para depois deixar meu testamento porém
não tenho lápide nem sepultura nem cova
nem campa nem canteiro ainda então terei
que ir para perus numa escavação rasa ser
enterrado igual indigente esqueci o epitáfio
é que não tenho um fio de mim para dizer
rasguei o testamento eram só letras malditas
palavras fúnebres réquiens enterro
clandestino exéquias pagãs também não fiz
por onde desde menino só juntei pedras
para pedreiras nenhumas preciosas só semis
meu destino só ajuntei grãos para dunas
nenhum era o alef todos eram ciscos de
poeiras o vento levou minhas dunas para os
montes das minhas costas de longe pareciam
leves a flutuar no ar agora pesam toneladas
curvam-me ao chão igual ao peso da
imensidão esmaga-me não tenho alavanca
não tenho ponto de apoio não poderei mover
o universo nem com os meus esfarrapados
versos só as pirâmides quéops quéfren
miquerinos que gaspar me mostrava quando
era menino agora são minhas corcovas
minhas corcundas são as minhas crateras
abertas donde retiravam as múmias outros
os meteoros que as galáxias pré-históricas
mandaram-me para sustentar minha história
BH, 0210502025; Publicado: BH, 0280602025.
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