quarta-feira, 11 de abril de 2012

João Cabral de Melo Neto, A Carlos Drummond de Andrade; BH, 0110402012.



Não há guarda-chuva 
Contra o poema 
Subindo de regiões onde tudo é surpresa 
Como uma flor mesmo num canteiro. 
Não há guarda-chuva 
Contra o amor 
Que mastiga e cospe como qualquer boca, 
Que tritura como um desastre. 
Não há guarda-chuva
Contra o tédio: 
O tédio das quatro paredes, das quatro 
Estações, dos quatro pontos cardeais. 
Não há guarda-chuva 
Contra o mundo 
Cada dia devorado nos jornais 
Sob as espécies de papel e tinta. 
Não há guarda-chuva 
Contra o tempo, 
Rio fluindo sob a casa, correnteza 
Carregando os dias, os cabelos.

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