segunda-feira, 12 de maio de 2025

o mercado não está satisfeito comigo foda-se o mercado

o mercado não está satisfeito comigo foda-se o mercado
quer sempre muito mais de mim do que quero
vai à minha casa a me cobrar o que não devo ou finjo
não dever porém o mercado prefere alimentar a
burguesia a me matar de fome prefere saciar a elite
a me matar de sede acolhe os apaniguados a me jogar às
ruas debaixo de marquises de viadutos de pontes
em cima de morros recantos de muros becos guetos
aglomerados de favelas se reclamo o mercado me
dá um murro no meio do pau do nariz ou no pomo de
adão a polícia prestadora de serviços do mercado
não pode me ver sou suspeito de tudo de todos sem
suposição um atentado ao sistema um ultraje à
sociedade trajada a rigor tarjado com as minhas
vergonhas à mostra socorro caminha tenho que
sair de circulação escondo-me onde ninguém se esconde
no esconde-esconde até lá incomodo com a minha
invisibilidade o mercado é só maldade ruindade
não tenho algum que o mercado quer que o sistema
quer que a polícia quer que a sociedade quer então
não posso ficar de pé tenho que virar uma sombra
numa penumbra um gato pardo no escuro
sem viralizar
sem ser curtido sem ser compartilhado
sem ser
pesquisado banido pela inteligência artificial
só não posso é incomodar a tranquilidade social com
a minha presença antissocial que se torna uma ausência
porém sou um animal marginal subversivo rebelde
revolucionário dou um martelo com o calcanhar
na fronte do ordinário ponho-o por terra com um
rabo de arraia deixo-o no res-do-chão com um macaco
perfeito livro-me da cassetetada certeira no peito aí
incorporo negro firmo canelada cotovelada voadora
lá vou deixar o mercado de decúbito dorsal no sal
com os seus deuses de barro seus santos de pau-oco seus
anjos mórbidos mortos caídos das alturas dos céus

BH, 060502025; Publicado: BH, 0120502025.

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