segunda-feira, 17 de outubro de 2022

nada mais tinha para falar por necessidade

nada mais tinha para falar por necessidade
e já havia dito tudo desde os primórdios
quando comia-se carne de tiranossauro-rex
ou de quando tinha-se de capturar um tigre
dente-de-sabre para tirar-lhe o dente
e fazer uma arma mortal que desse para matar
brontossauro
e vieram os meteoros
sobreviveu
e vieram os vulcões
e sobreviveu
e vieram os dilúvios
e sobreviveu
e vieram todas as desgraças
e pragas
e pestes
epidemias
e sobreviveu
e contava as histórias dos tempos
e repetia as tempestades
e os furacões
e os ciclones
e contava as histórias dos ciclopes
e todos já conheciam os finais das histórias
e das pré-histórias
das pós-histórias
e nada mais havia para falar
e todos quedavam-se suspensos a qualquer
gesto
ou a qualquer jeito
ou a um movimento
ou oscilação
e a rocha não fendia-se mais
e o mar não se abriu
e o esqueleto não se reencarnou
e a caveira deixou de sorrir o seu riso macabro
descumpriu a ordem
e olhou para atrás
e viu a estátua de sal no justo momento no qual 
um fogo estranho a transformou num minério
desconhecido desses que caem doutros
universos
e são expostos em museus pois não sabemos
decifrar a composição pois devem ser
dalgumas galáxias que se fundiram
e expeliram fragmentos que chegaram até nós
e enfim falou por necessidade
e se calou no fim

BH, 0220502019; Publicado: BH, 01701002022.

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