minha mente está doente demente decadente
septuagenário decrépito enclausurado em cárcere
privado com carcereiro carniceiro acostumei-me
à pouca luz fotofóbico até a meia-luz ofusca-me a visão
de morcego marmota toupeira as crateras estão todas
entupidas as fossas a transbordar mucosas os póros
sebentos a expelir suores gordurentos os ares nojentos
os cheiros fedorentos não suporto nem aguento até
do ventilador o vento calorento a pele de papel velho
ensebado quer desgrudar da carne podre em pelancas a
cara de carranca a face falsa o rosto roto a boca arrota
desgostos quem se importa com fantasma que não
assusta nem criança? quem vê invisível em andança
pelos cantos a arrastar os pés acorrentados presos às
bolas do passado? preciso duma vacina de saúde mental
aos setenta é surreal marginal que a vida toda levou
vida de vagabundo de vadio de vagabundagem
de vadiagem a dar trabalhos de noite até de manhã cunhã
mucama poranga hoje durmo no pisador às vezes pisado
pela senhora pelo senhor dói para quem era feitor capitão
do mato hoje é só fedor sem paz sem amor sem perdão
só inconsciente com a consciência pesada mãos trêmulas
pés sem chão ausência de ar nos pulmões dor no peito
motivo dos defeitos pronto para um defunto perfeito
ou talvez o mais certo um cadáver fresco imperfeito
BH, 060502025; Publicado: BH, 0170702025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário