gritam para mim dentro dos meus ouvidos
que já são surdos de natureza
na deficiência da minha vida
que não quer viver
e teimam comigo numa ocupação
pelo amor de deus
larguem minhas mãos
não são mãos manufatureiras
são mãos de escravos africanos
são mãos de índios expulsos de suas terras
são mãos de marginais algemadas à falta de justiça
larguem dos meus pés
rompam meus grilhões
não procuro afazeres domésticos
só procuro liberdade com amor
independência com paz
procuro o ignorado invisível
o preto sem importância
o escravo que ainda não foi alforriado
e o patrão o mantém acorrentado
e o pastor ainda o mantém cativo
ao pé da cruz a cravejá-lo de pecados
outros preconceitos
outros dogmas
outros tabus
ou deixem-me aqui no degrau do cadafalso
meu pescoço no garrote vil
minha cabeça na guilhotina
não vale a pena lutar é quando a alma é pequena
e minh'alma é vasta tanto quanto a vastidão do céu
e ando vestido de humildade
não tenteis me igualar convosco
sou tosco
sou rudimentar rupestre agreste
só quero brilhar tanto quanto o sol
BH, 040702023; Publicado: BH, 0210702023.
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