terça-feira, 14 de junho de 2016

DCM: A maior demonstração da iniquidade da justiça está na liberdade de Cunha versus a prisão de Dirceu. Por Paulo Nogueira


Preso político

Preso político
A mais cruel demonstração da justiça iníqua brasileira está no seguinte:
José Dirceu apodrece na prisão enquanto Eduardo Cunha janta em restaurantes finos no Rio, em São Paulo e em Brasília.
A diferença essencial entre eles: Cunha é um serviçal da plutocracia. Ganha gorjetas para defender criminosamente os superricos. Na Câmara, impediu por exemplo que fosse discutida a regulação da mídia e deu todo o apoio à terceirização.
Dirceu, ao contrário, dedicou a vida a combater os privilégios e as mamatas da plutocracia. Este foi seu crime real, imperdoável num país cuja elite primitiva e predadora vive de perseguir os que a desafiam, como Dirceu.
Lembro de um vídeo em que Moro, com sua voz esganiçada, interrogava Dirceu. Moro parecia desconhecer que empresas como a Ambev pudessem contratar Dirceu para ajudá-la a tratar de litígios na Venezuela, onde ele tem bons contatos com o governo de Maduro.
Numa outra esfera, a Globo pode fraudar a Receita, sonegar copiosamente, erguer uma casa suntuosa numa área preservada ambientalmente: nada acontece. É a plutocracia impune ancestralmente no Brasil. Em vez de punir a Globo, a Justiça confraterniza com ela. Gilmar Mendes, o descarado, troca telefonemas com Bonner para combinar pautas no Jornal Nacional na frente de testemunhas.
Gilmar, privinciano ao extremo, tem ideia do que ocorreria se o editor de um telejornal de Murdoch fosse apanhado combinando uma pauta com um juiz da Suprema Corte britânica? Seria demitido, com ignomínia, imediatamente, e não escaparia da cadeia por ligações intoleráveis.
Eduardo Cunha é impressionante. Usou até uma igreja evangélica para obter vantagens pessoais. Tem contas na Suíça comprovadas pelas autoridades locais sem jamais tê-las declarado. Mentiu numa CPI ao dizer, antes que as contas fossem conhecidas, que só tinha aquilo que declarara na Receita.
Fez emendar para favorecer empresas que financiaram sua eleição. Ameaçou, pelos seus paus mandados, delatores que pudessem citar seu nome em roubalheiras. Levou uma vida nababesca, ao lado da mulher, Claudia Cruz, absurdamente incompatível com seus rendimentos de deputado. Uma empresa ligada a ele depositou quase 600 mil reais na conta de sua mulher.
Com esta ficha criminosa espetacular, Eduardo Cunha não é sequer cassado. Pôde conduzir, como se fosse Catão, o processo imundo do qual resultou o afastamento de Dilma.
Enquanto isso, Dirceu vai morrendo na cadeia.
A plutocracia quis acabar com ele. E o PT, acovardado, não o defendeu. Você conhece aqueles célebres versos de Brecht: primeiro pegam uma turma, e você se cala. Depois, pegam outra, e você outra vez se cala. Até que pegam você.
A plutocracia, primeiro pelo Mensalão e depois pelo Petrolão, buscou Dirceu, e o PT nada fez. Depois foi atrás de Lula e de Dilma.
E eis então Dirceu, esquecido por todos, às voltas com a vida sombria numa prisão na qual foi atirado apenas pelo crime imperdoável, no Brasil, de se opor à plutocracia.

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