terça-feira, 10 de junho de 2025

das últimas agora nas últimas

das últimas agora nas últimas
só me lembro de esquecer só
recordo de não recordar de não
ter memórias nenhumas nem
lembranças esqueço do de beber
esqueço do de comer esqueço do
de viver só não sei se esquecerei
do de morrer bem que gostaria
de esquecer do de morrer ou que
a morte também se esquecesse
do que é de mim pois não sou
digno de morrer assim sem
dignidade esquecido pelos
cantos feridos sem encanto sem
encontrar desencantado o canto
certo é que esqueço das coisas
dos casos das causas das gentes
dos vivos dos mortos dos amigos
dos inimigos ainda existe mulher
aí pelo vasto mundo meu amigo
raimundo? nem sei mais o que é
mulher esqueci de todas bem
antes de todas já terem se
esquecido de mim mulheres
mulheres mulheres quem as
entendia era o velho safado o
baco bêbado do osso buco o
charles chacal canibal
antropofágo afogado no álcool
curtido o couro desnudo ao sol
o bafo de onça o bafo de bode o
bogodo cheio de bolor a exalar
inhaca nem lembro mais de
nada se não lembro não fiz não
vivi não amei não sorri tinha até
feito um epitáfio não sei onde o
coloquei procurei não o encontrei
deixa para lá joga em qualquer lugar
sem identificação não tinha coração

BH, 030602025; Publicado: BH, 0100602025.

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