segunda-feira, 30 de junho de 2025

cavar literatura em sepultura

cavar literatura em sepultura
igual a um morto do pântano cava
a morte em todos os cantos
espíritos nas encruzilhadas
putas pelos bares das quebradas
das madrugadas das estragadas travestis
nas esquinas marginais traficantes pretos
pedras brancos injetadas veias embotadas
lágrimas salgadas misturas químicas de sais
de cloros de bicarbonatos de sódios
que ódio a literatura não sobe ao pódio
é literatura de submundo
do rés-do-chão é literatura de ser imundo
espírito de porco do chiqueiro social
é literatura do lixo não é luxo
é osso quebrado sem cartilagem
sem meniscos sem tutanos
é fratura exposta sem anestesia
com nervos à mostra
coluna vertebral sem medula cervical
literatura formal pobre de metáfora
utopia sonho fala das periferias
fala dos céus suburbanos sombrios
balas perdidas nas cabeças das crianças
nas caras dos homens nas barrigas
grávidas das mulheres das favelas
a merda é que é sempre
com o pessoal da favela
extermínio genético
limpeza étnica
aporofobia com racismo
literatura do abismo do gueto da fossa
do lixão sanitário
do esgoto a inferno aberto com céu fechado
pontapé na porta do barraco ou do barracão
és o único culpado de tudo meu irmão
que vives sem literatura ou sem ganha-pão

BH, 0260502025; Publicado: BH, 0300502025.

já desisti da esperança do sonho da vda da realidade

já desisti da esperança do sonho da vida da realidade
já desisti até da morte se a morte quiser se contentar
comigo terá que ser assim do jeito que sou meu pai
não se contentou minha mãe não se alegrou todo mundo
se frustrou comigo porque que com a morte teria de ser
diferente? não será não arrumará nada comigo
ossos velhos enferrujados enfraquecidos vistas
turvas babas fartas corisas abundantes catarros
cor de ouro remelas amarelas cataratas de lágrimas
cachoeiras de lamentações carnes apodrecidas
moribundo sorumbático meditabundo vagabundo
vadio em vadiagens siderais cósmicas espaciais
universais corvo de pirata a grasnar no ombro nunca mais
já comeu um olho meu sou tudo que a morte vai encontrar
quando vier me levar caveira de corsário tatuagem
de bucaneiro nada a nadar na lama da cama porra
velho não honraste os pais o país honras pelo menos
tuas horas finais teus molambos de restos mortais
como carregarei essas mortalhas pelo infinito fora?
procuras uma urna para depositar essas descomposturas
que vergonha de cadáver terei que arrastar não me
submeterei a tal vexame fiques aí que se danes

BH, 0250402025; Publicado: BH, 0300602025.

domingo, 29 de junho de 2025

desculpa meu amigo mas é complicado

desculpa meu amigo mas é complicado
não posso provar nada ainda mais quando
todos querem que prove alguma coisa não
funciono sob pressão nem atmosférica não ajo
em caixa de alta tensão ou de ebulição não vou
segurar esse pepino ou descascar esse abacaxi
ai de mim malgrado meu desde que nasci
habito com os que odeiam a paz o amor o
perdão pois já estão em guerra há muito tempo
hoje sigo o princípio do meu mestre antônio
candeia filho ao afirmar que quem guerreia pela
paz a verdadeira paz nunca há de ter nunca há
de encontrar a guerra é criada pela burguesia
sustentada pela elite mantida pelos
plenipotenciários praticada pelos pobres levada
infinitamente pelos senhores das armas das
guerras do imperialismo os genocidas do
capitalismo os exploradores do colonialismo do
liberalismo nada de novo no front tudo a mesma
coisa desde que o homem é homem abriu mão
da civilização da irmandade da fraternidade da
liberdade do compartilhamento do mundo
abraçou o extermínio criou os flagelados gerou
os refugiados os campos de concentração
resultou os falidos as falências os famélicos
não há mais volta mais algumas voltas ao redor
do sol o planeta se apagará seguirá tição torrão
a fumegar a fumar fumo fumaça sem raça
humana todos que queriam tudo agora não têm
nada nem a si mesmos com o que se contentar
ecos de minha alma de meu ser de meu espírito
já perceberam que não eram nada mais disso
não evoluíram para tal almejo não ficarei de fora
também serei um réptil réprobo em rastejo na
direção do nada a nadar aflito para o infinito

BH, 0230402025: Publicado: BH, 0290602025

LED ZEPPELIN:


 

sábado, 28 de junho de 2025

CAETANO VELOSO:


 

a escrever meu epitáfio

a escrever meu epitáfio
para depois deixar meu testamento porém
não tenho lápide nem sepultura nem cova
nem campa nem canteiro ainda então terei
que ir para perus numa escavação rasa ser
enterrado igual indigente esqueci o epitáfio
é que não tenho um fio de mim para dizer
rasguei o testamento eram só letras malditas
palavras fúnebres réquiens enterro
clandestino exéquias pagãs também não fiz
por onde desde menino só juntei pedras
para pedreiras nenhumas preciosas só semis
meu destino só ajuntei grãos para dunas
nenhum era o alef todos eram ciscos de
poeiras o vento levou minhas dunas para os
montes das minhas costas de longe pareciam
leves a flutuar no ar agora pesam toneladas
curvam-me ao chão igual ao peso da
imensidão esmaga-me não tenho alavanca
não tenho ponto de apoio não poderei mover
o universo nem com os meus esfarrapados
versos só as pirâmides quéops quéfren
miquerinos que gaspar me mostrava quando
era menino agora são minhas corcovas
minhas corcundas são as minhas crateras
abertas donde retiravam as múmias outros
os meteoros que as galáxias pré-históricas
mandaram-me para sustentar minha história

BH, 0210502025; Publicado: BH, 0280602025.

terça-feira, 24 de junho de 2025

agora acabei de procurar uma letra duma palavra que fosse da hora

agora acabei de procurar uma letra duma palavra que fosse da hora
para fazer uma oração pois em oração quem ora precisa de letras de
palavras formadas quem reza já traz lá de trás decorado dentro de si a
reza aí quem ora necessita improvisar se faltar letras se faltar palavras
então não sai oração do coração sou ruim de letras pior ainda de
palavras não tenho palavra tudo que falo é necessário ser
confirmado em cartório com testemunhas firmas
reconhecidas carimbos mais assinaturas taxas pois sou analfabeto
só uso as impressões digitais desde as que deixavam as
paredes das casinhas impregnadas de assinaturas
rústicas vãs pagãs profanas proscritas se tivesse nascido
na pré-história teriam sido reconhecidas como pinturas rupestres
seriam valorizadas até expostas em museus com direito a
reconhecimento intelectual ou visitações públicas
de autoridades das várias áreas da sociedade do clero filosofia
da literatura até com indicações a algum prêmio nobel quiçá da
própria literatura ou doutro ramo qualquer sou monocórdio
falo mal mal a linguagem do animal ajo como um irracional
decadente doente de corpo alma espírito mente inconsciente
não há quem me aguente por isto quanto mais rezo quanto
mais oro quanto mais faço prece mais desprezado choro
lágrimas de sódio com cloro

BH, 0260502025; Publicado: BH, 0240602025.

domingo, 22 de junho de 2025

HUNGRIA, AS MELHORES, WORKOUT:


 

já mandei tanta gente para o inferno

já mandei tanta gente para o inferno
que o inferno deve estar cheio dessa gente
é que não tenho a paciência de jesus cristo de
querer morrer crucificado para ver o povo
do inferno livrado nem tenho a cara de pau
dos pastores picaretas que também querem
livrar o fiel do inferno porém só muito bem
pagos de todas as formas possíveis comigo
quem quiser ir já mando para o inferno de
graça não cobro nem indulgências nem
quero companhias deixo todo mundo com
malafaia edir macedo r r soares waldemiro
santiago que não livram ninguém do
inferno só do dinheiro dos próprios bens de
tudo que amam como convêm que o
restante fica sem a roer ossos unhas a
remoer nervos a comer farinha com açúcar
na água se tiver se não tiver a beber água
abençoada ou benta maná não cai mais do
céu do céu agora só bombas de israhell
mísseis drones tudo mais que mata nada
mais que dá vida só morte menos para os
apaniguados senhores das guerras donos das
armas das vidas espalhadores das mortes
ajuntadores de dinheiros causadores dos
nossos desesperos dissabores faltas de
esperanças que nunca mais precisaremos
mandar ao inferno os demais sempre os
deixaremos ir sozinhos sempre sem nós
enquanto voamos nas asas da imaginação
através dos horizontes pelos infinitos dos
universos que são as águas que fluem das fontes dos montes

BH, 0170602025; Publicado: BH, 0220602025.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

qualquer dia esqueço até dos dias que vivi

qualquer dia esqueço até dos dias que já vivi
um dia prometo até esquecer dos dias que por
ventura um dia irei viver não quererei saber
de mais nada nem de ninguém não quererei
saber nem de mim que já cheguei ao fim alforge
vazio bagagem esquecida na gare da estação capanga furada bolsos aos avessos algibeiras
rasgadas malas velhas abandonadas botas
esfarrapadas calças rotas paletós esfiapados
chego ao fim assim alguém se lembrará de mim?
não me lembrarei de ninguém já falei muitas
coisas esqueci muito antes de lembrar fui
injusto com os meus antepassados fui covarde
com os meus ancestrais me escondi dos meus
antecedentes não desvendei a pré-história
não honrei a história borrei os nomes que me
deram sobrenomes rupestre fiz barrela das
personalidades que me moldaram então coração
septuagenário carrega a tua cruz finca a tua
estaca no peito corta tuas cordas com tua espada
fura tuas aortas com o teu punhal tiveste todo
um peito para poder chamar de teu todo um
seio para acolher os teus secaste sozinho sem
abrigo sem abrigar não regaste agora nada de
chorar lamentações em vão sem amor sem paz
não fizeste jus para que te chamassem de coração
és um deserto és uma mão decepada és uma
pedra enterrada onde os sonhos envelhecem
encardidos onde a esperança morreu de véspera

BH, 0230502025; Publicado: BH, 0180602025.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

tudo que a gente ama vai embora da vida da gente

tudo que a gente ama vai embora da vida da gente
dum jeito ou doutro ou do mesmo jeito que também
fomos embora da vida de alguém que a gente
amava é a lei do retorno da mesma moeda do aqui
se faz aqui se paga nada fica impune por mais
que se possa parecer que fique porém na verdade
não fica pagamos dum modo ou doutro pagamos
com um abandono ao sermos também abandonados
pagamos os preços cobrados que temos de pagar
muitas vezes até maiores do que o preço que
devemos
é no silêncio do quarto com a cabeça enterrada
nos travesseiros que sofremos sozinhos penamos
na nossa depressão consciência pesada sentimento
de culpa desilusão vontade de morrer mas a morte
não vem Insônia alucinação melancolia não aparecem
as solicitações só enigmas mistérios pesadelos
como que vou consertar meus erros? sem respostas
o vento parou só tempestade ficou sem bonança
na atual idade cadê a esperança de quando era criança?
onde que estava com a cabeça? chegaram a guilhotina
o cepo o garrote vil chegaram o cadafalso a forca o
carrasco o algoz o verdugo o escravo no calabouço
do sistema que crime cometeu? combateu o capitalismo?
todos os crimes levam o cativo ao arcabouço da sociedade
sem piedade desce a espada separa a cabeça do corpo
louco ouço parece um morto que continua sorrir no poço

BH, 0130602025; Publicado: BH, 0160602025.

domingo, 15 de junho de 2025

ZZ TOP:


 

sem sentido sem direção sem destino

sem sentido sem direção sem destino
em suma sem vida se ainda soubesse
transformar um grito em milagre
saía do sepulcro a andar lázaro ao
ouvir o grito do infinito lázaro levanta
anda saia daí desse limbo doutro lado
da pedra na mesma hora lázaro saiu 
envolvido nos seus panos fúnebres
lençóis funestos despiu-se nu a vagar
pelas veredas sendas encostas até
morrer outra vez definitivamente mas
parece que não sou nem gente só nó
novelo novela mesmo quando finjo que
não sou indiferente porém que
diferença a alguém ser diferente ou
indiferente é só fingir que ninguém
sente ninguém nota a dor da gente
nem a dor de dente ou da mente
demente ou da demência do senil
decadente decrépito ser vil o castelo
ruiu a fortaleza virou ruína entulho
o que procuras nesse monturo?
meu corpo seu moço que não está
mais em mim estava aqui neste lixão
para irmão eram só ossos dos
esqueletos desovados pelos cemitérios
ossos limados bolorentos encardidos
de velhos de asilos suspeitos de sujeitos
com defeitos por dentro dos peitos não
dava para aproveitar nada nem o
ossobuco nem o osso sacro coluna
vertebral fêmur crânio pélvis cócix
nada desista dessa tua busca infrutífera
pareces até um ortopedista para que
queres tantos ossos sem carnes sem
tutanos? vais construir alguma igreja?
templo pagão? vais fazer algum ritual
satânico? não nunca só coleção
dependurada num cordão

BH, 0130602025; Publicado: BH, 0150602025.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

o capitalismo não acaba pois é fruto da estupidez humana

o capitalismo não acaba pois é fruto da estupidez humana
acaba-se a humanidade porém a estupidez não se a estupidez
não acaba só aumenta então o capitalismo também nunca se
acabará se perpetuará como o colonialismo o imperialismo a
burguesia a elite ou o sistema opressor da sociedade desigual
tudo que explora o pobre enriquece cada mais o rico ou o
capitalista que sabem aproveitar muito bem do trabalhador
pelego vira-lata entreguista do patrão que fazem do coitado
proletário inconsciente um eterno dependente preso
às correntes do sistema da plutocracia aí o trabalhador do
mundo não se une é contra o trabalhismo é contra o trabalhista
é contra o próprio trabalhador o que dificulta o fim do capitalismo
do que adora o capitalista o imperialista o colonizador ai aí é
impossível uma revolução com o apoio duma classe tão traíra
em ação que dizima o che que dizima os líderes insurgentes
d'áfrica doutros países que combateram combatem
combaterão o império mundial que contra-ataca infinitamente
até o seu fim real por isso que a máquina é usada para não
conscientizar o tal trabalhador que passa a abominar tudo que
diz respeito ao trabalho até mesmo os próprios direitos
trabalhistas ou sociais o que faz com que o estado seja susente
onde mais o povo trabalhador precisa dele com a difusão da
nefasta política enganadora do estado mínimo

BH, 0130602025; Publicado: BH, 0130602025.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

preciso escrever alguma coisa rapidamente antes de morrer

preciso escrever alguma coisa rapidamente antes de morrer
não importa o que seja o que tenha de escrever rapidamente
antes de morrer será sempre alguma coisa fútil de morto inútil
porém em vida não leguei nada legal ao além pelo menos
morto há a possibilidade de ser psicografado por alguém mais
morto do que sou com o dom da telepatia com o dom do
fingimento de se fingir de vivo pois vejo os porcos passar
mortos frescos diante do meu cadáver apodrecido
já em adiantado estado de putrefação fétida aqui em presença
de mim que nunca soube o que sou donde vim para onde
vou vejo que  não sou senhor de mim meus senhores são
o mercado o capitalismo o colonialismo o imperialismo
a burguesia a elite meus senhores são a religião as igrejas
as seitas que não as aceito herege agnóstico ateu incrédulo
iconoclasta rebelde revolucionário progressista de
vanguarda calai perante mim hipócritas deixai de lado as
orações preces rezas salmos deixai de lado amor perdão paz
nada mais dos ditos vivos me satisfaz então adeus até nunca mais

BH, 0120602025; Publicado: BH, 0120602025.

O MELHOR DOS NOVOS BAHIANOS:


 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

não estou bom sinto que nem estou bem

não estou bom sinto que nem estou bem
vejo israhell despedaçar os nenêns na sala
do meu barraco no barranco da entrada da
boca da favela quero desligar a antiga tv
que só serve para me mostrar ao vivo o
genocídio do povo palestino cometido pelo
estado terrorista de israhell porém não faço
nada sou passivo sou estuprado seviciado
em silêncio sou cativo só as bombas fazem
barulho meu coração parou o trapo humano
dos usa a sede da onu fazem vistas grossas
aos crimes que acontecem na faixa de gaza
aqui na hora do meu feijão com arroz
farinha carne não precisa já vejo as carnes
assadas das crianças palestinas de gaza
sinto até o cheiro de carne tenra defumada
em brasa viva que me deixa com a boca
cheia d'água não contesto mais o mundo o
nazismo o fascismo o capitalismo o total
imperialismo a extrema-direita o nocivo
bloqueio econômico a cuba nem as religiões
dos regimes globalizados não contesto mais
rússia china ucrânia já sou uma puta
velha septuagenária esquecida pela história
imagina pela pré-história nem choro mais
por nada que se foda essa porra toda não
consigo delendar a globo a vênus platinada do
partido da imprensa golpista safada que se
ferre o trabalhador pelego brasileiro que
pensa que trabalhismo é comunismo é
socialismo que se ferrem os trabalhadores
do mundo que não se uniram não haverá mais
líder trabalhista libertador revolucionário
acabou-se agora o mundo será curral da
extrema-direita o trabalhador confinado aos
guetos sem seus direitos

BH, 040602025; Publicado: BH, 0110602025.

terça-feira, 10 de junho de 2025

das últimas agora nas últimas

das últimas agora nas últimas
só me lembro de esquecer só
recordo de não recordar de não
ter memórias nenhumas nem
lembranças esqueço do de beber
esqueço do de comer esqueço do
de viver só não sei se esquecerei
do de morrer bem que gostaria
de esquecer do de morrer ou que
a morte também se esquecesse
do que é de mim pois não sou
digno de morrer assim sem
dignidade esquecido pelos
cantos feridos sem encanto sem
encontrar desencantado o canto
certo é que esqueço das coisas
dos casos das causas das gentes
dos vivos dos mortos dos amigos
dos inimigos ainda existe mulher
aí pelo vasto mundo meu amigo
raimundo? nem sei mais o que é
mulher esqueci de todas bem
antes de todas já terem se
esquecido de mim mulheres
mulheres mulheres quem as
entendia era o velho safado o
baco bêbado do osso buco o
charles chacal canibal
antropofágo afogado no álcool
curtido o couro desnudo ao sol
o bafo de onça o bafo de bode o
bogodo cheio de bolor a exalar
inhaca nem lembro mais de
nada se não lembro não fiz não
vivi não amei não sorri tinha até
feito um epitáfio não sei onde o
coloquei procurei não o encontrei
deixa para lá joga em qualquer lugar
sem identificação não tinha coração

BH, 030602025; Publicado: BH, 0100602025.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

sem saber o que fazer

sem saber o que fazer
tal qual um músico novo de jazz convidado
a tocar com monstros sagrados consagrados
tento adentrar ao santuário dos mestres da
literatura literalmente dos deuses da
inspiração numa tentativa de dar vida a este
combalido septuagenário coração falido
sem saber o que fazer
como um cafetão que tantas putas já deixou
na mão para correr atrás doutras mais novas
valiosas a render alguma remuneração o
trompete não empina mais igual o do dizzy
gillespie digo às meninas das madrugadas
nas quebradas arriba as saias vamos nus
embora pela madrugada fora encontrar fora
de hora uma felicidade agora na aurora
outrora nem sentia o peso das dificuldades
da insegurança da desconfiança incertezas
agruras da vida do destino cruel do azar que
carregamos do berço rezamos o terço o
político quer mais dum terço quando não
quer tudo a deixar as crianças morrer nos
guetos
s em saber o que fazer
não salvo ninguém com um soneto na
palestina em gaza as crianças são
despedaçadas queimadas vivas não há
literatura que resista resilente em
resiliência não há poesia ativista poema de
resistência teimosia israhell silencia
qualquer coração em agonia que pulsa nas
cinzas quentes por paz por amor por perdão

BH,  0210502025; Publicado: BH, 050602025. 

