração, como mal estar da civilização
que aumenta a frequência cardíaca
e o fluxo dos pensamentos
tensiona os músculos
e adoece as vísceras

[mas a pausa está em tudo
nos ensina a professora natureza
na noite, no inverno
nas sementes e nos animais que hibernam]
descansar é revolucionário.

um corpo feminino

experimenta muitas formas, linhas, curvas
e marcas no correr dos anos
o ganho dos kg na balança
e a oscilação
ora para mais, ora menos
os hormônios e o tempo passando nas células
em cada parte
os músculos da face, tronco e membros
desenham infinitas possibilidades de expressão
sorriso mostrando os dentes ou de boca fechada
ambos de orelha a orelha
o olhar que muda no jeito de rir
e os olhos ficam mais apertados ou maiores
em cada parte do corpo
há muitos caminhos a serem conhecidos
no correr dos anos
um mergulho dentro de ti

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

sozinho na melhor companhia dum homem a solidão

sozinho na melhor companhia dum homem a solidão
principalmente ao homem que não cresceu não voou
que tem ainda no chão fincados os pés os paus as
varas os cajados as raízes pois em qualquer adejo
mais ou menos raso já sente falta da terra frio na
barriga vestígios tonturas falta de vontade para voar
retorna do topo toupeira não traz uma ideia dos altos
do absoluto do firmamento supremo do universo
indissolúvel do infinito indizível não traz um ideal de
luz continua atrás detrás atrasado então opta pela
solidão se é um bem ou um mal não saberemos
se é mau ou bom também não saberemos só teremos
o contraste a antítese o contraponto o antagonismo
o deixaremos sozinho em suas reflexões vazias
reminiscências póstumas confabulações contraditórias
tem as suas depauperações nuas suas imprecauções
cruas amanhã levantará da tumba o mesmo como se
viesse duma catacumba frango de macumba não saudará
o sol nem a lua não saldará as dívidas nem abalará as
dúvidas nas suas incertezas de indiferente fenecerá
de pedra inconsciência inabalável pensamento
de reto discernimento de pensador de intestino
tomara que no primeiro ventinho do ventilador
não tome uma inesperada constipação terminal

BH, 01401102025; Publicado: BH, 0201202025

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

notivago madrugada adentro

notivago madrugada adentro
à procura dum poema vagabundo
ou duma poesia puta para
fazer menina pura santa nem
olhei direito a sede era tanta
a fome mais ainda que nem
percebi o trejeito da travesti
com defeito dei um jeito
não consertei o aleijão me
disse que se chamava joão
de noite joana d'arc deu no
que deu conde d'eu marcelo
d 2 leonardo da vinci segui
em madrugada empurrado
pela aragem embriagado pela
brisa que me alisa a cara
queimada de cachaça de etanol
de metanol ou meta no beco
sem saída atrás vem a polícia
joga fora o flagrante porém levou
um forjado não tinha nenhum
safanão pescoção cara no chão
não consigo respirar patrão amanheceu
no rabecão depois na mesa
do iml a esperar a inspeção
indivíduo indigente meliante
mendigo andarilho notivago
das madrugadas infinitas resgatador
de raparigas jogadas fora pelo uso
do tempo atestado de óbito
assinado em branco causa mortis vil
enterrado num lixão duma zona
de baixo meretrício da região

BH, 01101102025; Publicado: BH, 01⁰01202025 

ROD STEWART: