sexta-feira, 13 de abril de 2012

João Cabral de Melo Neto, Poema(s) da Cabra; BH, 0130402012.




A cabra é negra. Mas seu negro 
Não é o negro do ébano douto 
(Que é quase azul) ou o negro rico 
Do jacarandá (mais bem roxo). 
O negro da cabra é o negro 
Do preto, do pobre, do pouco. 
Negro da poeira, que é cinzento. 
Negro da ferrugem, que é fosco. 
Negro do feio, às vezes branco. 
Ou o negro do pardo, que é pardo. 
Disso que não chega a ter cor 
Ou perdeu toda cor no gasto. 
É o negro da segunda classe. 
Do inferior (que é sempre opaco). 
Disso que não pode ter cor 
Porque em negro sai mais barato.

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