terça-feira, 3 de junho de 2025

a porta está aberta não fechas a janela

a porta está aberta não fechas a janela
o sol precisa de espaço para espalhar os
raios de luz portas fechadas janelas fechadas
corações obscuros mentes obtusas sem
saúde mental acabou por levar à morte o
corpo ou até o espírito ou a impedir a
evolução da espécie que por final extermina
a espécime pois a evolução é como uma
revolução tem que ser conseguida todo dia
um único mínimo descuido lá se foram a
evolução a revolução a consciência a ciência
ou a civilização então passamos a agir como
bestas feras apocalípticas os mais fracos
viram policiais assassinos ou militares das
forças armadas ou políticos fisiológicos
inescrupulosos da extrema-direita ou até
mesmo pastores evangélicos que pregam por
dinheiros sujos tais judas quero abrir todas
as portas portões portais postais universais
quero escancarar todas as janelas as pernas
janelões botões quartos escuros encher
quartos vazios porões sótãos átrios
ventrículos câmaras principais sistóles
diástoles não quero ver mais ninguém
desaparecer na escuridão sem alguém não
quero ver mais ninguém desaparecer na
poeira sem alguém nem no breu da capoeira
nas brenhas do valão nas moitas do matão
haja luz haja luz no teu coração meu doce irmão

BH, 0130402025; Publicado: BH, 030602025.

antes de morrer vou parir uma obra-prima

antes de morrer vou parir uma obra-prima 
ou uma obra-irmã ou uma obra-filha não
interessa antes de morrer vou parir uma obra de
arte talvez até pior do que todas as obras de
pedro malabares antes de morrer vou dar à luz à uma poesia iluminada que clareie as clareiras
que aqueça as lareiras vou dar à luz a um
poema mesmo sujo de pus ou ainda coberto de
placenta vou arrebentar a bolsa na calçada 
deixar cair o rebento do soneto órfão que veio
da escuridão estatelou-se no chão todos
passarão por cima como se estivessem a voar
sem asas todos ignorarão tudo que for expelido
por mim gravetos espinhos seixos pedras
pregos ciscos lixos imagens invisíveis sons
inaudíveis matérias decompostas rimas
assassinadas iguais aos povos pretos pobres
das periferias iguais aos povos originários
expulsos por nós de suas terras iguais aos
quilombolas banidos dos seus terreiros
terrenos onde eram seus quilombos antes de
morrer darei à luz a uma frase luminosa em
praça pública em pleno meio-dia que ofuscará o
sol essa frase ainda não foi pensada por
nenhum livre pensador muito menos por um
pensador livre essa frase deuses demônios
anjos entidades universais espaciais doutras
dimensionais entes doutros elementos entrarão
em conflitos aflitos pela autoria dessa frase
luminosa que direi um dia em praça pública em
pleno meio-dia antes de morrer em agonia

BH, 0230402025; Publicado: BH, 030602025.

DVD, PAULINHO DA VIOLA, 80 ANOS:


 

DVD DO PAULINHO DA VIOLA:


 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

não tenho mais nada para dizer não

não tenho mais nada para dizer não
sim ninguém aqui tem mais nada para dizer
não nem em letras nem em palavras tudo já
foi dito por todos o tempo todo pois todos
já dissemos tudo mais duma vez agora
estamos todos mudos agora estamos todos
surdos agora também estamos todos cegos
para as coisas superiores dos universos
minhas avós sabiam rezar preces em
ladainhas que mais pareciam latim que
davam certo minha mãe com sapiência sabia
orações que desafiavam a ciência que até
hoje dão certo com todos nós nós cegos que
somos no entanto nossas orações não dão
certo em nada nem nos nossos corações
pois não temos o amor de mãe não temos o
amor de pai nem as bênçãos duma paz
celestial pastores oram por dinheiro em vão
bispos pregam evangelhos de conveniência
por dinheiro em vão padres rezam em vão o
papa reza em vão vivemos a postar nossas
mãos no chão frio não iluminamos nossos
corpos sombrios não aquecemos corações
solitários depositamos nossas almas nas
bacias dos aterros sanitários nos
transformamos todos em fogos-fátuos dos
gases dos lixões pois não aprendemos as
lições repetimos diversas vezes os mesmos
erros diversos que não nos deixam evoluir
nem fazemos com que deixemos de ser em
vão se um dia deixarmos de ser em vão
passarmos a ser conscientes a civilização só
agradecerá a gente

BH, 0130402025; Publicado: BH, 020602025.