Nunca me curarei dos meus males
Meus males não são nem tão males assim
Não são cravos nas palmas das minhas
Mãos nos peitos dos meus pés não são
Coroas de espinhos na minha cabeça
Marcas de ralados nos joelhos cotovelos
Por quedas devido ao peso das cruzes
Não são feridas de lanças ou de relhos
Açoites nas costas meus males não são
Males de santos são males de humanos
Qualquer um outro suportaria meus males
Curaria-se deles rápido os superariam
Só sou o que não posso superá-los? não
Posso suportá-los nem curá-los? nem
Quero acreditar em mim precisaria
Dum médium para psicografar-me para
Ver quais são as causas destes males tão
Bobos tão tolos estou a fazer-me de
Sofredor será que precisaria dum
Pajé um vodu um xamã? para acordar
Um outro ente amanhã? passa boi passa
Boiada montes detrás dos montes águas
Debaixo das pontes ventos nos moinhos
Birutas cataventos zurros de jumentos
Digo ao mundo que não aguento carregar
O mundo nas costas quando não carrego
Nem um saco de cimento uma raiz uma
Semente se tudo pesa-me neste chão de
Vidente teimo curar loucura com
Aguardente teimo curar coração com
Religião curar dor com oração são só
Males de antão que não enchem um vão
Quero encher as mãos faço questão
De dizer que não são males de são que
Na verdade nem tão males são são males
Vãos sou a chorá-los em cachoeiras
Cascatas a derramar baldes no quintal
Os vizinhos a perguntarem qual mal? és
Mesmo um cara de pau de vidinha surreal
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